sábado, 30 de junho de 2018

BÍBLIA 15

        Apedrejar filho que desobedece pai e mãe, idólatras ou homossexuais são prescrições bíblicas que perguntam se foi ordem divina direta ou homens presumiram que fosse.

        Israel tentou montar uma teocracia. Reflexo dessa tentativa vã foi um código de leis que pretende ser, todo ele, ordem expressa de Deus, em Pessoa.

       O chamado Decálogo já é mais consensual que fosse inteiramente emanado do Altíssimo, 5 + 5 mandamentos, os cinco primeiros referentes à relação Deus-homem e os cinco últimos à relação homem-homem.

        É necessário ler a Bíblia entendendo que nasce no contexto desses povos antigos que, por exemplo, praticavam o genocídio: eliminavam todos os inimigos, às vezes poupando só mulheres virgens, para serem concubinas e/ou escravas.

       A revelação progressiva de Deus leva em conta o homem no estágio de sua história. Deus se revela um Deus de amor, mas jamais obriga o homem a entender isso.

        E não somos marcianos, somos terrestres. Não somos extraterrestres evoluidíssimos, que já chegamos prontos ao planeta. Aliás, quem pressupõe a figura ridícula do uga-uga, homem/mulher das cavernas, nem é a Bíblia: aparecem nas animações digitais "científicas".

        Portanto, sem preconceitos. A maldade não é privilégio, ao inverso, de nenhuma civilização em especial, ao oriente ou ao ocidente: essa praga afetou a humanidade inteira.

     Então, quando o texto bíblico mostra, sem nenhuma censura, chacina, estupro planejado, estupro coletivo, linchamento, preconceito, discriminação, pena de morte etc, não me venha responsabilizar Deus.

       Todas essas desgraças são resultado de ação humana. Quem pratica o mal contra o próximo é o homem e a mulher também. Quando a Bíblia estipula "olho por olho, dente por dente", possa parecer estupidez.

        Mas não foi. Era porque vasava-se o olho numa agressão e ficava por isso mesmo. Quebrava-se o dente no mesmo gesto e ficava por isso mesmo. Então se resolveu punir, no mesmo preço, quem assim se acostumou a agredir: furou o olho do outro, o seu será furado também.

      Foi evolução naquela sociedade arcaica, sim, em relação ao nosso tempo. Mas a maldade daqueles dias é, exatamente, a mesma de hoje. E quando mandavam apedrejar o filho que ofendesse pai ou mãe, outra evolução.

     Era porque virara rotina filhos que não estavam nem aí para os pais anciãos. Sim, porque enquanto jovens, esses pais se defendiam. Uma vez idosos, eram oprimidos pelos próprios filhos.

       Pois é falta de critério, ignorância nossa, quando acusamos o texto bíblico, misturando maldade humana com preceito legal daquela época. A lei rigorosa era uma tentativa de pôr ordem ao caos.

        E quando condenava e ordenava apedrejamentos, nas relações sexuais transversais, homem com homem, mulher com mulher ou variações a três e/ou grupais, além de sexo bestial, quer dizer, com animais - quanta variedade no reino humano, não é mesmo?! -, ora, era reflexo da sociedade daqueles ermos tempos.
     
      Deus não ordena apedrejamento e nem pena de morte. São ordenamentos estabelecidos por grupos presumidamente teocráticos que, agindo assim, julgavam fazê-lo em nome de Deus. Ora, pena de morte existe hoje, em nome do homem mesmo.

         Muito embora, já de início, a Bíblia entenda morte como sepultura para o pecado: "condenou Deus, na carne, o pecado" (Paulo Apóstolo). Quer dizer, homem/mulher condenados a morrer, para dar fim definitivo a sua sina de pecadores. É assim que a Bíblia explica o porquê da morte.

       E também a Bíbla é heterossexual em sua cosmovisão. E tem esse direito, assim como os outros grupos têm os seus. Casamento, para a Bíblia, é heterossexual, monogâmico e indissolúvel. Se o homem estabeleceu variações para isso, a responsabilidade é dele.

        É necessário distinguir fala de Deus/fala do homem. Deus revela seu caráter nas Escrituras. O homem também revela o seu. A Bíblia propõe que andem juntos, Deus e o homem, em comunhão.

       Com diz Isaías, o profeta, Deus convida o homem: "Vinde e arrazoemos", ou seja, diante de Deus, que o homem exponha suas razões. E continua Deus: "ainda que o seu pecado seja mancha escarlate ou mancha carmesim, vai se tornar, pelo poder de Deus, branco como a neve ou como alva lã". Deus, somente Deus tem o antídoto para a maldade humana.


sexta-feira, 29 de junho de 2018

Artigos Soltos 31

        Inferno. Temos um problema. Os que não acreditam em Deus, tem mais uma acusação contra Ele. Diz que inferno existe. Então, suma injustiça, o Altíssimo vai se vingar, enfurnando lá, por toda uma eternidade, Seus desafetos.

        Portanto, caso Deus não exista mesmo, resolvida a questão: não existe Deus e não existe inferno. Somos top de linha da evolução (apenas com esse defeito - que nem os irracionais apresentam - da maldade inata) e nosso destino é, como eles e os vegetais, apodrecer no solo e, como exalação, entrar no ciclo do hidrogênio.

      Mas, supondo Deus existir, prevalece o problema. E acreditar no inferno, diríamos nós, seria uma primitiva forma de separar bons e maus, acalentada na antiguidade e sepultada na Idade Média, com o advento do Iluminismo. Bem-vinda a era das luzes, para nos livrar das trevas da ignorância.

       Embora prevaleça a maldade, ainda como hipótese de trabalho, e mal definida. Porque uns dizem (1) nascemos bons, porém o meio nos corrompe; outros dizem (2) o mal é mazela social: consideraremos o progresso social, isolaremos, diminuiremos, anularemos o mal; ou ainda (3) ainda faltam alguns milhões de anos, mas chegaremos lá, a evolução resolve isso: afinal, ainda estamos no meio do caminho e, com aperfeiçoamento, ficaremos bonzinhos.

        Mas a Bíblia trabalha com outra lógica, contando outra história. Deus nos criou a Sua imagem e semelhança. Deu-nos opção de fazer escolha. Até aqui, qualquer ativista dos Direitos Humanos vai absolver o Criador, porque (1) liberdade e (2) livre arbítrio são duas colunas irremovíveis. Aliás, a todo o momento, francamente reivindicadas.

       Aí, deu ruim: o homem escolheu ser mal. Fez a escolha errada. Pronto, a partir dessa parte da história, supondo vir acompanhando o raciocínio, ou seja, supondo que Deus exista, começa-se a culpá-lo.

       Mas olha só que absurdo: culpar Deus de ter criado o homem? Culpar Deus de dar ao homem total liberdade? Culpá-Lo de que o homem tenha feito a escolha errada?

      Parados aqui. Independente-
mente da história, com/sem Deus, a maldade no homem (1) não é logica ou racional; (2) nada tem a ver com o nível social, visto que em Brasília ou na sarjeta mais periférica a escola do mal é a mesma; (3) e nada tem com "defeito de fábrica" na evolução, porque tanto na antiguidade, quanto na modernidade ou pós a maldade da humanidade mantém seus requintes.

      Jesus disse, certa vez, antecipando sua morte - por sinal, covarde e injusta - que "na casa do Pai há muitas moradas: vou preparar-vos lugar". Supondo que Jesus estivesse falando a verdade, há lugar (de sobra) na "casa do Pai". Siga o raciocínio: Jesus fala aqui da ressurreição, penúltimo capítulo da história da humanidade.

        Nao esqueça: estamos supondo. Bem, então, quem vai para a casa do pai? Quem você recebe em sua casa? Deus, na casa dele, recebe quem deixou a maldade para fora de si mesmo. Esqueci de dizer aqui, mas todos, diante de Deus, somos iguais.

      Deus deseja acesso ao nosso interior para, pelo Seu poder, mudar a nossa índole. A maldade do homem só pode ser mudada pelo poder de Deus. Isso diz a Bíblia. Essa é a lógica das Escrituras.

      Mas o homem continua (1) livre e de posse do (2) livre arbítrio. Deus nunca vai forçar ninguém a se tornar bom. Deus nunca vai invadir o íntimo de ninguém. Mas também não vai permitir acesso, em Sua casa, a quem quiser entrar trazendo consigo sua maldade.

      Os maus ficarão fora da casa. Inferno é o lugar fora da casa. Não tem a cara de Deus. É o lugar onde os maus resolveram ficar com sua maldade. O problema é uma "visão romântica" da maldade, tentando dizer que, no fundo, no fundo não passa de uma "pirracinha" de seres "involuídos".

       Para a história da Bíblia, maldade tem rosto humano. É somente o amor de Deus implantado por Deus na vida do homem, de fora para dentro, que pode salvá-lo de sua própria maldade.

      E a Bíblia ainda afirma que a morte física não é o fim da humanidade. Assim como Jesus ressuscitou, bons e maus ressuscitarão. Quem optou por Deus, para que, em Jesus fosse, por Deus, transformado, terá acesso à casa do Pai. Quem nunca permitiu que Deus agisse em sua vida, para ferir de morte o mal, fica fora da casa. Fora da casa é o inferno.

      É assim que creio na maldade. E nem preciso de fé para tanto. Inferno não tem a cara de Deus. Tem a cara da maldade e dos que a ela se apegam até a morte. Para eles, não poder mais exercer sua maldade é que lhes será o maior castigo. Livre arbítrio é livre escolha para fazer ou não fazer. Muita gente acha que liberdade é só para dizer "sim". Também é para dizer "não" à maldade e sim a Deus.

BÍBLIA 14

       Dificuldades bíblicas costumam ser denominadas quando ocorrem situações que complicam a compreensão de partes do texto ou eventos e histórias descritas.

       Por exemplo, logo no início da jornada, quando está escrito que Caim matou Abel, ou seja, o ruim matou o bom, esse desfecho caminha contra o senso comum.

