sábado, 31 de agosto de 2019

       Cheguei a  Cascadura em 1966. Minha mãe havia sido contratada para professora em Nilópolis, município onde nascera em 1930 e, desde essa época, na Congregacional de Nilópolis. 
         Meu pai havia ganhado no argumento de que, agora professora em Nilópolis, de 2a a 6a feira, deslocando-se de Cascadura, uma ida a mais no domingo era puro estresse.
       Então, fomos para a Congregacional de nosso bairro, porque era sair da Mendes de Aguiar, atravessar a Ernani Cardoso, ladear o atalho pela vila, ao lado da horta, e chegar à João Romeiro 212.
      E foi ali que, aos 7 anos incompletos, comecei a fazer parte da história da igreja, conhecendo os heróis de fé que a fundaram, desde 1953, sem saber que seria seu pastor em 1983-1994. 
      Um dos heróis era "seu" Guedes, esse da foto, ao lado de crianças, sua especialidade. Foi nesse tempo que conheci, na Vila das Torres, a comunidade de Magno, em Madureira, apertada entre a linha do trem e a horta.
       Aquela mesma horta que começava (ou terminava) ali, na João Romeiro, encostada na subida do Morro do Fubá. Ali conheci Milton e Edinalva, Possidônio e Rita, Manuel  e Maria Marques. 
     Pastores sabem que eles passam e as igrejas ficam. Mas carregamos essas lembranças. E por alguns, quase que não podemos dizer isso, sem despertar um santo ciúme, ficamos marcados. 
      Esse grupo de Magno me marcou profundamente. Manoel Marques meu soldado de todas as guerras em Curicica. Trabalho tão antigo e tão traumatizado. 
     Pr Zefanias, octogenário já, estagiou nessa igreja que quase, definitivamente, fechou. Cheguei lá em 1982. Era uma Congregação reaberta por Cascadura, que ninguém queria. 
      Manoel Marques agigantava-se. Chuva torrencial. Eu chegava lá, vindo da Uerj, pela Grajaú-Jacarepaguá, lá estava plantado no portão, ainda fechado, debaixo de um enorme guarda-chuva, com seu sorriso angelical. Olhando aquele sorriso, eu sabia como Jesus sorri.
     Possidônio, certa vez, d. Rita, esposa dele, desobedeceu-o. Porque ele atravessou por cima da linha do trem, na Vila das Torres, um carrinho de mão e muito ferro velho, andando até Turiaçu, para vender: era mês de missões em Cascadura. 
     Escondido dele, agora com luxação nos joelhos, pelo esforço feito, mais de 70 anos, ela pedia ajuda. Levei-o ao hospital em Mangueira. Lá ele quis que eu confessasse a arte de d. Rita. Eu disse, deixa pra lá, irmão: afinal, ela tem razão. 
     E com relação à Edinalva Santos, era a família inteira. Aquela de Manoel Marques também era grande. A de Possidônio, apenas um filho, já adulto e casado. Mas a principal marca da família Santos era a união. 
     Lembro certa vez, e se torna fácil lembrar, que o telefone tocou no ap do Méier. Dia 5 de julho de 1982, dia da chamada "Tragédia do Sarriá". Edinalva, avisando que Milton estava em casa.
     E o assunto era exortar o marido a estar mais presente na Igreja. Ela pediu que fosse urgente, para cercar o pai das meninas e do menino Enéas. Parti do Méier nesse dia fatídico. 
       E cerquei mesmo o Milton na Vila das Torres, para conversarmos sobre a importância de não abandonar a congregação, como diz o autor de Hebreus. Enquanto eu a Milton conversávamos, Paolo Rossi marcava o terceiro contra a seleção de Telê Santana.
     Se alguém disser que não era essa a hora de conversa, é porque não conhece Edinalva. Pelo cuidado com o marido e com os filhos, não media esforços. Ora, se ele estava ligado no jogo do Brasil X Itália, mais do que estratégico cercar o homem. Estratégia de mulher: deixa Telê para lá, entre em campo o pastor. 
       Foi assim que lutou todo o tempo para manter a família unida e unida em torno do evangelho. Sempre existiu reciprocidade. Ela sempre foi grande apoio na União Feminina da igreja e sempre atendeu e reagiu positivamente aos estímulos que, como pastor e liderança da igreja ela recebeu.
      Dorcas, minha mãe, Lourdes, a sogra e Arsylene, esta a esposa do pr Henrique Jardim e, mais atrás no tempo, Rute, esposa do pr Amaury sabiam que era para toda a obra o seu esforço e prontidão. 
     Rute conhecia sua disposição nos dias de 21 de abril, festas do Abrigo e Pedra de Guaratiba. Por isso a história da congregação de Magno e de Cascadura confundem-se, misturadas ao serviços, preocupações e prontidão de Edinalva. 
     Há pessoas que têm a igreja como referência, arrastando-a para o restante da vida. Outras são assíduas, não falham com relação aos seus compromissos com ela. E outras, ainda, como diz o salmista, moram na Igreja ou desejam isso continuamente. 
      Fazem seu ninho na Igreja. Ao longo de sua vida, essa mulher percebeu, e bem rápido, que deveria ser assim com sua família. Por isso, pastoreava seu marido. O filho e todas as filhas. E aposto que também netos e netas.
     Sem dúvida o chamado para o filho, agora pastor, teve  no zelo de Edinalva essa ressalva positiva. Parabéns, Edinalva, por seus muito bem vividos 80 anos. Nós, seus pastores, carregamos a lição desse seu zelo, que tornou tão bonita a sua família, continuamente exortada a estar sempre ao lado de Jesus.

