quinta-feira, 30 de maio de 2019

Homenagem a Onésimo Lima

Primo Ben-Hur

Lembrança de hj do facebook, e uma singela homenagem que fiz ao querido tio Onésimo Lima. dia 29 de maio de 2014 perdemos nosso tio Onésimo Lima.
Vou tentar redigir uma rima, na qual ele era mestre em uma pequena homenagem.

Um irmão, um tio, um Pai, 
Da alegria de viver que se vai,
Um mestre no sorriso, um craque da vida.
Educar era seu lema, ensinamentos diversos,
Exemplo de simplicidade, de um um poeta de muitos versos,
A pelota !!!! Grande companheira, tratada com muito carinho,
Trouxe alegrias e muitas vitórias.
Foi craque da inteligencia futebolística, 
E viu seu tricolor viver muitas glórias.
Ah o Fluminense ! Eterna paixão...
Critico e contundente, mais acima de tudo tricolor.
A família, derradeiro filho de muitos...
Amante da vida, da música, da arte do papel,
Fez história com registro de um livro da vida,
Se plantou uma arvore, não me recordo,
Mas completou seu ciclo aqui na terra junto dos seus,
E que hoje, com certeza esta nos braços de DEUS.

Descanse em paz Onésimo Lima

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O amor acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Paulo Mendes Campos.

domingo, 26 de maio de 2019

Sermões em Gálatas- 1 - Estou crucificado com Cristo

1. Estou crucificado com Cristo
2. Não sou mais eu quem vive
3. Cristo vive em mim
4. Este viver que agora tenho na carne, vivo pela fé
5. No Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.

1. Algumas declarações permitem compreender o que significa dizer isso:
1.1. Para além do sentido literal, configura -se a realidade do batismo no Espírito, que permite compreender (e praticar) a realidade dessa afirmação;
1.2. Não é uma afirmativa retórica, aplicada por Paulo somente a si mesmo, mas é a identidade de todos e quaisquer convertidos, alcançados pelo evangelho em todas as épocas;
1.3. Iguala e equivale a todos diante de Deus: ninguém pode dizer que precisa menos ou mais da cruz. Todos dela precisam e por ela são socorridos no perdão dos pecados por igual, todos no mesmo nível. 

2. Mortos e ressuscitados em Cristo, não existe vida senão passando pela cruz:
2.1. Desde o Gênesis a Bíblia indica como a morte passou a todos os homens. Mais do que a morte física. Esta só existe para dar fim a existência humana, já submetida pela morte espiritual;
2.2. "Eu viver" significa "estar morto" em delitos e pecados (Efésios). A vida que brota a partir da nova criação em Cristo, a partir da regeneração agora tem o DNA de Deus que, na cruz, mistura-se a nós, para que nos misturemos a Ele;
2.3. Carregamos no corpo o morrer de e em Jesus. O Espírito implanta em mim essa nova vida e viver em Sua plenitude significa crucificar a carne e ressuscitar em espírito: sem pensar que nesta expressão se esteja proclamado uma dicotomia.

3. A nova vida tem a marca de Cristo:
3.1. Significa dizer que as marcas do caráter de Cristo estão agora vivas em mim e são a nova matriz de meu caráter. A relação minha com Deus tem Cristo como meio e modelo, de maneira que suas virtudes sejam vistas em mim;
3.2. Significa dizer que esta é a única forma de comunhão com Deus e efeito único do evangelho em minha vida e na de qualquer um que crê. Ser igreja é ter essa identidade e o testemunho de Cristo, no mundo, está explícito na igreja assim entendida;
3.3. Não que se confundam as duas pessoas. A Pessoa de Jesus em mim habita pelo Espírito. E o que aparece, de minha própria personalidade, espelha Cristo, a obra dEle em minha vida e reflete a glória de Deus, na mesma proporção da comunhão de Jesus com o Pai. 

4. Viver pela fé:
4.1. Primeira coisa que não é: salto no escuro. Ridícula a timidez do crente em avaliar que crê num absurdo ou em algo in(mal)definido. Fé são olhos abertos, cegueira desfeita e retirada a venda com que satanás cobria os olhos;
4.2. Fé é firme fundamento, que se cava para dentro da Bíblia, para descobrir, com clareza, pela palavra, termos e terminologia da fé, porque a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus;
4.3. Cavar também para dentro de si mesmo. Fé é entender que estamos nus diante de Deus. Crer é entender que o Espírito, diante de quem nem Deus tem segredos, sonda e nos conhece, revela e nos convence do pecado, sensibilizando-nos para a conversão. 

