sexta-feira, 27 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 90

        Mutretas ou metretas dos fariseus, esta última a medida deles, 40 litros a capacidade das talhas de pedra que Jesus mandou encher de água na festa de casamento.

        Mosaico desenhado pelo evangelista. Maria, Jesus e os discípulos convidados para uma festa. Casamento. Para dizer "com esse" deu Jesus "início" a seus "milagres".

      Como, especificamente, "esse"? Por que dar "início" assim? Que razão para esse "milagre"? Mais parece mirabolante. Coisa de mágico. Coisa de circo.

      Embora água, para João Evangelista, seja emblemático. Jesus afirma que, quem nEle crer, do seu interior fluirão rios de água viva.

      Ezequiel, o profeta, vê sair de sob o templo, em sua visão, rio infinito, que acaba por subvertê-lo, e ainda restaura todas as águas, sara todas as doenças e fertiliza todos os frutos.

       Água nas mãos de Jesus tem o milagre oposto delas nas religiões de mistério, segundo efetua comparações o próprio evangelista. Água aguada nas mãos de Jesus vira vinho.

      De propósito o Mestre manda encher d'água talhas cerimoniais. Irônico mandar, pelos servos, água ao mestre-sala que está ansioso por vinho. Seu erro de cálculo vai dar fim precocemente ao casamento.

      Casamento na Galileia. Esta a parte mais longe do núcleo conservador da Judeia. Apelidada "dos gentios", alcunha máxima de desprezo. Mas é ali que o profeta anuncia que resplandecerá luz.

      Casamento é típico da união prevista nas Escrituras para Deus e seu povo, na antiga aliança, assim como para Jesus e sua igreja. Não haverá festa, enquanto não chegar a noiva. Jesus mesmo conta suas parábolas a respeito.

       É a propósito que ele manda acionar talhas cerimoniais para uso profano. A festa deve continuar. Maria adverte os servos que fiquem atentos ao que Jesus disser. Definitivamente, ele vai resgatar o sentido do que é cerimonial, destinado à festa, à alegria e à plenitude.

       Vim para que tenham vida e a tenham em plenitude. Esta a pretensão de Jesus. Terá ele a fórmula? Que fórmula torna água em vinho? Com prova de autenticidade. Jesus guarda consigo o melhor vinho. E como alguém já falou, com Jesus na festa o vinho não acaba.

      Jesus adverte Maria que seu tempo é kairótico, quer dizer, diretamente ligado à contabilidade do Pai. Não há sistema de unidade humana que o contabilize. O milagre de Jesus entra na história do homem. Vida aguada na mão de Jesus vira vinho novo de festa transbordante de alegria.

     A festa deve continuar. Como ele mesmo já diria noutra parábola. Enquanto o noivo está no meio de nós, haverá festa. Uma vez retirado do mundo, advirtam: "o tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no evangelho".

terça-feira, 24 de julho de 2018

Antigos soltos 32


         Ensina-nos a contar os nossos dias.

         Estamos em Eclesiastes 10 na classe de Escola Dominical. Uma mosca faz o diferencial na analogia do primeiro versículo.

       Assim como uma única compromete todo o unguento, um único ato de estultícia compromete o sábio. Serve ao próprio.

      Salomão em sua velhice escolheu erguer templos defronte de Jerusalém. Não tinha lugar mais óbvio. O livro dos Reis detalha o desatino. Sem perdão desse cronista.

      Já em Crônicas, omitem-se esses pormenores. Astarote, Quemos e Milcom, respetivamente deuses e deusa homenageados pelos caprichos do rei.

      O salmista ora a fim de que seja ensinado a contar os dias. Nessa conta conclui que basta para que alcance coração sábio.

      Depende da qualidade das opções a fazer. Nem Salomão conseguiu todo o tempo escolher acertadamente. E tão estupenda foi sua falha, que somente cerca de 300 anos depois Josias começou a desfazer tais consequências.

       Contabilizar dias significa aprender com erros e acertos. Ninguém é total e inteiramente sábio. Acumulam-se dias e lições aprendidas. Comparamos Eclesiastes a 1 Coríntios para conferir o modo como Jesus se nos torna sabedoria, por mediação do Espírito.

