terça-feira, 31 de março de 2020

50 anos de uma anágua

     As anáguas deviam ser eternas. As mães também.  Ora, quem não conhece Sepetiba?  Até meu amigo Manoel Pacífico, acreano autêntico, já veraneou por lá. 
      Nos anos 70, ah!, os anos 70. Aquelas mulheres, elameadas da ponta dos dedos dos pés até os cabelos, tratamento de pele e outros males diversos assim curados. 
   E quaradas ao sol. Nela, Sepetiba, não esqueça esse nome, e na vizinha Pedra de Guaratiba: o mesmo tratamento milagroso e o mesmo fundo de baía. 
    Nessa praia vizinha, a vista ao longe, linda, cobiçada e proibida da Restinga da Marambaia, com o acesso agora por Barra de Guaratiba, "Área Militar", acessível clandestinamente pelos barcos de pesca do camarão e outros em geral.
    Se você tomar banho de mar em Pedra de Guaratiba, água negra, daquela "lama medicinal", vai deparar camarões saltitantes ao seu redor.
   Pelo menos era assim, nos anos 70. Se você fosse pela manhã, ainda com água pela cintura, limite imposto pela previdência das mães, sentia a lama negra melada diluir-se por entre os dedos dos pés.
    Lanoso e nojento, você intuía que ela, a lama, era devassa: violava a intimidade dos teus pés, assim fazendo, parece que invadia você inteiro, como as madamas medicinais, na areia, uma lama imoral que inundava o seu ser.
    Era obrigatoriamente reflexivo caminhar pisando naquela lama. Era filosófico, até. Você se alçava, bioando, pensando ou tentando escapar. Para logo, criança, pôr o pé no chão do equilíbrio, para achá-la de novo.
    Imagina um mar desse gel ridículo que houve uma fase que inventaram como entretenimento para as crianças, um mar negro: era pior.
     Veja bem, entenda, aqui, este "pior": ninguém aqui está menosprezando Sepetiba. Mesmo porque nós e uma multidão conosco estávamos e estivemos lá. Filosófica é a lama e são as razões do afluxo mágico e veraneio dessa experiência.
      Se você fosse à tarde, maré cheia, a lama, com a areia, os tons de verde-sinistro, tudo em suspensão, mas sem a dita cuja no chão. Você pisava, era areia pura, água negra, verde-escuro, verde-musgo, verde-lama: paraíso!
    Afinal, era Sepetiba: o único afazer, no banho de maré-cheia, para a criançada, era cuspir a água areienta e elameienta que entrava na boca nos mergulhos suicidas. Com água até a cintura, somente, avisavam as mães. 
    Pois num desses dias armou o temporal, chuva de verão, daquelas imponentes e inesquecíveis. Fila quilométrica do ônibus Sepetiba-Santa Cruz. Aquele pessoal, é  claro, como desprezar uma ida a Sepetiba, num verão 70, pegando o Sepetiba-Santa Cruz? 
     Meu caro, de todo o ramal, por trem, até  Santa Cruz, de lá à orla, à barra. Era A praia. De Bangu acima, mermão, Padre Miguel que seja, Senador Camará, até Paciência, a penúltima, onde moravam meus primos, logo após Cosmos, onde residia outra irmã de meu pai, e vinha gente.
     A fila. O ônibus. Povo entrando pela janela. Eu, Dorcas, a Maninha, minha mãe, Leila, a caçula, irmã dela, com sua inseparável companheira, de sotaque e fenótipo nordestino, aguardando o típico escoamento lento e irregular de todo aquele povo bronzeado e cheirando a sal.
    Várias trovoadas já haviam avisado da borrasca, da "chuva torrencial", como dizia meu pai, que se avizinhava. Minha mãe já argumentara com Leila, mediante o quadro naquele ponto-final (parada-final, no Acre) que era melhor pernoitarem por ali mesmo, na casa emprestada, ao lado do terreno  que, até hoje, temos lá. 
     Mas a colega da Leila insistia, nada avisara à mãe, ela ficaria preocupada, o destino era Nilópolis. Sepetiba-Santa Cruz, trem até Deodoro, baldeação (que para acreano é usar balde na lavagem) em Deodoro, retornar pelo ramal de Japeri até o destino, "Cidade do Nilo".
    Anos 70. Não havia celular. Uma trovoada mais alta, decisiva, Maninha deu o ultimato, despediu-se, "Essa fila não tem boca", diria, se fosse no Acre, pegou do filho, com seus 10 anos, e pegou da estrada também.
    Ainda de asfalto mal feito, trechos de terra, ah, saudade da Sepetiba com ruas de terra, às vezes areia de praia mesmo, dunas e sítios aqui e ali. Caminhou com o menino até a entrada da rua do Clube do Recôncavo, referência para quem quisesse chegar à Alameda Sto Antonio, onde ficava a casa emprestada do vizinho.
    Não havia mais paciência, os fenômenos da natureza, em combinação, despencaram a chuva já prometida por relâmpagos, trovões e ventania. A poeirada que não ficava no chão, obrigando a virar o rosto, fechar boca e olhos e que as mulheres segurassem as saias, assentou com o despejar do dilúvio daquela tarde. 
     Foi quando. Dorcas, a mãe, apenas dobráramos na tal rua do Clube Recôncavo, chão de areia, agora sem poeira, com a chuva chovendo de todas e para todas as direções, desnecessário, porque até de baixo para cima vinha água, mas vá discutir com o instinto materno, habilíssima, Dorcas se deteve, e o menino junto a si, egueu primeiro uma perna, depois outra e sacou, incontinenti, de sua anágua.
    Com ela, envolveu minha fronte como num quadro de santa católica, instruiu que eu segurasse justo abaixo do queixo e tome chuva por todos os lados. Uns 350 m nesse estirão, varridos por vento e chuva de todas as direções, a mãe, o menino e a quase literalmente bendita anágua. 
    Santa anágua, Santa Mãe do Céu, como se diz, que temporalzão. Tão -zão assim que, daqui a pouco, chegam, mal haviam entrado mãe e menino pelo portão de madeira, ainda escancarado, vem Leila e a Marvel Vingadora Amiga inseparável, Valnira, a irmã do meio entre três, correndo, aflitas, Leila e ela, não só a chuva de todas as direções, pela ventania, não bastando relâmpagos e trovões, um estranho as perseguia.
    Pelo menos, ajudou na corrida de fundo das duas encharcadas. Mas que era estranho o homem, ele era, mas até hoje não se sabe se corria somente da chuva, fato este comemorando 50 anos de narrativa.
    E, para terminar, história neste blog já contada, por duas razões esse temporal dos anos 70, em Sepetiba, foi marcante: Leila voltou do ponto do Sepetiba-Santa Cruz, vencendo a amiga no argumento, com ajuda dos fenômenos da natureza, ao encontro de um raio, providência divina ao inverso.
     Neste país campeão de raios (que o partam), temos uma sobrevivente. Ainda bem que eu estive protegido pela anágua de Dorcas. Quem sabe, verdadeiro e legítimo para-raio de mãe.