      Fica mais parecido, mesmo, com a realidade quando, em diversas situações, os maus prevalecem contra os bons. E o interessante que, na história, Deus procurou o mau, para argumentar com ele.

       Se entendemos que Deus, realmente, falou a Caim, sem que, por licença poética, o autor tenha imaginado o diálogo, o Deus apresentado, ou melhor, a "ideia de Deus" não se revela, em nada, utilitarista.
     
      Hoje em dia, com a moda de "igrejas de arrecadação" (de dinheiro) e  mensagens de consumo ou de autoajuda, esse Deus aí do Gênesis não se encaixa nessa onda. Senão, vejamos.

      (1) Não protegeu o bom de ser assassinado pelo mau; (2) A fé do bom (será que a fé que Abel tinha era mixuruca?) não evitou que fosse morto; (3) O Deus do Gênesis não procurou o bom, para conversar (pelo menos, para dizer: "Vaza, Abel: teu irmão quer te matar!"), mas deixou-o "na mão" (e bem foi na "mão de Deus"!); (4) Deus, que é presciente, deu uma de "inocente": sabia que o papo dEle não colaria, mas insistiu com Caim.

      Definitivamente, não é um "Deus de consumo". A Bíblia já começa, pelo Gênesis, prevenindo você que Deus não está lá, em cima (e nem aqui embaixo) para resolver problemas do jeito esperado.

      Há uma soberania dEle por cima das circunstâncias e situações (diga-se, de passagem, engendradas, criadas pelo próprio homem) que foge a qualquer lógica humana. Diz Paulo Apóstolo ser "Aquele que faz todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade".

      Aqui, Paulo cita Isaías, o profeta. Deus age segundo a Sua vontade, sem pedir nem a minha e nem a sua e nem de ninguém opinião. Aliás, o ser humano também age assim. Com uma diferença: o ser humano demonstra ser, igualzinho a Caim, pelo menos, eventualmente mau.

      Deus é bom. Está aí uma pequena dificuldade bíblica. Lidar com situações em que ela contraria o senso comum e os "profetas" do sempre bem e sempre bom. Jesus confirmou que, no mundo, teremos aflições. Mas, por Ele e pelo ânimo dEle, podemos vencer.

       Não espere que sempre suas expectativas, numa lógica de consumo, sejam correspondidas. Outras máximas ao contrário do senso comum a Bíblia insiste em confirmar, uma delas, mais este exemplo, amar o inimigo.

      Deus nos amou quando inimigos. Amar o inimigo é o principal exercício de toda a lógica bíblica. Jesus nos manda fazer isso, como único mandamento. E o Livro ainda diz que, se há quem diga "amo Deus", mas odeia seu irmão (qualquer um que seja), é mentiroso.

        Quem não ama ao irmão, que vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. A Bíblia só concebe dois fundamentos: amor/ódio. Se não amarmos, prestem atenção, não resta opção senão o ódio. Disfarçado, sim, com "verniz social", que ninguém é besta de queimar seu filme.

      Entender que a proposta da Bíblia não é de uma lógica individualista ou mesquinha é a primeira dificuldade bíblica. Ela não corresponde às tuas expectativas nem às minhas. Embora haja uma tentativa de sequestro como sua, perdeu: a Bíblia não pertence a nenhuma religião. É mais popularmente conhecida como "palavra de Deus".
     

     

quinta-feira, 28 de junho de 2018

BÍBLIA 13

       O trato e toda a metodologia de pesquisa dos elementos componentes do texto do AT também são aplicados ao texto do Novo Testamento.

       Tratados como obras literárias da antiguidade, a própria menção dos nomes de seus autores, atribuídos por cuidadosa tradição é, frequentemente, questionada.
 
        Assim que enumerar os nomes, Mateus, Marcos, Lucas e João, como atribuir a Paulo as 13 epístolas, exceto Hebreus, ou confirmar duas cartas de Pedro, três de João ou referir os demais autores como epígrafe dos livros escritos, não é unanimemente aceito pela crítica desses exegetas, predominantemente alemães.

        Tanto no AT, quanto no NT, cada livro da Bíblia é tratado documento antigo, ao qual serão aplicadas as técnicas de crítica literária, como a qualquer outro tipo de texto, independentemente de sua época de composição.

      Muitas vezes não haverá como confirmar ou não essa autoria, devido à antiguidade dos documentos, sem que haja qualquer outra pista que não a própria tradição.

      Os livros proféticos do AT, por exemplo, possuem um núcleo mais antigo, geralmente atribuído ao profeta em questão, bem como adições posteriores, feitas por discípulos ou pela escola de profetas.

       Com relação às cartas de Paulo, também há autores que defendem, na maioria delas, a ocorrência de material acrescentado por discípulos desse apóstolo.  E no caso das cartas pastorais, são inteiramente atribuídas a esses mesmos autores secundários, porém com algum material paulino.

       Destaque-se que esse critério, denominado "alta crítica", é particular a esse grupo restrito de exegetas. A consequência direta é certa fragmentação do texto bíblico, assim compreendido.

        É necessário conhecer a variedade das conclusões desses autores, com relação aos textos do AT e do NT, de modo a preservar, por argumentos, a intenção específica e única do texto como veículo de revelação.

        Há tendência, muitas vezes inconsciente, de desacreditar a Bíblia, devido à fragmentação mencionada. Por exemplo, dizer que a única Carta aos Coríntios autenticamente paulina é a primeira, sendo a segunda uma reunião de outras duas ou três.

       Que as cartas pastorais são de outro(s) autor(es), que não o Apóstolo, mas que seguiram sua linha de pensamento. E que, entre outros, o Apocalipse é de um João anônimo, se é que é de qualquer "João" desses.

       Pouco lida até pelos crentes, como vem sendo, e enfocada por essa ótica, a Bíblia segue pouco entendida e depreciada. E tais teorias, desconhe-
cidas por líderes mal preparados, ainda são mal apresentadas ao público leitor.

          Revistas de banca de jornal, como Galileu, Superinteressante, Mundo Estranho e seus links na net, espalham a quatro ventos essas hipóteses. Não que depreciemos aqui, sejam as revistas ou as teorias, mas é que tal assunto requer critério de pesquisa e orientação especializada.

       Prevalece, nesse caso, a cuidadosa leitura, na busca do conteúdo exclusivo do Livro: de que modo "homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo". Em sua época, em sua língua, imersos em sua cultura.

        Isso posto, já foi dito: os estudos desses gêneros literários diversos, bem como da tradição de manuscritos assim produzidos e sua transmissão, com ou sem retoques, confirmados por méto-
dos criteriosos, todo esse conjunto compõe as Escrituras, uma vez por todas dada à humanidade. E cremos que Deus fala por meio dela.
     

     

     

quarta-feira, 27 de junho de 2018

BÍBLIA 12

       Julius Wellhausen (1844-1918), alemão, é o padrinho da famosa "hipótese documentária" de formação redacional do Pentateuco.

       Sugestiva ideia de procurar conhecer a partir de que fontes e por qual maneira tiveram sua origem e foram sobrepostos os documentos e textos originais que dão forma final aos primeiros cinco livros da Bíblia.

         Pode-se reparar, mesmo na versão portuguesa, duas formas distintas de começar a história da criação, com nomes diferentes para Deus, assim como repetições de narrativas na história dos Patriarcas. A presença do que se chama "leitmotiv", motivo condutor, que são expressões que reaparecem ao longo do texto do Antigo Testamento.

       Esses dados revelam respeito a fontes distintas de informação, no caso das repetições e nomes diferentes, assim como trabalho redacional, no caso desses "refrões" que aparecem repetidos.

       A partir dessas constatações, variadas formas de críticas científicas passaram a surgir, com vistas a estudar, metodicamente, o processo de formação desses livros: crítica das formas, crítica da tradição, crítica da redação etc.

       Wellhausen propõe quatro documentos principais que estariam no ponto de partida da formação do Pentateuco: J, E, P e D. O primeiro, conta a história da criação nominando Deus como Javé, a partir do tetragrama hebraico Yaweh, por isso denominado "javista".

        O segundo, traduzido "Senhor Deus" na versão portuguesa, denomina Deus pelo hebraico Elohim, daí ser identificado como "eloísta". O terceiro, a partir da palavra inglesa "priest", sacerdote, recebe a letra P e o nome "sacerdotal".

      O quarto recebe D como indicador e é conhecido como "deuteronomista", responsável tanto pela formação predominante do Deuteronômio, assim como na continuidade do AT, através da narrativa histórica, como "história deuteronomista".

       A tradicional atribuição da autoria por Moisés de todo o Pentateuco, nessa perspectiva, ganha uma revisão. Que partes remontam a ele? Quantos e quem são os demais autores? Que escolas de redatores participaram e de que modo nessa tradição?

       Várias teorias são construídas, autores sobre autores opinam a respeito, predominantemente alemães. E a metodologia dessa modalidade de autoria, qual seja, tradição(ões) mais antiga(s) seguidas por fragmentos e redações posteriores, também entra na explicação da composição dos livros proféticos.

        Assim como aos demais livros do AT. É necessário, porém, cautela em aceitar muitas dessas teorias, porque são hipóteses de composição. Pesquisa em meio a obras da disciplina Introdução ao AT, de variados autores, torna-se necessária para, ao final, obter-se uma visão equilibrada de todo o processo.

        Porque a hipótese documentária vem passando, nesses mais de 100 anos, por diversas revisões. Mais aceita, em determinada época, menos aceita em outras. Haverá, permanentemente, dados de origem indefinida e afirmações sobre as quais nunca se poderão fechar, peremptoriamente, questões.

        Sobretudo, duas conclusões mais objetivas podem ser anotadas: (1) essa teoria contribui para estabelecer parâmetros dessa tão notável história de composição da Bíblia; (2) o elemento primordial do texto, que trata da revelação e diálogo com o homem, por parte de Deus, permanece o grande desafio de aceitação/rejeição de toda a Bíblia.