domingo, 25 de agosto de 2019

Entrevista com Yitziqel, sobrinho do profeta. Revista Nova Sion, 515 a. C.

Localizamos Ezequiel! (risos).
       Brincadeira. Mas é esse mesmo o nome. Trata-se do sobrinho do profeta. Localizamos numa vila, próxima a Jerusalém. Segue a entrevista com ele. Conviveu com seu tio ainda garoto, quando estava em Babilônia, antes de regressar a sua terra com a família. 

Revista Nova Sion: Shalom, Yitziqel. Muita alegria poder conversar com você. É como se estivéssemos falando com o seu tio. 

Yitziqel: Alegria para mim. Ele é irmão de minha mãe.  Convivemos por muito tempo, principalmente depois da morte de sua esposa. 

Nova Sion: Você ouvia muito de suas histórias?

Yitziqel: Todo o tempo. O ministério dele foi muito baseado nas visões que teve, que Deus lhe proporcionou. Ele as contava. Via seus olhos brilharem, quando contava. Como se olhasse além, como se as estivesse, ainda, vendo.

Nova Sion: Sim. É fantástico. Mas ele as escreveu.

Yitziqel: Sim, escreveu.  Eles têm essa compulsão. São movidos a escrever. Mas quem as ouve, também, como que se transportam pelas mesmas visões. Meu pai, Itzaquim, foi um dos que o motivaram a fazê-lo.

Nova Sion: Diga para nós como foi ouvir dele, pelo menos, a primeira visão, aquela que abre o rolo que ele escreveu. 

Yitziqel: Essa visão o acompanhava. Era como uma legitimação de sua vocação. Vez por outra, como ele mesmo menciona no livro, ela se repetia. Como se fosse um referencial de autenticidade para o ministério dele. 

Nova Sion: Sim. Um leitor atento do rolo que ele escreveu percebe isso. Como era a descrição que ele fazia? Você ouviu dele?

Yitziqel: Mais de uma vez. Vez por outra, ele voltava a ela. Para ele, foi como se o próprio Altíssimo lhe aparecesse. A situação do povo de Israel era deprimente. Foi um milagre sobrevivermos. 

Nova Sion: Você acha que a posição de sua família, seu tio, ligado ao sacerdócio, quer dizer, ele mesmo um sacerdote, ajudou nessa situação, facilitando a sobrevivência de vocês?

Yitziqel: Sem dúvida. Sem dúvida. O tratamento dado aos sacerdotes e a famílias de levitas, talvez por algum tipo de instinto ou superstição foi menos agressivo. Eles, os babilônios, também reconheciam que, uma vez tendo preservado um restante de povo, como ďizia o profeta Isaías, um restante fiel, seria útil a eles a liderança religiosa de Israel, uma vez que ajudaria no controle do povo instalado em Babilônia. 

