quarta-feira, 31 de julho de 2019

Tudo bom

     E viu Deus tudo quanto tinha feito e eis que era muito bom. Mesmo a bactéria resistente que me afeta. Oro, com toda a sinceridade, por sua extinção.
     
     Deve ser uma maravilha da ciência conhecer suas engrenagens. Assim como a bioquímica, com quem conversei, testar o antibiótico que vai, queira o Altíssimo, exterminá-la. 

      Não há nada que Deus tenha feito que não seja muito bom. Ainda que reconheçamos a entropia inerente a toda a criação. É o despedaçamento de tudo o que existe.

      Tudo tem um fim. Mas a vida se renova. O dom da vida provém de Deus. Eterno. Deus compartilhou eternidade conosco. Não só pôs, no nosso coração, esse desejo, assim como implantou eternidade em nós.

         E, para isso, o Pai envia o filho como semente. A frutinha de meu coqueiro nasceu, a seu tempo, porque a semente morreu. Em Cristo batizados pelo Espírito Santo, também ressuscitamos.

          Assim Deus implanta em nós a eternidade. Porque Jesus é a semente de vida que, uma vez tendo morrido, ressuscita vida em si mesmo e em todos os que nele são batizados. Pela fé temos acesso a essa graça, na qual estamos firmados.

      Jesus, Autor da vida, como a ele se referiu Pedro Apóstolo, também é Autor e Consumador de nossa fé.  E fé conduz à vida. É muito linda a vida.

     Tudo o que se renova é muito lindo. Gratos a Deus pelo dom da vida. Gratos a Deus por Jesus, autor da vida, autor e consumador da fé.  Glória ao Senhor, Autor da minha fé.

https://youtu.be/IKxsj5Hp4jA





terça-feira, 30 de julho de 2019

Quando se renovam as folhas

       Há coisas que se renovam, que nunca deveriam se renovar. E são obras nossas. Olhe para suas mãos: já renovaram coisas que jamais deveriam renovar.

      Às vezes, pela manhã, cara a cara no espelho, aproximamo-nos para um flash, conferir o que está bem ou tem de sair, ou que tem de ficar.

     Olhou bem? Que susto! A cara é essa mesma. Já muitas vezes foi cínica, para desanuviar feitos que jamais deveriam ter se renovado.

      Nossa língua, como diz Tiago (que tem língua certeira), já renovou muita coisa que não glorificou Deus, muito certamente denegrindo outros.

      Na aproximação do espelho, podemos refletir como, mentalmente, renovamos filosofias de vida que nunca deveríamos renovar.

      E no coração, renovamos e mantemos, disfarçados, é claro, sentimentos homicidas. Muito feio tudo isso. Obras da carne.

     Mas Deus renova o que é sempre bom. Fruto do Espírito. Precisamos ver em nós, constantemente renovado, o fruto do Espírito. Sempre procede da mesma fonte.

     E se renova, em Deus, a cada estação. Linda figura bíblica a que nos compara à árvore plantada junto a correntes de água que sempre dá o fruto, dentro e fora da estação.

      Jesus não foi antiecológico ao repreender a figueira sem fruto. Era comum vê-las secas, naquelas paragens. Mas a que foi alvo da parábola viva de Jesus, representava não dar fruto.

        Os que creem são, pelo Pai, enxertados em Jesus, uma vez designados a dar fruto, e fruto autêntico, que permanece.

domingo, 28 de julho de 2019

Respostas ao texto sobre a Doutrina do Dízimo, escrito por Tulio César Costa Leite.

   "O dízimo tradicionalmente praticado pelos evangélicos é bíblico? Se não for não pode ser legitimamente exigido de nenhum membro. Já se afirmou que se o dízimo for extinto a igreja perderá o seu sustento. Ora, este não é um argumento bíblico. Respondemos que a doutrina bíblica nunca prejudicará a vida da igreja e que a verdade jamais será perniciosa; pelo contrário, se tivermos a determinação de ensinar que os membros são livres para dar ou não dar, que não há patamar mínimo exigido, que Deus ama a quem dá com alegria, que devemos ser generosos, guardar-nos da avareza, ser prontos em repartir, acumular tesouros no céu... Deus responderá derramando sobre a Sua igreja bênçãos sem medida".

      Para esta conclusão do autor, respondo à primeira parte: sim, o dízimo tradicionalmente praticado pelos evangélicos é bíblico.
      Os evangélicos escolheram praticá-lo do modo como praticam até hoje e, para isso, têm liberdade para fazer e não devem se sentir constrangidos por isso.
      Quanto à parte final, a partir do trecho acima que diz "Deus ama a quem dá com alegria", concordo plenamente: ninguém deve se sentir obrigado a contribuir, nem com o dízimo e nem com ou por qualquer quantia. 
      Tudo na Bíblia sempre foi e sempre será voluntário. Até fé e obediência serão voluntários. E quando a Bíblia diz que o amor nos constrange, não é também que sejamos obrigados a amar. Mas que, uma vez aceitando-o voluntariamente,  por meio  da salvação em Jesus, estaremos constrangidos por aceitar tudo o que com ele vem e o que ele oferece. 
      Abaixo algumas posturas sobre o texto e sobre a questão do dízimo:

1. Qualquer doutrina das Escrituras não é uma imposição. Por uma razão muito simples: ninguém é capaz de, por si mesmo, cumprir qualquer proposta da Bíblia. Por isso, todas são voluntárias e dependem da ação de Deus na vida do homem ou mulher para que possam ser aceitas e cumpridas;
2. Portanto, o articulista tem razão ao dizer que a doutrina do dízimo pode ter sido compreendida e proposta como bíblica, independentemente de ser ou não correta. Mas a regra geral para tudo o que está na Bíblia, até o mais importante, que é a salvação, é o fato de ser voluntário;
3. Para mim, a aceitação do dízimo como forma de oferta voluntária pelos evangélicos está correta. Seja com respaldo no Antigo, tanto quanto no Novo Testamento. Não se constitui num costume ou prática anti-bíblica, mesmo aplicado ao salário, como se faz, e não a produtos da terra, como se fazia na Bíblia;
4. Mas é voluntário. Ninguém é obrigado a dizimar. Como falou o próprio articulista, pode dar terça, quarta, quinta parte, metade ou tudo, basta querer. Mas a décima parte, como sugerido, é legítima e biblicamente extraído do costume vetero-testamentário, não se constituindo em erro mas, repito, é voluntário;
5. Realmente o "dar" na Bíblia não pode se restringir somente ao conceito do dízimo. Porque dar, na Bíblia, significa pertencer inteiro a Deus, que deu o seu Filho, para que não mais pertencêssemos ao pecado. Portanto,  não são nossos bens ou o que temos que pertence a Deus: somos nós que a ele pertencemos;
6. Consequentemente, não pertencemos a nós mesmos e nada do que temos, não temos sem que não tenha sido dádiva de Deus.  E a obra que nos concedeu realizar, como igreja, está sob nossa responsabilidade e às nossas mãos para a sustentarmos. Então, o articulista está correto em dizer que podemos e devemos sustentá-la do modo como escolhermos, com sabedoria, e segundo os nossos recursos;
7. Desse modo, tem razão em dizer que está errado apresentar o dízimo como ameaça, como obrigatório, como canal de bênção (ou de maldição, para quem não "devolver"). Mas está também errado em apontar como doutrina não bíblica para os dias de hoje. Pode, sim, ser apresentando como um dos meios e, como é tradicional fazer, um meio regular, mensal de contribuição, porém voluntária.
      Abraão deu o dízimo e eu também dou. Não me condeno por isso, não condeno quem não faz isso. Mas fui educado pelos meus pais nessa tradição que acho sadia. Evangélicos não precisam cessar de utilizá-la. Só não devem apresentá-la como obrigatória. Nem teimar ou se cansar em prová-la (ou não provar), de modo restrito e incansável pela Bíblia, para justificar sua obrigatoriedade. Porque, como tudo na Bíblia, sempre será gracioso e voluntário.

quarta-feira, 24 de julho de 2019


             "Xente, eu fico pau da fida".
       