     
     

     

terça-feira, 26 de junho de 2018

BÍBLIA 11

       Arqueologia é uma jovem ciência. Renascimento, séc. XVI, um empurrão no final do séc. XIX e sua debut definitiva na transição para o XX. Podem ser consideradas diversas situações de começo.

         Uma delas tem relação com a dominação napoleônica do norte da África e terras da Palestina. Após sua saída, entra a Inglaterra e grandes expedições são financiadas na virada dos séculos XIX a XX.

       E muitas dessas jornadas tiveram a Bíblia como manual. Várias terras e povos tidos como não existentes foram confirmados nessas oportunidades.

       Daí a motivação em escrever uma obra que consagrou a Bíblia como rica em informações confirmadas pela história, em 1955, o clássico de Werner Keller "E a Bíblia tinha razão".

        Por isso não, porque em 2001 foi escrito "E a Bíblia não tinha razão". Os dois livros partem de pontos de vista diversos. O anterior tem sua premissa confirmada, porque parte da Bíblia para escavações e localizações de cidades nela citadas, antes tidas como inexistentes.

        E essa confirmação revoluciona a visão que se tinha do Livro, incrementando sua credibilidade. Este segundo, do mesmo modo, colhe informações bíblicas, exigindo localizar, unicamente por meio da arqueologia, respaldos extrabíblicos para elas.

       Seu objetivo é assumidamente demonstrar, na Bíblia, inexatidões que, por outro lado, desacreditam-na ou, ainda, cobrar confirmações da arqueologia, para somente então creditá-la. Isso como se fosse possível escolher que traços do mundo antigo se permitem desencavar.
     
         A Bíblia não depende exclusivamente da Arqueologia para ser confirmada. Isso porque já dissemos que seu discurso principal é o diálogo Deus-homem. Para tanto, tal ciência nada tem a acrescentar.

       E ela mesma não desenterra tudo o que já ocorreu, mesmo porque não é possível localizar, para todos os fatos da história, provas dessa natureza que os comprovem.

      Mas não deixa de ser interessante conhecer, a todo momento, comprovações arqueológicas de fatos que, anteriormente, eram desconhecidos ainda que, na Bíblia, sempre houvesse confirmação para eles.
   
       Como em 2013, quando Yossi Garfinkel, professor da Universidade Hebraica, liderou arqueólogos que descobriram ruínas da cidade bíblica de Saaraim, citada nos livros de Josué e em 1 Samuel. Ora, costumava-se dizer, de Davi, que não passava de um pequeno líder tribal.

      As dimensões da fortaleza ali encontrada, assim como, ao seu redor, fragmentos de metais, cerâmica e até vasos de alabastro importados do Egito, em torno de 1.000 a. C., indicam que, para existir um edifício com tais dimensões nessa época e a tal distância de Jerusalém, tais evidências indicam não ser tão diminuto assim o reino de Davi.
       
          Ou também a confirmação extrabíblica da Bênção de Arão, em Números 6,24-26. Pela Teoria dos Documentos, que pretende explicar como se deu a redação do Pentateuco, a data dessa composição e edição em muito de afasta dos tempos da possível existência de seus personagens, em cerca de 1.200 a. C.

        Costuma-se admitir a composição final desses textos na época persa, cerca de 700 anos mais tarde, no séc. V a. C. Mas arqueólogos encontraram um broche que apresenta uma gravação em metal com os dizeres dessa mesma oração. Era usado por volta de 900 a. C., por povos idólatras, que nele gravavam imagens de seus deuses.

         Adaptado, muito provavelmente, pelo gênio das mulheres judaicas que, para usar o enfeite, mantendo-se antenadas com a moda, escreveram: "O Senhor te abençoe/guarde/resplandeça o rosto sobre ti", substituindo a imagem do ídolo. Ora, este fato contraria a teoria de data tardia para essa "bênção araônica".

         Muito há para ser ainda descoberto. O contexto histórico da Bíblia, podemos dizer, está amplamente confirmado. Mais uma vez, porém, afirmamos: seu principal objeto, que é a fé, não depende da arqueologia ou qualquer outra ciência.

         Porém, sem dúvida, tais confirmações se dão em apoio ao contexto de sua mensagem. Isso porque Deus intervém na história humana. As evidências do agir de Deus têm pistas e têm testemunhas. Mas a fé nessa ação está diretamente relacionada ao caráter de Deus e Sua palavra. E não somente às pistas da arqueologia, entre outras ciências.
     

     

BÍBLIA 10

         Personagens bíblicos frequentemente são apontados como criação ficcional, no sentido de emprestar ao povo judeu uma história eivada de heroísmo.

       O patriarca Abraão, o próprio Moisés, Davi e seu filho Salomão, para ficar nestes exemplos, são pura invenção: o primeiro, epônimo de tribos nômades pastoris.

        O segundo, um (super)herói do qual a história extrabíblica não dá nenhuma pista. E os dois últimos, foram reis em dimensões muito menores das que constam nos textos bíblicos.

      O argumento que esbarra contra essas afirmações parte, como sempre, do conteúdo dos textos. Não há, de modo explícito, uma narrativa pormenorizada da vida do Patriarca. Isso porque nunca foi prioridade contar a vida dele.

       Logo, a ênfase nunca foi histórica ou biográfica, porém marcar etapas do seu relacionamento com Deus, cuja síntese é: "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça".

       Esta afirmativa é central em toda a história da Bíblia e em toda a história do homem diante de Deus. Válida de ponta a ponta, do Gênesis ao  Apocalipse, na Bíblia, Antigo e Novo Testamento, qualquer homem/mulher diante e Deus em qualquer época.

       Quanto a Moisés, não há, da mesma forma, biografia pormenorizada. O trecho que fala de sua vida, de bebê a homem feito, não preenche capítulo inteiro no livro do Êxodo.

        Portanto, descarte-se do texto bíblico a ênfase biográfica ou histórica, no sentido lato. Pois é exatamente por isso que costuma-se desacreditar o texto. Trata-se de um movimento pendular.

        O texto bíblico não tem sua ênfase na história, por ater-se a aspectos pontuais da comunhão com Deus na vida de seus personagens. Daí, os críticos reclamarem critérios mais precisos, quando os textos resvalam em traços do contexto histórico.

       Mas este é um erro de abordagem. Uma crítica posta no texto. No sentido de se partir em sua direção, antecipadamente esperando ver/ou não ver nele conteúdo pré-definido.

       Porque a Bíblia foi escrita a partir de sua mensagem específica a toda a humanidade. Moisés, por exemplo, tipifica o modelo de profeta: aquele que transmite a outros, em nome de Deus, esta palavra.

       Torna-se mediador dos códigos civil, no Êxodo, cerimonial, em Levítico e, no Deuteronômio, o código que leva este nome, enfim prescrições que projetam o que será a vida das tribos de Israel, uma vez que deixem de ser povo nômade e assumam a fase sedentária.

        Povo de Deus. Profeta de Deus. Relacionamento com Deus. A Bíblia é o livro que propõe relacionamento com Deus. Ou quem o tem nas mãos encara esta possibilidade, ou então vai mesmo achar tudo um mero absurdo.

      Está bom para você? Não? Então aconselho a ler os capítulos 3 e 4 do Êxodo: o bate-papo do Altíssimo com Moisés. O Livro é assim, pressupõe e demonstra essa possibilidade. E a respeito de Davi e Salomão, como diz o autor (anônimo) da Epístola aos Hebreus, "disto falaremos noutra oportunidade".
   

       
     

     

sábado, 23 de junho de 2018

BÍBLIA 9

         Era para que a Bíblia fosse usada de modo desarmado. Quero dizer, que a visão sobre ela fosse equilibrada. Claro que há nela parcela do que requer fé. Pode parecer, então, que uma visão objetiva seja impossível.

       Mas há absurdos incompatíveis com sua principal proposição. Evidente ser necessário reconhecer a distância que, no tempo, nos separa do conteúdo expresso nos textos e contextos culturais específicos. Sem critério, certamente ocorrerão equívocos.

       Outro dado é que o sentimento religioso também opera em conjunto. O Antigo Testamento protestante corresponde à Torah judaica. Já na católica, nesse mesmo AT, há 7 livros a mais, com adições em outros dois.

       São acréscimos a partir da chamada Septuaginta, ou Setenta, a primeira versão da Torah, do hebraico para o grego, feita por sábios judeus da diáspora, no séc. III a. C., em Alexandria, no norte da África, capital intelectual da época.

        Os judeus conservadores de Jerusalém não aceitaram os livros acrescentados na versão Setenta. Protestantes seguem os judeus conservadores nativos de Jerusalém, enquanto católicos seguem os judeus liberais da dispersão.

         Mas o Novo Testamento é idêntico para esses dois grupos de cristãos embora, obviamente, não aceito por judeus, porque não consideram Jesus o Cristo, ou seja, o Messias.

       Em meio a esse jogo de aceitação/rejeição, é necessário entender, de modo objetivo, onde se situa a Bíblia. E há maneiras equivocadas de compreendê-la, assim como, irracional e mesmo incompetentemente combatê-la.

       Em muitas ocasiões, caso houvesse maior informação, método e critérios, não se falaria, desavisadamente, tanto desatino sobre ela. Assim como não se repetiria, como já houve antes na história, opção por queimar em fogueiras tanto ela quanto seus leitores.

      Por exemplo, há tendência em encarar a Bíblia como livro contra a modernidade, anticientífico ou moralista. Somente uma visão afetada a encara dessa forma. A riqueza da Bíblia precisa ser reconhecida.

         Independentemente de sua feição confessional ou dos desmandos que, em nome dela, foram/são/serão cometidos, não se pode desaboná-la, em função disso. A Bíblia, em si, não pode ser responsabilizada se a leem, interpretam e doutrinam de forma distorcida, atribuindo a ela o que, de si mesma, nunca propalou ou proclamou.

         Há nela conteúdos válidos universalmente. Quando fala, por exemplo, do amor, atribui Deus como fonte dele. E diz que se deve amar Deus sobre tudo e ao próximo na mesma proporção. Confronta todos. Quem pratica isso?