5. O Filho de Deus:
5.1. Amou. A expressão do amor de Deus é ter-se a Si mesmo se feito homem, pôr olhos em nosso pecado e não poupar a Si mesmo, entregando-se à e na cruz;
5.2. Jesus é autor e consumador da fé. Não há outra maneira de ser. A fé ilustra a razão e não o contrário. Também é consumador, na história, por toda a humanidade, assim como na individualidade de cada um que crê;
5.3. Se não for pela entrega do Filho, primeiro esse movimento, de encontro à minha necessidade específica, não há como qualquer um obter resposta. Primeiro o Filho se entrega pelo meu pecado. Então vem minha reposta, por fé, a essa graça. 

Conclusão 
Estar crucificado com Cristo é ter e ver em si mesmo cumprido todo o propósito de Deus. Ele jamais poderia salvar o que crê por modo remoto. Por tecnologia digital. Por download de um programa qualquer. A Bíblia fala "morte, e morte de cruz". Terá de dizer "estou crucificado com Cristo". Não é  retórica. É batismo no e pelo Espírito Santo.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Artigos soltos 45

Nenhum sentido prático.

      Uma certa nostalgia me invade. Saudades de meu pai. Ele usava essa sentença. Era o fim de toda a polêmica. Quando dizia assim, o que se tinha em vista era absolutamente dispensável. Por quê? Porque não tinha sentido prático.

    Para ele, se valia não houvesse, era essa uma justificativa imediata, funcional e plena em resultado. Aplico essa mais-valia hoje e aqui ao sentido que muita gente faz do evangelho.

     Não tem sentido prático. Não que meu pai aplicasse essa sentença ao evangelho. Jamais. Além de professá-lo, repassou-o a mim. E eu, já muito velho, pelo menos para tanto, quer dizer, para apostatar da fé, vou mantendo.

      Mas na atualização dos dias, decorrer dos tempos, na época atual, vem sendo escamoteado, moldado às exigências deste século, ajustado às necessidades urgentes e imperiosas desta época.

      Independentemente de perda de conteúdo. Evangelho é mensagem de salvação. Do quê? É urgente (ora, toda "salvação" é urgente)? É radical? Pertinente? Afinal, que sentido prático tem?

     "Sentido prático" nesse contexto, acho eu, seria condicionar às exigências do que determina hoje o conjunto de prioridades do ser humano. Sentido prático. Vivemos uma época regida pelo prefixo grego "auto".

      Autonomia. Autoconhecimento. Autoajuda. Autoimagem. A regência das prioridades está ao alcance do toque, do touch, do touchscreen. Ao alcance de um toque. Ponha esse evangelho na tela. E diga o seu valor agregado. Vou decidir se tem sentido prático.

      Evangelho ajuda a compor a autoimagem. Associar a imagem pessoal ao sentido de um sacrifício, um sacrifício, vamos dizer assim, imenso, turbina a imagem de qualquer um. Seria, assim, um sentido subjetivo, imaterial, metafísico da existência.

     Autoajuda. Ninguém será tão prepotente assim que se caracterize como autossuficiente. Mostrar-se, assim, frágil, em determinados momentos, chorar, inclusive, ensejar dependência física, emocional, sentimental, enfim, empresta à pessoal uma feição mais humana.

     E os outros "auto", o que importa, é compreender que Deus está mesmo delivery, nessa fase da história da revelação, nessa dispensação, neste turno da economia das épocas. Deus a nosso serviço. E o evangelho como produto de prateleira de touchscreen, vai emoldurar a nossa imagem.

     O evangelho, nessa sociedade consumista e imediatista, tem de demonstrar sua "autovalia", ou corre um risco: de não ter nenhum sentido prático. Prático para este tempo, para esta época, sua mais-valia, ora, seu valor agregado.

     Talvez por tradição e costume. Era a fé dos avós. Por pura tradição, vale a pena. E também tem a ver com o grupo. Ora, projeção pessoal da personalidade no contexto do grupo, sempre terá algum valor (con)gregado.