sábado, 28 de março de 2020

Solidão


      Pastor protestante, eu sou, portanto crítico da pretensão de hegemonia da Igreja Católica. A que preço conseguiu, ao longo dos séculos, essa hegemonia?
     Herdou a planificação do império romano, espalhando-se por todo o mundo, e o mesmo modelo imperial de governo, representado pelo Papa.
    Bons ventos, na década de 60, pelo Concílio Vaticano II, quase a tornaram mais conciliar ou mais representativa, pelo menos numa feição, quem sabe, de assembleias cardinalícias ou até mesmo episcopais. Hans Küng que o diga.
   Mas ora, me diga: quem abre mão do poder? Só conheço um, Deus, quando se fez homem. Muito sugestivo o título do livro de Jack Miles: "Cristo, uma crise na vida de Deus".
     A figura solitária e solidária desse Papa, que podem chamar, na intimidade, de Papa Chico, resgata muito do sentido de ser igreja para essa Igreja.
     Porque nessa opção vertical de poder, depende muito da figura do Papa, se apenas um líder de mídia, ou se autenticamente um apóstolo, muito parecido com Cristo e, assim, representando todos nós. 
     Se há uma igreja que quer ser Igreja mundial, teria de ter como seu representante máximo alguém muito parecido com Jesus. Para qualquer cristão, até para o Papa, o que vale é ser muito parecido, aliás, Paulo Apóstolo diz imitador, no grego, "mimetai", daí mimesis, pantomima, imitação de Cristo. 
     Na sua solidão, na portabilidade e igualdade, para alguns forçada e a contragosto, que o vírus proporciona, a imagem de um homem solitário, chamado Chico, orando "urbi et orbi", representa-nos. 
     Ele é um Papa latino. Ao próprio Natanael, Filipe, apóstolo relações públicas entre os outros, disse "Vem e vê", quando aquele menosprezou a Galileia, região de procedência de Jesus: "De lá pode vir alguma coisa boa?".
     Ele mais ainda nos representa. Para mim, pastor protestante, igreja sou eu e sacramento sou eu mesmo, batizado no Espírito Santo pelo próprio Jesus, no ato de minha conversão. 
    Diametralmente oposto ao que professa a Igreja. Mas, para o coronavírus, e muitos outros micro-organismos, somos todos iguais. Para eles, barreira nenhuma separa a humanidade. 
    Nenhum modo diferente de entender. Gestos dizem muito. Tomara, quando passar esta calamidade, descubramos que, realmente, houve mudança. Mas não é o vírus que vai mudar a gente.
    Essa mudança, nem o Papa Chico faz. Essa mudança só Jesus faz. Que não fique, apenas, represado, em mim, pelo medo, tudo de ruim que tenho. E que, segundo Jesus, todos temos, como disse em Marcos 7,21: "Porque de dentro, do coração dos homens (e das mulheres também), é que procedem os maus desígnios".
     Que Jesus continue sua obra na vida de cada um de nós. E que cada um possa ser não apenas outro, mas ser novo. Para que ao fim desta calamidade, possamos vislumbrar, com certeza, um mundo melhor.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Oração

    Este é meu terceiro texto específico sobre a COVID-19. O artigo "a" refere-se a ela como "pandemia" ou "doença".

    No primeiro texto, falei da experiência do rei Davi na eira de Araúna, registrada na Bíblia em 2 Samuel 24 e, no segundo, sobre oração.

    Estão os dois neste blog. Sobre a Eira de Araúna, Davi vislumbrou a cura, expressa pela frase final, escrita em 2 Em 24,16, como segue abaixo:

"Estendendo, pois, o Anjo do Senhor a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o Senhor do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira de Araúna, o jebuseu".

     Sobre oração, no segundo texto, destaquei que qualquer um pode orar, pedindo a Deus misericórdia, neste momento, baseado no que diz Tiago sobre Elias, em Tiago 5,17-18, como segue abaixo:

"Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos".

     Neste texto, junto os dois anteriores, em minha argumentação, para dizer que devemos pedir a Deus "Basta", quer dizer que, como na época da eira de Araúna, Deus pode dizer "Basta, retira a mão" e, instantaneamente, assombrando-se o mundo inteiro, a conta dos mortos parar nesse número qualquer. 

      E qualquer um de nós pode fazer essa oração. Porque "Elias era homem semelhante a nós". Não havia mérito em Elias, maior do que em qualquer de nós, para que Deus atenda à oração de qualquer um ou de tantos ou de muitos e muitas orações que ele está ouvindo. 

    Gozado pensar "em" Deus ou "pensar Deus". Como o imaginamos? Todo amor. Neste exato momento, tendo ouvido e ouvido várias orações em todo o mundo. E assistindo aos efeitos da COVID-19. E mais, pelos seus atributos, sabendo o quê, quando e como vai terminar.

     O poeta popular, irreverente, vai dizer "Deus é um cara gozador". Mas o segundo verso diz "adora brincadeiras". Não se aplica a essa condição: COVID-19 não é brincadeira, nem de mau gosto. 

     Mal comparando, Senhor, muito mal, porque já se diz no mundo que o nosso Presidente é o pior, que até quer fazer cessar a quarentena, por sua vez, inteligente, acolhedora e tranquilizadora, como prevenção e arma contra essa cepa de vírus, mal comparando, qual a sua possibilidade, para dizer "Basta", ouvindo orações de qualquer justo ou de todos eles juntos?