         Traduzido, no sotaque britânico de d. Betty Bacon, significou dizer "Gente, eu fico pau da vida".
        Naquela noite, algum dia do ano de 1978-1981, toda a turma caiu na risada. Era porque Adonias, hoje pastor auxiliar no Encantado, RJ, havia escrito garranchos incompreensíveis na prova.
       Os Bacon, britânicos especialistas em língua portuguesa, autores de críticas de obras literárias de autores brasileiros, primavam pelo português norma padrão. 
      Revisavam, na aula de entrega das provas, questão a questão cada prova de cada aluno. Isso era bom. Despertava-nos para cochiladas, fossem gramaticais ou do conteúdo de suas disciplinas. 
       Gozado era a "tentação" dos alunos em responder as três questões propostas nas tirinhas. Sim, porque a prova consistia numa tirinha com três questões datilografadas (lembram desse instrumento?).  
      Vinha uma advertência na tirinha: escolher apenas duas entre as três. Mas havia quem decidia responder às três, principalmente Eponina. Então, no caso o Henry Bacon, gesticulava com seus braços (e mãos) imensos, tentando entender por que insistiam nas três. Ecoava a voz de Bacon nessas ocasiões, com sotaque britânico: "Ó, Ěpœnnynah!". A "xente" já sabia: ela mais uma vez decidira responder às três e ia argumentar por que com o professor. 
       D. Betty vinha com aquelas folhinhas de prova de Hebraico mimeografadas no "cachacinha", lembram-se também? Era um instrumento chamado mimeógrafo, movido a álcool e folha em carbono. Coisa do século passado.
      Mas a expressão "pau da vida", como gíria cabocla, era vulgar naquele contexto de sala de aula de um Seminário Teológico evangelical. Todos rimos.  D. Betty Bacon se assustou, fechando ainda mais seus olhinhos pequenos, porque era difícil vê-los arregalados. 
      "Xente, fəlei alguma coiza errata?" A gente desconversou. A risada cínica de Paulo Leite ecoou por toda a sala. Ele ficou cor de pimentão vermelho. E a aula continuou. 
      Do mesmo jeito que seguia, quando d. Betty Bacon falava que Paulo, agora o apóstolo, estava "na Roma". É um castigo o português ter uma preposição "em" até similar ao "in" do inglês. 
      Mas o doloroso é que a nossa flexiona em + a = na e em + o = no. E, quando se referem a cidades, variam sabe-se lá por quê. Paulo em Roma, na Galácia e no Mar Egeu, atravessando-o. D. Betty insistia "na Roma", Paulo Leite repetia em meia altura "na Roma", todos riam abafado e d. Betty redarguia: "Xente!", pedindo silêncio e concentração. 
      Eles apreciavam respostas às questões de prova que tivessem quantidade maior de referências bíblicas, quanto mais, melhor. Se Bacon, o Henry, lecionava Novo Testamento, queria uma prova com muitas referências ao Antigo. 
     Por sua vez, se Betty lecionava Antigo Testamento, queria muitas citações do Novo em suas provas. Bons tempos! Preciosismos à parte, o que se desejava era conhecer muito e bem a Bíblia. 
      Os dois eram profundos em suas abordagens, competentes por excelência em tudo o que faziam e dedicados com exigência no aproveitamento dos alunos. Simplesmente, tinham seu coração no Brasil e na obra que foram convocados a realizar. 
      Em 2009, por ocasião da A. Geral da UIECB em Guarapari, foi a última vez que estivemos com o casal. Daqueles professores de que a "xente" nunca esquece. E carregamos as marcas que em nós deixaram: estímulo à mesma dedicação, competência e profundidade.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

A Bíblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos 7

       Boa noite.  Desta vez, vamos usar, como se costuma dizer, a prata da casa. Yosef, Abmael e eu, Azis, vamos discutir um traumático acontecimento ocorrido na congregação nascente, em Jerusalém, com relação à morte do casal Ananias e Safira. Tentamos trazer Lucas, sem dúvida a pessoa mais indicada para expor detalhes por ele pesquisados. Mas está em viagem com o apóstolo Paulo, a Roma, e não pudemos fazer contato com ele. Evidentemente que, em outra oportunidade, poderemos obter essas informações, mormente a opinião específica do Dr. e Evangelista Lucas.  Mas então,  vamos em frente.

Azis: bom, gente: comigo, Yosef ben Benyamim e Abmael ben Yoaquim, para juntos debatermos o fato ocorrido com o casal Ananias e Safira. Meu boa noite a vocês. E começamos perguntando: como vocês avaliam o trauma que prevaleceu na congregação, após o fato ocorrido com o casal Ananias e Safira?

Abmael: eu, por ordem alfabética (risos).

Azis: vá em frente!

Abmael: tremendo. Um trauma tremendo. Bem, é verdade que, de imediato, houve uma tentativa, vamos dizer, de justificar o que ocorreu, como se fosse merecido, entendem? Ora, se o casal era mesmo assim, hipócrita, tiveram o que mereceram. Eu acho até que foi uma maneira deles, vamos dizer, "exorcizarem" o trauma, sobrecarregando de culpa o casal.

Azis: ora, mas não eram mesmo culpados? Não foi exatamente essa a causa da morte, vamos dizer assim, do "castigo"? Yosef...

Yosef: eu penso que, antes de analisar o grau de culpa do casal, não se pode avançar, quer dizer, ampliar a própria culpa dos dois. Dizer que foi merecido. Dá impressão que se troca uma coisa pela outra, como se fosse assim: "Olha, estou achando muito trágico e muito exagerado esse castigo, a imagem que eu fazia de um Deus amoroso está afetada, mas, se eles eram assim tão vilões, ora, então mereceram". Como se disséssemos, Deus me perdoe, mas bem-feito para eles.

Azis: Abmael...

Abmael: creio que devemos estabelecer um equilíbrio. Deus é justo. Jamais esse senso da justiça de Deus seria um exagero em agir como agiu. Se foi assim, tão trágico e traumatizante, a primeira ideia que nos deve vir à mente é o senso de justiça de Deus. Nem o casal era pior ou merecia mais ou merecia o que teve, como se houvesse uma justificativa para Deus agir como agiu, como se a maldade deles, vamos dizer, "justificasse", legitimasse a atitude de Deus. Deus não se justifica ou espera que a maldade humana o motive, para então punir, para somente então agir, tomar uma atitude...

Azis: bom! Está esquentando! (risos). Espere aí: se não foi a atitude do casal que motivou a penalidade efetuada, executada, o que foi, então?... Espere... (risos)... Yosef...

Yosef: não, estou entendendo Abmael. O que estava em jogo, Azis, era a Pessoa do Espírito Santo. Pedro coloca em destaque, de modo claro, essa questão.  Quer dizer, vou dizer, com medo de errar, acho que num outro contexto, o casal não deixaria de estar errado, do mesmo modo, e seria a mesma mentira. Por exemplo, mal comparando, num "pecado oculto", numa situação encoberta à congregação. Mas, nesse contexto, de franca falsidade, diante de toda a igreja, lembram da fala de Jesus, de que quem provoca escândalo entre irmãos, que amarre uma pedra de mó ao pescoço e se precipite abaixo? Eles provocaram um tremendo escândalo, eles estavam como que ensinando a mentir. Jesus também disse que a mentira é filha do diabo...

Abmael: ah, não! Mas espere aí, espere aí: você está, de novo, equiparando o castigo à gravidade do ato cometido...

Yosef: ora, Abmael, mas então não foi? Se não tivessem cometido o ato indigno, nada lhes aconteceria.