         Há quem diga que se tenta impor a outrem verdades bíblicas. Que por ser livro associado à religião, não há obrigação de assumi-lo como regra. Erro de quem assim raciocina. E a própria Bíblia não se impõe a ninguém. É de si mesma voluntária. E esta é a sua maior força.

         Deixar a consciência humana decidir é a marca principal do Livro. E esse é o maior temor do ser humano, porque é totalmente posto frente a essa responsabilidade. Que se revele sem nenhum escrúpulo. Assim, terá perdido todo o seu senso de humanidade.

       E terá concordado e comprovado o principal teor das Escrituras, que é a denúncia da perda, pelo ser humano, exatamente do senso de humanidade. Definitivamente a Bíblia não é para ser imposta a ninguém. Mas é cego da pior cegueira, em extrema ignorância, quem não lhe enxerga valor.

       
     

     

sexta-feira, 22 de junho de 2018

BÍBLIA 8

       Além de apresentar uma teoria que explica a confusão de linguagens, reafirmando o que a linguística atesta, ou seja, todo idioma procede de uma só raiz, a história da Torre de Babel traz outras indicações.

      Reunirem-se todos num só lugar, contrariando uma intuição divina e o bom senso humano, é tremenda burrice. O homem ocupa muito mal o solo do planeta e, em conjunto, todos contribuem para a aniquilação dele.

      Cidades são uma má ideia. São ajuntamento, enquanto Deus sugeriu espalharem-se, ocupando inteligentemente o solo. Representam grandes espaços de desmatamentos, em que se misturam elementos de cadeia produtiva e se agrupa mão de obra no entorno.

       Acentuam-se as desigualdades sociais, por migrações desiguais, para longe do campo, fazendo surgir sua periferia, gente que não tem lugar senão para subemprego, visto que o lugar de destaque no campo foi menosprezado.

      A criminalidade adapta-se às mazelas sociais, o deslocamento em direção ao centro administativo torna-se problemático, as indústrias promovem variado tipo de poluição, acentuada pelo consumo de derivados do petróleo, como combustível preferencial.

        Não precisa pôr em Deus a culpa pela confusão: o homem já a estabelece por si. Também não precisa ironizar a rapidez com que o texto atesta o trauma da interferência de Deus. É difícil para o homem, por si, falar a mesma língua com seu semelhante.

      Não precisa dizer que também sozinho o homem aprendeu a guerra. Medir armas com o vizinho, edificar torres que projetem sua altivez e contribuir para a destruição do meio ambiente são alguns desacertos relacionados à má ocupação do solo do planeta, resultado da atuação direta do homem. "Não haverá mais restrição ao que intentam fazer", Deus decide.

      Fundamentalmente, a narrativa da Torre de Babel tem, como principal ênfase, a (perda da) comunicação: entre o homem e Deus, entre homem e homem. Total desinteresse pela verdade na fala do outro e também do Outro.

     Por isso, na primeira vez que, após a ressurreição e ascensão de Jesus ao céus, o evangelho foi pregado, todos que ouviram, entre as diferentes etnias presentes naquele Pentecostes, diferentes povos entenderam o evangelho numa só única linguagem: primeira e milagrosa tradução simultânea.

     Ali se deu Babel ao inverso. Evangelho é a mensagem central da Bíblia. Versa sobre a restauração do diálogo Deus-homem, para profícuo diálogo homem-homem. Marcos, que estreou o gênero Evangelho, afirma que, logo após a prisão de João Batista, Jesus seguiu para a Galileia dos gentios proclamando o evangelho.

       Mensagem de restauração da Babel humana. Todos, um dia, se agruparam em desobediência à ordenança de Deus. Ergueram uma torre a sua própria desdita. A humanidade quis mergulhar na sua própria engendrada confusão. O evangelho é essa única opção de restauração.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

BÍBLIA 7

       E a história do Dilúvio expõe outro fundamento bíblico. A humanidade, toda ela, é má. Como diz lá no Livro, a maldade humana multiplica-se e o desígnio do coração do homem é continuamente mal.

      Todos pecaram e carecem da glória de Deus. O homem já alcançou o status da possibilidade de destruir o planeta com as armas que constituiu. A maior arrecadação de dinheiro se dá no mercado de armas.

        A segunda arrecadação se dá pelo comércio de drogas. E a terceira, pelo roubo e mercado negro de obras de arte. Muitos ladrões e, neste caso, somente os de maior quilate, lavam dinheiro na compra de obras de arte.

       Quem não considera a Bíblia livro fidedigno em seu conteúdo, distinguindo o que é cultural e, portanto, limitado no tempo, daquilo que é conceitual e, portanto, atemporal, no caso da maldade humana nem precisa constatá-la a partir das, também assim denominadas Escrituras.

        A história do Dilúvio discorre sobre o conflito de Deus ao constatar que o homem não deu liberdade a seu Espírito para atuar nele. A licença poética do texto afirma que Deus arrependeu-se de haver criado o homem.

      Dilema. Você conhece o requinte da maldade humana? Pois Deus se viu diante desse dilema. E há quem diga que Deus é culpado por ela. Deve ser responsabilizado. E a liberdade concedida à criação? A esse ser "racional"? Deus, então, deveria violar a liberdade humana para o mal. Não seria a solução: o homem continuaria a ser mal.

       E a única resposta a essa insistência de Deus em não interferir, segundo a Bíblia, reside na chance de amor que Ele dá à humanidade. A Bíblia contrapõe à maldade humana o amor de Deus. Ela não contrapõe ira de Deus contra a maldade humana.

       E a Bíblia generaliza para todos o amor de Deus como dádiva. Isso porque a Bíblia iguala todos sob a mesma necessidade de dar, no ser humano, trato igualitário ao mal. Todos pecaram/pecam/pecarão e estão carentes da glória de Deus.

       A Bíblia, na história principal, diz ter nascido Jesus nessa mesma condição, debaixo da lei. Mas nunca, diante de Deus, a violou. Portanto, sem jogar na cara do homem (e da mulher) o pecado, dipõe-se a perdoar ao que crer na mediação de Jesus na cruz.

       Deus em pessoa resolve o problema da maldade no homem. Contrapondo a ela o amor. Entrega seu Filho como sacrifício vivo pelo pecado de todo o que crer. Se Deus infartasse todo aquele na iminência de fazer o mal, não resolveria no homem esse problema. Por isso, contrapõe o amor. Desse modo, o bem de Deus opera no homem.

     

 

BÍBLIA 6

         Histórias da Bíblia. Há quem menospreze o Livro por pura implicância com elas. Salvo não seja por pura má intenção. As histórias da chamada proto-história.

      São o conjunto de narrativas antes da menção de Abrão, a partir do qual há mais exata localização no tempo. Este se situa na Mesopotâmia, aliás foi a própria Bíblia que forneceu a pista para localizar Ur dos caldeus, sua cidade natal.

     Narrativas como Adão e Eva, Dilúvio e Torre de Babel são as preferidas em termos de desqualificação. As principais reclamações dizem respeito à historicidade, à contrariedade de leis científicas e a aspectos metafóricos.

      Por exemplo, serpentes nunca falaram ou teriam pernas, antes de sua condenação a rastejar. Problemas, na história do Dilúvio, de combinação de DNA, a partir dos três casais que, entre si, repovoam a terra. E ainda os fundamentos das diferenças linguísticas meramente atribuídos a um trauma psicológico provocado pelo Altíssimo, quando da Torre de Babel.

      Para a economia bíblica, ou seja, conferir fundamento a partir do qual a Bíblia constrói suas argumentações, essas histórias são essenciais. A primeira, que atualmente desperta a fúria dos ativistas, é aquela de Adão e Eva.

     Ela segue a lógica filosófica ou da própria natureza quando afirma ter sido macho e fêmea a criação do divino. Fossem macho x macho ou fêmea x fêmea, não haveria reprodução e nem humanidade.

      Portanto, por mais pueril que seja encarar como lendária ou despropositada essa história, segue uma lógica insofismável. Desse modo, não vale dizer que atribuir à heterossexualidade prevalência sobre a homossexualidade significa implicância com esta última.

     Como também dizer que houve inversão, que associar sexo e gênero, masculino ao sexo homem e feminino ao sexo mulher seria forçação de barra, por quê? Lógica e natureza, para que família original fosse homem + mulher + filhos assim gerados.

      O que parte de nova concepção e vem ao encontro do pré-estabelecido é dizer que família pode ser homem + homem e filhos, gerados por que acordo? Ou mulher + mulher e filhos, gerados por qual acordo?

     Não se trata de homofobia. Mas da livre escolha e prática de duas cosmovisões distintas, uma que considera família a relação heterossexual, com os filhos gerados nesse contexto, e aquela homoafetiva, cujos filhos provém de acordo extraconjugal.

     O entendimento virá da não tentativa de imposição de parte a parte: ativistas acusam evangélicos da tentativa de impor sua insistente heterossexualidade. E o inverso também é verdadeiro: eles desejam impor como natural aceitar a não associação entre gênero e sexualidade.

      As diferenças devem ser mutuamente aceitas. Não se deve apregoar a virtude de aceitá-las, porém não aceitando-as no outro. E as cosmovisões, visões diferentes de mundo, têm o mesmo valor, por representarem parcelas distintas da sociedade. Ambas têm o direito de aceitar, praticar e proclamar seus respectivos modelos, sem impô-los a outrem.

     

     

 

quarta-feira, 20 de junho de 2018

BÍBLIA 5

       Versículos. A unidade mínima de leitura da Bíblia, assim subdividida. Carregamos muitos deles ou alguns deles na memória. Fazem, muitas vezes, sentido e, de modo prático, encaixam-se em situações da vida.

     Essa ideia de subdividir o texto surgiu e foi levada a efeito por volta do séc. XIII, os capítulos, completada em 1553, com versículos. Foi boa ideia. Facilita a leitura. É obvio que puristas da exegese passam por cima dessas subdivisões. Antigamente, até, não havia nem espaço entre palavras. Uma doideira.