      Igreja também é uma coisa que carece de atualização. Na medida em que atualizamos o evangelho, que também atualizemos igreja. Ninguém aguenta. Bíblia, de si mesma, é outra coisa antiga. Deus, então, sem se fala. Se bem que, para falar de Deus, requer certos princípios.

     Ele é eterno. Nem velho, nem novo. Mas as concepções a Seu respeito, é claro, necessitam atualização. Já caducam, junto comigo, as teologias. E precisamos de algo, vamos dizer assim, prático. As coisas precisam ter um sentido prático. Sob pena de se desatualizar no decorrer do tempo. E perdem sua mais-valia.

domingo, 12 de maio de 2019

Sermão do Dia das Mães

Questões que o mito sugere:

      Introdução: evangélicos conservadores resistem que o narrativa da Criação, no Gênesis, seja chamada tecnicamente de mito. Mas não encarar as verdades que, como gênero literário assim classificado o texto indica, diminuiu dramaticamente sua relevância no contexto canônico da revelação bíblica. 

       1. Estar nus diante de Deus é sua primeira e indiscutível verdade;
        O ser humano sempre é visto por Deus nu. Nossa maquiagem social, às distorções de nossa visão, o mundo platônico que supomos existir ou que criamos, enfim, toda a complexidade de séculos de história e filosofia humanas simplesmente desabam, caem por terra diante dessa simples realidade que o Gênesis, de antemão, desenha: estamos nus diante de Deus;
        2. Deus ter criado macho e fêmea, homem e mulher é outra realidade indiscutível: a Bíblia não é homofóbica, mas é heterossexual;
        Seja por intuição, empírica ou cientificamente, o homem da época e autoria do texto bíblico estabeleceu como princípio que homem e mulher se unem para que a unidade básica da sociedade, com o nascimento dos filhos, seja formada. Portanto, mãe mulher, pai homem e os filhos que nascem dessa relação é o modelo bíblico original de família.
        3. A queda, indicada como turbulência no relacionamento com Deus, é responsabilidade compartilhada pelo casal;
         Homem e mulher escolheram dizer "não" quando Deus dizia "sim" e vice-versa. Portanto, assumem as consequência dessa postura. Deus não impôs sua vontade, não impôs seu amor é não impôs sua bondade. Mas optar por não-Deus traz consequências relacionadas à não-vida, à maldade como experiência de vida e impõe pecado e morte como opção.
        4. Consequência direta da queda, até o relacionamento entre homem e mulher é afetado;
         Não há comunhão sem que tenha em Deus sua origem. A própria harmonia na criação testemunha isso, sendo o ser humano o único a pôr em risco essa continuidade. E para que homem e mulher consigam estabelecer uma relação harmoniosa, caso Deus não seja o regente, será impossível ou de qualidade discutível. 
        5. Os filhos, na economia da família, assim como em sua projeção para a sociedade, têm sua primeira escola no relacionamento familiar;
        Não podemos afirmar que temos, por exemplo, um Caim mais afeito ao pai, que mata um Abel, mais ligado à mãe, como se fosse uma vingança equivocada e tardia de Adão contra Eva por causa ainda da discussão de qual dos dois, afinal, foi mesmo o culpado no caso da queda, a história do fruto. Mas os filhos serão, de modo marcante, o que os pais modelarem, com sabedoria, em relação ao seu caráter.
 Como situar mãe nesse contexto:
1. Será a esposa que, em comunhão com seu marido, vai constituir o contexto idealizado por Deus para a família;
2. A Bíblia não pressupõe "produção independente". Pode ser biologicamente plausível, socialmente aceitável mas, não é biblicamente recomendável;
3. Mãe deve ser mulher e pai deve ser homem. Constituem-se, indissoluvelmente, marido e mulher, potencialmente pai e mãe de seus filhos;
4. Há razões justificáveis para que a mãe mulher esteja sozinha, mas devem ser ponderadas por motivos de força maior, como viuvez, por exemplo, ou questões relacionadas a separações que, apesar disso, não é algo que a Bíblia efetivamente recomende.


      

domingo, 5 de maio de 2019

Momento zero - 5

       v'ruah elohim mirahephet 'al-p'nei hamayim: vayomer elohim ihi 'or vayihi-'or: Last, but not least. Este texto será o último nesta sequência. Procuramos indicar semelhanças flagrantes entre a narrativa bíblica da criação e as narrativas científicas.