Azis: esperem os dois (risos). Vamos retomar o nosso raciocínio: partimos de um ponto de vista em que avaliamos que Deus não se deixou irar, como que "saiu do controle", indignado, não foi tanto porque o cinismo do casal o enervou ao extremo (falando aqui respeitosamente). Mas houve equilíbrio e senso de justiça. Assim que vamos analisar. E foi o grau de ofensa à pessoa do Espírito, como Pedro indicou, além do escândalo diante dos irmãos, que agravou a situação. Certo? É esse o raciocínio? Abmael...

Abmael: certo. Precisamos desse senso de equilíbrio, para centrar ideia em Deus, amoroso, pleno de graça, mas também justo, que não se deixa escarnecer, como disse o Apóstolo Paulo na carta aos Gálatas. Lembro, também, o profeta Amós, que teve de pregar uma profecia de juízo aos assírios, os mesmos que, anteriormente, haviam sido alvo da misericórdia de Deus em arrependimento, na época de Jonas. Com isso, destacou que Deus não inocenta o culpado e de que não há perdão sem arrependimento.

Azis: sim... ok. Yosef...

Yosef: Abmael, mencionando as Escrituras, me fez lembrar dois casos. Vamos dizer mais dois casos, se assim podemos comparar: o caso de Uzá, ao tocar, indevidamente, a arca, e o caso dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú. Interessante é que, se considerarmos que o caso de Ananias e Safira aconteceu, como João fala em seu evangelho, no período do derramamento da graça de Deus, como que voltamos à estaca zero, quer dizer, voltamos no tempo: os fatos citados nas Escrituras ocorrem no período e época de gerência, digamos assim, da Lei de Moisés, grosso modo falando. Então, era para se esperar que casos assim traumáticos não mais ocorressem nestes tempos geridos pela graça de Jesus. Eu digo grosso modo falando...

Azis: Yosef me fez lembrar, também, a teofania do Sinai. O modo como Deus escolheu aparecer ao povo. Digo isso porque havia limites e temor e tremor. Era didático. Até Moisés se declarava assombrado. O rosto dele brilhava, quando descia do monte, proveniente da presença de Deus. Era como se fosse um marco definido, entendem, algo visto, sentido, ouvido, enfim, uma marca que nunca seria esquecida: a santidade de Deus é inviolável. Deus não transige com o pecado. Será que esse fato, essa mesma didática se aplica a este caso que abordamos aqui? Entendem? Porque não se poderia ultrapassar o limite. Não se poderia violar ou desrespeitar a presença de Deus ali, daquele modo, naquele lugar, tanto lá no Sinai, quanto aqui na igreja. Abmael...

Abmael: sem dúvida. A situação, embora historicamente distante, há um ponto de contato, sim, como você disse: Deus estabelece um limite e um ponto além do qual sua santidade não pode ser questionada e violada pelo homem pecador. Ninguém poderia ultrapassar. A situação aqui, também estabelece um limite, além do qual homem e mulher pecadores não ultrapassaram e os demais não podem ultrapassar. O temor pelo nome do Senhor foi compreendido, foi assimilado, exercitado. Num sentido prático. Palpável. Ninguém pode enganar o Senhor, na pessoa do Espírito. A mesma glória do Senhor, no Sinai e na congregação. Marcante, nesse início da era da igreja. Inicia-se a era da graça, mas é o mesmo Deus, necessário o mesmo temor, a mesma santidade, seja da parte de Deus, quanto requerida pelo próprio Deus. 

Yosef: quanto aos outros dois casos, semelhantes, lembram? Nadabe e Abiú, invadindo o Santíssimo Lugar, e Uzá, mesmo desavisadamente, tocando na arca, eu vejo em ambos os casos, a mesma aproximação, quero dizer, o mesmo princípio da inviolabilidade da santidade de Deus, do temor, do cuidado. Quer dizer, para preservar o próprio homem, Deus estabelece limites. Como se devesse preservar o próprio homem, protegendo-o de que não trate de modo desprezível e banal o próprio Deus. O que ocorreu com Ananias e Safira é mais para advertir toda a congregação do que para, efetivamente, puni-los. Correto dizer assim?

Azis: pedindo licença a Abmael (risos), Yosef falava dos outros dois casos, também destaco uma diferença para o caso de Ananias e Safira: no caso de Nadabe e Abiú, houve culpa, como no caso de Ananias e Safira. Mas no caso de Uzá, como destacou Yosef, foi desavisadamente que o fez. Como que sem culpa. Ele fez por boa intenção. Mas, ainda assim, morre ao tocar na arca. Bem, em todos os casos, deduzimos, há o aspecto comum da interdição necessária do acesso físico, digamos assim, ao Pai. Não pode haver violação. Mas no caso dos rapazes, Nadabe e Abiú, violação do espaço físico e do cerimonial, de modo consciente; no caso de Uzá, violação do espaço físico, no toque à arca; e no caso do casal, violação interior, tentativa de ocultação e flagrante cinismo desmascarado pelo Espirito, como que agindo como um guardião da santidade de Deus. E em todos os casos, o exemplo serve de advertência pública. Deus deve ser, em todos os sentidos, respeitado com temor e tremor. Abmael.

Abmael: Para não dispersar, creio que podemos fazer uma síntese. Caminhamos percorrendo experiências semelhantes nas Escrituras. É ela mesma que vai nos dar o referencial. A santidade de Deus e a necessidade de inviolabilidade, como e para a preservação do próprio homem. O rigor em relação ao pecado e a necessidade de demonstrar ao homem que, escolhendo acolher, definitivamente, o pecado, será impossível de se chegar a Deus: é uma coisa ou outra, ou se permanece em Deus contra o pecado, ou se aferrra ao pecado e se permanece contra Deus. E também podemos dizer que Deus adverte. Há uma necessidade de demonstrar, de modo didático e bem claro, aos outros, que é válida a advertência de que Deus não se deixa subverter. Veja bem, no caso de Uzá foi o erro dos levitas, em não advertir Davi, e do próprio rei, que tinha a obrigação de recorrer a eles, que redundou na morte de um inocente, mesmo bem-intencionado. Não poderia haver transigência.

Azis: Yosef, quero ouvir de você, para encerrarmos, Abmael já fez a síntese que eu ia pedir (risos), desejo que você comente duas coisas: a primeira, que fale sobre o dinheiro (risos). Afinal, foi a causa principal do ocorrido (ou não)?; a segunda, que fale sobre, quer dizer, numa nova ótica, apreciar o tipo e a razão, mais uma vez, da punição: porque não foram os primeiros e também não foram os últimos a mentir. Afinal, de novo (risos), por que esse tipo de punição que, pelo visto, não se repete?

Yosef: a questão estava relacionada à oferta daquele irmão levita, aliás, era Barnabé, futuro companheiro de Paulo, aliás, mais do que companheiro, foi quem introduziu Paulo no contexto dos irmãos. Ele seguiu o modelo mosaico de contribuição, que é o voluntariado. Aliás, o que, nas Escrituras, não é voluntário? E o casal, ao resolver medir-se pela atitude de Barnabé, projeta o próprio ego. Eram de outro nível social. Se sentiram afetados, achando que, no contexto do grupo, estariam focados, por não ter, até o momento, se manifestado. Barnabé se desfez do campo que era sua herança, enquanto que o casal, de um dos seus, e ainda assim sonegaram para si uma parte. Foi um "dízimo", ao inverso... (risos). Pedro foi cirúrgico em sua argumentação. Diga-se de passagem, a cada dia ele confirmava o seu dom de pastor. Ele disse que ninguém cobrava deles, ou melhor, que nunca se sentissem cobrados.  O que era deles, sempre continuaria sendo, mas que não mentissem ao Espírito. Arrepio-me, só de pensar. E vejam, um pecado chama outro e outro e outro, como diz o rei Davi em seu salmo. O pecado da soberba, neles, atraiu o da avareza que, por sua vez, atraiu o da mentira.  Enfim, contra essa urdidura foi que Deus se levantou. Quanto ao método de Deus, novamente abordando, porque já falamos sobre isso, como se fosse um excesso de rigor, da parte de Deus, já definimos que são marcos referenciais que educam, em relação ao temor que se deve nutrir pelo nome do Senhor, e isso para a própria segurança do crente, quer dizer, não se podem deixar subverter pelo errro, pelo pecado, que está sempre descoberto, aos olhos de Deus, prosseguindo cinicamente nesse curso de hipocrisia e afastamento da justiça de Deus. Acho que não será todas as vezes que houver pecado ou mentira, Deus vá se manifestar dessa forma, mas está fundamentado que ele não deixa que haja subversão continua, mas, como está escrito no início do livro do profeta Jeremias, Deus vela sobre sua palavra e sobre sua congregação. Falei (risos).