       Paulo diz que o Espírito é a "mente de Cristo". E Ele nos tem. Contemos os dias. Paulo mesmo assinala "esquecendo-me das coisas que para trás ficam".

       Refugar e não repetir erros passados. Salomão não teve tempo para corrigir-se da idolatria que colocou na mídia de seu tempo.

       Enquanto é tempo, contemos nossos dias. Até alcançar coração sábio. Deus mesmo nos ensina.
   

quinta-feira, 19 de julho de 2018


IVANILDE. Melhor dizendo, dizer: I - VA - NIL - DE. Bem devagar, para dar com a importância desse nome. Não. Melhor I - V - A - N - I - L - D - E. Assim, letra por letra, quem sabe se sabe teu tamanho!

I de INTENSIDADE: oh, vida intensa essa sua. Não cabe nesse Estado do Acre, porque bem típica. Uma define o outro que te define. Não cabe de contentamento, de intensidade, de doar a si mesma: desde os barrancos, pelas veias de rios e igarapés, varadouros e ramais, estradas mundo afora: cada passo teu contados nesses pezinhos, ora, com que intensidade você vive!

V de VIDA: eita, como viveste a tua. Tua família que o diga. Teus amigos que o digam. Viveu como se cada um de nós quisesse ser como você. Tivesse e carregasse consigo tuas marcas. Desde a bisnetinha, por todos os netos e netas, filhos e filhas, genros e noras e o sortudo desse marido. Como te invejamos! Por onde passa, arrebanha uma multidão de amigos e amigas.

A de AMOR: para quem duvida que existe ou para quem diz que nunca viu ou que é difícil de ver, ora, Ivanilde, permite dizer: você banalizou o amor...he he he... quero dizer, em você, com toda intensidade, nessa sua vida, o amor mais ficou ao alcance de todos.

N de NULIDADE: sim, não se assustem. Jesus uma vez falou que quem não anulasse a si mesmo, não conseguiria segui-lo. Anular a si mesmo, é dar-se. Entenderam, agora? Exagerei ou, matematicamente, acertei? Ela, sempre que foi preciso, anulou-se. Mas, quando foi necessário, agigantou-se. Alguém duvida?

I de INTELIGÊNCIA: Aquela de verdade. Com tristeza se constata que há quem use ao inverso esse dom. Mas nela, argúcia, lucidez, iniciativa, enfim, luta e oportunidade caminharam sempre junto. Ninguém duvida de que sua sabedoria espalhou-se por onde ela passou. Falem, família, amigos e tantas outras vozes que guardam consigo esse benefício.

L de LUTA: nem precisava mencionar. Mas é mais que necessário dizer. Ela é amostra legítima desse povo e dessa história. Nesse lugar onde história, natureza e luta se misturam. Uma amostra, um exemplo dado e a seguir, um empenho permanente, mulher, teu nome e teu povo é luta: pela sobrevivência, por direitos, por melhores condições para todos em todas as frentes: nunca se acovardou. Não descuidem desse tamanho, que a mulher é gigante!

D de DEDICAÇÃO: me digam quando ela se deteve? Quando foi que se deu por intimidada? Quando foi que calou? Nem agora. Não, mulher: sentimos muito, mas Ivanilde como você não se aposenta. Dedicação por todo esse Acre. Testemunhei na parte que me coube na parceria. Obrigado, Deus: essa mulher se parece mesmo Maria. Nunca antes um pastor protestante esteve tão perto dela.

E de EDUCAÇÃO: não tinha outro canto nessa vida onde você pudesse estar, senão nesta família SEE. Sabedoria, dedicação, intensidade, toda uma vida na educação. Diga por que canal teu exemplo seria melhor aproveitado? A gente que se sente tão pequeno quando se fala no tamanho dessa tarefa! Do teu tamanho. Uma pincelada de amor. Do teu tamanho. Todos aqui sempre queremos ser do teu tamanho. Ivanilde, como você sempre ensinou, a luta continua!



       

    

domingo, 15 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 89

     
       Trafegando na contramão. Quero falar do não milagre. Ou, por outro nome, da "síndrome de Elias", o profeta. Este fez um dos mais assombrosos milagres.

       Aliás, fez, não, porque homem (ou mulher) nenhum(a) fez, faz ou fará milagres. Deus opera maravilhas. Aos olhos humanos Deus opera sinais de Si, de modo a apontar ao homem que creia nEle.