      Mas, por favor, sem prognósticos ou sorte e azar no uso dos versículos. Azar de quem os usar fora de contexto ou ao seu bel-prazer. Está por fora. Um deles assim se expressa:

      "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem". O bem de Deus. Já dissemos que, na Bíblia, as "mensagens-satélite" subordinam-se à central: Deus se fez homem e compartilha conosco seu caráter.

      No Gênesis, ponto de partida do livro, b'reshit, em hebraico, "no princípio", já vem escrito que Deus nos criou a sua imagem e semelhança. Para logo depois contar a história da rebelião do homem contra Deus.

      O Deus da Bíblia quer comunhão com o homem. O homem definido pela Bíblia não está nem aí para Deus. O homem que aparece na humanidade não está nem aí para o outro. Regra geral. Mas há quem não pense nem pratique essa injúria.

       Para vencer o mal com o bem, só Deus na causa. Só Deus na coisa. Com a continuação de sua narrativa, o Gênesis conta a história de Noé. Uma família de três rapazes, respectivas eposas e sua sogra, que Deus decidiu salvar de um dilúvio.

      Acreditem ou não na história, a causa dela foi a raiva, para não dizer ira de Deus, que viu, pelo menos, duas coisas: que na humanidade a maldade se multiplicava e que o desígnio do ser humano tornara-se continuamente mal.

      O verbo "multiplicar-se" e o advérbio "continuamente" definem bem, no detalhe, a avaliação daquela geração. Que nem, já disse aqui, acredite-se em Noé (ou mesmo no Deus de Noé): na maldade nem precisamos acreditar, porque sua obviedade nos dá na cara.

     O bem de Deus. Certa vez fui questionado por um colega sobre essa história: como Deus, ou a Bíblia diz que Deus destruiu o mundo por um dilúvio? Que Deus é esse? Eu respondi que ele estava confundindo maldade do homem com maldade de Deus.

      Para que o homem seja mal, Deus não precisa existir. Para que o homem destrua a si próprio, a humanidade inteira (nem com água, mas com fogo atômico), Deus não precisa existir.

     Deus só precisa existir para que o homem (e a mulher) sejam bons. Não te deixe vencer do mal, mas vence o mal com o bem.

     

     

 

terça-feira, 19 de junho de 2018

BÍBLIA 4

       Manuscritos. Ao longo da produção dos textos bíblicos, foram copiados e recopiados em profusão, até chegar hoje em nossos papéis-bíblia e tela touchscreen.

      O que se costuma argumentar é que mãos sem conta mexeram nos textos e os subverteram ao extremo. Logo, carecem de credibilidade. Portanto, atribuir "palavra de Deus" a textos que carecem de credibilidade seria, no mínimo, desmoralização.

       Do texto e da Pessoa por detrás. Na teologia clássica ortodoxa, resolvia-se esse problema dizendo que os manuscritos originais foram "verbal-plenariamente" inspirados.

      Qual seja a ideia, é que, palavra a palavra, houve inspiração que implica inerrância absoluta. Nenhuma vantagem, a meu ver, com criação de um problema adicional.

     Porque do que adiantariam originais intactos que, ao longo de sua tradição, sofreram variações, por pequenas que fossem? Porém multipliquem-se por, pelo menos, três milênios esse processo. Multiplicariam-se, por hipótese, as variações.

     Tratando-se, como se costuma atribuir, palavra de Deus, na suposição de que houve, mesmo que conteúdo mínimo perdido, estariam comprometidos: Deus, como emissário; autores a quem se atribuissem autoria e conteúdo, trabalho perdido; e, por extensão, os textos, corpo conjunto tradicionado, falhos como instrumento de preservação da mensagem.

     Prefiro, então, ater-me a dois argumentos: (1) a tradição dos textos, assim como as sucessivas versões, a partir dos originais, são dados aos homens; (2) a mensagem, em si, deve ser levada em conta, para que se verifique sua relevância.

     Dado aos homens são, consequentemente, uma vez escritos, recopiados, retransmitidos e traduzidos. Como obra literária, façam-se todos os estudos científicos possíveis, como texto, contexto e autoria.

       Quanto à mensagem em si, sua relevância, diz respeito ao estudo do seu conteúdo em sua variação. E quanto a supor existir mensagem central, pode-se, a partir dela, qualificar todo o conteúdo restante.

       Prefiro este último argumento e, a partir dele, qualificar todos os outros. A Pessoa por detrás é Deus. Assim assinalam os autores, na variedade de gêneros textuais expostos. E no ápice da mensagem, o texto diz que o Deus que existe se fez homem.

     E o Livro desanda a dizer que as qualidades de Deus estão ao alcance do homem. Que Deus visa comunhão, individual e comunitária com o homem. Que nem a morte física será obstáculo para isso, porém a morte moral sim.

      Radical. Vale a pena mergulhar nos textos. E, se houve perda, a radicalidade da mensagem central vai suprir. Porque, sendo verdadeira essa mensagem, não importa o que se perdeu. Porém, sendo falsa essa mensagem, todo o restante será puro diletantismo.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

BÍBLIA 3

      A Bíblia do ponto de vista do mal. O mal reside no homem. Bem está, é possível até supor a inexistência de Deus. Porém nenhum sensato há de supor a inexistência do mal.

     Empiricamente falando, também, o mal não está, necessariamente, associado somente a fatores sociais. A célebre máxima de que "o mal é produto do meio". Frágil argumento.

     Nascemos bons, mas o meio nos corrompe. Será? E quanto ao fato do progresso da história da humanidade, o mal estaria condicionado à idade primitiva dessa história. Calamidades recentes, de mesma natureza daquelas promovidas na antiguidade, assolações, guerras e crimes contra a humanidade, comprovam nenhuma evolução nesse sentido.

      Intelectuais do colarinho branco são, apenas, mais contumazes e abrangentes na maldade que praticam. Diferentes na competência para o mal, porém em essência idênticos aos de classe social inferior.

      A Bíblia é espelho dessa maldade. Nela você encontra chacina, genocídio, estupro individual estudado, assim como coletivo. Crimes de reis, profetas, juízes e religiosos.

     O enigma do mal. A sedução do mal. Existe. No homem (e na mulher). Há cumplicidade. A Bíblia é espelho desse mal, porque não o esconde. Se há heróis em suas páginas, não estão ocultas suas falhas.

     Contraditoriamente falando, por exemplo, Jesus filho de Davi, orgulho e dinastia, se for o caso, tem seu nome associado a um rei enaltecido, sim, politicamente falando. Mas questionável, em termos de caráter.

     Mas a marca desse rei também é exemplo, no Livro, de sua principal possibilidade: o enfrentamento do mal. A Bíblia tem, a um só tempo, uma ideia de identificação, segregação e supressão do mal.

      O mal reside no ser humano. A Bíblia diz que a morte é o fim do mal. Mortos não são nem bons e nem maus: são mortos. Mas a supressão do mal reside na relação com Deus, assim explicitada na Bíblia.

       A maldade do rei acima mencionado revelou-se numa armação que proveu, na tentativa de encobrir um seu caso amoroso com a esposa de um de seus mais fiéis guerreiros e oficial de seu exército.

       Mandou chamá-lo da frente de batalha porque já havia engravidado a esposa dele. Disse ser urgente, procurou saber das escaramuças e encaminhou-o a passar a noite com a esposa.

      Mas ele disse que só estava ali a chamado do rei e que nenhum de seus homens passava a noite com suas respectivas esposas naquela fase. Ele não o faria. O rei embebedou-o, na tentativa. Nem assim.

     Mandou-o, então, ser portador do próprio recado de sua eliminação, na frente de batalha, muma situação simulada, mensagem essa entregue ao comandante fiel ao rei na corrupção de caráter de ambos.

       Esse rei assim procedeu, descansou nessa injúria, mas foi interpelado por um profeta, que o denunciou cara a cara, e quedou-se arrependido.

     Para a Bíblia, a neutralização do mal não se dá na eliminação dos maus sobre a face da terra. Porque, segundo ela, toda a humanidade teria de ser extinta. A Bíblia afirma que todos são maus.

     Nascem maus, como escreveu esse rei em seu salmo de arrependimento. Salmo 51. A Bíblia afirma que a neutralização do mal está no arrependimento e confissão, diante de Deus, do mal.

      Onde houver mal, há mão do homem. Onde, na Bíblia, houver mal, é espelho de quem nela se mira. Mas na Bíblia está escrito como se neutraliza o mal. Reside no bem de Deus.

     

 

BÍBLIA 2

         Homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Fé, da parte deles, assim como da parte de quem lê. E o que é fé? Utilidade e inutilidade da fé.

       É inútil falar de fé, para quem não crê. Termina aqui a conversa. A Bíblia diz que, sem fé, é impossível agradar a Deus. Portanto, a fé se torna meio, veículo para os que creem, obviamente falando.

     Mas ela mesma tem sua identidade. Contraditoriamente falando, já, de início, ela é dom de Deus. Sim, porque o homem, por si só, inventa deuses.

    Por isso, sem concessão divina, não há como atinar com a fé. O homem mesmo, por si, perde-se, para usar uma expressão paulina, em "loquacidade frívola", esta é ótima.

     Fé não tem tamanho. Fé não depende de ver. O homem, do Iluminismo para cá, debruça-se sobre a ciência. Para ele, toda a luz reside na ciência.

     E a ciência, como a arte, é imitação da vida. Quando o homem despertou, não moralmente falando, porque, moralmente, ele nunca despertou. Mas racionalmente falando, viu-se surpreendido com as perfeições do universo a sua volta.

     Desatou, então, a pensar. E nasceu a ciência como filha dileta da filosofia. Pelo método, o homem passou a imitar a vida. E até mesmo uma teoria sobre a vida, sim, de como ela surgiu, o homem tem.

     Na verdade, falta prová-la. Mas o homem tem fé na ciência. Para o homem, a ciência é a "certeza de coisas que se esperam e convicção de fatos que nunca foram vistos".