Azis: por hora, creio que abordamos, em tese, todo o ocorrido. A presença de Dr, quer dizer, do irmão Lucas seria essencial, pela pesquisa que fez, assim como por sua visão médica do ocorrido. Morreram fulminados diretamente pela ação de Deus, foi um mal súbito? E também acho que a questão dinheiro, dos bens, das ofertas será necessário discutir, numa outra oportunidade, porque bens materiais e ministério, a relação entre os dois, ganha uma feição pragmática e oportunista, muito explorada nos dias de hoje.

      Agradeço aos debatedores, nossos especiais e inéditos amigos (risos), Abmael e Yosef, nessa ordem (risos) e até uma outra oportunidade.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

A Bíblia na folha de jornal - Marcos Evangelista 6

      Boa tarde. Uma tremenda chance de entrevistar o Evangelista Marcos, companheiro do Apóstolo Pedro. Muitos detalhes a conhecer, em função dessa proximidade. 

1. Mais uma vez, muito grato por sua disposição em nos dar mais está entrevista. Esperamos aproveitá-la ao máximo. Queremos explorar sua proximidade com o Apóstolo Pedro. Como vocês se conheceram?

Marcos: Sempre um prazer e grande alegria contribuir. Essa iniciativa de vocês, em reunir depoimentos sobre os participantes da expansão do evangelho, nos dias iniciais, é fantástica. No meu caso, minha família foi evangelizada pelo Apóstolo Pedro. Certa vez, eles saíram em duplas. A recomendação do Mestre era que pousassem na casa que os acolhesse. Foi assim com nossa família.  Inesquecível a noite em que foram falando, pregando sobre Jesus, quem ele era e o que representava. Abriram-se os nossos olhos e, praticamente no mesmo dia, mais exatamente naquela noite, toda a família se entregou a Jesus. Passamos a crer no Messias de Israel. 

2. Foi exatamente nessa casa onde vocês se reuniram, naquela noite em que Pedro estava preso?

Marcos: sim, exatamente. A igreja, representada pelo grupo dos irmãos reuniu -se lá. Estávamos alarmados. Lembro que o Salmo lido falava das razões sem nenhum sentido da perseguição aos que proclamavam Jesus. Depois, tornou-se muito gozado. A criada, Rode, interrompeu nossa oração (risos), ela desfez toda a concentração dizendo que Pedro batia ao portão. Ninguém entendeu nada. Ele está preso, mulher, estamos orando por isso. Mas ele chamou,  está no portão. Era madrugada, alguém até mencinou fantasmas (risos), até que ouvimos uma voz de homem chamando. Cachorros latiam, uma confusão (risos) e alguém foi conferir. Ouvimos, então,  um "sou eu" familiar.  Abrimos.  Era Pedro. Rapaz, a gente estava orando, mas não esperava aquele milagre. Glória a Deus! Nos abraçamos, choramos de alegria, foi aquela bênção, aquela confraternização. Ninguém mais dormiu, amanhecemos cantando, compartilhando o poder de Deus, o sol raiou, lá pelo meio da manhã é que fomos dormir. Aí,  vieram buscar Pedro, de novo, e nos assustamos, fomos orar de novo, mas Pedro nos tranquilizou. 

3. Ufa! Muita emoção. O que você nos diz do perfil de Pedro?

Marcos: sempre foi atirado. Homem de rompantes. Não digo que fosse covarde, ao contrário, mas sempre que se mostrava atirado, as vezes criava problemas. Como naquela vez que cortou a orelha de Malco. Caramba! Poderia até ter morrido ou ter sido preso. O milagre de Jesus consertou tudo.  

4. Mas o Pedro depois do Pentecostes era bem diferente...

Marcos: sim, sim... Sem dúvida! Mais equilibrado, mais controlado pelo Espírito. De certa forma, a liderança dele aflorou, mas de forma natural. Se bem que Jesus o denominou pastor: "Apascenta as minhas ovelhas". Quando você vê, como vimos lá em casa, Pedro relembrando essas experiências, a gente se emociona. Choramos com ele.

5. Como foram aqueles sermões iniciais?

Marcos: ora, gente, o primeiro foi fantástico. Ninguém esquece o modo como, calmamente, ele esclareceu tudo pela Bíblia. Os patrícios, rapaz, era gente de tudo que era lugar, ficaram em silêncio, ouvindo cada palavra dele. E o sermão do Templo, quando Deus operou a cura do paralítico Joás. Novamente Pedro foi magistral. Sempre corajoso, nunca deixava de destacar a culpa pelo pecado, não somente aquele individual, mas de todo o povo, reforçado na culpa pela morte violenta e covarde de Jesus, entregue aos romanos pelos próprios patrícios. Magistral chamar Jesus de Autor da vida. Ele cunhou um trocadilho: "Vocês mataram o Autor da vida".

6. Por causa dessa pregação, ele foi, pela primeira vez, chamado a depor. Ele compartilhou com você como ficava o emocional dele?

Marcos: nenhum temor. Nenhum. Ele dizia, não sei de onde me vem coragem e ousadia. Pedro me lembra o profeta Jeremias, na porta do Templo, no Antigo Testamento. Só que Pedro falou dentro, denunciando o pecado de todo o povo e, quando foi chamado,  no cara a cara com as autoridades, com o pessoal do sumo-sacerdote e do sinédrio, perguntou se o seu crime foi ter feito um bem ao paralítico. Ele aprendeu com Jesus. Em meu Evangelho destaco a cura do portador de hanseníase, num sábado, na sinagoga de Nazaré, quando o Mestre também  perguntou se poderia ou não fazer o bem no sábado. 

7. Qual foi o argumento principal de Pedro?

Marcos: um refinamento. Meu irmão, pura ação do Espírito. Pedro usa a argumentação deles contra eles mesmos. Ele evolui de lógica em lógica. Foi realizado um bem. Por ele sou interrogado? Esse bem foi feito por Jesus, a quem vocês crucificaram. E se dizem "construtores" em Israel. Pois não edificam sobre a pedra, que é Jesus. Olhem bem, Pedro, que tem o apelido "pedra", dizendo que Jesus é a pedra de toque, a pedra de esquina, angular. E então disse que nessa pedra rejeitada eles tropeçaram. Rapaz, a nata do sumo-sacerdote estava reunida. Quanta coragem! Que poder do Espírito, concedido a Pedro!

8. E, dessa vez, Pedro foi solto?

Marcos: sim, não o detiveram. Eles queriam proibir Pedro de pregar, em nome de Jesus. Outra vez ele foi corajoso. Diante de Deus, ele disse, avaliem: vamos obedecer a Deus ou a vocês? Vamos anunciar a salvação. Não há salvação em nenhum outro nome. Não há nenhum outro nome, debaixo do céu, em nome de quem somos salvos. Não entendiam o que significava salvação. Mas não podiam fazer nada contra Pedro. Só na porta do Templo, Joás estava havia mais de 20 anos. Tinha mais de quarenta e, nesse tempo todo, era reconhecidamente paralítico. Estavam, como se diz, de mãos e pernas amarradas: não havia nenhuma prova contra os apóstolos Pedro e João. Pagariam grande mico, caso prendessem os apóstolos.

