1. Apocalipse: um nome afetado e de propósito. O objetivo desse gênero literário, por assim dizer, inventado foi (e continua sendo) exatamente esse: aguçar, assustar, estimular à sabedoria, como destaca Daniel na conclusão de seu Apocalipse:
⁴ "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará." Dn 12.
2. Um nome que significa "Revelação": por si, instigante mas, por favor, não me venha pensando se tratar de prognósticos. Não se trata de horóscopo, nem chinês e nem babilônico. E não se trata de predição barata, vulgar, bem ao gosto de tantos, por pura preguiça doutrinária. Jeremias nos ajuda:
²⁸ "O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor. ²⁹ Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra?" Jr 23.
3. Revelação, em que sentido, então? No sentido geral deste nome, somente Deus revela. Revelar significa "retirar o véu". Pois as Escrituras estão repletas de revelação. Não será o que desejamos ouvir ou saber, mas é o que Deus quis revelar. Deuteronômio expressa isso:
²⁹ "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei." Dt 29.
4. Portanto, "as reveladas nos pertencem": o princípio do que foi revelado é sua simplicidade. Facilidade de compreensão. Acessibilidade. As verdades reveladas, sim, são profundas, mas não são enigmáticas, misteriosas, no sentido iniciático, ou místicas, no sentido xamânico. Por isso, certa vez, Jesus assim se expressou:
²⁵ "Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos." Mateus 11.
Podemos, por exemplo, discorrer sobre alguns pontos fundamentais da revelação de Deus, sobre os quais podemos afirmar, sem que fosse necessário dizer assim, mas que, se Deus não o revelasse, ou não existiria ou não importava que existisse. São eles:
1. O seu amor: principal atributo de Deus, o apóstolo João, numa hipérbole precisa, afirma: ⁸ "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor." 1 João 4. Este, o principal atributo da identidade divina, é compartilhado conosco, conforme Paulo, claramente, expõe aos Efésios:
¹⁷ "... e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, ¹⁸ a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade ¹⁹ e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." Efésios 3.
2. Jesus explícita a vontade de Deus. Este é termo comum, muitas vezes explorado de modo exaustivo, quando se menciona "buscar" ou "conhecer" a vontade de Deus. Explica-se: esse modo de falar explicita o que as pessoas, comumente, significam quando desejam agir por um modo condizente com a vontade de Deus. Mas Jesus explicita, segundo narrado por João, em seu Evangelho:
³⁸ "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. ³⁹ E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. ⁴⁰ De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." João 6.
3. A revelação final e completa de Deus por meio do Filho: Deus se revela e fala, de modo pleno, claro e suficiente por meio de Jesus Cristo. Não conhecemos tudo sobre Deus, que não falou tudo o que pode ainda falar, mas Deus se revelou todo e plenamente em Jesus. Tanto João, em seu Evangelho, afirma: ¹ "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. [...] ¹⁴ E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai." João 1. Assim como o autor de Hebreus afirma que:
¹ "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, ² nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. ³ Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas". Hebreus 1.
Por essas razões, aqui pormenorizadas, o Apocalipse deve ser visto como um manual de advertências para que sejamos como aquele servo da parábola mencionada por Jesus:
³⁵ "Cingido esteja o vosso corpo, e acesas, as vossas candeias. ³⁶ Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. ³⁷ Bem aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá. ³⁸ Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar ." Lucas 12.