      Atrevimento meu Te comparar a Bolsonaro, afrontando as estatísticas e o mundo todo, eu não Te afronto, maior seria essa minha fragilidade, ainda milhões de vezes maior do que a minha exposição ao vírus, seria minha fragilidade diante de Ti. Mas a pergunta é se, diante desse mal que se alastra, Tu estás imóvel, tudo podendo fazer, não seria isso, de si, uma afronta? Ou será, então, apocalíptico, como dizem esses "profetas de ocasião" entre os quais eu não me incluo (ou não quero me incluir e nem ser contado como um deles)?

      Mal comparando, parece que o Presidente está louco, Tu não és louco; parece que não tem escrúpulos, Tu és amor; parece que só pensa e si mesmo: mas Tu, em Jesus, Teu Filho, serves a toda e a cada um, individualmente, serves a toda a humanidade. 

     Como Abraão, Teu amigo, disse um dia, Gn 18,27, eu me atrevo:

"Disse mais Abraão: Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza'.

     Porque na minha argumentação, discutível, porque pode ser que eu, não um justo, mas um falso profeta, esteja presumido, como disse, agora Moisés, em Dt 18,20:

"Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto",

e eu não pertença ao grupo desses justos, eu pergunto: Senhor, por que não, ainda, o "Basta"? Será juízo Teu? Ainda não aprendemos a lição? 

      Impossível que não haja se espalhado o medo, sim, de quem não foi, ainda, afetado, havendo agenda e conta estatística, este que ainda não foi, perguntar-se "serei"? E olhar para a família, pensado, vamos sobreviver juntos a isso? 

     Sim, Pai: porque não acho e nem vejo os "poderosos deste século" disponíveis a aprender alguma coisa. Sempre esses justos que foram aqui mencionados a orar, ou os pequenos, os pobres e os desprezíveis (o pobre, o órfão e a viúva, como diziam os profetas), esses, Senhor, ou já aprenderam, ou aprendem, ou aprenderão alguma coisa com a COVID-19. 

     Como aquele morador de rua do Reino Unido, que disse: "Não importa: não tenho nenhum valor". Quem vai, Senhor, aprender lições?  Minha mente não consegue avançar mais. Eu acho que só, então, poderemos dizer "gratos" pelas lições que vamos aprender ou que estamos aprendendo mas, a que preço? 

      Nós que, como disse Abraão em sua oração, que somos "pó e cinza"? E mais, ainda, ele disse e está  em Gn 18,31-32:

"Continuou Abraão: Eis que me atrevi a falar ao Senhor: Se, porventura, houver ali vinte? Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos vinte.
Disse ainda Abraão: Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez: Se, porventura, houver ali dez? Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos dez".

       Não nos tornamos, ainda, Sodoma e Gomorra, como Isaías disse que, no seu tempo, Israel se tornara, ou até mesmo Jesus, falando da dureza de coração dos moradores de Cafarnaum, onde ele morava e na sinagoga da qual cidade pregava:

 Isaias:

"Ouvi a palavra do Senhor, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra".  Isaías 1:10

Jesus:

"Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.
Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo".  Mt 11:23,24.

      Não. Pelo argumento de Abraão, Gn 18,25, há justos em quantidade, ainda, no mundo, esses que estão, como Tiago diz, orando:

"Longe de ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti. Não fará justiça o Juiz de toda a terra?".

       Tenho certeza que COVID-19 não é juízo Teu. Não porque Tu não tenhas esse direito. Porque quem somos nós para Te instruir, como, de novo, argumenta Isaías, em 40,14:

"Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?".

     E eu ainda incorro neste versículo abaixo, Isaías 45,9:

"Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça".

      Mas o COVID-19 está matando justos e injustos, ricos e pobres, em todos os países, de todas as raças, indiscriminadamente. Pelo argumento de Abraão, não é juízo; pelo argumento de Isaías, estou passando de meus limites. 

     Lá fora piou um pássaro. Para ele, não há preocupação. Vai amanhecer. Como eu disse no sermão de domingo passado, segundo escreveu Davi no Salmo 57,7-11:

"Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores.
Desperta, ó minha alma! Despertai, lira e harpa! Quero acordar a alva.
Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações.
Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens.
Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória".

      Grato, Pai, poder Te chamar assim. Grato por Teu amor por mim e pela humanidade, cada um dela. Se esse vírus é mesmo uma experiência de laboratório, espalhada de propósito, não interessa mais por quem, eu sei que Tu costumas deixar ao homem danar-se por sua própria causa. 

     Há não poucos ateus que, sem razão, afirmam que a maldade é a maior prova de que Tu não existes, por causa da Tua indiferença, dizem. Mas não. 

    Maldade não vem de Ti. Remédio para ela, vem de Ti. Ainda, Pai, que fôssemos culpados, por haver entre nós quem, inopinadamente, espalhasse (porque embora eu não acredite nisso, acho que haveria quem, como um nazista, não importa em que latitude, fizesse) às cobaias esse vírus, diga, Pai, diga que "Basta".

    E que essa próxima alva, esse novo dia que o piado desse pássaro, lá fora, que não conheço, que este dia que chega traga boas notícias. 

     Grato, Pai, por me ouvir. Grato, Pai, por nos ouvir. Ah, sim: vou compartilhar essa oração com o meu amigo e irmão, não necessariamente nesta ordem, padre Massimo. Ah, sim: ele é italiano. Eu acho que nem precisava Te lembrar...

       E talvez também, com alguns pastores. 

sexta-feira, 20 de março de 2020

Versão menor da Carta Aberta

    O Instituto Ecumênico Fé e Política, devido à pandemia do COVID-19, o coronavírus, que afeta o Estado do Acre, o Brasil e o mundo, mostra-se solidário com toda a sociedade, une todos os esforços e propõe:

A. Que todas as confissões religiosas tranquilizem seus fiéis, com ações positivas, providenciando, nessa hora de emergência, o cancelamento das reuniões (cultos, missas, celebrações, festas etc) e outros eventos que reúnam convidados: aniversários, casamentos, formaturas etc;


B. Vamos seguir e aceitar as orientações das autoridades sanitárias, que são dirigidas a TODOS, e não devem ser contrariadas por NENHUMA outra liderança política ou religiohsa;


C. Fazemos uma severa recomendação de obediência às autoridades, sempre conferindo a fonte das informações, se são comprovadamente autorizadas, para não aceitar ou repassar falsa informação;


D. E reconhecer que, verdadeiramente, há uma pandemia, "pan", tudo, todo, todos e "demo", povo: todos estão afetados no pior modo, porque envolve o mundo inteiro, todas as regiões e países, enfim, todo o planeta Terra;


E. A solidariedade é a principal arma contra o vírus, na preservação de sua saúde e da saúde do outro, com atitudes de prevenção, para a pandemia não avançar ainda mais: a sua participação e a de quem está próximo a você é fundamental.