Nova Sion: Como foi com seu tio logo que lá chegaram?

Yitziqel: Ele foi na segunda leva. Quando chegou, resolveu deixar de lado os privilégios de sua classe e decidiu assentar-se em meio aos exilados, para conhecer de perto sua realidade. Jeremias, que também era de família sacerdotal, profetizava em Jerusalém, assim como Daniel era uma referência junto ao governo Babilônico, também profeta e fator de equilíbrio no trato das autoridades com o povo exilado. 

Nova Sion: Como era o relacionamento de seu tio com os falsos profetas? 

Yitziqel: Na verdade, os textos escritos pelos profetas é que denunciavam esses outros profetas, que eram maioria, como falsos. Havia perseguição contra eles, quer dizer, contra os que depois se revelaram verdadeiros, porque não davam crédito a sua mensagem. Esperavam um milagre, que nunca aconteceu: livrar Jerusalém e o templo da ruína. E ainda usavam o rolo de Isaías, lembrando da intervenção de Deus no livramento contra os assírios, no tempo de Senaqueribe, como desculpa. 

Nova Sion: Então, seu tio estava era com a minoria? (risos)

Yitziqel: Óbvio! Ele, Jeremias e Daniel. Aliás, houve a famosa carta aos exilados, escrita por Jeremias. Provocou o maior tumulto. Naquela época, ainda na virada do séc VII para o VI, eles ainda acreditavam que a situação seria revertida. Nabucodonosor colocou Jeoaquim como seu testa de ferro em Jerusalém, um rei que tentou matar Jeremias e chegou a matar o profeta Urias. Findou promovendo uma rebelião que, uma vez concretizada, levou Babilônia a retirá-lo do trono, provocando o cerco e a segunda leva, na qual veio meu tio. E o rei acabou morrendo antes mesmo de qualquer confronto, como Jeremias profetizou. Assim mesmo a popularidade dos falsos profetas era grande. Mas Jeremias os desmascarou. 

Nova Sion: Seu tio fechava com Jeremias?

Yitziqel: É claro! (risos) Mas vou lhe dizer: quanto sucesso essa gente faz. Como manipulam o povo. E eles aceitam, com a maior facilidade. Lembrei agora uma cena notável: estavam reunidos com meu tio um grupo de lideranças do povo, entre elas levitas, sacerdotes e até alguns desses "profetas do povo". Sempre o procuravam porque, pelo menos intuitivamente, sabiam que ele era autêntico. Mesmo não concordando, queriam ouvi-lo. Foi quando um rapaz chegou correndo e gritando: "Caiu! Caiu! Jerusalém caiu!". Meu tio contando, disse que nunca mais esqueceria o olhar que todos lançaram a ele. Aliás, ele registrou isso no rolo que escreveu. Porque viviam dizendo que a cidade resistiria. Que o exílio duraria 2 anos. Foi uma decepção total. 

Nova Sion: Mas Yitziqel, conte-nos da visão. 

Yitziqel: Ver meu tio referir-se a ela era fantástico. Como se, através de seu olhar, nós mesmos a víssemos. Aliás, ele também a descreve no rolo que escreveu. Ele disse que estava deprimido entre os exilados. As imagens que via, às margens do Quebar, eram muito deprimentes. Mal alojados, estavam às margens do rio por causa da facilidade das águas. As condições de higiene eram muito ruins, enfim, as condições gerais de acomodação. E foi ali que viu a glória de Deus resplandecente diante de si. 

Nova Sion: Descreva para nós, no modo como lhe contava. 

Yitziqel: Nossa família, eu, minha mãe, pai e minha irmã ouvimos mais de uma vez. Ele dizia que foi repentino. Em meio a toda aquela tristeza, a um lado e outro, muito triste e choroso. Ele olhou na direção da calha do rio, quando divisou uma forma de tempestade. Ela evoluía, como se fosse a chegada de uma borrasca normal. Mas foi ganhando uma forma e uma proporção bem estranha. Um ou outro, por ali, mirava meu tio e procurava, no horizonte, o que lhe chamava  atenção. E nada viam. Logo deduziram que, como ele mesmo escreveu, estava tendo uma visão de Deus. 

Nova Sion: Uma curiosidade nossa, de muita gente também, é como se dão essas visões. Exatamente o estado de quem as recebe. 