     Basicamente, partimos da ideia de que a ciência conseguiu chegar às partículas como unidade mínima na formação do universo, sem que tenha, para elas, uma definição precisa e sem que possa indicar como surgiram.

       Daí vermos similitude entre esse impasse e a narrativa bíblica, quando diz que Deus disse: "Haja luz". Luz é fóton, fóton é partícula. Portanto, a narrativa bíblica se coloca na gênese do universo, onde a ciência não tem uma descrição precisa do que ocorreu. 

     Portanto, não vejo incompatibilidade, ao contrário, vejo afinidades entre as duas linguagens. Também analisamos o trecho da narrativa do Gênesis, quando diz que "havia trevas sobre a face do abismo". Neste caso, mesmo reconhecendo ser essa descrição uma intuição compatível com a cosmovisão do homem antigo, opera-se outra notável semelhança.

       A ciência confirma que, numa proporção de 95,1 X 4,9 %, há no universo matéria escura em permanente interação com a matéria em si mesma, essa que compõe tudo o que existe. O big-bang, que se acredita ter sido provocado pelo choque de partículas, ocorreu em meio a essa massa de matéria/trevas, permitindo que, como numa fenda em meio à escuridão surgisse, a partir desse choque partícula/partícula de luz, a matéria que constitui o universo.

      Este último texto é especificamente escriturístico. Assim como entendemos as Escrituras como profecia de Deus aos homens, escrita, como disse o apóstolo Pedro, por "homens que falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", a narrativa científica é de homens para homens. 

      A ciência não tem nenhuma obrigação e não é seu método "descobrir Deus" ou provar sua existência. Quem tenta supor esse problema, não é científico. Afirmar que Deus existe, atua e se comunica é função da teologia. Do mesmo modo que as Escrituras não têm e não apresenta discurso científico. 

      Mas assim como podemos utilizar, no estudo da Teologia, que é uma ciência, o método científico, podemos avaliar afirmações das Escrituras e suas indicações históricas, por exemplo, por métodos científicos. Desse modo, afirmamos que Deus disse "Haja luz" e, dessa forma, desencadeou o processo que, literalmente, deu luz, deu existência ao universo. 

     E também afirmamos que cabe à ciência investigar isso, detalhar como foi, até onde puder ir, por meio de seus métodos. E investigar e descobrir como ocorreu, não significa dizer que Deus não existe. A frase hebraica que inicia este texto costumeiramente se traduz por dizer que "o Espírito de Deus pairava por sobre a face das águas". 

      As Escrituras estão afirmando que o Espírito Santo presidia a criação por sobre o oceano primordial. Podemos imaginar etapas na criação, aliás, indicadas na própria narrativa caracterizada pelos 6 + 1 dia de descanso.  O próprio planeta já formado, segundo os cânones da geologia nos revelam, à espera do acabamento final, que incluía as condições para que, nele, pudesse brotar vida biológica. 

       As Escrituras afirmam que a vida do homem/mulher não é somente biológica. Assim como o Espírito de Deus, para Deus, é seu alter ego, para o homem, o seu próprio espírito também o é. Assim como o Espírito de Deus presidia a criação, vagando por sobre a face das águas, assim também é chamado por sabedoria de Deus e perscrutador de Deus.

        Assim como é aquele que validou como legitimo o sacrifício do filho, Jesus Cristo, perante o próprio Pai, em favor do homem/mulher e de toda a criação. Esta matéria, aqui no sentido de assunto, é específica da Escritura. Dizer que a origem do universo está num ato de Deus, ao dizer: ihi 'or vayihi-'or:, ou seja, "Haja luz, e houve luz", é específico das Escrituras.  A receita de como, no mundo da física, esse processo se desencadeou, é tarefa da ciência.

      E crer, participar da vida do Criador, aguardar a restauração da vida, para além da morte, assim como a restauração da própria criação, é matéria de fé, está garantida pelo próprio Espírito de Deus. Ele opera no homem/mulher o que está relacionado á afirmativa essencialmente escriturística, de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. 