     Nenhum milagre, sinal ou maravilhas de Deus são um fim em si mesmos. Pedro Apóstolo explicou isso em seu primeiro sermão: "Jesus, varão aprovado diante de Deus entre os homens, pelos sinais, prodígios e maravilhas que fez".

      Nenhum desses sinais é um fim em si mesmo: apontam para a realidade da salvação em Jesus. E hoje em dia, erro maior, pretensão e presunção humana, achar que lá está Deus como supremo mago de milagres (falsamente) anunciados.

      Ora, vá ter reverência. Vá se encher do temor do Senhor. Vá aprender o senso de inutilidade a que se reduziu o ser humano, em seu pecado, e fique em silêncio diante de Deus.

      Elias no fundo de sua depressão, após pedir a morte, no fundo da caverna de Horebe ou caverna de si próprio, queria repetir o milagre do fogo que pediu, certa vez, aos céus.

     Despachou e ridicularizou o "clube de profetas" profissionais de Jezabel. Ora, bolas: hoje há aí, nas ruas, vários clubes de profetas profissionais vendendo a ilusão da magia que nunca veio e nunca procede de Deus.

     Mas é tão fascinante essa síndrome que, certa vez, João Apóstolo que, certamente nessa oportunidade ainda não era o "apóstolo do amor", perguntou a Jesus, ora, ora, ora, quanta infantilidade, ele pergunta a Jesus se queria que ele, Joãozinho, pedisse a Deus que caísse fogo do céu para queimar samaritanos que, no seu direito, não queriam ver Jesus novamente dentro de sua aldeia.

      Era o meu primeiro ano de seminário, em 1978, e visitamos, alunos de nossa turma, terras capixabas, onde conhecemos uma linda jovem a menos de 30 anos, condenada a morrer de câncer ósseo. Porque quando o médico lhe disse que amputasse a perna, ela encontrou um "pastor" que lhe disse que Deus a curaria. Não curou, pela promessa do pastor. E não curou pela medicina. E não curou sem promessa nenhuma. É o não milagre. Então, dê glórias a Deus!

       Isso mesmo: Deus não curou por oração nenhuma que foi feita. A reposta foi não a todas as orações de cura. Aquela jovem morreu de câncer ósseo antes dos trinta. Por quê, perguntamos. Quem pecou? Ela ou seus pais? A resposta: nenhum. Ninguém. Talvez o tal pastor, bem intencionado, mas intrometido, porque cura pertenece, definitivamente, à soberania de Deus.

     E meus filhos contam do pastor que ouviram num Congresso falando de outro colega que invadiu o velório para pedir a Deus a ressurreição do morto. Pediu, pediu, pediu e não foi ouvido. Faltou fé ao pastor? Faltou fé aos presentes? Faltou fé ao defunto (vai ver que ele era incrédulo, e Deus não ressuscita incrédulos)? Ou esse pastor era "tradicional"? Porque se fosse um pastor "neopentecostal" seria ouvido? E esse palestrante disse que o pastor prorrompeu em prantos porque não houve ressurreição. Ora, logo se vê que era sincero, mas não maduro para conhecer o senso de ridículo.

     Pois então, fique em silêncio diante de Deus. E pare de prometer o que não lhe diz respeito. Na Bíblia encontramos (ou não encontramos narrados, porque a Bíblia não descreve, nem de Jesus, todos os milagres) homens e mulheres de autoridade.

     Não saia por aí prometendo curas: sinais, prodígios e maravilhas. Tenha senso de ridículo. Tenha autoridade para só dizer "Jesus Cristo te cura!", como disse Pedro e Eneias, se e quando Deus te autorizar. E visite doentes terminais à vontade, para orar, consolar e rir e chorar com eles, para aprender o não milagre.

     Deus não está lá ao teu serviço. Não seja curandeiro de Deus. Qual o teu clube? Tenha senso de ridículo. Fique em silêncio diante de Deus. Só abra a sua boca quando tiver autoridade.

   E Ele também é Senhor do não milagre. Porque "milagre" não é o que você denomina "milagre". Mas tudo o que Deus faz é milagre a nossos olhos. E também quando não faz.