9. E qual era o papel de João nisso tudo?

Marcos: caladíssimo (risos). João representa o pêndulo ao contrário. Ele representa o equilíbrio. Muito unidos e muito chegados, antes mesmo que conhecessem Jesus. A família de João era proprietária de uma empresa de pesca em Tiberíades. Pedro e seu irmão André trabalhavam para eles. Os quatro, Pedro, André,  Tiago  e João muito amigos. Infelizmente, Tiago foi martirizado. Muito triste. Um herói da fé,  como foi Estêvão. João era conhecido dos maiorais do staff do sacerdote. O pai deles, Zebedeu, também era reconhecido pelas doações que fazia ao templo. 

10. João, podemos dizer, punha freio em Pedro, por causa de seu temperamento?

Marcos: muito pouco. A presença conselheira de João era mais ligada a temas doutrinários. Quanto ao temperamento, o Espírito fazia sua obra na vida de Pedro. João, embora mais novo, sempre foi equilibrado. Tinha uma postura mais intelectual. Nessa prisão,  bem, nem prisão foi, nesse interrogatório eles se admiraram da argumentação de Pedro. Parecia um advogado, estilo apóstolo Paulo (risos). Não.  O arrojo para  pregação pertencia a Pedro, João não recebeu esse dom. Mas, em seu silêncio, era tremendamente reflexivo. Quase que sempre se comunicavam pelo olhar. Por isso que, de uma mente tão reflexiva  e observadora, nasceu um poderoso Evangelho. A arte do Espírito em unir servos de Jesus tão próximos, para que o resultado final fosse magistral. Aleluia!

    Agradecemos ao irmão Marcos. É uma segunda oportunidade muito enriquecedora. Graças a Deus por essa memória tão abençoada. Deus o fortaleça em seu ministério. E esperamos contar sempre com o irmão (risos).

    Amém! Eu é que agradeço. Foi uma bênção. Sempre  à disposição dos irmãos.

terça-feira, 9 de julho de 2019

A Bíblia na folha de jornal - Marcos Evangelista 5

      Bom dia. Hoje entrevistamos ninguém menos do que João Marcos, o eterno companheiro e hospedeiro de Pedro Apóstolo. Ele também é o autor do primeiro Evangelho, que passou e ser conhecido pelo seu nome. Foi quem inaugurou o estilo, posteriormente seguido pelos outros evangelistas. O bate-papo de hoje inclui e explora, mais uma vez, os começos das atividades da igreja em Jerusalém, focadas nas iniciativas de Pedro, com quem Marcos muito conviveu.

1. Bom dia, caro evangelista Marcos. Muita alegria e grande privilégio poder entrevistá-lo. Agradecemos sua pronta disposição.

Marcos: bom dia. Para mim, também, é um grande prazer. Não tem de quê, sempre que desejarem, podem nos convocar. 

2. Vamos começar explicando sua proximidade com o Apóstolo Pedro. Vocês são amigos muito chegados, não é mesmo?

Marcos: sim, sem dúvida. Graças a Deus! Por meio dele, nossa família conheceu Jesus. Desde que começou a andar com o Mestre, compartilhava conosco o que ocorria entre eles: as andanças do grupo, os acontecimentos, as vitórias, as dificuldades etc.

3. Daí que surgiu seu interesse em escrever seu Evangelho que, diga-se de passagem, é o primeiro a ser escrito. 

Marcos: sim, sem dúvida. Eu pensei, caramba, não posso deixar tudo isso passar em branco. Convivo com um deles, mais do que isso, com um líder entre eles. Teve experiências fantásticas com Jesus. Conhece de dentro o grupo.  Enfim, eu não poderia deixar em branco toda essa história.

4. Certo. Exatamente. E você, permita chamá-lo assim, inaugurou um estilo de literatura. 

Marcos: glória a Deus! Outros mais habilitados do que eu deram prosseguimento. Mateus,  Lucas e até João. O de Lucas já está circulando. Ouço dizer que João também se debruçou sobre essa história e já vai editar o seu Evangelho. Isso é  de Deus! Aleluia!

5. Interessante que você não ache que o que eles escreverem seja uma espécie de plágio...

Marcos: nunca! Nunca! Quanto mais, melhor.  Contanto que seja criterioso. Como Lucas mesmo disse. O meu Evangelho é como se fosse um paper view, compreendeu?

6. Não... (risos)

Marcos: Uma obra breve, um opúsculo. Como se fosse uma folha de jornal, que corra o mundo e espalhe essa notícia, essa boa notícia.  Evangelho é boa notícia, boa nova de salvação em Jesus. No início de meu livreto, eu já registro que é Jesus quem começa  a espalhar essa boa notícia,  essa nova de salvação: "Foi em direção à Galileia,  pregando o evangelho".

7. Então,  quanto mais, melhor. 

Marcos: sim. Soube que as igrejas começam a copiar, as de menos recursos a fazer campanhas para contratar copistas. É um trabalho caro. 

8. Mas evangelista Marcos, não há o perigo de, com tantas cópias e recópias, distorcer o que foi escrito. Isso é tão perigoso ...

Marcos: não,  nada disso, irmão. É do Espírito, é do Espírito. Escrever e divulgar é de Deus. Não vê o milagre das Escrituras, que chegaram às nossas mãos. Nem a destruição do Templo e o exílio em Babilônia fez desaparecer ou distorcer as Escrituras. Quando eu soube da iniciativa de Mateus escrever, que seria a ótica dele, assim como Lucas, rapaz, eu comecei a perceber, gente, isso é obra do Espírito Santo. Ele deseja que, assim como o povo de Israel teve um referencial, a igreja também tenha. Glórias a Deus! Copiar e copiar, ora, se o Espírito preside essa nossa iniciativa em escrever, como não vai presidir os cuidados na transmissão? As Escrituras são dadas aos homens como uma dádiva de Deus, você não acha?

9. Sim, é verdade. Você  então acha que esses evangelhos, essas epístolas podem ser comparadas às Escrituras do Antigo Testamento?

Marcos: Caramba, eu fui tão longe assim? Muita pretensão. Eu quero ser reconhecido como alguém que foi usado pelo Espírito, a registrar o que ouvi e conheci por meio de Pedro, é somente como aquele que foi seguido por outros mais à frente do que eu. Mas veja bem: se nossos escritos podem (e devem) ser lidos, até mesmo nas igrejas, nas casas, em todo lugar, como referencial, nem precisam ser considerados no mesmo nível das Escrituras, contanto que sejam lidos, escritos e recopiados, por exemplo, dentro do critério usado por Lucas: investigado com todo o critério, fosse entrevistando irmãos e ministros da palavra, ou até cobrando de tetemunhas oculares uma posição diante dos fatos que viram.

10. Evangelista, nem chegamos a Pedro, nessa nossa conversa, ficando somente no comentário de seu opúsculo (risos). O Sr. aceitaria uma outra entrevista para falarmos dele, de sua amizade com ele, de suas informações, colhidas como fonte...?

Marcos: sem dúvida, sem dúvida. Na hora em que desejarem. Em meu livrinho, coloquei tudo o que ele me informou. Busquei em Isaías, o profeta, referencial para indicar que o evangelho vem sendo prometido desde os tempos da velha aliança em Moisés. O modo como em Jesus temos uma nova aliança. Mas não foi improvisado. Não foi, digamos, tão novo que nossos demais patrícios não tivessem, nas Escrituras, um referencial. Meu livrinho funciona como um folheto, de breve leitura, mas que confirma as promessas e profecias de salvação, por meio de Jesus. Numa viagem de navio, há tempo de sobra para ler (risos).

      Agradecemos ao evangelista Marcos esse contato, aceito com alegria e prontidão. E advertimos nossos leitores de que, na próxima vez, o irmão Marcos vai mergulhar em sua amizade com Pedro e nos revelar detalhes do desbravamento da fé cristã em Jerusalém e seu entorno. Até lá. Será emocionante. Não percam!