      A seguir, algumas orientações básicas já divulgadas:

1. Sermos  gratos e obedientes às autoridades de saúde, pessoas como nós, dando tudo de si para parar o avanço deste vírus, cuidar de quem já foi afetado, orientando a sociedade com rigor, cuidado e atenção;

2. Prestar atenção para não dar ouvidos a orientações erradas ou maus exemplos, seja de líder político, religioso ou autoridade maior: neste momento a autoridade sanitária está ACIMA de qualquer outra, seja POLÍTICA ou RELIGIOSA;


3. A principal orientação, seja do sistema público ou privado do Estado do Acre, em todas os meios de comunicação, na fase atual desta pandemia, é FICAR EM CASA;


4. Para se espalhar, o coronavírus necessita de contato entre pessoas, entrando no corpo humano pela boca, pelos olhos ou pelo nariz;


5. Por isso, deve ser evitado o contato humano, os locais onde as pessoas passam, em grande quantidade, para não ocorrer toque de mãos entre pessoas ou toque em superfícies, porque o toque, a tosse ou o espirro contaminam;

6. Portanto, FICAR EM CASA é obrigatório. Há turnos e revezamentos no trabalho: mas não é para sair na rua, porque isolamento e quarentena não é folga: É LUTA CONTRA O VÍRUS;

7. A higiene pessoal também evita contaminação. Lavar sempre as mãos, demorando, pelo menos 1 minuto, esfregando de modo normal até metade dos braços, também entre os dedos, uma por cima da outra, esfregando a ponta dos dedos, uma dentro da outra e com os dez dedos entrelaçados em forma de casinha. Cante 4 vezes "Parabéns pra você", para contar o tempo. Queremos você e muitos outros bem vivos daqui a 1 ano.

8. Não vá ao hospital se está somente com gripe. Se tiver febre alta que não passa, dores na garganta, cansaço ou dificuldade para respirar, nesse caso, procure assistência médica;

9. Máscaras e álcool em gel devem ser bem usadas, porque nada adianta se forem usados de modo errado, põe e tira, usa/não usa: informe-se a respeito o tempo todo;

10. Não acredite em remédios caseiros: eles não curam ou afastam o vírus da contaminação. O sistema imunológico é diferente de pessoa a pessoa e reage diferente a cada contaminação: idosos com doenças crônicas são grupo de risco, mas o coronavírus AFETA TODOS.


         O Instituto Ecumênico Fé  e Política está  disposto e se coloca ao lado de toda a sociedade e das autoridades na prevenção, ajuda e combate a essa pandemia.

       Também alerta, como membro da URI - Iniciativa das Religiões Unidas, que todas as religiões ajudem a refletir sobre a condição humana, em que somos todos iguais e devemos nos ajudar e proteger uns aos outros.

     E nesse esforço conjunto pela vontade de viver, possamos preservar os valores comuns a todas as religiões, que não são materiais, queimados no fogo como os corpos de muitos que já morreram, mas eternos e permanentes.

  
     Esses valores devem unir a humanidade em sua diversidade, por laços comuns de uma só raça, a raça humana, sem fronteiras, sem barreiras e sem discriminações, como o próprio virus está nos ensinando.

quinta-feira, 19 de março de 2020

SUGESTÃO DE CARTA ABERTA DO IEFP

      O Instituto Ecumênico Fé e Política, neste momento de comoção social, a pandemia associada ao COVID-19, evidentemente não somente no Estado do Acre, assim como no Brasil e em todo o mundo, por meio deste documento solidariza-se com toda a sociedade, unindo-se aos esforços de todos e propõe:

A. Um esforço conjunto de todas as religiões, com relação às suas ações de fé, de modo a tranquilizar e motivar esperança e ações positivas para todos os seus fiéis como, por exemplo, o cancelamento das reuniões religiosas (cultos, missas, celebrações, festas etc) e quaisquer outros tipos de eventos que reúnam convidados, substituídos por contatos não presenciais;

B. Também ações de mobilização social com relação à previdência, conduta e aceitação das orientações das autoridades sanitárias: são coletivas, quer dizer, dirigidas a TODOS, e não devem ser contrariadas por NENHUMA outra orientação;

C. Bem como motivação para a obediência severa dessas recomendações, sempre avaliando a fonte das informações, conferindo com outras de fonte comprovadamente autorizada, para que não sejam aceitas ou repassadas falsas informações;

D. E também o reconhecimento e aceitação da urgente necessidade atual, de que verdadeiramente há uma pandemia, "pan", tudo, todo, todos e "demos", povo: todos envolvidos, sendo o maior, pior grau e o pior cenário de uma epidemia, porque envolve o mundo inteiro, países do norte e do sul, ricos e pobres, longe e perto, enfim, todo o planeta Terra;

E. E a solidariedade é a principal arma contra o vírus, na preservação de sua saúde e da saúde do outro, na observação de atitudes que podem prevenir e conter o avanço desta pandemia: a sua participação, a de quem está próximo a você e a de quem direta ou remotamente você incentivar é fundamental.