Yitziqel: A gente nunca teve essa curiosidade. Acho que é porque tratávamos com muita reverência o que ele nos contava. A gente achava assim que, se ele não entrou em mais detalhes, era porque não devíamos perguntar mais nada.

Nova Sion: Mas continue descrevendo, do modo como seu tio lhe contava. 

Yitziqel: Pois então, a nuvem, ele contava, vinha evoluindo em sua aproximação, diante dos olhos dele. Como que enxergava o que era invisível. Havia relâmpagos, sim, mas dentro, a partir do centro, do interior dela, uma resplandecência contínua, um foco contínuo como se fosse fogo resplandecente. Formava um arco de luz, como se fosse um arco-íris. Foi quando ele avistou como que anjos, a partir de quatro posições, como se fossem quatro cantos, e tinham duas asas, quer dizer, dois pares de asas. Ligavam-se, entre si, os quatro, como por mão que lhes saía pelas extremidades das asas. Com o outro par de asas, voavam. Mas era como se, ao mesmo tempo, fosse cada um para a sua direção, como que ampliando, expandindo aquele espaço virtual, num plano, em forma de quadrado. E debaixo dê si tinham, cada um, como que dois círculos, na verdade, duas rodas, uma para para cada um deles, uma dentro da outra, evoluindo com eles, como a dirigir-lhes o movimento. E também tinham quatro rostos. Eram anjos, sim, mas com essas aparências estranhas e assustadoras. Os rostos representavam a altura e elevação das águias. O reinado terrestre dos leões, entre os animais. O sustento e labor humanos, assim como a simbologia da imolação e do sacrifício, na imagem do rosto de boi. E o quarto e último era a cara de um homem. Meu tio dizia que interpretou como as quatro características do Messias: Aquele que vem do alto, tem cara de homem, porque é homem, é o Leão da tribo de Judá, porque há de reinar sobre a terra e, finalmente, tem rosto de novilho, porque, como escreveu o profeta Isaías, será entregue como sacrifício por todo o povo. 

Nova Sion: Só de ouvir, estamos arrepiados. A gente pode ler, no rolo que seu tio nos deixou. Mas ouvir, como que confirma toda a palavra escrita, como se ela estivesse cumprindo o propósito para o qual foi escrita, que é ser compartilhada e conduzir à fé. 

Yitziqel: Sim, sim. Isso mesmo. Para esse propósito meu tio escreveu. E, finalmente, ele registrou o ápice da visão. Como que um homem, a partir do centro de toda a nuvem, uma plataforma infinita, como se fosse um mar de águas transparentes, petrificado como numa lâmina de gelo, erguido por sobre nossas cabeças, assim, infinito, por dentro das nuvens, acima da cabeça dos quatro anjos. E no centro havia um torno, e a voz que dele saía dirigiu-se a meu tio. Ele disse que, se não fosse a autoridade dessa voz, assim como o efeito cênico dessa visão, ele jamais seria um profeta. 

Nova Sion: Então foi sua vocação. Foi a confirmação do seu chamado. 

Yitziqel: Sim. Meu tio diz que jamais se sentiria investido de autoridade, se não fosse essa experiência que ele vivenciou. A situação do povo era por demais degradante. Os que eram, verdadeiramente, sacerdotes, sentiam-se humilhados, fracassados. É que achavam como que por culpa sua, guardiães que eram do culto, do ensino, Kadosh Adonai, santidade ao Senhor, a devastação que aconteceu com a nação, em três levas, sempre esperando um milagre que não veio, achavam que Deus abandonara, definitivamente, o povo, e que a culpa era toda deles. Perderam terra, templo e rei, tudo arrasado, as Lamentações do profeta Jeremias dão uma pálida ideia do que, na realidade, foi. E meu tio escolheu assentar-se entre a parcela de povo mais carente, mais marginalizada, assentado que estava entre os exilados. 

Nova Sion: Então, sem dúvida, tudo aquilo foi como se fosse, somente, para vocacioná-lo?