A Bíblia na folha do jornal - Atos dos Apóstolos 4

       E foi assim. Um dos variados grupos que transitavam pelas cercanias do Templo era o grupo dos doze, agora acrescidos de Matias. Havia espaço livre, onde gentios e até mesmo mulheres poderiam circular. 

     As autoridades da guarda do Templo não admitiriam, mas aquela confusão gerada pela atitude do Mestre, naquela vez que dispersou os vendilhões, virando bancadas e espalhando seus produtos, alertou a guarda do Templo, saduceus, levitas e o staff do sacerdote para organizar melhor o acesso e os limites para circulação e acomodação nesses dias de festas.

      Desde os tempos do Mestre, era facultado nos reunirmos nas varandas dos prédios das cercanias do Templo. Na verdade, era a Cidadela do Templo. Desde a época em que Davi tomou Jerusalém aos jebuseus, estabeleceu uma espécie de condomínio, onde sua Fortaleza, futuro Palácio onde Salomão moraria, após ampliá-lo, tornaram-se ligados ao Templo que ainda seria construído. 

      Herodes, o Grande, trabalhou por sua ampliação ainda mais, a partir da reconstrução iniciada por Esdras, transformando todo o conjunto na Fortaleza Antônia, com esse nome por causa do padrinho romano dele, Marco Antonio, o namorado de Cleópatra, aqui para o sul, no Egito. 

       Estávamos reunidos, como sempre fazíamos, cantando e conversando sobre os acontecimentos mais marcantes e relembrando as recomendações do Metsre. Ninguém nos incomodava. Também, para quê, se eles mesmos achavam que, tendo dado um fim ao nosso líder, com o tempo, todo o grupo se dissolveria.

      Muitos outros haviam se levantado pensando ser alguma coisa ou alguém, repetiam isso. Esse tal de Jesus, diziam, era só mais um. Ali cantávamos, compartilhávamos testemunhos, líamos as Escrituras, sempre alguém trazia trechos delas, em retalhos de pergaminhos. 

      Nossos cânticos atraíam pessoas. À boca miúda falávamos de Jesus. Mas nada que fosse, assim, massivo. Ele havia nos recomendado que esperássemos o revestimento do Espirito Santo, a autoridade que, certamente, viria sobre nós. 

       Não sabíamos como seria. Mas estávamos aguardando. Com o coração fervendo, como diziam os discípulos de Emaús, quando tiveram aquele contato com o Mestre. Aliás, um deles estava ali conosco. Ora, não se perdia, por nada, aquele aglomerado de gente e de festa. Foi quando aconteceu.

      Todos percebemos um ruído de vento, sem que estivesse ventando. Começamos a olhar uns para os outros. E também vimos rebrilhar, refulgir sobre nossas cabeças umas linguetas, como chamas de fogo. Ouvíamos esse som, avistávamos essas línguas de fogo, mas nem ventava e ninguém acendera qualquer candeeiro.

      Então, fomos tomados de uma sensação que a todos envolveu, creio que todos entendendo que era um sinal de Deus, que se operava. Então, começamos dar glórias a Deus, em nossas próprias línguas, falando "aleluia, Deus seja louvado, glória a Deus, glória ao nome do Senhor".

      E pessoas começaram a se aproximar à nossa volta. Entreolhavam-se, como nós,  no início, curiosos de saber o que ocorria. Dividimos nossa atenção entre nós mesmos e eles, porque estávamos tomados de uma alegria ainda inexplicável, sem saber, afinal, totalmente, o que acontecia. 

      Foi quando as pessoas começaram a comentar que estávamos loucos. Não queríamos que se dispersassem. Algo nos dizia que era de Deus aquele sinal protético e que eles precisavam saber do que se tratava, tanto quanto nós, que não poderiam se dispersar sem saber. Por intuição, sabíamos que seria grande chance de testemunhar Jesus. 

      Foi quando Pedro percebeu, ou mesmo João comentou com ele, porque viviam sempre muito juntos, que houve duas coisas: primeiro, eles nos ouviam falar cada um deles, de modo diferente, em suas próprias línguas, os louvores que elevávamos a Deus.. E segundo, Pedro percebeu que eles, por não entender como isso era possível, já que eles sabiam que éramos, no máximo, palestinenses, na maioria galileus, não conheceríamos tanta variedade de idiomas, que se assustavam e iam acabar por se dispersar.

      Foi quando Pedro interveio, pediu silêncio, dirigiu-se a eles e todos nós percebemos que era o próprio Espírito Santo dando a Pedro discernimento para compreender e esclarecer o que estava acontecendo. Quando ele começou a falar, todos nós  e quem nos ouvia, começamos a perceber que a promessa de Jesus, sobre sermos revestidos do seu poder e recebermos autoridade para testemunhar dele estava se cumprindo ali mesmo e em todos nós. 

      E foi Pedro que tomou a palavra,  fez calar a balbúrdia daquele povo, tomou da palavra e pregou. O Mestre estava certo, como sempre, quando indicou Pedro como nosso pastor. Ele pregou como nunca, esclareceu até para nós mesmos o que estava acontecendo. E fundamentou nas Estruturas. Não era um palpite. Era mesmo o sinal que Jesus mesmo havia dito que a gente esperasse. 

       O mais importante foi o sermão de Pedro. A palavra de Deus, pela primeira vez pregada por nós, para fora, para judeus e gentios ali presentes. Pela primeira vez anunciamos Jesus, como ele mesmo havia dito. Confrontamos as pessoas com os fatos e as Escrituras. Demonstramos que nada do que aconteceu a Jesus foi surpresa para o Pai.

      Que o fato de ter sido morto, até isso estava previsto. Que a ressurreição também estava profetizada nas Escrituras, pela boca do rei Davi, nos Salmos. Támbem o derramamento do Espírito Santo, como foi predito pelo profeta Joel. E como era necessário que todos cressem. Muitos compreenderam. Perguntavam a Pedro o que fazer.

       Pedro, então, falou que se arrependesem, confessando Jesus como seu salvador, para que fossem batizados e recebessem o Espírito Santo como dom. Vocês acreditam que até o final da festa batizamos mais de mil, gente, eu acho que muito mais, Mateus calculou quase três mil. Lembramos dos dias de João, o batista, que batizada no rio Jordão, em Elim. 

       Foi um susto para todos nós.  O Mestre havia dito que anunciaríamos a palavra, batizando e ensinando, mas como saberíamos de fazer isso com tanta gente.  Embora fossem, na sua maioria, patrícios, sim, em sua grande maioria vindos de lugares distante, da diáspora, assim mesmo tínhamos que explicar que a ênfase agora era Jesus. 

      O modo como tudo, nas Escrituras, apontava para ele. Como todo esse cerimonial mesmo do Templo tinha em Jesus seu cumprimento. De como o único e verdadeiro sacrifício válido pelo pecado foi o de Jesus, na cruz, e não bodes, novilhos e touros sacrificados mesmo naqueles dias de festa, o que ficou muito claro na pegação de Pedro. 

      Começávamos a entender a dureza do trabalho e toda a responsabilidade que haveríamos de realizar como igreja de Jesus. Era só o começo. 

segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Biblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos 3

Pentecostes cristão

    Neste ano a festa de Pentecostes, em Jerusalém, marcou um novo começo para a seita denominada "Caminho". Pedimos ao nosso correspondente em Jerusalém para contatar André, conhecido como o relações públicas do grupo de discípulos que andavam com Jesus. O próprio André resolveu dar, por si mesmo, um relato em que destaca, de dentro, a partir do grupo, os mais recentes acontecimentos. Senão, vejamos. 

       Do correspondente em Jerusalém. Transcrição das impressões de André Apóstolo.
   
       Pentecostes é uma das três festas gigantes que Jerusalém comemora. Para os judeus, é como se a cidade se tornasse o centro do mundo. Vem gente de todo o lugar e de todos os tipos. Marca exatas sete semanas contadas da Páscoa, daí são 50 dias, por isso o nome Pentecostes.