    Elias, no fundo de sua caverna, ouviu um tufão. Não era Deus. Raios rebentaram nas rochas ao redor. Eram só raios. A terra tremeu, mas não foi como com Paulo e Silas, terremoto dirigido: foi só terremoto.

       E quando tudo estava parado, como agora a nosso redor, quando lemos isto, era Deus: Aquele-que-é-que-era-que-há-de-vir. Era, não: é Deus. Psiu! Se liga. É Deus de milagres. Continua sendo e sempre será. Mas a serviço de Sua própria soberania.




     

 

sábado, 14 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 88

        Provavelmente a igreja de Jesus, que na verdade é formada de gente, deve ter estabelecido padrões de comportamento, que fosse bem intencionada.

      Avançando demais, tornou-se, em alguns pontos, legalista. O que significa resvalar na máxima de que não adianta estabelecer regras: qualquer delas o ser humano subverte.

      Mas o crente já teve um padrão. Antes que fosse acusado de fariseu. Antigamente, não fumar, não beber, não adulterar, pelo menos esses, entre outros, esperava-se de quaisquer, menos de crentes.

     Como também ter palavra, não ser caloteiro ou não falar palavrão. Ora, que tenha passado o tempo, que essas regrinhas tenham caducado, bem, talvez nem todas.

      Alguma regra tem de ter. E não se partem das regras para a consciência, mas desta para aquelas: uma vez consciente do que nele se operara, como diz a Bíblia com respeito à mulher hemorroíssa.

      A conversão exige uma nova postura, porque implica renunciar a si mesmo. Haverá certamente choque com a cultura solta do mundo. A graça de Deus é franca, porém não é ordinária.

      Deus não se entrega à manipulação do homem. Não franquia sua graça senão única e exclusivamente a quem se permitiu remir pelo sangue de Cristo, assim recebendo o Espírito Santo em si mesmo.

     Como diz Paulo Apóstolo, que é o Espírito que nos educa a renegar paixões que conspiram contra a santidade, para que só então possamos viver "sensata, justa e pieodosamente" neste mundo.

       Não há como negociar todo o tempo. Vive-se muito hoje em dia de se permitir barganhas com modos de ser mundanos, quer dizer, "usos e costumes" de quem não se deixa dirigir pelo Espírito Santo.

      Acovardam-se os crentes. Intimidam-se e perdem a vanguarda de ditar padrões de comportamento dignos de cidadãos do Reino. Deverá ser que, de fora para dentro da igreja, dos "sem Bíblia" em direção, de encontro aos "com (quase nenhuma) Bíblia" é que se ditam ditames.

     Triste igreja. Tristes crentes. Igreja educada pelos padrões de fora, pelos padrões do mundo. Práticas antes nunca pensar serem admitidas, ora, o século se impõe, a igreja que com ele aprenda.

     Há algo errado nisso tudo. Acho que se inverteu a máxima de Paulo Apóstolo e fica à igreja a nova advertência: "Conformai-vos a este século, adaptai-vos com a versatilidade de vossa mente".

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 87

     
       Solidão de Deus. Solidão do homem. Há momento, mesmo levando-se em conta qualquer relação, que a solidão se reafirma.

      Deus é único. Para ser Deus, sendo Deus, assumida identidade, está sozinho. O mesmo com o homem/mulher. Para reafirmar sua identidade queda-se ele/ela só.

      E aí que Deus se empenha todo na relação com o homem/mulher. Deus deseja relacionar-se com todos os seres humanos, sem exceção. Mas não se desdobra ou se fragmenta.

       Põe-se todo na relação de um(a) por um(a). E não se esconde ou se mostra enigmático, porém se revela totalmente. Isso desconcerta e amedronta o homem. E a mulher também.

      Talvez elas, tão acostumadas a uma (o)pressão maior, desvelam-se com mais facilidade. Como Ana, "derramam sua alma". Não os homens. Mais covardes e inseguros, por isso machistas, querendo se impor pela força, correm atrás de uma espiritualidade de fachada.

      Mas para encontrar Deus, em espírito e em verdade, como diz João Apóstolo, só partindo da solidão. Solidão do homem diante de Deus em sua solidão.