      A seguir, sobre algumas orientações básicas já divulgadas, reafirmamos que:

1. As autoridades de saúde, pessoas como nós, estão dando tudo se si para frear o avanço deste vírus, assim como cuidar de quem já foi afetado e orientar toda a sociedade com rigor, cuidado e atenção;

2. Exemplos de outros países, sejam eles positivos ou negativos, devem nos alertar e não podemos dar ouvidos a qualquer orientação ou mau exemplo de qualquer pessoa, líder político ou religioso ou autoridade maior: neste momento a autoridade sanitária está ACIMA de qualquer outra, seja POLÍTICA ou RELIGIOSA;

3. A principal orientação, para a qual se voltam os esforços e atenção do sistema público e privado do Estado do Acre, assim como toda a mídia e outros meios de comunicação estão divulgando, na fase atual desta pandemia, é de FICAR EM CASA;

4. Para a sua disseminação, o coronavírus necessita de contato e invasão do corpo humano pela mucosa da boca, dos olhos ou do nariz;

5. Para isso, precisa de contato humano ou de locais onde pessoas transitam, presencialmente em quantidade, para que com toque de mãos em superfícies, tosse ou espirros que atinjam outros, num ambiente fechado, ele possa se propagar;

6. Portanto, FICAR EM CASA é fundamental. As autoridades estão indicando turnos e revezamentos para isso: mas não saia à rua, porque isolamento e quarentena não é folga: É LUTA CONTRA O VÍRUS;

7. A higiene é fundamental. Lavar sempre e por, pelo menos 1 min, suas mãos, esfregando de modo normal até metade dos braços: modo tradicional, entre dedos uma por cima da outra, ponta dos dedos uma dentro da outra, os dez dedos entrelaçados em forma de casinha, faça assim enquanto canta 4 vezes "Parabéns pra você". Fez? Então, parabéns pra você. Queremos você e muitos outros, milhares, milhões bem vivos daqui a 1 ano.

8. Não vá ao hospital se os seus sintomas são somente de gripe. Será necessário febre alta insistente, dores na garganta, cansaço ou dificuldade respiratória para que ocorra alguma suspeita que, nesses casos, a assistência médica vai ou não confirmar;

9. Máscaras e álcool em gel devem ser usados em situações específicas e de modo correto, porque de nada adiantam se forem usados sem critério ou com alternância de uso/desuso sistemático: informe-se a respeito o tempo todo;

10. Não acredite que remédios caseiros vão impedir ou afastar o vírus da contaminação. O sistema imunológico varia de pessoa a pessoa, com relação à reação após a contaminação. Sobre isso, idosos com doenças crônicas são grupo de risco, mas o coronavírus AFETA TODOS. 
   
         O Instituto Ecumênico Fé  e Política reafirma a sua disposição de se colocar ao lado da sociedade e das autoridades constituídas, na prevenção, ajuda e combate a essa pandemia. 

       Assim como alerta, em nome de todas as religiões que acolhe, também como membro da URI - Iniciativa das Religiões Unidas, que o presente momento, em todo o mundo, requer reflexão para a condição humana. 

    Todos somos iguais, em nossas fragilidades, assim como no esforço conjunto pela vontade de viver. E os principais valores, segundo as religiões, não são materiais, cremáveis como os corpos de muitos que já se foram.
       
      Mas valores eternos, que devem unir a humanidade em sua diversidade, por laços comuns de uma só raça, a raça humana, sem fronteiras, sem barreiras e sem discriminações, como está nos ensinando, a contragosto nosso, o próprio vírus.

sábado, 14 de março de 2020


Rio Branco, 27 de abril de 1995.