      A população quase que triplica. Falta lugar para abrigar tanta gente. Estalagens superlotadas, casas improvisadas para receber peregrinos, vindos de todas as partes da terra. Em casas de parentes ou de patrícios. 

      Gente dormindo nas praças mesmo, improvisadas acomodações pelas feiras, proximidades do Templo, coração vibrante de todas as comemorações. Quem vem do estrangeiro, porque também não são poucos, confraternizam-se com seus irmãos e parentes. 

     Mas vem também muita gente que não é judeu da diáspora. A festa faz sucesso também entre quem não é judeu. O templo é um esplendor. O próprio complexo da construção, assim como todo o conjunto a ele agregado. A guarda do Templo, em acordo com as autoridades romanas, fazem a segurança, para evitar problemas.

     O rei Herodes iniciou reformas, obras eternas, que ainda não estão concluídas, mas a imagem geral já é, por si, fascinante. É no entorno dessa estrutura que acontece toda a celebração e a rigorosa agenda de rituais e ofertas dedicadas. 

     Há aquela velha competição entre saduceus, ligados politicamente à administração central sacerdotal do Templo, todos que organizam a infraestrutura da festa, solenidades, celebrações e rituais, a segurança do entorno, e os fariseus, de olho o tempo todo para identificar e criticar as falhas. 

     Eles controlam as sinagogas, espalhadas tanto pela Palestina, em si, como pelas colônias da diáspora, numa permanente competição com os saduceus, aferrados ao coração do judaísmo, o Templo de Jerusalém, assim considerado. 

     Mas vez por outra, a briga se dá no contexto da Torah, na eterna discussão pelo que está ou não está certo. E é aquela mistura, da própria Torah escrita, em si, dos Targuns, a tradição interpretativa que veio do exílio na Babilônia, e ainda o que eles dizem ser a tradição oral que vem do próprio Moisés, a Midrash ou os Midrashim.  É aquela confusão. 

     Outra correria é pelo lucro. O mundo vira de cabeça para baixo por causa das oportunidades de ganho por causa da atividade econômica, em função do mundo de gente que passa por Jerusalém nessa época. Tem opção para todos os gostos.

      Principalmente, refeições. Mas há espaço e oportunidade para todo o tipo de comércio. Também as vendas relacionadas aos rituais da festa. Muita venda de animais, desde novilhos, ovelhas e cabritos, até a ruma de pequenas aves, em substituição, para os que têm menos posses.

      Mas em termos de negócios, tudo o que se pode imaginar se realiza em Jerusalém nessa época das grandes festas. Tudo se estrutura em função dessa concorrência de gente. Norte da África, entorno da Ásia Menor, cidades do Norte e do Sul, Egito incluído, e até da distante Europa, principalmente judeus da dispersão, mas também gentios concorrem a Jerusalém.

       Formam-se vários grupos de pessoas. Em alguns momentos, diminuem-se as distâncias impostas pelas camadas sociais. Caravanas de várias regiões se encontram, famílias e amigos se reveem, intercâmbios são estabelecidos. Você até vê gente classuda misturada ao povão, como se fossem estudos de casos. 

     É claro que a camada que se considera a nata, esse pessoal do círculo do sumo-sacerdote, esses bajuladores, que realmente acham que são os tais, ficam entre sua turma mesmo. Claro que não se misturam ao povão. Nunca o fazem. Mas se alguém é de classe elevada ou tem sobrenome com pedigree, terá seu reconhecimento. 

     Um desses microgrupos era o nosso. Nossa identidade ainda não estava definida. Éramos os seguidores do tal de Jesus. Para muitos, mais um louco que dizia de si mesmo ser o Messias. E que havia sido entregue aos romanos para ser crucificado.

     Sim, era certo que alguns desses seguidores espalhavam a boca miúda que ele havia ressuscitado. Mal se sabia o que era isso. Como assim? Voltara à vida, de entre os mortos?

       E, veja só, uma mulher que fora ao túmulo, Maria, foi quem nos trouxe a notícia de que, realmente, o túmulo estava vazio. E nos contou também que teve uma visão do próprio Jesus. Claro que houve relutância em acreditar. Mas não descaso.

     Porque Pedro e João saíram numa carreira para checar as informações. E retornaram, João mais convicto do que Pedro, relatando que ao Mestre não viram, mas somente, sim, o túmulo vazio. 

     João chegou a entrar e viu as faixas e panos postas à parte. Ora, quem vai roubar e, se vai roubar um corpo, vai se preocupar em retirar as faixas? E a máscara mortuária? Estava posta de lado, como se o próprio corpo, com sua própria mão houvesse descoberto o rosto. 

       E houve as demais confirmações. A conversa com discípulos no caminho para Emaús. A própria aparição do Mestre a todos nós. Depois, o retorno e o encontro com Tomé. A própria despedida e a recomendação de que aguardássemos o revestimento do Espírito.

      E foi naquele Pentecostes, logo o primeiro após a Páscoa de sua partida para o Pai.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

A Bíblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos - 2

      Entrevistamos, com exclusividade, Lucas, o Evangelista, autor dos dois opúsculos ao Excelentíssimo Teófilo. Segue uma síntese. 

1. Bom dia. Desde já agradecemos sua colaboração. Reconhecemos sua sobrecarga. Sem  mais perda de tempo, a gente gostaria de seguir com a entrevista. 

Lucas: Bom dia. Muito grato pela deferência. Sempre à disposição. Muito me empolga falar sobre esses assuntos. 

2. Sim, é claro (risos). Conforme antecipadamente combinamos, vamos selecionar alguns tópicos dos seus dois livros para, eventualmente, sempre que o Sr puder, a gente conversar sobre eles.

Lucas: Sim. Certo.

3. Para começar, selecionamos aquele trecho, meio polêmico, da escolha do apóstolo substituto de Judas, o Iscariotes, bem entendido. Dr, o senhor acha que houve precipitação na escolha desse apóstolo?

Lucas: (Risos). Bem, antes de mais nada, vamos esquecer o "doutor". Chame Lucas, irmão, enfim. Quanto à minha opinião, vocês que leram meus textos, já perceberam que sou muito discreto em emitir opiniões. 

4. Certo, sim, percebemos. Mas a gente queria a opinião do Sr, porque, afinal, é a fonte mais próxima e esteve colhendo depoimentos. De repente, o Sr até ouviu uma opinião a mais entre eles, os apóstolos, sei lá. 

Lucas: Vocês já perceberam que sou econômico em minhas afirmações. Como digo na introdução dos textos, procurei ser criterioso e investigar, cuidadosamente, escrevendo para inteirar o leitor a respeito dos fatos sobre Jesus e conduzi-los a crer, a ter "plena certeza", para citar eu mesmo (risos). Por isso não entro em conjecturas. 

5. Certo. Mas essa questão de quem e quantos são os apóstolos é mesmo polêmica.  Não se resolveu. E também como os apóstolos eram vistos, seu chamado individual, para falar assim, desde os dias de Jesus já gerava uma polêmica, pelo questionamento de sua autoridade. 

Lucas: Sim, é verdade. Ora, até mesmo Paulo, com quem convivi de modo bem próximo, era questionando sobre sua autoridade. Para você ver como esse nosso pessoal é complicado: questionar autoridade, vocação e apostolado do próprio Paulo!

6. Pois é. Mas, afinal, Dr... desculpe, irmão Lucas, qual a sua opinião sobre esse assunto? O Sr diria que Paulo, então, completa o número dos doze? Ele seria o legítimo substituto de Judas?

