Personagens bíblicos frequentemente são apontados como criação ficcional, no sentido de emprestar ao povo judeu uma história eivada de heroísmo.
O patriarca Abraão, o próprio Moisés, Davi e seu filho Salomão, para ficar nestes exemplos, são pura invenção: o primeiro, epônimo de tribos nômades pastoris.
O segundo, um (super)herói do qual a história extrabíblica não dá nenhuma pista. E os dois últimos, foram reis em dimensões muito menores das que constam nos textos bíblicos.
O argumento que esbarra contra essas afirmações parte, como sempre, do conteúdo dos textos. Não há, de modo explícito, uma narrativa pormenorizada da vida do Patriarca. Isso porque nunca foi prioridade contar a vida dele.
Logo, a ênfase nunca foi histórica ou biográfica, porém marcar etapas do seu relacionamento com Deus, cuja síntese é: "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça".
Esta afirmativa é central em toda a história da Bíblia e em toda a história do homem diante de Deus. Válida de ponta a ponta, do Gênesis ao Apocalipse, na Bíblia, Antigo e Novo Testamento, qualquer homem/mulher diante e Deus em qualquer época.
Quanto a Moisés, não há, da mesma forma, biografia pormenorizada. O trecho que fala de sua vida, de bebê a homem feito, não preenche capítulo inteiro no livro do Êxodo.
Portanto, descarte-se do texto bíblico a ênfase biográfica ou histórica, no sentido lato. Pois é exatamente por isso que costuma-se desacreditar o texto. Trata-se de um movimento pendular.
O texto bíblico não tem sua ênfase na história, por ater-se a aspectos pontuais da comunhão com Deus na vida de seus personagens. Daí, os críticos reclamarem critérios mais precisos, quando os textos resvalam em traços do contexto histórico.
Mas este é um erro de abordagem. Uma crítica posta no texto. No sentido de se partir em sua direção, antecipadamente esperando ver/ou não ver nele conteúdo pré-definido.
Porque a Bíblia foi escrita a partir de sua mensagem específica a toda a humanidade. Moisés, por exemplo, tipifica o modelo de profeta: aquele que transmite a outros, em nome de Deus, esta palavra.
Torna-se mediador dos códigos civil, no Êxodo, cerimonial, em Levítico e, no Deuteronômio, o código que leva este nome, enfim prescrições que projetam o que será a vida das tribos de Israel, uma vez que deixem de ser povo nômade e assumam a fase sedentária.
Povo de Deus. Profeta de Deus. Relacionamento com Deus. A Bíblia é o livro que propõe relacionamento com Deus. Ou quem o tem nas mãos encara esta possibilidade, ou então vai mesmo achar tudo um mero absurdo.
Está bom para você? Não? Então aconselho a ler os capítulos 3 e 4 do Êxodo: o bate-papo do Altíssimo com Moisés. O Livro é assim, pressupõe e demonstra essa possibilidade. E a respeito de Davi e Salomão, como diz o autor (anônimo) da Epístola aos Hebreus, "disto falaremos noutra oportunidade".
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