Queridíssimos pais.
Estou alegre por escrever novamente. São 8h aqui e o Isaac já voltou a dormir. Havia acordado às 6h30. Dei mamadeira, biscoitos (aos quais ele se refere como "ábu" - de "água" -, como faz com qualquer alimento que queira) e, depois, coloquei-o no "troninho" que vovó Dorcas comprou. Está começando a acostumar-se e hoje foi a quarta ou quinta vez em que conseguiu fazer "caquinho" desse modo. Está cada vez mais inteligente. Toda a vez que escuta música ou som do relógio (aquele, que toca músicas de hora em hora), ergue o bracinho como se estivesse regendo. Talvez minha mãe veja realizado no neto o sonho de ver o filho maestro. Já põe a mão no cocuruto da cabeça quando vê o pratinho de comida, para fazer oração, e já sabe fazer "memém". Às vezes diz "êêêêh!" quando a oração termina. Aquele corinho que diz "O véu que separava, já não separa mais" ele aprendeu comigo e quando ouve na igreja faz os gestos. Continua sorridente mas também manhoso. Não quer dormir no seu berço. Esta noite eu obriguei. Até que ele entendeu logo minha bronca e chorou pouco. Logo dormiu. Havíamos colocado em nossa cama, mas nem o sono dele e nem o nosso tornam-se tranquilos. Ele se mexe muito e, com seu "cabeção", choca-se ora com o pai ora com a mãe. Regina perguntou, noutro dia, pela vovó. Ele respondeu "bôôô", que significa "acabou". Para ele, quem vai embora, qualquer coisa que caiu, a comida ou água que termina é "bôôô". Quando eu saio ou Regina ou um dos dois fica em casa com ele, se não o distraímos, sai pela casa chorando sentindo a falta. Não é possível eu e Regina, juntos, nos dedicarmos a qualquer atividade. Um dos dois precisa "pastorá-lo", como se diz aqui, ou "tomar de conta" dele. Aqui ele é identificado como "menino homem" (menino para o acreano é bebê). Logo, quando nasce uma menina, nasceu um "menino mulher". Na igreja tudo segue normalmente. [...] No mais está tudo muito bem, graças ao bom Deus. Regina está dando aulas de Teoria. Como minha mãe disse na cartinha ao Isaac, foi Deus Quem realmente colocou Regina em minha vida. É excelente auxiliadora. Não reclama de nada e reconhece que Deus nos colocou numa casa também excelente. Ela também está percebendo como estou alegre e realizado no pastorado e como missionário. Sentiu a diferença nos sermões. Estão mais variados e transmitem mais segurança e instrução. A mudança de Cascadura para cá foi boa nesse sentido. Ali eu me preocupava muito com a "queda-de-braço" tradicional X renovado. Aqui esse conflito não chegou e percebemos como é desgastante lidar com isso nos grandes centros como Rio, São Paulo e Recife. Creio que Recife reflete mais o que ocorre aí no Rio. Estamos realizando cultos nos lares às quintas e sextas, cada dia em uma Congregação, seja Vila Betel ou Estação Experimental. São ótimos. Realizamos um extra no domingo passado, a pedido de uma filha do Sr. Antonio, sr. esse socorrido por um jovem da igreja em um acidente sem maiores proporções. Morava aqui perto de casa e por isso convidamo-lo para o cultinho do Isaac e depois fomos a sua casa realizar o culto. O filho dele decidiu-se publicamente por Cristo. Sábado agora vou pregar na Igreja Presbiteriana da Floresta, que comemora seu 1° aniversário. O pastor José Augusto convidou-me. Na casa pastoral dessa igreja é que nos hospedamos. Recebo com frequência jovens da igreja aqui com quem procuro conversar, seja a pedido deles ou a pedido meu. Tenho conversado com os casais de namorados, por exemplo. Aqui é muito fácil manterem relações extra-conjugais. Procuramos evitar, aconselhando-os, assim como nos estudos e pregações exortando-os. Recebemos o pacote da PUC e os cartões seus e mais da Gilca e os outros vovós, todos no mesmo dia. Continuamos orando pela vinda de vocês logo no começo de julho. Preparem-se, orem  e animem-se mutuamente. O clima está bom agora, com chuvas (não muito frequentes) e fez até um pouco de frio (de puxar cobertor), inclusive no dia 21/4. Em julho vocês pegarão frio e em agosto o início do verão. Nessa época, até outubro, as estradas do Estado, na sua maioria de barro, tornam-se transitáveis para carros sem tração. Às vezes, na época de chuva, nem carro com tração resiste. Moramos em cima de uma colina (por isso o bairro de chama Bela Vista, aliás, o Conjunto Residencial tem esse nome). Avistamos o aeroporto e a saída para Porto Velho. Pretendemos visitá-lo em agosto junto com vocês e a Sandra Roger. Fiquei feliz em saber que vão bem de saúde. Cuidem-se e, como disse Jesus, "Tende bom ânimo", que é um otimo remédio. Liguei ontem duas vezes para a Marli Melione e não atenderam. Fiquei preocupado. Tentei às 7h30 daqui (21h30 aí) é às 9h30 daqui. Mande notícias e diga que telefonarei novamente. Dê lembranças também ao Serginho e meu endereço para que eu possa corresponder-me com ele. Dê abraços à Norma e esposo e também à Rute Melione. Pergunte se ela não quer ser missionária no Acre. Escrevi para o Isaías e para os Quitério. Também para a Jaíra e os garotos dela. Vou escrever ao Dagoberto também. Mandem os endereços de tias "Nice" e Gislaine. Ainda não escrevi ao Lincoln mas estou providenciando. Mande também o endereço do Eurico, que tantas vezes pedi aí no Rio. Quero escrever para eles também. Se conseguirem o endereço do Mazinho, da tia Jani e tia Nadir (do tio Isaías também) podem mandar. Escrever aqui é muito bom para aproximar e também divulgar o trabalho feito aqui. Diga a D. Dorcas que saiba separar-se de Cascadura como Deus nos deu, a Regina e eu, o privilégio de fazer, ou seja, sem traumas. Vicente de Carvalho ou Abolição são Boa escolha. Diga também que em qualquer lugar os costumes "renovados" estarão presentes. Acho até muito bom, quando se é moderado. Aqui batemos palmas, erguemos as mãos, Regina e eu, naturalmente. Não existe espírito de disputa ou estigma de renovado para quem faz isto. Em Cascadura não fazia com liberdade, pois esses gestos viraram símbolo da reação ao meu pastorado, que eu julgava injusta. Por isso não comungava com eles. Mas aqui, nos alegramos e não há ressentimentos. (Ah! sim, não recebemos ainda o Estatuto. Mas não se assuste porque o Correio atrasa às vezes). No próximo telefonema notifico se recebemos. Estamos estudando Colossenses, diga ao Pastor daí de casa. Baseamo-nos no livrinho amarelo de P. Filho. É bom porque visa "buscar a vida lá do alto". E para isso cavar fundo, cada vez mais fundo, em Cristo. É a carta da excelência de Cristo. Está muito gostoso. Papais: aqui sentimos saudades mas também sentimos que vocês dois nos prepararam para isso. (Quem dera Lourdes e Heraldo entendessem que Deus lhes deu o privilégio de também preparar Regina para isso, junto comigo). A "oração de Ana" que D. Dorcas fez lá pelos dois dos anos 50 somente agora, 37 anos depois, Deus requereu dela. Teve mais sorte do que Ana, que teve de devolver Samuel ao Senhor logo que desmamado. Tive o prazer de ser pastor dela durante 10 anos (e ainda me considero). Aqui também recordo de vocês quando tomo Isaac no colo e penso que um dia vocês fizeram isso comigo (lembram? Mas nada de lágrimas...). Agora, antes da carta, por exemplo, ele estava deitado sobre o meu corpo para dormir sossegado. Coloquei-o sobre o colchonete e vim para a máquina. Regina e eu chateamo-nos porque vocês e os pais dela não estão acompanhando, passo a passo, o crescimento dele. Mas, se mergulharem nos seus corações onde, pela misericórdia de Deus encontram Jesus, saberão que estamos onde Deus se alegra que estejamos. E, fazendo Deus alegre, nos realizamos também. Ontem ressaltei o versículo de Colossenses 1,11b-12: "com alegria, dando graças ao Pai que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz". Assim: fazendo Deus feliz (o vers. 10 fala de viver "para o Seu inteiro agrado") e sendo gratos e felizes em Deus. Estamos certos de que as saudades são menores do que essa alegria. Orem por nós.  Queremos tocar fogo no Brasil, com uma queimada a partir do Acre que ninguém possa apagar. Mas os perigos são muitos. Deus que não me deixe cair em ciladas de orgulho próprio, adultério (facílimo por aqui), dinheiro (há empregos que podem encher olhos) etc e etc. Sempre conto com vocês pois são o nosso Quartel General e a nossa retaguarda. O ministério aqui começa aí. AMAMOS VOCÊS MUITO. A CARTA DO ISSAC EMOCIONOU A MIM E À REGINA. Orem também por Heraldo e Lourdes para que amadureçam. Impossível que, com essa separação e o decorrer do tempo Deus não consiga isso, mesmo que continuem a resistir. Estão adiando (e desprezando) bênçãos. Até já.
 