Lucas: Não. Eu acho que a autoridade do chamado apostólico é exclusiva de Jesus. Ele chamou Paulo, daquele modo como descrevi. Ouvi dele várias vezes esse testemunho. Citava em suas pregações, em sua própria defesa, como indiquei nos Atos. Agora, com relação a quem é ou não apóstolo, acho que, a princípio, Jesus indicou e chamou os que ele mesmo quis. Depois, à medida que o tempo foi passando, generalizou-se entre os que receberam como dom essa bênção. Você já deve ter reparado como o próprio Barnabé, naturalmente, recebeu esse título. O que importa não é o título, como muitos pensam e buscam, até hoje, mas a bênção de ser enviado em nome de Jesus, para espalhar o evangelho do reino, que é o sentido do termo "apóstolo", enviar.

7. Então o Sr acha que ali, nesse relato registrado pelo Sr, daquela assembleia dos irmãos, entre a ascensão de Jesus e o Pentecostes, houve uma precipitação naquela escolha?

Lucas: Não diria "precipitação". A igreja reunida, aquele pequeno grupo de irmãos, estavam ainda sob impacto dos últimos acontecimentos. Agora se viam, definitivamente, e de novo, sem a presença de Jesus. Um trauma atrás do outro: traição de Judas, que caminhava com eles. Prisão e morte de Jesus. A ressurreição, sim, mas logo depois o anúncio de que Jesus não ficaria com eles. Então, tomaram essa iniciativa. Eu acho que a igreja, ali, estava treinando em tomar suas decisões, como ocorre até  hoje. E vai ocorrer até à volta de Jesus. 

8. Então, podemos dizer que a escolha, que recaiu sobre Matias, poderia sem nenhum problema recair também sobre o irmão José? E a escolha que fizeram não estaria, de certa forma, prejudicada, visto que mais tarde Jesus mesmo escolheu Paulo? E alguns dizem que foi porque o Pentecostes ainda não havia ocorrido e, por isso, não havia, ainda, autoridade dada pelo Espírito...

Lucas: Vamos com calma (risos). Uma coisa de cada vez. Não acho que o chamado de Paulo feito por Jesus, posteriormente, desautoriza a escolha de Matias. E Matias sendo escolhido, não quer dizer que o irmão José, o Justo, tenha deixado de ser apóstolo (risos). Apóstolos somos todos nós. A igreja toda é "apóstola". Quando Jesus disse "Ide", falou a toda a igreja. Ela, com seus dons, esforça-se em cumprir sua missão. Todos em conjunto, atentando ao que o apóstolo Paulo falou: "Procurem com zelo o seu próprio dom". O ide é para toda a igreja. E ela toda deve se sentir "apóstolo", quer dizer, chamada, vocacionada por Jesus. Ela cumpre o ide de Jesus, prega, discipula, batiza, envia, enfim.

9. O Sr mencionou Paulo. E ele diz, numa de suas cartas, se não me engano, aos Efésios, que um dos dons concedidos por Jesus é de apóstolo. O Sr acha, então, que há um outro sentido mais específico para esse apostolado?

Lucas: Olha,  aqui eu me lembro das palavras do irmão Tiago, em sua epístola: "É melhor não se fazer de 'mestre', quando se sabe que a cobrança de Deus será maior". Correr atrás de títulos de liderança, é nocivo. Lembra, quando a mãe de Tiago, desta vez o irmão do apóstolo João, a mãe dos dois pediu um destaque para os filhos ao próprio Jesus? O que ele disse? Eles se dispõem a beber do mesmo cálice de provações que eu vou beber? E sabemos que beberam. O melhor, meu caro, é buscar a plenitude do Espírito, sem se preocupar com destaques de qualquer tipo. Nosso objetivo é ser como Jesus. Ser apóstolo como Jesus foi - no grego, quando Jesus diz que foi enviado pelo Pai, diz-se "apóstolo do Pai". E ser evangelista como Jesus foi. O irmão Marcos, em seu evangelho, diz que Jesus foi o primeiro evangelista, anunciando o evangelho do Reino, começando na Galileia. E ser profeta, e ser pastor, e ser Mestre como ele foi.

10. Qual seria, então, a definição específica que Paulo quis dar quando distinguiu, na epístola aos Efésios, os dons de "apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres"?

Lucas: Olha, o Pentecoste representou "derramamento do Espírito". Ali acabou a distinção por grau, se é que um dia, no Reino de Deus, ela houve. Lembra do sermão de Pedro? Filhos e filhas, jovens, velhos, enfim, sem distinção, vão profetizar,  sonhar, ter visões. Quer dizer  que se, na época antes de Jesus, por acaso, tenha havido uma determinada classe, como a de profetas, no tempo do derramamento do Espírito, que é o tempo da igreja, essa autoridade e essa vocação se espalha a todos. Portanto, eu creio que profetas e apóstolos somos todos nós. Evangelistas, pastores e mestres são escolhidos, pelo Espírito, entre os irmãos, como ocorreu com Paulo e Barnabé, em Antioquia. Então, esses dons devem ser encarados mais como privilégio e bênção de atuar, no Reino de Deus, em nome e cheio da autoridade de Jesus, do que uma ideia de status entre os demais irmãos. 

       Muito grato. Agradecemos imensamente ao irmão sua disponibilidade. Sabemos de sua ocupação sempre intensa, tanto no Reino, como em sua dedicação à medicina. Que Deus continue a abençoar o irmão. 

Lucas: Amém. Muito grato. É sempre muito bom falar sobre esses assuntos. São os meus prediletos (risos). Sempre ao dispor dos irmãos.

A Bíblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos - 1

Atos dos Apóstolos na folha.
     
       Uma vez ressuscitado, Jesus reuniu os discípulos para as últimas instruções. Destaque -se que acreditar na ressurreição dele é o que dá sentido a todo o restante. Caso não creia nisso, fica a advertência: pare a leitura aqui. Ou prossiga lendo, até acreditar.

       Por meio do Espírito, deu as últimas instruções. Também, se não há mediação do Espírito, eles nada retém. A principal instrução é que não movessem uma palha, afastando-se de Jerusalém ou soltando o verbo em testemunho, antes que fossem revestidos com a autoridade desse mesmo Espírito. 

     Retiveram Jesus, na hora H, quando ele já ascendia ao céu, para perguntar sobre o reino. Jesus, talvez, tenha se assustado, pensando que eles se referiam ao Reino de Deus. Não. Eles se referiam ao Reino dos homens. Tremendo mico para eles.

     Jesus esclareceu que não era da competência nem dele, Jesus, essa agenda do Reino dos homens, mas tempos e épocas da competência do Pai. Mas que eles centrassem atenção no Reino de Deus. Que o Espírito viria sobre eles com poder, sim, mas não humano. 

      Sobre-humano, para que fossem testemunhas pelo mundo inteiro. Até hoje eles misturam essa confusão entre os dois reinos, o humano e o divino, misturando política e fé, vendo uma pela outra, sem discernir campos de ação de uma e de outra, ou quando (co)operam em conjunto. Panos pra manga para o Espírito.

    Assim, Jesus subiu, e os anjos fizeram uma última advertência para que não visassem o céu assim, imóveis e embasbacados, porque do modo como viram Jesus subir, haveriam de vê-lo, um dia, descer. Tempos e épocas de exclusiva autoridade de Deus. 

                          Do correspondente, leitor eventual das fontes.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Ensino Religioso - 3o bimestre

6o ano

(ER0602) - Espiritualidade

- (ER060201) - A descrição das representações do transcendente nas tradições religiosas.

- (ER060202) - A alteridade nos textos sagrados.

7o ano

(ER0702) - Ética

(ER070201) - Os valores repassados pelas tradições religiosas.

8o ano
(ER080203) - A correlação dos significados do mistério da vida, conforme as narrativas sagradas e as descobertas científicas.

(ER080204) - O modo de como é revelado o mistério da morte nos textos sagrados.

9o ano

(ERE090106) - As artes como expressão da fé na cultura indígena: escultura, teatro e dança.

(ERE090107) - O significado de religião e alteridade: o respeito à liberdade de crença.

(ERE090108) - O diálogo inter-religioso.

(ERE090109) - O sentido de fraternidade na pluralidade religiosa.