Yitziqel: Não somente, mas principalmente. Porque o ministério de meu tio caracterizou-se por várias visões. Essa primeira, como que foi uma prévia do que seria. Deus manifestou, logo de início, a sua glória e autoridade, para deixar claro duas coisas: (1) não havia abandonado o povo. Sua glória não daria a outro; e (2) esse recado seria dado por um seu emissário. Deus se comunicava com o homem e havia escolhido quem fosse seu intermediário e era o meu tio. Impressionou a ele ser assim comissionado e ainda, na visão, a ordem de comer o rolo. Isso, segundo ele disse, indicava o seu preparo para cumprir sua vocação. Como disse a voz que ouviu, quer cressem ou não, justos e injustos ouvissem, arrependendo-se ou não, saberiam que, entre eles, estava presente um profeta de Deus. Um verdadeiro, autêntico profeta de Deus. 

Nova Sion: Muito grato, Yitziqel. Ouvir você, é como ouvir seu tio. Aliás, seja lendo o rolo por ele escrito, ouvindo ou compartilhando o que escreveu, é como se estivéssemos revendo a mesma visão, enxergando Deus em sua glória, sendo investidos de Sua autoridade. Você concorda?

Yitziqel: Assim meu tio dizia. Que havia escrito, para conservar e divulgar essa palavra, com esse efeito. Olhava para mim e dizia que não era só um nome herdado mas, principalmente no nome do Senhor, quer dizer, já que eu herdei dele o nome, que eu também me considerasse um profeta, revestido de autoridade. Aleluia! Ele costumava dizer que havia profetas porque, no fundo, Deus queria que todos lHe fôssemos profetas. 

Nova Sion: Muito gratos, Yitziqel.

Yitziqel: Foi grande alegria compartilhar com vocês essas memórias. Shalom Adonai. E também Kadosh Adonai. (risos)

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Artigos soltos 48

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu corpo dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas",

        Machado de Assis, 1839-1908, 
        Memórias Póstumas de Brás Cubas.

          Ao verme.

         Vai dar aí teu/nosso orgulho e vaidade. Aos vermes. Quão difícil é para o ser humano entender isso. E viver conforme o cânone dessa constatação.

         "Lembra-te de que és mortal", dizia o escravo ao ouvido do general romano na  Procissão da Vitória, comemoração Roma adentro, quando regressava da batalha.

         Aos vermes. Na Bíblia, sempre ela, o Eclesiastes formula parecido quando diz que melhor é estar na casa onde há luto, do que na casa onde há festa.

         Naquela, atina-se com o fim de todos os mortais. Fortuito. É porque o ser humano tem uma necessidade precípua de se sentir acima do outro.

         Meu cachorro não tem essa necessidade. Bem, pode-se tentar justificar, nessa reles comparação, que eles disputam território ou fêmeas entre si. Mas será diferente.

         Mesmo porque nós os chamamos irracionais, ao meu ver impropriamente, porque não podem ser responsabilizados pelo que fazem instintivamente.

         Porém quanto a nós, brota espontânea essa, tão nossa, soberba. Dizemo-nos racionais e somos os únicos que agimos, conscientemente, ao inverso das prescrições da razão.

         Humildade, uma necessidade, é consciência da própria dimensão. Até o material de que somos feitos, tão ciosos que somos de tratá-lo com requinte, aos vermes.

        Aparência física, cor dos olhos, cabelos, pele, o que aparece e não aparece, mas faz parte do corpo, todo ele e tudo aos vermes. Por que, portanto, soberba?

        Pode ser, talvez, por vingança. Quem mais tem e mais aparenta, por isso, meça-se e sinta-se superior. Enquanto houver fôlego e anticorpos que bloqueiem os microorganismos que circulam, mega proeza do sistema imunológico, enquanto isso assoberba-te.

        Mas não te esqueças, concomitantemente, de dedicar aos vermes essa futilidade. Também lembrando que a soberba mais te inferioriza diante de todos. A sincera humidade te seria muito mais enobrecedora.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

The care of Jesus - O cuidado de Jesus

There's no other name so sweet as Jesus. No one ever cared so much for me. As to shed His precious blood to save me No one ever cared so much for me When I see Him face to face up in glory I will marvel at His nail scarred feet. And I'll thank Him for the pain He suffered Because, He cared so much for me. There's no one who care like Jesus There's no friend so precious to me Who would carry, carry your cross to Calvary No one ever cared so much for me There's no one who cares like Jesus There's no friend so precious to me Who would carry, carry your cross, to Calvary No one ever cared so much for me No one ever cared so much for me