                   Seu filho, seu neto e sua filha.
                                 Cid Mauro
                     
     

sábado, 7 de março de 2020

ENLACE DO ANO - CID MAURO X REGINA - 02/01/1993


Chegara o esperado momento
De maior competição
Temera-se tanto a sogra
Tomara-se a devida precaução

A batalha entre os padrinhos
De como encarar a tal fera
A obediência de outras e fraques
Elegância de longa espera

Transformei-me no executivo
Bem afoito homem no volante
Faltou-me o belo DEL REY
Entrei no carro do Dante

Caravana de pernas listradas
Seguindo a mesma linha
Saltamos todos no Meier
Em busca da Leila e Maninha

Parecia mais uma banda
Dirley como nosso regente
Entre eu, Lyndon e Gisley
Guardava-se o fusca imponente

Veio a linda Catedral
Eis o grande momento
Vando com a Mineirinha
Também no estacionamento

Cid o grande padrinho
Maninha se preocupava
Onde estava a noiva
Enquanto a hora passava

Eu padrinho com Leila
Gisley com a Renata
E bela Marcia com Lyndon
Eu que quase tirei a gravata

Nossas madrinhas cintilavam
Leila uma rósea maçã
Maninha de Monaliza
Sempre estimada irmã

Depois da longa espera
Chega o anjo a decisão
De azul esbelta cadeira
Começava a procissão

Simples e feliz o noivo
Sempre o mesmo carinho
Da noiva coroas e carecas
Representavam seus padrinhos

Entramos na Rua das Flores
Esquecidos de todos os males
Convidados lotavam a Igreja
Conferindo todos os detalhes

Em púlpito maravilhoso
Não há quem não o respeite
Ao som dos violinos
O consagrado Paulo Leite

Enquanto ele pregava
Da máquina outro estalo
Um fotógrafo engraçado
Com rabo de cavalo

E fala, diz, dá conselhos
Com toda a consagração
Baseando-se em alguns Provérbios
Do profeta Salomão

Fomos os privilegiados
Os escolhidos primeiro
Os cabeças mais esquecidos
Filmaram-nos o tempo inteiro

Dante colocou o Bruno
Só na boca de espera
Foi um pontapé infantil
Nas costas da dona Fera

Na inocência da criança
Foi uma dose completa
Sem curvas a dama olhou
Muito brava e sempre reta

Já estava com os pés queimando
Ao som de dois violinos
A voz lírica repetindo
Belo canto outro hino

Nunca ouvi tanto amém
Aos olhares de Dirley e Dante
Mas resisti com bravura
O momento importante

Aquele fotógrafo gordo
Na fotografia bem louca
Com seu cabelo passou
O amarrado em minha boca

Lyndon limpava a face
A lâmpada forte esquentava
Veio o último amém
Maninha já estava sentada

Não foi competição em família
Assim deste modo espero
Se fosse uma competição
Empatava no mil ou no zero

Saímos assim da Igreja
Com júbilo no coração
Sem orgulho e muita sede
Fomos para a recepção

Fiquei em estado de graça
Ivete ainda menina
Dora, Cleyr e Ione
Ivo, Nair e Regina

Enchi a bola da fera
Não pretendia uma briga
Entre elogios tornou-se
Uma grande amiga

A graça da noiva enfeitava
Brilhando em todo o salão
Eu minha sede matava
Com a Coca-Cola na mão

Clovelina elogiava
A elegante Maninha
Dona Alina me abraçava
Encontro de muitas rainhas

Como dois cisnes bailavam
Transbordantes de meiguice
Binho e Meire passeavam
Aos olhares da Nice

Bem-Hur de alta postura
Alexandre nem Lincoln de fraque
Vando à moda mineira
Desfile de cavanhaque

Realmente a família deu show
O desfile de madame
A fala da Miriam
O charme da Luciane

E a fera orgulhosa rendeu-se
Onde a vaidade finda
Bem discreta confessou-me
Sua família é linda

A fome me complicava
Tonteira me dava medo
Lindos doces passavam
Mas pareciam brinquedos

Ludmila de espalhava
Corria para a mãe menina
Zila mamãe procurava
Lá estavam Moisés e Gercina

E aquele majestoso bolo
Que até embarquei no bis
De paladar delicioso
Com dois bolos-chafariz

Não tão quente quanto a fala
Quem da fera ao inferno
Todos o tiveram como o mala
Senhor Inácio de terno

Dercilia deixou-me bem perto
A grande recordação
Por eu ter um grande afeto
São coisas do coração

O que não faltou foi Reginas
Grande amiga da Maninha
Regina lá de Nilópolis
Regina também noivinha

Lá estava novamente impoluto
O fotógrafo com seu rabinho
Diante dos noivos tirando
Fotografia dos padrinhos

Dante evitando o encontro
Buscava de toda maneira
Conversava sempre em pé
Evitando a azul cadeira

Nice nem escutava
A palestra do Dante
Dele se desligava
Em auxílio ao refrigerante

A fera estava domada
Cumpri o meu compromisso
Com garbo e orgulho falava
Eu aprontei tudo isso

Eu engolia a seco
Eita que sorte a minha
Sabendo que a grande despesa
Foi por conta da Maninha

E a dança das calças listradas
No belo e amplo salão
Cumprimentava a cantora
Da mais bela canção

Fugiu de mim o enfado
Esquecera dos meus pés
Cercado pela alegria
De Ilton, Gercina e Moisés

Eu estava executivo
Hoje estou executado
Antes alegre e festivo
Hoje triste e calado

Fazendo das rimas registo
Tão simples quanto criança
Deste ato tão marcante
Uma singela lembrança

Mas da lembrança não se apaga
Das cores a bela harmonia
O casamento do ano
Uma explosão de alegria

E rumo à foz da lua
Um boato que se espalhou
De mel e de cataratas
Parece que a fera ficou

No retorno perdido na noite
Sem rumo pela madrugada
Despedida sem choro nem pranto
Daquela calça listrada

Por aquele oportuno momento
Agradeço de coração
Com profundo sentimento
Pela minha participação.

                             Rio, 3/01/1993
                                            Onésimo Lima

sexta-feira, 6 de março de 2020

Carta de Osvaldo Giolito a Cid Gonçalves de Oliveira

                               
     

                                          12 de maio de 1961
Ilmo. Sr.
Rev. Dr. Cid Gonçalves de Oliveira
Rua Mendes de Aguiar, 90, Apto° 101, Fds.
Cascadura - Est. da Guanabara

Prezado Irmão e Grande Amigo.
                           Saudades em Cristo Jesus.