       O Espírito de Deus aguardava, ansioso, até que Deus pudesse revelar-se ao homem. Esse é o específico das Escrituras. O Espírito preside as ações de Deus, opera na consciência humana e estabelece no homem as condições de que lhe seja restaurada a imagem e semelhança de Deus. Aguardava a chance de restaurar no homem/mulher o amor de Deus. 

      Moisés, repórter no momento zero, estabelecendo o específico da ciência e das Escrituras.

sexta-feira, 3 de maio de 2019



Flores como presságio 

       Estou chegando aos 62. A gente prevê presentes, quando aniversaria. Já ganhamos todos. Morando a 4100 km do Rio de Janeiro, cidade natal, inúmeras vezes precisei voltar, exatamente visando visitar a família.

       Família é o maior presente.  Faz 50 anos que convivo com Di e Gi. Recém casados, estava eu lá por Nilópolis, aos meus 12 anos de idade. Façam as contas. Pois 50 anos depois eles me acolheram de novo. 

       Como a vida é caprichosa! Deve ser pelo heroísmo de mulheres como a vó Bernardina e a vó Eunice. Porque as marcas que essas mulheres deixaram, permite acolhimento. 

      O que ensinaram e a vivência que transmitiram, para quem presta toda a atenção, traz consigo o dom de hospedar e acolher. Há 50 anos atrás, Dirley tirava as dúvidas de língua portuguesa. 

     Nem ele e nem eu sabíamos, ainda, que ser professor de português, como ele sempre foi, seria a mesma ocupação que me permitiria, em parceria com Regina, criar Isaac e Ana Luísa. 

     Está aí o dom do acolhimento. Está aí a escola de Bernardina e Eunice. O capricho da vida. A providência de Deus, no caso de minha teologia. Gente do interior. O que tem de melhor nessa história toda.

      Conversamos muito sobre Aqueles Meninos. Assisti à acolhida de Emanuel e Vando, este o caçula. Ouvimos as canções daquele. Apreciamos os quadros do mais velho, dr Carlos. Mergulhamos na troca de cartas entre ele e o profeta Jailton.

      Voltamos no tempo. Às margens do Paraíba do Sul. Ao burburinho da festa de São Pedro, na praça. Aos hinos da igreja e às lições da escola dominical. Ao barulho do trem chegando à estação. 

     Eu sempre tenho medo de cirurgia. Sou meio alarmista. Por isso que a Dama da Noite floriu, na primeira noite de minha chegada. Para quem acredita em presságio, pode ser. Eu nem acredito.  Mas acredito em amor e em acolhimento. 

      Faz mais de 50 anos que ganhamos presentes de gente do interior. Faz mais de 50 anos que ganhamos gente boa como presente.  Na minha teologia, providência (e vivência) de Deus. Maestria da sabedoria e do exemplo de vida de  Bernardina e Eunice.


quinta-feira, 2 de maio de 2019

Momento zero 4 - hosheq

     v'hosheq 'al-p'nei tihom: "E trevas por sobre a face do abismo. Muito interessante essa parte. Porque, evidentemente, era intuitivo, novamente, o homem da época, deslumbrado com a beleza do céu noturno, avaliar que as trevas tinham função diversa e imensa na composição do cosmos. 

      Essa mesma intuição haverá com relação às águas. Vai imaginar que elas preenchem os oceanos, mas que também sobem por detrás do firmamento, para despencar, quando são abertas as comportas dos céus. Porque, de que outra madeira água poderia cair, a partir do firmamento?

       Mesmo primitivas, pode-se dizer, dessas deduções, a expressão de que havia "matéria escura" e só ela antes de que, como por uma brecha, fosse desencadeada, no sistema, a energia que abriu a fenda atual, dentro da qual o próprio universo se expande. A ciência estabelece numa proporção de 95% a quantidade de hosheq, "trevas por sobre a face do abismo".

            Em Gênesis 1.4 lemos: vayareh elohim 'et-ha'or ky-tov vayabdel elohim beyn ha'or ubeyn hahosheq: E vamos nos acostumando com o hebraico. Aqui está escrito que Deus "fez separação entre luz e trevas", mais especificamente estabeleceu os limites entre luz e trevas. Por isso dizemos que foi aberta uma brecha, uma fenda de 5% de matéria que forma todo o universo em 95% de matéria escura, ambas em contínuo balanceamento. Vivemos no coração de um big-bang em curso.

