quarta-feira, 18 de março de 2015
Meu Pai trabalha até agora
Ou, "Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera." Esta é uma citação do Livro do profeta Isaías 64:4. E a frase do título é uma argumentação que Jesus usou numa polêmica com os judeus que repreenderam o homem enfermo, provavelmente paralítico, havia já 38 anos, curado por Jesus, criticando-o por carregar, no sábado, sua cama. Preferiram ficar cegos para o milagre, em vias de defender o próprio ego, valendo-se da lei como muleta. A lei não veio para ser muleta, mas para demonstrar a absoluta necessidade da graça de Deus.
Ele carregava sua cama no sábado, o que não era considerado acertado porque, como já dizia Vinicius de Moraes, era sábado. "Porque hoje é sábado". Jesus colocou, em seu argumento, o trabalho de Deus acima de qualquer norma ou rotina, de novo, atropelando as regras que os homens criam, às vezes mesmo interpretando errado o que Deus sugere. Essa questão de dar preferência ao sábado, por exemplo, quando Deus sugere que o homem se detenha em cultuá-Lo todos os dias, sendo supérfluo onde ou quando (ver João 4:22-24). Ei, entenda o texto: cultuar Deus, e não, o sábado, bem entendido.
Como dizia um folhetim que remexi nos guardados, desta vez, do meu pai, cujo título era uma provocação sobre a maneira de entender, de modo correto, a regra do sábado. O título: "Todos os dias são sábado". (Então, pelo que disse acima, todos os dias são Dia do Senhor ou dias de culto). Mas o que desejamos comentar aqui é dizer como pode Deus trabalhar por aquele que nele espera. Na verdade, espera o quê? E que é, ou quem são esses, que esperam em Deus? E que trabalho Deus realiza a seu (deles) favor?
Maroto, o profeta, se não me engano, ele quer que todos e quaisquer esperem em Deus ou esperem de Deus. E então, completa dizendo que Deus por eles trabalha. Mais uma vez, de sempre, o texto bíblico lida com uma profunda falta de critério. Sim, digo isso, porque o texto, salvo engano meu, trabalha (para usar o verbo da hora) com a possibilidade de Deus, mais esta vez, perder seu tempo com gente que, se Ele, Deus, fosse mais seletivo, não valeria a pena.
Mas que gente? Nós. Deus trabalhando por nós ou a nosso favor. Pura pretensão nossa. Ou engano do profeta, que fez tal afirmação. Claro, há quem (ou devo escrever 'Quem') se valorize, o que é muito natural, entre nós, e julgue a si mesmo alvo precípuo (gosto desta palavra) do gosto e ocupação de Deus. Tipo, para usar a gíria, a esposa de Zebedeu, que valorizava seus meninos, o que, de novo, é natural, e os queria numa posição privilegiada, um de cada lado do Mestre.
Somos assim mesmo, sofremos dessa síndrome, de achar que devemos, mesmo, ser superiores, senão a muitos, pelo menos a uma classe qualquer de gente. Ora, devemos mesmo pertencer a uma estirpe qualquer, em alguma escala, superior, com traços que interessem ao Criador para que Ele perca Seu tempo ocupando-se conosco. Então valeria, para nós, o dístico acima, do profeta, dizendo que (por nós, especificamente) valeria Deus ocupar-se.
Puxa vida! Infelizmente, na minha opinião, aliás, aqui, neste blog, sempre, na minha opinião, eu acho que Deus generalizou, mais esta vez. A Bíblia generaliza em algumas vezes, senão na maioria das vezes. Por exemplo, quando diz "todos pecaram, e carecem da gloria de Deus". Ah, como gostaríamos de estar fora dessa generalidade. Mas nos contentamos em nos iludir pensando que, no nosso caso, de novo, especificamente, há, é claro, pecado, mas menos, menos um pouco do que em relação aos demais.
E a generalidade aqui é que Deus trabalha, sim, e nunca cessou de fazê-lo, por quem, por quantos, por todos que nEle esperam. E com que intensidade trabalha! Mas esperam o quê? Qual a sua expectativa em relação a Deus? Ou, perguntando diferente, qual deve ser a nossa expectativa com relação a Deus? Que trabalho Deus realiza, até agora, como denuncia Jesus que Ele faz, mesmo aos sábados, por nós, que nEle esperamos? Curioso saber o trabalho em que e pelo qual Deus se empenha, sem cessar, a nosso favor.
Gozado (ou, se preferirem outra palavra), interessante: Deus foi, na palavra de Jesus, o primeiro a violar o sábado, trabalhando a nosso favor. Jesus trabalhava (e trabalha) a nosso favor, quando curou o paralítico. O Espírito Santo trabalha a nosso favor. A trindade trabalha a nosso favor. Que trabalho, incessantemente, realizam a nosso favor? É curioso procurar saber.
terça-feira, 17 de março de 2015
terça-feira, 10 de março de 2015
Suposições
Falar por suposição combina com blog. Isso porque o compromisso com o blog, assim, meio clandestino, combina com suposição, porque esta tem um caráter volúvel. Pode significar algo ou, absolutamente, nada.
E falando sobre oração, de novo, e sobre Bíblia, mais esta vez, para alguns, nem suposição a Bíblia representa. Representa nada mesmo. Até mesmo para alguns que se autodenominam crentes. Têm pouca ou nenhuma intimidade com o Livro. Para eles, cheira a mofo. Mas não é só para eles não.