    Tem a convicção de que o choque dos fótons produziu matéria. E que a sopa primordial dos elementos químicos produziu combinações, moles que geraram células. E assim, bilhões de anos e milhões de bilhões de combinações depois, surgiu tudo o que está aí.

      Parte do visto, para o não visto. A fé vem na contramão, partindo do não visto para o visto. Se Deus existe e fala, há palavra de Deus. Que não precisa ser confirmada, porque Deus garante o caráter de sua própria palavra.

       Assim como cuida para que Sua palavra chegue ao homem. Por isso homens falam da parte de Deus. E faz concessões. Porque está escrito que Deus mesmo, desnecessariamente, porque é Deus, interpõe-se como juramento, mesmo sendo impossível que Ele minta.

       Não é necessária a fé. Porque a palavra de Deus é fiel. Mal comparando, se se torna necessário comparar, a fidelidade da palavra de Deus é a mesma daquela da ciência. A exatidão da ciência reside na fidelidade de sua palavra. A de Deus também. Somente mudam a natureza entre uma e outra.

      A palavra de Deus cria a vida. A palavra da ciência investiga a vida. A fé que vem de Deus confere segurança ao homem porque, de si mesmo, é frágil para crer, independentemente da fé.

      A fé que confere certeza científica, de homem para homem, confirma-se após a repetição, em laboratório, de uma hipótese de trabalho. É um fim em si mesma. Do homem para o homem.

     E confirmado está, para a ciência, que no princípio era o acaso. Não sabe de onde procedem as partículas. Para a existência dos fótons nem hipótese ou teoria há. Dá como início de tudo a luz.

     E a palavra de Deus, segundo a Bíblia, diz que Deus disse: "Haja luz, e houve luz". E viu Deus que a luz era boa. A fé também. Porque sem fé, é impossível agradar a Deus.



     

 

BÍBLIA 1

       Bíblia. Palavra de Deus. Sim. Palavra é óbvio. Ela é formada por textos, cuja matéria prima é a palavra. Mas, de Deus, em que sentido?

        Tem de ler. O problema se configura na leitura e na ideia de Deus. A ortodoxia clássica diz que Deus revelou o que, por si mesmo, o homem jamais saberia.

       Mas como? Intuição? Ou seria pelo Espírito que, no início no Gênesis peregrinava sem rumo sobre a face das águas?

         Por outro lado, quem escreveu? Pelos princípios que configuram o que é literatura, alguém expõe ali uma ideia de Deus. E esta exposição atende a um público definido, num determinado contexto histórico, com uma intenção pré-determinada.

        Daí, pelo menos, estas duas opções de valor para o texto bíblico: (1) Deus fala por meio dele; (2) alguém fala em nome de Deus. Se bem que, nesta segunda opção, chama-se profeta quem assim procede.

      Voltamos à ortodoxia. Quem fala em nome de Deus, segue sua ou uma ortodoxia. Parte-se, então, de um dado contexto e ou de uma dada religião. E a voz de Deus, então, o que se chamaria ipsissima verba de Deus, "the very words", como seria dito no inglês, onde?

      Chegamos a um impasse. Entra a fé. Acreditar que Deus falou aos ouvidos, pelo sopro do Espírito, por inspiração, ou que, ainda por intuição humana, certo, não menos orientado pelo Espírito, alguém falou em nome de Deus.

      Por isso a história culmina na revelação em Jesus Cristo. Assim a Bíblia soluciona esse impasse. Indica em Jesus que a palavra se fez carne. Resta crer em Jesus. Ou resta crer nesta assertiva.
   
     A culminância da história bíblica caminha e aponta em Jesus a completa revelação de Deus. Todo o conjunto centraliza-se nessa verdade. O enigma da pessoa de Jesus revela-se do fato de que, como afirma o autor anônimo de Hebreus, ele é "expressão exata do ser" Deus.
   
     Portanto, palavra, na Bíblia, aponta para Jesus, culminância da revelação de Deus na história. A palavra se fez carne. Para desautorizá-la, é necessário negar Jesus.

      Não somente que tenha, historicamente, existido. Mas em que, tendo existido, seja uma fraude. E fraude seja tudo o que, sobre ele, a Bíblia diz.

     Portanto, a palavra na Bíblia aponta para Jesus. A principal chave hermenêutica do texto bíblico é compreender que toda ela aponta para Jesus.

     E o verbo se fez carne e habitou entre nós. E vimos a sua glória como do unigênito do Pai. Apóstolo João em seu Evangelho.

     Para que a palavra de Deus seja fraude, é necessário que Jesus seja fraude. Ele próprio, o texto que dele fala e toda "nuvem de testemunhas", não virtuais, de sua obra, sejam os próprios autores bíblicos, sejam todos o que creem no que está escrito, a obra do Filho de Deus filho do homem, assim etendida.



     

 

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Mal traçadas linhas 83

      A invenção de Deus

      Idolatria é a invenção de Deus. Uma projeção de Deus para fora de si mesmo. Daí, pau, pedra, ícone, totem, ave, astro, natureza enfim, qualquer coisa pode ser Deus.

      Aliás, ateísmo é uma forma de idolatria. A teoria da evolução é deus. Uma sopa cósmica deu lugar a tudo o que existe. E, como dizia Ariano Suassuna, um dia, as moléculas dessa sopa disseram: "Ah, vou virar célula".

       E daí, milhões e milhões, aliás, formaram-se bilhões de anos depois para surgir o que está aí. A ciência foi até os fótons. Parou aí, construindo o LHC, um acelerador de partículas, para testar se o choque entre elas produz matéria.

       No início, era a matéria, a matéria estava com Deus e a matéria era deus. Eles pararam nos fótons. Não têm uma teoria para a formação deles. Empataram na Bíblia, que diz: "Disse Deus: haja fótons, e houve fótons".

      Mas o assunto é este. A Bíblia diz que até Deus se esvaziou. O termo já virou citação de mesa de bar: kenosis. Tudo em Deus é modelo para o homem (e mulher). Carecemos de nosso esvaziamento.

     Sob risco de inventarmos Deus. Em silêncio diante dele. "O Senhor, porém, está em seu santo templo;
diante dele fique em silêncio
toda a terra". Habacuque 2,20.

      Há horas em que a oração é silêncio. Puro esvaziamento. Negar-se a si mesmo. Perder toda a vida. Ganhar vida. Tomar a cruz. E seguir Jesus.
   

terça-feira, 12 de junho de 2018

IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL DE CASCADURA - HISTÓRIA 8

1º Relatório de Atividades da Congregação de Madureira - Continuação
1     
              As reuniões dos irmãos, nos dias 11 e 25 de setembro de 1952, na Rua Firmino Fragoso 26 contaram, respectivamente, com a presença de 58 e 39 irmãos: o dia 28 de setembro desse mesmo ano foi aquele da inauguração oficial da Congregação.
2     
              Foram impressos e distribuídos, para esse dia, 5.000 convites e, confeccionados em madeira de pinho, 30 bancos sem encosto (“mata-capado”, como diziam os roceiros), para 120 pessoas sentadas. Compradas 3 outras cadeiras estofadas, e doadas 5 outras, além de duas 2 cantoneiras, pelo Presbítero Abílio Biato, da Igreja Evangélica Fluminense (este o pai de d. Rute Jardim, esposa do pr. Amaury Jardim).
3
                       Uma irmã chamada Apolônia Brandão ofereceu móveis que foram adaptados para o dia, incluída uma mesa que foi utilizada como púlpito. O irmão Nelson Celestino dos Santos doou mais 2 cantoneiras (ora, pelo visto, estava em moda, na época): “e, assim, cada um cooperava, trazendo jarras para flores, móveis, vassouras, material de limpeza etc.”
  
 4          O irmão Dr. Henrique de Souza Jardim, segundo consta nas anotações daqueles irmãos, “ofertou uma escrivaninha usada, que até hoje (13 de junho de 1953, bem entendido) está sendo utilizada e um armário de madeira.” E continuam: “O fato mais interessante desta época foi a retirada das paredes internas para formar um salão único, antes da inauguração oficial.”
5
            Aqueles irmãos anotam que, só depois de muita dificuldade, “com a graça de Deus”, o senhorio concordou com a demolição das peredes. Como a casa estava alugada em nome do irmão Amaury de Souza jardim, “foi necessário que este assinasse um contrato em que assumiria toda a responsabilidade pelas consequências que daí poderiam advir, como também, em que ficava determinada a reconstrução das mesmas, se um dia deixássemos a casa.”
6
          E terminam essa parte: “Deste modo, no dia 28 de setembro de 1952, foi inaugurada, oficialmente, a Congregação Evangélica de Madureira, filiada a Igreja Evangélica Fluminense, numa reunião de mais de 130 pessoas, presidida pelo Rev. Synesio Lyra (sic) e que contava com outros ministros Evangélicos. Nesta ocasião, foi lavrada a 1ª ata da Congregação. Nesse dia, a Escola Dominical funcionou, pela manhã, com 67 alunos arrolados e presentes.”

         Destaque para a indicação, neste final, do funcionamento da Escola Dominical: infelizmente, muito infelizmente mesmo, atualmente, muitas igrejas evangélicas estão abolindo esta escola. Isso acarreta o enfraquecimento do testemunho da igreja na sociedade, devido ao progressivo desconhecimento da Bíblia.

           E, por falar em classe de alunos, abaixo colocamos as legendas, por nomes, das fotos publicadas no Histórico 4: confira o gabarito aqui, com os detalhes das fotos.


GABARITO DAS FOTOS DO HISTÓRICO 4

Foto 1:            “25 – 1 – 1953
                            Lembrança da Congregação Evangélica Madureira sita a Rua Firmino Fragoso, 26. Madureira. 
Filiada a Igreja Fluminense”.

Foto 2:  “Classe de catecúmenos (candidatos ao batismo) 
na  congregação de Madureira”. Prof. 
Amaury de Souza Jardim (vejam seu irmão 
Henrique Jardim também participando).