    Trata-de do ACDM ou "Modelo Cosmológico Padrão", o mais aceito e que tem obtido grande sucesso na descrição da formação  da estrutura em grande escala do universo. Vejam que se trata de um modelo científico de compreensão que, até agora, melhor explica o modo como, na estrutura do universo, numa proporção de 95,1 X 4,9 % , equilibram-se matéria escura e o restante visível no conjunto total de massa-energia do universo.

       Que se diga não há nada a ver entre matéria escura, dado científico, e a hosheq bíblica, as "trevas por sobre a face do abismo". Mas absurdo não se poderá dizer. Diametralmente oposto, jamais. Total coincidência ou equivalência, que não se diga. Mas a imagem de um universo infinito, em constante expansão, como deduz a ciência, escuro, trevas como substrato da energia, com partículas de matéria e matéria escura em constante equilíbrio: inegável a semelhança entre as duas descrições.  

      Imagem precisa. Mito, diz a definição, é "narrativa imagética". Dizer que "havia trevas por sobre a face do abismo", assim como dizer, para a base axiomática das partículas, o "haja luz", visto que, antes do antes, são as partículas, caramba, repito: inegável semelhança. Que mito porreta esse. "Narrativa imagética" porreta! Haja luz!

      Moisés, debaixo das "trevas de por sobre o abismo", no contrabalanço do gingado da matéria escura, em constante equilíbrio no ACDM, ciência esperta, entendendo tudo, chegando à reboque.

Momento 3 - tohu vabohu

    A narrativa do Gênesis, literariamente classificada como mito, está condicionada à cosmovisão do contexto cultural em que foi produzida. A pesquisa moderna tende a indicar o período persa, já tardio, no século VI d.C., como data de sua produção.

        A tradição remonta a Moisés a autoria, supondo ter sido ele também o principal autor do restante do Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Quando muito, redatores ampliaram o material mais tardio desses livros, a partir dos trechos de autoria confirmada de Moisés.

       barah elohim et hashamayim v'et ha'arets: v'ha'aretz hitah tohu vabohu. A partícula gramatical "et" indica a relação direta da ação do verbo barah, "criar", com o objeto criado, ou seja, alvo da ação: hashamayim, "céus" e ha'aretz, "terra".

       Empiricamente, o homem daquela época intuía a expansão do firmamento, "shamayim", estendido por cima da terra, "eretz", que tinha seus limites na linha do horizonte. Assim como imtuía que a ordem vista na natureza a sua volta teve um autor.

      O homem moderno traz para si mesmo os louros de sua própria fama, como autor de suas próprias invenções. Nada mais faz do que manipular o que existe. Aprende a partir de seus estudos e deduções do que já encontrou pronto. Portanto, chama a si mesmo "inventor", "cientista", "criador". Suas invenções têm até patente.

      Mas ao universo, esse mesmo homem nega autoria. O que existe, não pode existir a partir do nada. E a complexidade do que existe, requer autor. Mas o homem moderno atribui a si mesmo genialidade e ao acaso atribuiu o universo. Estruturas que o homem, em sua pretendida ciência, jamais imaginaria compor, encontrou prontas.

      Mas nega que tenha havido autor. Pretensão sua. O homem encontra a água como essencial à vida. Cada pedaço de corpo celeste que encontra vagando, como asteróide, ou seja a lua ou qualquer planeta que pretenda alcançar, sonda para saber se encontra qualquer resto que seja de água. Ele intui ser impossível vida biológica sem água. E anseia por encontrá-la fora do planeta, na ânsia de provar que vida surge espontânea por aí, com água alhures.

       Até sabe a fórmula da água. Que tem dois átomos de hidrogênio, por um átomo de oxigênio. Pode, inclusive, obter por diálise esses dois gases se água lhe for dada. Mas jamais e ainda não consegue produzir água se lhe forem dados os componentes hidrogênio e oxigênio. Água é um dado. Está aí.  Não tem autor.

        Desmembrando, vai chegar aos gases que, uma vez ainda desmembrados, chegam às partículas que, por sua vez, bem, antes delas, nada. Nem autor. O que a ciência pode aprender e ensinar, garante por meio de seus teoremas e hipóteses. Ela não se atreve a afirmar o de que ainda não sabe e nem tem certeza.