Nenhum nome há tão doce como Cristo, Ninguém cuida tanto assim de mim. Derramar precioso sangue por me salvar: Ninguém cuida tanto assim de mim. Se em glória o contemplo face a face, Admiram-me cicratizes nos seus pés. E sou grato pela dor que suportou, Por cuidar tanto assim de mim. Não há cuidado assim como o de Cristo. Não há tão precioso amigo assim, Que suportasse a cruz até ao Calvário: Ninguém cuida tanto assim de mim. Não há cuidado assim como o de Cristo, Não há tão precioso amigo assim. Que suportasse a cruz até o Calvário: Ninguém cuida tanto assim de mim, Ninguém cuida tanto assim de mim.

https://youtu.be/1QE0IzebclQ
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sábado, 3 de agosto de 2019


        Meu professor de hidro
       
      A vida tem fases. 2018 gastei um tempo saudável fazendo hidroginástica na piscina do SESC. Aqui em Rio Branco, fica num bairro chamado Bosque. 

      Eu, Regina na ginástica e Ana Luísa no pilates. Eu, 18 ou 19h, poderia escolher a turma, mas preferia às 18, caso houvesse culto ou outro eventual compromisso às 19h.

      Cidade boa também por isso, distâncias curtas por carro. Walison era meu professor na hidro e de Ana no pilates. Gente boa, em todos os sentidos.

      Aula divertida, aqueles estilos semi-sertanejo, sei lá, que incluía aquele clássico "d. Maria, deixa eu namorar a sua filha...". Para dar ritmo e cadência. E funcionava. Mas são horríveis.  Grudam na memória. 

     Mas na aula dele, combinava.  Chamava-me Alexandre e, ao próprio, na aula de ginástica do outro prédio, mesma turma de minha filha, ele chamava Cid.

     Ria de sua própria troca. Papos à beira da piscina, gozações com a variedade de alunos e alunas, brincadeiras à vontade, enfim, o tipo cativante de professor. A gozação que fazia com minha filha era dela causar com modelitos na ginástica: "'Tá  investindo, hein Louise!?".

      Gozado o dia de friagem em que, além de chegar atrasado, coisa de minutos, mas ele era pontualíssimo, fiquei no carro e, lá para o final, pensando estar vazia a piscina, ladeei para ir ao banheiro.

      Ora, era o último a sair. Dei com ele, arregalei olhos, pego em flagrante, ele dizendo: "Não acredito, Cid!". Pego no flagra.  Justifiquei: "Água muito fria". Ele gargalhou, com a devida deferência, em respeito. 

       Afinal, eram 32 a 62. Sim, meu professor nasceu quando eu tinha 30 anos, morava no Rio e iniciava o namoro na igreja que pastoreei. Aliás, o fato de ser pastor foi a justificativa de minha palavra anteontem, no velório dele. 

      Entre outras coisas disse que os papéis se inverteram. Era esperado que o aluno fosse ao velório do professor. Também disse que ele cultivava entre nós o estímulo a tudo o que prolonga a vida.

      A esposa dele e a filhinha estavam lá. Toda uma família praticante de Taekwondo. Então eu disse que Walison, sim, entendia do que prolonga essa vida e de uma forma saudável. Seu corpo ali inerte não pôde bloquear a morte.

       Nenhum de nós pode. Daí a necessidade de pôr fé em Jesus. Porque somente ele venceu a morte. Todos da família sabem disso. Todos ali presentes ouviram isso. Ele conheceu, em vida, mais do que somente plenitude nesta vida.

      Conheceu vida eterna, que supera e se estende para além desta vida. Garantido pela fé em Jesus. A informação que obtive é de uma família inteira de crentes. Quebrou-se a família, nesse choque de realidade.

     Mas permanecem firmes as lutadoras mãe e filha. A dor sentida e represada indicava estar preparadas. Talvez por ele próprio. Porque lutou todo o tempo, agradeceu e se espantou com tanta solidariedade e orações por sua recuperação. 

     Aprouve a Deus. Um professor de Taekwondo no céu.  Será que anjos praticam essa modalidade? Conheci um que praticou.