Além de apresentar uma teoria que explica a confusão de linguagens, reafirmando o que a linguística atesta, ou seja, todo idioma procede de uma só raiz, a história da Torre de Babel traz outras indicações.
Reunirem-se todos num só lugar, contrariando uma intuição divina e o bom senso humano, é tremenda burrice. O homem ocupa muito mal o solo do planeta e, em conjunto, todos contribuem para a aniquilação dele.
Cidades são uma má ideia. São ajuntamento, enquanto Deus sugeriu espalharem-se, ocupando inteligentemente o solo. Representam grandes espaços de desmatamentos, em que se misturam elementos de cadeia produtiva e se agrupa mão de obra no entorno.
Acentuam-se as desigualdades sociais, por migrações desiguais, para longe do campo, fazendo surgir sua periferia, gente que não tem lugar senão para subemprego, visto que o lugar de destaque no campo foi menosprezado.
A criminalidade adapta-se às mazelas sociais, o deslocamento em direção ao centro administativo torna-se problemático, as indústrias promovem variado tipo de poluição, acentuada pelo consumo de derivados do petróleo, como combustível preferencial.
Não precisa pôr em Deus a culpa pela confusão: o homem já a estabelece por si. Também não precisa ironizar a rapidez com que o texto atesta o trauma da interferência de Deus. É difícil para o homem, por si, falar a mesma língua com seu semelhante.
Não precisa dizer que também sozinho o homem aprendeu a guerra. Medir armas com o vizinho, edificar torres que projetem sua altivez e contribuir para a destruição do meio ambiente são alguns desacertos relacionados à má ocupação do solo do planeta, resultado da atuação direta do homem. "Não haverá mais restrição ao que intentam fazer", Deus decide.
Fundamentalmente, a narrativa da Torre de Babel tem, como principal ênfase, a (perda da) comunicação: entre o homem e Deus, entre homem e homem. Total desinteresse pela verdade na fala do outro e também do Outro.
Por isso, na primeira vez que, após a ressurreição e ascensão de Jesus ao céus, o evangelho foi pregado, todos que ouviram, entre as diferentes etnias presentes naquele Pentecostes, diferentes povos entenderam o evangelho numa só única linguagem: primeira e milagrosa tradução simultânea.
Ali se deu Babel ao inverso. Evangelho é a mensagem central da Bíblia. Versa sobre a restauração do diálogo Deus-homem, para profícuo diálogo homem-homem. Marcos, que estreou o gênero Evangelho, afirma que, logo após a prisão de João Batista, Jesus seguiu para a Galileia dos gentios proclamando o evangelho.
Mensagem de restauração da Babel humana. Todos, um dia, se agruparam em desobediência à ordenança de Deus. Ergueram uma torre a sua própria desdita. A humanidade quis mergulhar na sua própria engendrada confusão. O evangelho é essa única opção de restauração.
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