Foto 3:     Bem, não há uma legenda definida, mas reparem: à esquerda, na porta de entrada: Azarias, no acordeão; Maria da Glória, sobrinha de d. Maria Mello. Descaindo os olhos, um rostinho apoiado sobre braços rechonchudos, na ponta do banco, sem dúvida, é o Carlos Henrique. Sua mãe, Arsylene, está lá na outra ponta da foto, logo ao lado da calva do Joaquim Guedes. Será que o garoto no meio da foto, com óculos, orelhas bem pronunciadas, cabelo “Príncipe Danilo”, na moda da época, é o (hoje pastor, e filho do pr. Amaury Jardim) Paulo Cesar Jardim? Isso porque a Raquel Biato Jardim, sua irmã, cabelinho curto e sorriso franco, está na extrema direita frontal, na ponta, à frente da irmã Arsylene. Ah, sim: reconhecem que esse grupo está no antigo porão da igrejinha da João Romeiro? Vejam as colunas à esquerda, a porta de entrada e a grade do muro bem atrás.

Foto 4:         Antológica esta foto. A legenda que a acompanha é: 
“1953
                            Frente da Congregação da Madureira.
          Acham-se presentes os seguintes irmãos. Lado esquerdo", (quer dizer, da esquerda para a direita):


1.     Ary de Souza Jardim (irmão dos prs. Henrique e Amaury Jardim); 2. Jesuíno José dos Santos; 3. Manuel Medeiros de Carvalho; 4. Elza Silva de Carvalho (esposa ao lado dele, rosto meio encoberto); 5. Zila Dias dos Santos (de pé, à frente, saia xadrez, filha de Azarias); 6. Azarias Dias dos Santos (papéis à mão, filho de Jesuíno); 7. Nelson Celestino dos Santos (atrás, de óculos, que hospedava o grupo em sua casa); Uyratan Silva de Carvalho (filho de Manoel e Elza). Bem à frente, o conhecido “Popular”, um menino maneja um brinquedo muito comum à época, a rolagem de pneus de automóvel pelas ruas. Sim, de costas, no grupo à direita, a “Lenda Viva” Naura Ferreira Araujo da Silva; Simeão Ferreira de Araujo da Silva (irmão dela?) e Helena Pires Miranda. Lá na extrema esquerda, só um rostinho de menina, na quina do muro, por detrás do único anônimo nesta foto, seria América seu nome? A conferir...

Foto 5:         “Classe Cordeirinhos na Congregação de Madureira”.
Joaquim Guedes Junior, 
“Diretor do Departamento  Infantil”, 
como constava na Ata nº 1.

Foto 6:       Segurem aí a legenda desta foto:

“Retrato (lembram deste termo?) tirado em 25 – 1 – 1953
 em Madureira na frente da congregação:

(da esquerda para a direita)

Naura, Odessa, Arsylene”.

Foto 7:      Confirmado!  

        “Classe de moças na Congregação em Madureira”. E o professor, sim, o único “Cabeça de Abóbora”, Jeconias Celestino dos Santos. Ao lado dele, provavelmente, sua sobrinha Rute Celestino dos Santos e, certamente, Gilca Costa dos Santos, sua filha e, em seguida, Lídia Celestino dos Santos, irmã de Rute, filhas do irmão Nelson Celestino dos Santos e, no final da fila, Zila Dias dos Santos, de olho em sua Bíblia.


segunda-feira, 11 de junho de 2018

CARTA ABERTA


1. Quem sou:
     
        Meu nome é Cid Mauro Araujo de Oliveira. Sim, sou evangélico. E os desmandos e erros cometidos por evangélicos ou falsos evangélicos me entristecem, mas não me desmotivam a deixar de ser evangélico ou a deixar de defender os verdadeiros evangélicos.

2. O que é ser evangélico:

      Ser evangélico é crer, acolher e praticar uma mensagem de amor. Na Bíblia está escrito que Jesus pregava o evangelho. Eu nunca vou deixar de pregar o evangelho. Uma das principais características dos evangélicos é pregar o evangelho. Mas isso não lhes dá o direito de forçar ouvintes a ouvir essa mensagem ou incomodar as pessoas quando o fazem de maneira forçada.

3. Conteúdo do evangelho:

      O conteúdo do evangelho diz que Deus se fez homem em Jesus, porque era (e continua sendo) necessário morrer e ressuscitar em lugar de toda a humanidade, para que, diante de Deus, o pecado de todos e de cada um seja perdoado. Essa é a minha religião. Não a julgo perfeita ou melhor do que qualquer outra. Mas também não me venham dizer que há uma outra perfeita e melhor do que qualquer outra: não vou acreditar que exista uma única religião superior a qualquer outra.

4. A verdadeira religião:

     Acredito que o teste para toda e qualquer religião é o amor. Se há alguma religião que proclama o ódio contra o outro ou deseja praticar o mal contra qualquer um, seja por que pretexto for, não acredito nessa religião e não a considero religião, de re+ligare, o sentido de religião, que é religar com Deus, ou que Ser Superior for, porque não acredito em nenhum deus ou ser superior que não seja amor.

5. Eu e o Instituto Ecumênico:

     Já conheci, nesses meus 61 anos, até agora, de vida: pastor picareta, padre picareta, pai de santo picareta, médium espírita picareta e a lista é grande. Por isso, procuro não criticar, nesse sentido, a religião dos outros, mas reconhecer os defeitos da minha própria. E reconheço o contexto de fraternidade do Instituto Ecumênico Fé e Política do Acre como um lugar de aprendizado do respeito às religiões, assim como eventual denúncia dos erros e desmandos dessas mesmas religiões e não só dos erros de evangélicos.

6. O que é o Instituto Ecumênico:

      Não somos perfeitos nós que nos reunimos nessa fraternidade. E nem acreditamos na perfeição das religiões. Quando desejamos aproximar as religiões, não é para misturar. Mas para destacar suas virtudes (e até limitações e defeitos), num contexto de respeito. E este aprendizado também nos orienta para o convívio com outras diferenças que não somente a religiosa. Mas nossa especialidade procura ser essa, de convívio harmônico com as diferenças religiosas, para aprender e exercitar o convívio com as demais.

7. O Estado laico e as religiões:

      Recentemente estivemos reunidos com o Ministério Público do Estado do Acre no Seminário sobre Ensino Religioso e Intolerância Religiosa, em 8 de junho de 2018. Foi excelente oportunidade de aprendizado, quando entendemos os limites entre religião e contexto jurídico, no sentido do respeito devido a todas as religiões, e de como o Estado, como nação, município e estado, instâncias membro da uma Federação chamada Brasil, é laico, mas acolhe, por igual, todas as religiões.

     A seguir, em meu blog Professor Cid Mauro vou publicar o texto "5 lições que aprendi no Seminário sobre Intolerância Religiosa", a respeito da palestra do ilustre Procurador de Justiça do Estado do Acre, Dr. Sammy Barbosa Lopes. Como cidadão, assessor pedagógico da Secretaria de Estado de Educação, pastor evangélico e membro do Instituto Ecumênico Fé e Política, ali estive presente e também me foi facultado participar da mesa moderadora de representantes de várias religiões que, após a palestra, expuseram suas perplexidades e experiências sobre intolerância religiosa.

      Portanto, parece-me sensato listar, na forma acima proposta, minhas considerações sobre os resultados, no meu ponto de vista pessoal, desse encontro.

     

   
   



     

 

5 ASPECTOS A DESTACAR

     Ensino Religioso e Intolerância Religiosa: como abordar em sala de aula e lidar com a intolerância religiosa, entre outras, no contexto social. Cinco aspectos a destacar:

1. O Ensino Religioso no Brasil, no século passado, tanto já apresentou feição obrigatoria, assim como, posteriormente, foi totalmente abolido das escolas. Hoje apresenta-se como disciplina de matrícula facultativa.

       O MEC, em 2018, promove a comparação entre as Orientações Curriculares, em cada Estado, e a Base Nacional Comum Curricular para todas as diciplinas do Ensino Básico. Mas não financiou a presença de redatores do Ensino Religioso em Brasília, o que revela posição dúbia em relação à importância dada ao Ensino Religioso.

         Por força de uma decisão do STF, essa disciplina assume um viés confessional, não se sabendo ainda, ao certo, o que isso significa, propriamente. O Acre pratica, dentro da flexibilidade prevista, um Ensino Religioso não confessional.

2. O Instituto Ecumênico Fé e Política e a intolerância religiosa

       Revela-se como um lugar e uma proposta de convivência entre as variadas confissões religiosas, sem preconceitos ou graus diferentes de valor.

       Mantém com as secretarias de educação, SEME, do Município, e SEE, do Estado, parceria, segundo é previsto na lei, como entidade civil em apoio às diretrizes do Ensino Religioso. Em 2011, editou a Cartilha "Muitos são os Caminhos de Deus" como referência na convivência harmoniosa entre diferentes crenças.

3. Uma palavra sobre intolerância

      Trata-se de um aprendizado constante. Pode manifestar-se independentemente do viés religioso, seja entre grupos de grandes religiões, como em grupos de religiões menores. Há, inclusive, a postura do não diálogo de algumas, que já predispõe à intolerância.

      O próprio Instituto se apresenta como uma instituição que rejeita e educa contra a intolerância. E o próprio Ministério Público, que aqui nos abriga, prima pelo direito igual de manifestação religiosa ou ideológica: não há de prevalecer a religião ou ideologia da maioria sobre a minoria e nem vice-versa.

4. Uma palavra sobre a Bíblia

    Como pastor protestante que sou, em nenhum momento fui obrigado, em minha convivência no Instituto, a abdicar de minhas convicções. Nem por isso me considero imune à intolerância. É um aprendizado constante, por isso que deve começar cedo na vida da criança, por meio de educação escolar. Este é um dos aspectos, entre vários outros, que destaca a relevância do Ensino Religioso.

