sexta-feira, 30 de abril de 2010

A flor (ou uma flor)

Perdendo logo todo o pudor, coloco mais estas mal-traçadas linhas. Aqui em casa há flores, aqui e acolá: já me deparei com flor de macacujá, flor de goiaba e, inusitado, flor de aboboreira. Como todas e cada qual tem seu charme, inútil desprezá-las. Por isso, vai aí, por pura falta do que fazer, mais uma:

A flor

Ora, a flor,
E daí? Quem
Já não falou sobre flor?
Daí. Por que
falar de flor?
Manjado.
Flor amarela
do pé de aboboreira.
Boboreira, bobeira?
Não, aboboreira.
Amarela.
Falar de flor,
só porque é flor.
Só por ser.
Por ser.
Ser flor.
Precisa mais?
E amarela.
Amarela.
Ser amarela.
Show de cores.
Show de cor.
Ninguém
Nem nada
Consegue ser
Ser, como flor
É.
E for.
Por ser.
Amarela.
Cor, como ninguém.
Ninguém ser
Nada ser
Tão amarelo
Como ser flor.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

RAÍZES DA SANTIDADE

O significado da palavra ‘raízes’ se torna, aqui, muito útil para entendermos em que sentido, no uso figurado desse termo, aplicamos à afirmação de que as raízes de nossa santidade estão em Jesus Cristo.

Basicamente por duas razões: (1) raiz dá sustentação e suprimento; (2) por meio dela, fluem os nutrientes de uma planta, ou seja, por meio da raiz há uma ligação entre o ser, propriamente, e a fonte de seu suprimento.

No caso de nossa relação com Jesus, a Bíblia afirma que estamos ligados a Ele, desde que o aceitamos como Salvador de nossas vidas. A Bíblia chama essa ligação de batismo. Não, propriamente, o ritual com água utilizado alhures, nas diversas igrejas locais, mas especificamente o batismo no (ou com) o Espírito Santo, realizado pelo próprio Jesus, no momento em que confirmamos nossa fé nEle.

Pelo menos por três razões afirmamos, com toda a certeza, que as raízes da santidade estão em Jesus Cristo: (1) somente Jesus é Santo, como o Pai e o Espírito, de modo igual, também são; (2) somente por meio e a partir de Jesus provém a santidade da qual nos tornamos participantes; (3) somente por meio da morte e, principalmente, da ressurreição de Jesus tal santidade pode ser, conosco, compartilhada. Vamos analisar ponto por ponto.

Deus é o único santo em essência. O significado do termo ‘santo’ é ‘separado do pecado’. Pecado e santidade são, definitivamente, coisas à parte, distintas, distantes, separadas uma da outra. A Bíblia apresenta definições e até mesmo palavras diferentes para definir o termo ‘pecado’. Vamos, aqui, apenas indicar que se trata da não conformidade com o padrão de Deus.

Jesus é santo porque, primeiro, teve uma origem diferente da nossa. Ele foi gerado por Deus no ventre de sua mãe, Maria e, por causa dessa origem distinta da nossa, não foi, como nós o somos, geneticamente, vamos dizer assim, contaminado pelo pecado. Por isso Jesus é chamado 'unigênito', ou seja, o 'filho único' de Deus. Porém, uma vez nascido, Jesus adquiriu, como qualquer homem nascido de mulher, os riscos de pecar, ou seja, afastar-se, recusar e rejeitar, conscientemente, os padrões de Deus.

A prova de que Jesus não agiu assim foi que, uma vez morto, assassinado num complô entre autoridades romanas e judaicas, na Palestina do século I, Deus o ressuscitou na madrugada de um daqueles domingos do primeiro século. Aqui, com relação à santidade, uma coisa comprova a outra, ou seja: se Jesus não fosse santo em sua essência, do mesmo modo que o Pai, este nunca o poderia ressuscitar de entre os mortos. A ressurreição de Jesus é prova cabal de Sua absoluta santidade.

Quanto ao fato de sermos santificados, isso passa a ocorrer a partir do momento de nossa união a Jesus, que ocorre no momento em que somos, por Ele, batizados no Espírito Santo, que o próprio Jesus concede aos que, verdadeiramente, creem nEle. O próprio Espírito Santo passa a ser o principal agente de nossa santificação. Não somente por que, no ato do batismo ─ que significa, ao mesmo tempo, a entrada do Espírito Santo em nossa vida e a nossa união a Jesus ─, esse mesmo Espírito nos (1) regenera, mas também porque (2) passa a reeducar as nossas preferências e escolhas e (3) passa a nos dar suporte para, quando optarmos pelo padrão de Deus, ter condições de pôr em prática esse padrão em nossas vidas.

