Dificuldades bíblicas costumam ser denominadas quando ocorrem situações que complicam a compreensão de partes do texto ou eventos e histórias descritas.
Por exemplo, logo no início da jornada, quando está escrito que Caim matou Abel, ou seja, o ruim matou o bom, esse desfecho caminha contra o senso comum.
Fica mais parecido, mesmo, com a realidade quando, em diversas situações, os maus prevalecem contra os bons. E o interessante que, na história, Deus procurou o mau, para argumentar com ele.
Se entendemos que Deus, realmente, falou a Caim, sem que, por licença poética, o autor tenha imaginado o diálogo, o Deus apresentado, ou melhor, a "ideia de Deus" não se revela, em nada, utilitarista.
Hoje em dia, com a moda de "igrejas de arrecadação" (de dinheiro) e mensagens de consumo ou de autoajuda, esse Deus aí do Gênesis não se encaixa nessa onda. Senão, vejamos.
(1) Não protegeu o bom de ser assassinado pelo mau; (2) A fé do bom (será que a fé que Abel tinha era mixuruca?) não evitou que fosse morto; (3) O Deus do Gênesis não procurou o bom, para conversar (pelo menos, para dizer: "Vaza, Abel: teu irmão quer te matar!"), mas deixou-o "na mão" (e bem foi na "mão de Deus"!); (4) Deus, que é presciente, deu uma de "inocente": sabia que o papo dEle não colaria, mas insistiu com Caim.
Definitivamente, não é um "Deus de consumo". A Bíblia já começa, pelo Gênesis, prevenindo você que Deus não está lá, em cima (e nem aqui embaixo) para resolver problemas do jeito esperado.
Há uma soberania dEle por cima das circunstâncias e situações (diga-se, de passagem, engendradas, criadas pelo próprio homem) que foge a qualquer lógica humana. Diz Paulo Apóstolo ser "Aquele que faz todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade".
Aqui, Paulo cita Isaías, o profeta. Deus age segundo a Sua vontade, sem pedir nem a minha e nem a sua e nem de ninguém opinião. Aliás, o ser humano também age assim. Com uma diferença: o ser humano demonstra ser, igualzinho a Caim, pelo menos, eventualmente mau.
Deus é bom. Está aí uma pequena dificuldade bíblica. Lidar com situações em que ela contraria o senso comum e os "profetas" do sempre bem e sempre bom. Jesus confirmou que, no mundo, teremos aflições. Mas, por Ele e pelo ânimo dEle, podemos vencer.
Não espere que sempre suas expectativas, numa lógica de consumo, sejam correspondidas. Outras máximas ao contrário do senso comum a Bíblia insiste em confirmar, uma delas, mais este exemplo, amar o inimigo.
Deus nos amou quando inimigos. Amar o inimigo é o principal exercício de toda a lógica bíblica. Jesus nos manda fazer isso, como único mandamento. E o Livro ainda diz que, se há quem diga "amo Deus", mas odeia seu irmão (qualquer um que seja), é mentiroso.
Quem não ama ao irmão, que vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. A Bíblia só concebe dois fundamentos: amor/ódio. Se não amarmos, prestem atenção, não resta opção senão o ódio. Disfarçado, sim, com "verniz social", que ninguém é besta de queimar seu filme.
Entender que a proposta da Bíblia não é de uma lógica individualista ou mesquinha é a primeira dificuldade bíblica. Ela não corresponde às tuas expectativas nem às minhas. Embora haja uma tentativa de sequestro como sua, perdeu: a Bíblia não pertence a nenhuma religião. É mais popularmente conhecida como "palavra de Deus".
Excelente, Deus é Deus e pronto.
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