       Sim. Ela nada pode dizer do Autor. Mas dEle se diz: "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Paulo Apóstolo: "Os atributos invisíveis, o seu eterno poder, como támbem a sua própria divindade claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas".

         hitah, a condição como a terra "estava", tohu vabohu, palavras hebraicas que ocorrem como que agrupadas, bem traduzidas por "sem forma e vazia". A geologia demonstra como se formou a superfície da terra, que processos, tempo e tipos de rochas formam a superfície, sejam da extensão seca, sejam do profundo dos oceanos. Lava fervente, resfriamento, fusão, fissão, magma incandescente e equilíbrio magnético para fixar a atmosfera.

  Tudo bem ajustado. Perfeito balanceamento. Como numa encubadeira gigante, o planeta sem forma e vazio aguardava a vida. Vida vegetal e animal. Seres terrestres, aquáticos e alados. Flora e flores multivariadas. Frutos de múltiplos gostos e aromas. Diga, portanto, ciência, com previsão milimétrica, segundo a segundo, como foi. Mas nunca, jamais vai poder concluir, ao final que, tão perfeita e complexa obra foi feita por ninguém.

     Belo instrumento a ciência. Mas será ridículo deduzir que esta casa que nos abriga não teve nem autor e nem arquiteto. Dentro dos limites que a si mesma se impõe, jamais fará tal afirmação. Não tem como sustentá-la. Moisés, repórter falando direto do momento zero na formação de tudo isso que está aí. 

       

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Momento 2 - barah elohim

    Desculpe a ciência. Tenha paciência, adverte o corretor de meu smartphone. Em minha mão, esta é uma das mais recentes invenções do ser humano. Indica que ela está fazendo direitinho o dever de casa: aprende, a partir do que está posto, e inventa.

     Ciência não deixa de ser, também, o método preciso de descrição do que está posto. No texto anterior, verificamos como ela vai até o fóton. Construíram o LHC para entender o bailado das partículas, dança misteriosa, que deixa traços e pistas do que ocorreu "No princípio".

      O Bóson de Higgs, por exemplo, "provisoriamente confirmada" como existente em 14 de março de 2013, é a mais recente e reconhecida partícula que vem ajudar na estruturação do chamado Modelo Padrão de Partículas. Ele não é a partícula-mãe no "Haja fóton", não: ele é uma espécie de "mensageiro", como um quântico Mercúrio, nesse mini-Olimpo, divertindo-se e trocando informações entre as demais partículas.

        A ciência faz o dever de casa. Daí o nome Modelo Padrão. Está descobrindo os fótons. Ainda não tem um modelo para deduzir, e os fótons? Como estavam lá? De onde vêm? Qual o "No princípio" para eles ou antes deles? Haja luz! E haja paciência, da parte da ciência, que só abre a boca, quando tem certeza. E de nossa parte, para ouvir muita abobrinha, inclusive em nome de ciência.

      Portanto, é possível dizer que, somente uma leitura equivocada (até mesmo intencional) do Gênesis, ou uma leitura, do mesmo modo, equivocada da ciência permitem achar um conflito inconciliável entre os cânones da Bíblia e da ciência. Porque a Bíblia diz "Haja fóton" e, a partir daí, com o bailado das partículas, incluída a pressuposta e quase confirmada ação da apelidada "partícula de Deus", o bóson de higgs, desencadeou-se todo o processo.

       Deduz-se, facilmente, por esse raciocínio que criação nunca entrou em choque com evolução. Cada uma tem seu "No princípio", ou seja, seu lugar no desencadear do surgimento do que está aí, para ser visto. Deus disse: "Haja luz". E houve luz. E, uma vez começada a dança das partículas, a coisa toda culminou no big-bang (diferente de bang-bang).

      Você até pode não acreditar que o fóton surgiu assim, com Deus dizendo "haja". Mas até aqui também vai a ciência: ela não tem uma teoria que explique a origem das partículas. Neste ponto, convergem Bíblia e ciência. Seria o "ponto axioma" do universo, quer dizer, de tudo o que está aí.

       barah elohim significa "Deus criou". O verbo "barah", do hebraico, é palavra rara e de pouco uso na linguagem bíblica. E também fora dela, no referencial das línguas semíticas, entre elas o árabe e o hebraico, nascidas por ali, na Mesopotâmia e regiões do entorno, essa palavra não aparece facilmente.