É por isso que Jesus Cristo se constitui no principal veículo, para usar este termo, da santificação e o único, por meio do qual, podemos, objetivamente, ser participantes da santidade de Deus. As raízes de nossa santidade estão em Jesus Cristo. Sem fraude, sem falência.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

LEVÍTICO: UM MANUAL DE SANTIDADE

Por não saber, direito, se sou pastor professor ou professor pastor, na mistura dos dois ofícios (ou das duas vocações), magistério e ministério, termino por decidir colocar aqui um artigo que escrevi sobre o Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, um dos menos lidos e, consequentemente, menos compreendidos da Bíblia. Aí vai alguma luz, inícío de uma pequena série de pequenos artigos:

LEVÍTICO: UM MANUAL DE SANTIDADE

Uma proposta de título. Se bem que, diriam alguns (ou vários, quem sabe), um título impróprio. Chamar de ‘manual’ pode, no mínimo, indicar para o processo em questão algo um tanto considerado artificial. E artificialidade não combina com santidade.

Porém o fato de ser Manual implica individualidade. Diz respeito a um elemento, uma unidade construída, muito provável e exclusivamente, pelo seu dono, um modelo pessoal, restrito e intransferível de conduta. Nesse caso, portanto, o termo se torna tolerável.

Trata-se, absolutamente, de manual individual e construído pelo próprio dono. É bem verdade que, em nossa infância, em termos biológicos ou em termos, digamos, espirituais, ainda não dispomos dos mecanismos indispensáveis à construção consciente e responsável desse dito recurso de conduta denominado ‘santidade’.

Ainda dependemos de outros, de instrução que vem de terceiros, muito embora, já ‘de fábrica’, tenhamos trazido os elementos que permitem, desde muito cedo em nossa existência, discernir ─ já usando este ‘termo técnico’ ─ o certo do errado. Nessa infância, seja a biológica ou seja a ‘infância da santidade’, portanto, vivemos um pouco a fase do ‘pode’ e ‘não pode’.

Com a maturidade, inexoravelmente, a caminho, mais uma vez esclarecendo, seja ela biológica, como componente natural de nosso desenvolvimento como pessoa, ou seja ela, de novo o termo, espiritual, impossível não dispor de um prático, simplificado e acessível manual.

Santidade apresenta, pelo menos, duas vertentes: (1) a primeira, advinda da prática, externa, por assim dizer, visível, ‘artificial’, digamos, para usar outro termo bem livre de burocracias e prático de entender; e (2) uma segunda vertente interna, natural, não artificial, invisível aos olhos. Pelo menos essas duas.

Vamos a exemplos práticos e, evidentemente, para citar uma autoridade no assunto, aliás, a única autoridade no assunto, vamos citar Jesus, ninguém mais, ninguém menos, (e vamos já perdoando a expressão ‘ninguém menos’, que não deve ser aplicada) do que Ele. Modelo último, único e acabado de santidade.

Pode até ser que se encontrem questionamentos a respeito do axioma Jesus, porém, para logo ser necessário admitir que vamos nos situar em contexto bíblico e genuinamente cristão. Na eterna busca pela autenticidade do que é cristão, será sempre necessário evocar a pessoa (desculpem-nos, Pessoa) de Jesus. Nele, santidade existe em sua modalidade-padrão.

Além de evocar a pessoa do Mestre dos mestres, seguimos adiante no primeiro exemplo, mencionando as polêmicas de Jesus com os fariseus. As fontes a respeito desses religiosos do tempo de Jesus nos advertem que eram extremamente rigorosos e, por que não dizer, procuravam ser coerentes e honestos com tudo o que se envolviam.

Portanto, tomar ‘fariseu’ como uma alcunha de hipocrisia, deve, no mínimo, requerer cuidado para não se cometer injustiças. Jesus quando os criticava, punha, para usar esta expressão, o dedo na ferida. Somente Jesus em sua percepção detectava a soberba deles e denunciava sua prepotência, seu poder de discriminar ou outros ‘pecadores’, achando-se superiores a eles, e como essa atitude servia de um péssimo mau exemplo para muitos.

Então ‘fariseu’ não deve ser usado como estigma de reprovação, de modelo negativo de conduta, como o termo, em si, já adquiriu como carga semântica. Mas deve nos servir de advertência, como frequentemente tem servido, de não agirmos do mesmo modo que eles, julgando ser mais (ou menos) santos do que outrem.

Voltando às vertentes, a duas citadas ali atrás, neste texto, esclarecendo melhor, santidade requer (1) um procedimento padrão, consciente e prático que implica rejeitar e dizer, de modo explícito, ‘sim’ e ‘não’ a variadas, diversas e diferentes situações do dia-a-dia, bem como (2) uma certeza e uma raiz de que tal atitude provém de fonte interna inquestionavelmente sincera, neutra e transparente, que termina por se revelar, no meio social, um mecanismo explícito de busca ─ para citar a própria Bíblia ─ do que é “verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama... virtude, louvor..” (Filipenses 4:8).

Anotemos o versículo completo: "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento." E, mais adiante, o apóstolo Paulo acrescenta: "... isso praticai". Um dos mais lindos textos da Bíblia: belíssimo texto, belíssimo padrão. Santidade também é beleza em seu estado o mais puro.

Mais adiante vamos entender de que modo as ‘raízes da santidade’ estão em Jesus. Voltaremos ao assunto.