     Muitas vezes a Bíblia, que é prioridade em minha confissão religiosa, é mal compreendida. Por exemplo, alguém discorda que o "Não matarás" é universal e válido ainda hoje? Mas já o "Não adulterarás" é ridicularizado. Mas não para mim. Então, há princípios bíblicos válidos universalmente e há outros parcialmente aceitos e outros, ainda, que já caducaram totalmente com o tempo. Uma leitura correta e metódica da Bíblia evita a intolerância, porque sua principal mensagem é o amor de Deus.
   
5. Sobre o "Estatuto da Família"

    Foi mencionado no Seminário a tentativa de um grupo entre os evangélicos de impor o Estatuto da Família à sociedade. Sou contra esta imposição, da mesma forma que me levanto contra, também, qualquer imposição. Como, por exemplo, as "cartilhas" do MEC que, dentro das escolas, pretendem impor a chamada "ideologia de gênero".

     Tal assunto precisa ser discutido de modo equilibrado, pois se constitui em convivência de diferentes, da mesma forma que convivência religiosa. A cosmovisão da heterossexualidade, bem como a da homossexualidade propõem visões de mundo e sociedade diferentes. Não pode haver imposição de parte a parte.

     E o Instituto Ecumênico Fé e Política, se deseja preservar sua postura centralizada de mediação, colocando-se equidistante, entre essas duas posturas, terá de ter o cuidado de não privilegiar nenhuma das duas posições: se vai denunciar a tentativa de imposição dos evangélicos, deverá também denunciar outras tentativas de imposição, sejam procedentes de outros quaisquer grupos, órgãos políticos, públicos ou governamentais.

      Porque posturas desse tipo é que contribuem para uma convivência em harmonia, tão própria do amor que, nesse referido Seminário, constituiu-se num tema insistentemente comentado. Pois é junto ao outro, respeitando, de parte a parte, as diferenças, que se torna possível e viável praticar e não somente se falar de amor, permanente aprendizado.

   

sábado, 9 de junho de 2018

IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL DE CASCADURA - HISTÓRIA 7


         Primeiro Relatório

        Os irmãos da Congregação de Madureira apresentaram, na reunião seguinte à da Ata n¤ 1, um Relatório, em 13 de junho de 1953, registrando por escrito como Ata n¤ 2. 

        Interessante ler alguns trechos, porque indicam detalhes daquele começo de trabalho e também sua rotina de atividades logo que iniciavam sua nova identidade de grupo independente, ligado como Congregação à Igreja Evangélica Fluminense.

        Deleitem-se, então, com essa história:

1. Enquanto transitavam as chamadas, na época, "cartas demissórias", assinalam os irmãos, "continuavam as reuniões, às quintas-feiras, na casa do irmão Nelson";

2. Continuam: "No mês de agosto de 1952, numa delas, ficou combinado que nós procuraríamos uma casa para alugar, onde pudéssemos fundar uma Congregação que, já agora, ficaria filiada a Igreja Evangélica Fluminense";

3. "Foi encontrada uma casa nestas condições, na rua Firmino Fragoso, n¤ 26, de certa maneira, equidistante a todos";

4. "Foi alugada, no dia 24 de agosto (de 1952) e daí em diante, as reuniões passaram a se realizar no novo local";

         Notável também, meus caros, a agenda semanal daqueles pioneiros da Congregacional de Cascadura:

5. "Começou a ser seguido o seguinte programa semanal: aos domingos - às 10 horas - Escola Dominical; às 11 horas - Culto a Deus; às 17 horas e 30 minutos - culto ao ar livre; às 18 horas e 30 minutos - reunião de treinamento da Mocidade; às 19 horas e 30 minutos - Pregação do Evangelho";

          E vejam que excelente exemplo de perseverança:

6. "Convém lembrar, ainda, que ficou estabelecido, que todos os dias, às vinte horas, cada irmão, onde estivesse, fizesse uma oração a Deus, rogando que abençoasse o seu trabalho que se está organizando neste local".

        Destaque para a fibra desses pioneiros. Essa agenda de domingo ainda alcancei, inclusive com cultos ao ar livre, assim chamadas, na rua quase em frente ao atual templo, na Pe. Telêmaco 149, caminho que vai dar na chamada Fazenda da Bica.

        Também alcancei, no templo da João Romeiro, as chamadas "Reuniões de Treinamento", às 18 horas, antecedendo o culto. Estudávamos os livros da Bíblia. Lembro, pelo menos, ter estudado Daniel, 1 Samuel e Ester.

      Com relação a este último, nossa União Juvenil ganhou uma gincana que incluiu as demais igrejas da chamada, na época, 2a Região, entre elas Bento Ribeiro, onde se deu o Encontro, Anchieta, Encantado, Realengo, Cavalcante, entre outras.

      Tempos de maior atenção, cuidado e zelo com o trabalho do Senhor. A irmã Arsylene liderava a União Juvenil, assim chamada, e chegou a organizar um Coral com essa turma (aguardem essa foto histórica).

      Acho que, como disse Jesus, no Apocalipse, à igreja de Éfeso, precisamos retomar ao primeiro amor, que é esse aqui demonstrado, mesmo em suas limitações, por esses irmãos pioneiros.

          Não havia celular, não havia internet, sem redes sociais, sem whatsapp, enfim, certos dispositivos que julgamos que, sem eles, a vida seria impossível. Mas, para o evangelho, como ainda diz o apóstolo Paulo, a palavra de Deus não está algemada.

         Sim, para alguns, não.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL DE CASCADURA - HISTÓRIA 6


         
      Esta data correspondente a uma outra programação, desta vez em comemoração de outro aniversário da União Feminina. Segue um flash desse 23º aniversário, histórico detalhadamente escrito pela irmã Arsylene Sezures Jardim:


5 / 10 / 1975
     
Histórico da União Feminina de Cascadura

        23 anos de atividades completa a nossa União Feminina. 16 irmãs reunidas no dia 14 de setembro de 1952 à rua Firmino Fragoso, 26 – Madureira, sob a direção do irmão Presbítero Manoel Medeiros de Carvalho, foram consideradas sócias fundadoras desta União, a saber: Arsylene de Carvalho Sezures, Ma Dias dos Santos, Elza Silva de Carvalho, Lourdes Costa dos Santos, Naura Ferreira Araujo da Silva, Ma Glória de Souza, Odessa de Carvalho Sezures, Ma da Glória Costa dos Santos, Ana da Silva Jardim, Oscarina Costa dos Santos, Ma Brito de Mello, Lidia Celestino dos Santos, Lygia Celestino dos Santos, Léa Celestino dos Santos, Gilca Costa dos Santos e Marília Silva de Carvalho. Foi nessa reunião que houve a eleição da 1ª diretoria que ficou assim constituída: Presidente = Odessa de Carvalho Sezures; Vice-presidente = Ma da Glória Costa dos Santos; 1ª Secretária = Elza Silva de Carvalho; 2ª Secretária = Ma da Glória de Souza; Tesoureira = Ana da Silva Jardim.
      
      No dia 28 de setembro quando nossa Congregação foi instalada publicamente pelo Rev. Synesio Pereira Lira ficando filiada a Igreja Evangélica Fluminense, a 1ª diretoria tomava posse junto com as diretorias dos outros departamentos.
      
       No dia 9 de outubro, às 15 h, foi realizada a 1ª reunião ordinária com a presença de oito sócias. Nessa mesma reunião foi proposto pela irmã Ma da Glória de Souza e apoiado pela irmã Ma Lemos de Miranda que nossa união pedisse filiação a Federação das Uniões Femininas.
       
        Enquanto estivemos sob a forma de Congregação, nosso União teve sempre o apoio moral e espiritual dos irmãos Presbíteros Jesuíno José dos Santos e Manoel Medeiros de Carvalho, aos quais deixamos o nosso agradecimento.
       
        Ao nos organizarmos em Igreja, além desses dois incansáveis Presbíteros tivemos também o apoio dos nossos Pastores, primeiro o Rev. Nelson Bento Quaiotti e atualmente Rev. Maurillo Neves Moreira, aos quais também queremos agradecer.
       
      Passaram pela presidência desta União nesses 24 anos de vida (note-se aqui que estamos, então, em 1976) as seguintes irmãs: Odessa de Carvalho Sezures (anos = 1952, 1953, 1955, 1960, 1963 a 1967); Ma Dias dos Santos (1 ano – 1954); Ana da Silva Jardim (4 anos – 1956 a 1959); Lydia Ma Araujo Quaiotti (1 ano – 1962); Dorcas Lima Araujo de Oliveira (2 anos – 1971 e 1972); Ires Ma Ferreira Moreira (2 anos – 1973 e 1975); Arsylene Sezures Jardim (5 anos – 1968 a 1970 – 1974 e 1976).
     
   Temos procurado servir a Deus e a nossa Igreja da melhor maneira possível. Temos procurado cumprir os regulamentos e os compromissos com a Igreja, Federação e Confederação.

         Das 16 sócias fundadoras apenas 6 continuam fazendo parte ativa da União. Nossa união tem crescido em número, atualmente estamos com 29 sócias ativas, 15 sócias amigas, que nos ajudam quando solicitadas, e 5 sócias honorárias. Temos tido muitas atividades internas e externas com a cooperação de um bom número de sócias que se dispõem a deixar seus afazeres domésticos a fim de participarem das reuniões mensais de grupo, culto do bebê, chá da cegonha, etc.

         Temos trabalhado na medida do possível em visitação, evangelização, distribuição de folhetos, etc. Ajudado nossa igreja nas campanhas internas e em tudo que somos solicitadas fora da igreja. E procurado fazer o melhor para podermos alcançar as bênçãos que Deus nos oferece. O nosso desejo é que outras irmãs se juntem a nós para podermos prosseguir na obra.

             É em nome desse Cristo glorioso que estamos hoje apresentando este culto de ações de graça pelo muito que ele nos tem ajudado a vencer todas as dificuldades. Que possamos dizer igual a Josué: Ebenezer! Até aqui nos ajudou o Senhor! E que sejamos firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor e que o nosso trabalho não seja vão no Senhor.