      Sem máscaras. Sem ídolos. Nus e despojados. Deus traz consigo um incontido desejo de comunicar. Por isso, corre atrás, arrebanha homens e mulheres para lhes fazer Seus profetas.

      A partir do monento desse encontro, impossível não se voltar em direção a todos, para contar, como fez a samaritana, numa pergunta retórica: "Encontrei quem sabe tudo de mim: será o Messias?".

      Espiritualidade não é fuga dos homens, do burburinho, buliço da feira, do mercado, das varandas do Templo, das festas, da sarjeta, da periferia, da facção, dos hansenianos, dos prostíbulos.

       Deus, no homem Jesus, estaria onde hoje as chamadas igrejas pouco estão. Encontro da solidão de Deus com a solidão do homem. Onde a salvação acontece. Entre os enfermos, porque os "sãos" presumem-se não precisar de médicos.

       Definitivamente espiritualidade não é a fuga de entre os homens para uma solidão de fachada com Deus. Mas a partir do encontro, sair de posse da vocação única de Deus, que é encontrar-se com um por um homem/mulher.

       Jesus soube equilibrar relação com o Pai, relação com os homens/mulheres. Ninguém foi assim mais íntimo. E a intimidade de Jesus com o Pai não foi egoísta, porém altruísta, para o único modo de Deus e homem/mulher se encontrarem.



     

   

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 86

        Irônico. Estamos perto de ver evangélicos acusados de ser contra o amor.

      Bem, vamos procurar os adjetivos certos. Adjetivo muda muita coisa. Corrigindo: evangélicos fundamentalistas já são acusados de ser contra o amor.

      Sem discutir, aqui, mas já sugerindo a diferença entre fundamento e fundamentalismo. Eu, por princípio, sou contra (qualquer) fundamentalismo.

      Mas procuro pautar minha vida por fundamentos. Evidentemente, nem precisa falar, não sou perfeito em todos. Senão, nem precisaria da mediação de Jesus Cristo.

      Mas a pergunta seria (para ir logo direto ao assunto): o amor da Bíblia, aquele decantado livro a livro, porém, mais obviamente em João e Paulo Apóstolos, esse mesmo, o amor de Deus, João mesmo diz "Deus é amor", incluiu o "amor homoafetivo"?

      Se houver crentes dizendo "Não" entre outros dizendo "Sim", já teremos dois grupos, o primeiro acusado de ser contra o amor.

     As capas de revistas nas bancas de jornais, como já dizia Caetano, "o sol nas bancas de revista", espalham a beleza dessa nova(?) modalidade de amor.

      Novelas de TV, ainda cuidadosamente, porque audiência, no caso, é algo sensível para ela (a TV) decantam em prosa, sem verso. Enfim, está nas ruas, nas praças e na net.

     Quem vai ser contra? Alguém se habilita a "bater na tecla" paulina (Apóstolo Paulo) que define homo-qualquer-delas como algo não compatível com o Criador?

      Como diz o apóstolo, que as mulheres "mudaram" o "modo natutal das relações" e homens "inflamaram-se mutuamente". Desse modo, "mudam a verdade de Deus em mentira" e idolatram a si mesmos.

      Quem ou quantos vão desfraldar essa bandeira? Poderia até, por palpite, também perguntar: "Quantos vão defraudar essa bandeira"? Afinal, o amor da Bíblia não é, prioritariamente, voltado à salvação do ser humano?

       "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna", afinal, o tamanho do amor e da dádiva (Jesus) não é esse o "texto áureo", o resumo, a síntese da história contada na Bíblia?

     Sim, é. Mas então, o que esse amor aí tem a ver com outras modalidades de amor? Há outras? Se há e quantas há, a pergunta é está: elas têm relação com esse amor aí? Que relação? Subordinam-se? Derivam dele? São diversas dele?

      Então se diga, ora, esse amor acolhe tudo e acolhe todos, sem rejeição. Para usar o termo técnico da moda, é um "amor inclusivo". Olha a função "adjetivo", de novo. Portanto, está respondido. E quem se atrever a dizer que não, estará sob acusação de ser contra o amor.

       Em nome de Deus. Problemático. Quem e quantos falam em nome de Deus. E o que falam. Já se queimaram, ao longo da história, muitas Bíblias e muita gente por causa dessa guerra.