     Então, ficando nas informações disponíveis no texto bíblico, verifica-se que barah, criar, só se aplica a Deus: barah elohim significa "criar" como "trazer à existência", ato exclusivo de Deus. Ou seja, na linguagem bíblica Deus trouxe à existência o que antes não existia. A ciência, obrigatoriamente, precisa de um ponto de partida concreto para definir como tudo começou. Ela chega à partícula.

      A Bíblia afirma que Deus trouxe à existência a partir do que não existia. Parabenizamos a ciência por nos mostrar o modo como tudo veio a existir. Ela cumpre sua função. E nos colocamos nesse "ponto axiomático" no qual ocorre essa convergência: a ciência chega de ou até onde não mais avança e encontra Deus dizendo "Haja luz". Eu desconfio que começamos a entender, cientificamente, o modo como Deus trouxe à existência o que aí está: ex nihilo nihil fit, como disse Parmênides: a partir do nada, nada existe.

       Moisés, o repórter das Escrituras, falando diretamente do b'reshit barah elohim: fiat lux,  "ponto axiomático" a partir do qual surgiu tudo isso que está aí. 

Momento 1 - b'reshit

No princípio

      No hebraico, b'reshit, composição de b', "em", preposição, rosh, "princípio, cabeça", por exemplo, o primeiro dia do ano se chama "rosh hashanah", como "cabeça/princípio do ano" e o sufixo "it", formador do substantivo "princípio'.

      Necessário saber que princípio. No sentido do próprio mito bíblico e no sentido científico. Isso porque do chamado Iluminismo para cá, também conhecido como "Século das Luzes", prioriza-se a razão, e nada pode ser explicado senão por ela. Daí reduzir-se Deus a um objeto do conhecimento, capaz de ser discernido pela razão.

        Portanto, que bases científicas tem o repórter do Gênesis? Pois vamos deduzir, ao final, como a própria ciência, como num refluxo, vem em socorro do nosso repórter do Gênesis. Ora, se nem o que existe, em sua totalidade, pode ser descrito pela ciência, ela mesma sem ter aplicado, a tudo o que existe, o método da razão, como tentar descrever aquele que, supondo-se que exista, é o Criador e fonte de tudo o que existe?

      Para conhecer o quê, "No princípio", somente seria possível pela razão? Ela teria, então, todo material e método para tal? Diz-se que ela vai ao limite. Retrocede, a partir do que existe, até a partícula. Há uma unidade mínima que, a partir de si mesma e de fenômenos articulados com outras, desencadeia o universo.

       A partir do que está posto, pretende-se a solução de todo o mistério da criação. Fenômenos astrofísicos além de, do mesmo modo, quânticos são desafios na busca de se compreender toda essa macro e micro composição do cosmos.

      Caso a ciência pretenda definir o big-bang, como supõe, haveria partículas que, uma vez provocado entre si o choque que, hipoteticamente falando, vai formar a matéria, essencial à existência do universo, partículas denominadas fótons seriam o ponto mínimo de partida para o desdobramento desse fenômeno primordial.

      Que ponto, para a ciência, é "No princípio"? Partículas colidem, fundem-se e surge a matéria. O acelerador de partículas LHC - Large Handron Collider, entre outras atividades, testa essa teoria científica. Para a ciência, a partir de partículas, tenta-se estabelecer o ponto de partida, o ponto zero da origem do universo. Até aqui ou a partir daqui vaivém a ciência.

      O "No princípio" bíblico afirma que a primeira palavra de Deus foi "Haja luz". Haja partícula. E, nesse aspecto, há um ponto de convergência entre ciência e fé, porque as duas supõem que tudo passou a existir a partir do fóton, ou seja, a partir da partícula.

      O narrador do Gênesis, dessa forma, antecipa o que somente muito tempo depois e, principalmente, em nossos dias, com o tamanho e tipo do Large, "Grande", como diz o nome, Grande Colisor de Hádrons, neste ponto se encontra a ciência, filha dileta da filosofia.

      Falando diretamente dos instantes iniciais pré-formação do universo, mais propriamente conhecido como "No princípio", b'reshit, em hebraico, Moisés, o repórter das Escrituras.