              Recebi tua carta de 5 do corrente hoje, e hoje mesmo me apresso em responder. 
     Deveras sensibilizado com a generosidade de palavras do amado irmão, desejo retribuir multiplicado e merecidamente o que não é o caso quando assim são referidas. 
             Aqui os trabalhos são realmente multiplicados devido às distâncias e o ser a Igreja nova, estando tudo por fazer. A Igreja compõe-se de um grupo de irmãos que vieram da Igreja Presbiteriana e é preciso encaminhá-los no congregacionalismo como a "crianças". Todavia parecem-me pessoas muito boas e ótimos crentes o que torna relativamente fácil a árdua tarefa.
             Além dos trabalhos normais de uma Igreja, fui convidado a iniciar um trabalho de capelania assistencial e evangélica num leprosário, que dista mais de 60 km de Sorocaba, num lugar intitulado Pirapitingui. O trabalho é glorioso, mas árduo porque constantemente estou sendo chamado para confortar e assistir a um ou outro enfermo. Fui o escolhido, porque enquanto outros colegas só entram ali com luvas e não saem do palanque de isolamento, eu me identifico com os enfermos e junto com eles oro e canto os nossos maravilhosos corinhos. Estou entregue nas mãos de Jesus e confio que ele me guardará! Mormente depois que conversei com um médico de lá e ele disse-me que hoje a hanseníase é facilmente controlável e que não é tão contagiosa como se supunha.
              Também fui convidado pela Rádio Vanguarda de Sorocaba a levar ao ar um programa evangélico, sob a designação de "A Mensagem da Bíblia", aos Domingos, das 19hs às 19h30m. Está sendo muito apreciado e está tornando a Igreja Congregacional mais conhecida.
              Não tenho feito serviços de itinerância porque não tenho tempo e também porque sinto-me cansado. Já sou velho e o serviço é para moço. Eu devo limitar-me a uma Igreja pequena e que não dê muito trabalho. 
             Está é a razão pela qual sou forçado a recusar o tão honroso e agradável convite que o amigo me faz para dirigir uma série de conferências em sua Igreja. Fica para outra vez. Provavelmente quando eu estiver de volta ao Rio. O meu compromisso com Sorocaba é só por um ano. Eu almejo voltar para essa região. Trabalhar numa das Igrejas do E. do Rio. E espero que essa também seja a vontade de Deus. Estou aqui por emergência servindo à Causa, porque Deus assim o quis. Não por vontade minha, por meu gosto eu já teria retornado ao Rio.
            Estou longe da esposa, apesar de que todos os meses ela passa mais de 15 dias aqui comigo, mas isto ela faz no verão, não sei se vai poder fazer no inverno. Ela não se dá bem com o tempo frio. 
           Tenho muita saudade da amada Igreja de Nilópolis, e de todos os amigos daí. Em S. Paulo não há a fraternidade que se vê aí. Os irmãos são muito personalistas, desconfiados e muito fechados neles mesmos. É muito diferente o tratamento entre pessoas. Eu estranho muito. Meu gênio expansivo, alegre, comunicativo (modéstia à parte) não é correspondido, e até mesmo recebido com reservas. Especialmente os colegas. Eles têm as igrejas fechadas nas mãos, e qualquer novo pastor que chega é tido como um provável concorrente, e é quanto basta para mantê-lo a distância.
           Sim! Seria muita satisfação para mim receber cartas de irmãos daí, mui especialmente da Da. Eunice, a quem tanto prezo e admiro no Senhor. Realmente, para desabafar e para matar a saudade, tenho escrito a irmãos, mas com certeza por estarem muito ocupados ou porque já se esqueceram deste velho pastor, não me respondem. 
         Mais uma vez peço-te: recomende-me a todos os tais queridos, especialmente a Maninha e ao Cid Mauro e a quantos em Nilópolis perguntarem ou não por mim.
        O irmão não pode calcular a satisfação que tive em saber do progresso e vitórias da nossa amada Igreja. 
         Sem mais, sou, com alta estima e apreço, o menor servo de Nosso Senhor Jesus Cristo. 
                                            Giolito.
                           

Salmo 15 - Nelson Lima Matos


Senhor, quem vai morar na tua tenda?
Quem poderá habitar teu santo monte?
Quem poderá fruir tua fazenda?
Quem poderá beber da tua fonte?

Aquele que procede limpamente,
Que defende o Direito a qualquer custo,
Que traz a Lei gravada em sua mente,
Que procura ser bom, sincero e justo.

Que não vive feliz no seu cantinho,
Quando a velhinha ao lado morre e mingua.
Que não enche de opróbrio ao seu vizinho,
Nem mancha de calúnia a própria língua.

Que não presta honraria ao criminoso,
Quando ele é rei, ministro ou general.
Que exalta sempre o homem virtuoso,
Mesmo quando ele é pobre e veste mal.

Que sustenta a verdade a céu aberto,
Ainda mesmo em seu próprio prejuízo.
Que não muda seu rumo, quando certo:
Mas teima, luta e morre, se preciso.

Que seu dinheiro a juros não empresta,
Enriquecendo à custa do indigente.
Que a falso testemunho não se presta
Nem faz acusação contra o inocente.

Aquele que tem tal procedimento
Pode morrer tranquilo e sossegado,
Pois, mesmo que se abale o firmamento,
Seu prestígio jamais será abalado.

                              Sepetiba, 1° - 4 - 1980.
                                            N. L. M.

Salmo 15



Senhor, quem vai morar na tua tenda?
Quem poderá habitar teu Santo monte?
Quem poderá fruir tua fazenda?
Quem poderá beber da Rua fonte?

Aquele que procede limpamente,
Que defende o Direito a qualquer custo,
Que traz a lei gravada em sua mente,
Que procura ser bom, sincero e justo.

Que não vive feliz no seu cantinho,
Quando a velhinha ao lado morre e mingua.
Que não enche de opróbrio ao seu vizinho,
Nem mancha de calúnia a própria língua.

Que não presta honraria ao criminoso,
Quando ele é rei, ministro ou general.
Que exalta sempre o homem virtuoso,
Mesmo quando ele é pobre e veste mal.

Que sustenta a verdade a céu aberto,
Ainda mesmo em seu próprio prejuízo.
Que não muda seu rumo, quando certo:
Mas teima, luta é morre, se preciso.

Que seu dinheiro a juros não empresta,
Enriquecendo à custa do indigente.
Que a falso testemunho não se presta
Nem faz acusação contra o inocente.

Aquele que tem tal procedimento
Pode morrer tranquilo e sossegado,
Pois, mesmo que se abale o firmamento,
Seu prestígio jamais será abalado.

                              Sepetiba, 1° - 4 - 1980.
                                            N. L. M.