      Uns, dizendo uma coisa. Outros, dizendo outra. Creio que esse tempo pode até voltar. Vai depender do grau de histeria. Caso eu seja alvo, nem precisa mandar recado pelo zap: vou com minhas próprias pernas (se ainda puderem me conduzir).

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Croniquinha meio nojenta, Cocozim ou Crônica do Titiquim

        Inusitado. Já gosto deste termo. Mas foi mesmo súbito, inesperado e, absolutamente, desnecessário.

       Sabe aquele dia em que sobram alguns minutos de um planejamento inusualmente meticuloso? Sim, foi ontem. Então, antecipei-me.

     A reunião era às 9h. Ora, sei que, já às 8h, no estacionamento da antiga repartição (pública), como dizia meu pai, já não há vagas. Foi então que tudo começou a se ajustar.

      Avisei ao chefe o extra dessa reunião, eximi-me de chegar às 7h30, para então, estacionar às 7h45, pouco mais, lá, na antiga repartição.

      Cedo para as 9h. Por que não comer uma tapioca, saborosíssima, a melhor da cidade, como eu digo? Fi-lo porque qui-lo. Com café com leite. 4,00 reais.

      Sol ameno, desloquei-me, então, vagarosamente, mentalmente em ponto morto, até à praça. Ora, a praça. O jardim da praça. Lembrei Lispector.

      Quanto mais se mexe num jardim, pior. O anterior, muito provavelmente dos anos 70, tinha um ar muito mais misterioso e romântico.

     Lembro ainda que, meado dos anos 90, quando cheguei aqui, apinhada de alunos, os grupinhos se esgueiravam entre canteiros, cada qual com sua combinação de árvores e plantas.

      Canteiros enormes o suficiente, com seus parapeitos de tijolos, ao limite de que sentassem, conversassem e até namorassem. E eu nem sabia, ainda que, 16 anos seguidos seria professor nessa escola da praça.

      Todas essas memórias, o sol das 8, procurei sombra, porque mesmo esse sol escalda. Sentei à sombra, abri o livro, cedo ainda, dava para ler umas páginas.

      Era até uma leitura filosófica. Ora, de novo, há 23 anos no sudoeste da Amazônia, raras vezes havia me debruçado sobre um livro na praça. Evidentemente, falha como me é a memória, alhures, acho até que sim.
     
      Evidentíssimamente devo ter lido alguma coisa nessa praça, ora, mais uma vez, só no colégio 16 anos como professor.  Mas nunca antes numa manhã tão promissora, na qual, raramente, vamos dizer, num intervalo existencial, tudo vinha dando certo.

      Foi quando. Tinha que aquele passarinho que, aliás, nem olhei para o galho acima, procurando uma pista. Levantei-me, em toda a minha indignação, e ganhei o mundo. Nem para o passarinho me quebrar o galho e me errar.

      O passarinho fez cocô na pagina 45 do meu livro. Sabe aquela gusparada? Sim, poderia ser seco. Bem, poderia não deveria ter sido logo na página 45. Quer dizer, em página nenhuma.

      Aquele líquor amarronzado, de odor azedo, respingado na 44, assim como no "corte da frente ou goteira" (eu vi na net, favor conferir), que é a parte onde repousam fechadas as paginas não abertas.

     Para não falar os nomes feios, nesse momento de raiva, respingou cocô de passarinho para todo lado. Levantei-me e fui embora. Cheguei ao lugar da reunião, tendo atravessado desolado (e isolado) a praça.

     Ensaboei papel higiênico umedecido em água. Passei no local, até ficarem claras as letrinhas delimitadas pela mancha avícola intestinal. Não adiantou. A mancha está lá na página 45.

      Hoje vi. Clarinha. Nem cherei. Pra quê? Pensei: sabe qual a lição que a gente tira disso tudo? Nenhuma.

      Bem, talvez, viva a ecologia.

Mal traçadas linhas 85

        Jonas teve de lutar contra suas próprias mágoas. Como diz em seu livro, sabia que corria o risco de participar no "programa de perdão" de Deus.

      Perdão de Deus incluiu amar o inimigo. Isso porque, no entendimento e nas obras malignas, qualquer ser humano é inimigo de Deus. Ou Deus ama inimigos, ou não terá quem amar.

        Mas amarmos nossos inimigos, quer dizer, quem elegemos para inimigos, não aguentamos isso. É demais para nós.

      Por isso Jonas, antevendo essa possibilidade, qual seja, ser, por Deus, colocado diante de si mesmo, tentou a fuga. Até ânsia de suicidar-se alimentou para si.

      Sabemos que nem na morte se foge de Deus. Jonas quis se drogar, entorpecer-se nessa ilusão. Falhou. Deus dos absurdos foi a seu encontro.

       Do sono no porão do navio, fê-lo encarar mar revolto. Poucos homens já viram ou tem coragem de ver. Convenceu a tripulação que jogá-lo ao mar seria seu talismã.

      Eles o fizeram, com relutância. E o Deus dos absurdos deparou um peixe que engoliu Jonas que, nem assim, morreu. Então orou ao Senhor.

       A oração que brota do porão, de dentro do abismo mais profundo. Mas é tão profundo esse abismo que, cessada a ameaça, vai pedir de novo a morte.

     Colocado, de novo, diante de si mesmo, no desafio a amar o inimigo, a entender amor e perdão para o outro, sucumbiu novamente. O abismo era existencial.

       O abismo é existencial. O homem está mergulhado no seu próprio abismo. O amor é mais forte do que a morte, diz o Cantares. Jonas tentou ainda inverter essa máxima.

      Acaba o livro e não sabemos se o profeta aprendeu essa lição. Essa lição é aprendizado permanente. A todo dia aprendemos (ou não) com Deus. Como nos ensina Jonas, deparados ao óbvio de nossa existência.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

BÍBLIA 16

        O conteúdo da Bíblia implica ter Deus, no Antigo Testamento, como personagem principal, assim como admitir-se Seu diálogo com o homem.

      Esse é o essencial do texto bíblico. Admite-se a possibilidade e demonstra-se, a todo momento, no texto: fala-se com Deus, fala-se de Deus e fala-se ao homem, em nome de Deus.

      Este é o diferencial do Livro. Caso não seja aceita tal realidade pelo leitor, cesse agora, pois a continuidade da leitura pressupõe essa postura exclusiva na Bíblia.

      Peças literárias de gêneros diversos: narrativo, descritivo, poético, corpo jurídico, genealogias, textos descritivos, sermões proféticos, espístolas, narrativas históricas enfim, de modo variado o conteúdo do que se chama "palavra de Deus" está, assim, expresso.

      Pressupõe-se uma parceria Deus-homem na configuração do texto. "Toda Escritura é inspirada por Deus", segundo Paulo Apóstolo. O termo "inspiração" aqui é específico.

        O que não obstacula o expediente humano, presente em várias oportunidades, como faz o autor anônimo de Hebreus, citando que falará resumidamente ou não detalhadamente do assunto. Desse modo, conferiu ênfase diversa a sua argumentação.

         Lucas indica o método que utiliza, quando diz que seu texto é um entre muitos outros, por narrar os fatos ocorridos com Jesus. Por isso o faz "após acurada investigação de tudo, desde sua origem".

       Paulo é notável nas cartas que escreve. São distintivos o estilo e a personalidade. Quando se questiona quantas são de sua lavra, sendo que ocorrem discordâncias, a qualidade da argumentação acaba por definir. Dificilmente haveria um outro autor desse mesmo nível.

         Alguns comentaristas discutem o estado dos manuscritos que chegaram a nossos dias. No caso do livro de Jó, por exemplo, aponta-se no texto, em alguns casos, problemas de precisão, quanto a sua forma final.

      Porém, no conjunto da obra, verifica-se que não ocorre comprometimento do todo. Uma prova flagrante da boa tradição dos manuscritos foi, em 1947, o achado de um rolo de Isaías numa caverna nas encostas do Mar Morto, na Palestina. 

        Este, entre outros, como um do profeta Habacuque, pertenciam a uma coleção de textos do AT, juntamente com rolos de preceitos doutrinários internos da seita dos essênios.

      A ideia óbvia foi comparar o texto do chamado "profeta evangelista", o mais citado do Novo Testamento, com o chamado "Texto Massorético", texto padrão de todo o AT. Significou comparar manuscritos cuja tradição de cópias psertencia a famílias de textos de épocas diferentes.

         Aproximadamente 200 a. C., para o rolo de Isaías, e séc X d. C., para o Texto Massorético. Seria comparar dois textos manuscritos do mesmo livro profético: um rolo a 500 anos da época de Isaías, 700 a. C., com outro 1.700 anos à frente.

       O texto massorético, que data de sua fixação como padrão no séc. X d. C, portanto, estaria a uma distância de 1.200 anos desses manuscritos do Mar Morto. Pulava-se, no texto, de uma distância de 1.700 anos, da época de Isaías, para apenas 500 anos.

       Pois a carga que se fez, quanto à possibilidade de se encontrar diferenças marcantes e comprometedoras, foi desfeita. As chamadas "variantes textuais" quando existiram, não comprometiam, desqualificadamente, o texto.

      Conteúdo do texto, assim como os elementos que confirmam sua tradição, ao longo de milênios, feita de modo criterioso, indicam fidelidade para o texto em sua transmissão. O teste com o rolo de Isaías, um dos mais recopiados e, por isso, sujeito a maior quantidade de variantes, aprovou todo o processo.
       
       O texto bíblico é o mais bem preservado em sua totalidade, do qual a maior quantidade de matrizes existem. Isso confere a todo o conjunto a maior credibilidade possível, desde o autor original, até à versão que você tem em mãos.


domingo, 1 de julho de 2018

Mal traçadas linhas 84

       A Bíblia diz que homem nenhum jamais viu Deus. Sem dúvida, essa curiosidade de "ver" é natural. Coloco entre aspas porque, como já foi dito, os sentidos enganam.

      E exatamente com relação a "ver", particularmente este sentido, a Bíblia diz: "Bem-aventurado os que não viram". Mas creram. Isso porque é impossível ver Deus.

     Ver para quê? Ver por quê? Qual a função do ver? Conhecer? Identificar? Confirmar a existência? Igual ao INSS, tem de ir lá, para confirmar, in loco, que está vivo.

      Nenhuma das razões acima servem para justificar o "ver" Deus. Isso porque Deus é Deus. Está entendido? Deus precisa se revelar. Senão, nem crer vai dar certo.

        E Ele se revela como bem quiser. Sabe por quê? De novo, porque é Deus. João Apóstolo diz em seu Evangelho "ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou".

       É tudo ou nada, meu caro. E aqui, no caso, é tudo. Jesus revelou Deus todo. E é o unico que viu Deus. Sem aspas. Viu o Pai por dentro e por fora. Conhece tudo do Pai. Identifica-se com o Pai.

     Se quiser. Porque se não quiser, continue você sem enxergar Deus. E saia por aí agnóstico ou, se quiser evoluir, ateu. Mas, no caso do bom senso em crer, saiba que Jesus é a cara de Deus. Jesus é o rosto de Deus. Como diz Paulo Apóstolo, Jesus é "a imagem do Deus invisível".

       A Bíblia fala de homens que estiveram muito perto de satisfazer sua curiosidade. Tiveram, sim, uma experiência bem próxima. Só isso. E não bastou. Moisés foi um deles.

       E depois de todas essas oportunidades de estar bem perto, ao ponto de ouvir Deus, pediu ao Altíssimo que visse, ainda, a glória dEle, de Deus, do Altíssimo. Como dizia Cid, meu pai, tratava-se de uma experiência requerida ainda no tempo da "revelação em marcha" de Deus.

       Diz, então, a Biblia que, en passant, Moisés, aturdido e expressando-se com palavras sobre a glória de Deus, ocultou-se numa reentrância de rocha, provavelmente em cavernas do Sinai, e teve encoberta sua visão para ver Deus "pelas costas".
     
        Todo esse jogo de escondido, que aqui no Acre se chama "manja do esconde", para ser sincero, não satisfaz a curiosidade toda de "ver" Deus. Aliás, o autor anônimo de Hebreus diz que, agora, a "sobre-excelente" glória da igreja não se compara a nenhuma dessas manifestações do Antigo Testamento.

       Sabe por quê? Porque a percepção de Deus, por meio de Jesus, é completa e nos põe, evidentemente, aos que cremos, mais do que diante de Deus: nos coloca em comunhão com Deus.

      E uma pergunta final: há algo maior e mais próximo do que isso?