Gosto muito de uma expressão de Paulo, o apóstolo, quando diz, num de seus frequentes arroubos de retórica, lá numa das cartas a Timóteo: "Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações."
"Loquacidade frívola", sensacional esta expressão paulina. Aqui, refere-se não somente a crentes fracos de Bíblia, mas a qualquer suposto (olha aí o termo, de novo) mestre, melhor escrever "mestre". E olha que há, por aí, tanta coisa dita, ou melhor, de novo, mal dita sobre a Bíblia...
Mas, novamente, sou mesmo repetitivo, desejo enquadrar os Salmos num estilo genérico de gênero, quase sendo redundante, de propósito. Classificá-los como oração. Evidentemente, já comentamos aqui, em texto anterior, há Salmos que falam "sobre Deus", em 3ª pessoa, e aqueles que falam "com Deus", 2ª pessoa.
Assim como há Salmos, como 8 e 19, que falam sobre as obras de Deus, e ainda os que enaltecem Deus, como o 34 ou 48, mais uma vez falando sobre Ele, enfim, vamos supor que todos sejam orações ou formas de oração. Também supor que sejam modelos de oração. Para isso, novamente ressaltamos, é necessário supor, mais esta vez, que (1) é possível falar com Deus e (2) ser ouvido por Deus.
Mais, ainda, (3) ouvir Deus falando, em retorno, ou mesmo tendo, antes mesmo de ouvir o homem falar, Ele mesmo, Deus, ter antes falado ao homem para só então ouvir resposta. Como apontamos em Gênesis, na viração do dia, tardezinha, quando Deus procurou o casal no Jardim.
Está bem, mestres, suposição que seja a história do Jardim válida, pelo menos, para supor que Deus procurou o homem para falar com eles, o casal primordial. Nessa suposição, ou suposições, os Salmos são, como já dissemos, um Livro de Oração, no sentido de ser modelo de como se ora, ou Livro de Orações, coleção de falas de homens/mulheres a Deus. Sim, outra suposição, haveria mulheres entre os orantes, quem sabe, algum Salmo anônimo escrito por, pelo menos, uma delas?
Paulo, de novo, aos Efésios, diz que no beneplácito (vontade soberana) de Deus, ele faz convergir, em Cristo, todas as bênçãos a nosso favor. Desse modo, todas as orações nos Salmos foram ouvidas, atendidas, respondidas, mesmo que, historicamente, fossem feitas antes de Jesus nascer. Dessa forma, todas as orações feitas, estejam elas entre aquelas dos Salmos ou não, antes ou depois de Jesus nascer, foram feitas, ouvidas e respondidas, enfim, são e serão feitas, ouvidas e respondidas em Jesus Cristo.
Essa, pois, é a suposição por excelência neste texto: Deus ouve e responde orações. Puxa, tudo isso para só isso? Mestres há que não supõem ser possível que sejam os Salmos autênticas orações, autênticas autorias, modelos de oração portanto, consequentemente, negam que possam ser feitas, ouvidas ou respondidas.
Na suposição de que Deus fala, que fala pela Bíblia, que fale pelos Salmos, que possamos ouvir, responder, ouvir, agora, sim, hoje, mais do que whatsapp, ora bolas, respeite Deus, a resposta que vem de Deus, instantânea, mais do que online. Suposição, simples (ou simplória) de que podemos, sim, dialogar com Deus. Límpido e claro. Ineditismo de Deus: só possível com ele e da parte dEle, por meio dEle, em Cristo Jesus.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Oração II
Falando em oração, quero dizer, a respeito de oração, quero indicar quais eu considero como fundamentais. Na verdade, a gente aprende a orar, desde muito cedo na vida cristã. E, com o mínimo de autocrítica, também aprendemos a identificar quando abusamos, apelamos, não no sentido de se fazer um apelo, mas de apelação, quando a oração revela nossa imaturidade ou um pedido sem cabimento.
Nessa tipologia, considero orações que são as mais definidoras de mudanças em nossa vida ou que estabeleceram referenciais pelos quais a nossa vida cristã ficou definida. Considerei a primeira delas, por razões óbvias, a da conversão e, em segundo lugar, outra que definiu minha postura diante das emoções programadas que, vez por outras, me assaltavam e diante das quais eu me achava exposto, prestes a ceder e passar a depender delas para me sentir espiritualmente bem.
Pois a próxima oração ou, para ser mais exato, a crise que teve uma oração como centro e, atribuo a esse recurso, uma guinada de solução, teve relação com meus rudimentos de vocação, ou seja, com minha suspeita de que deveria ir para o Seminário. Na verdade, numa outra oportunidade, vou contar como, em 1977, começaram esses rudimentos de desconfiança de uma vocação, em meio a uma outra bruta crise, esta uma das grandes.
E em 1978, mais exatamente em janeiro/fevereiro, no Palavra da Vida, em Atibaia, na Estância, numa dessas outras reuniões profundamente emocionais, também não me lembro quem pregou, mas, de novo, houve apelo à conversão e à vocação ministerial, em meio à Equipe, que era convocada e treinada para atender aos hóspedes dos chalés da Estância, houve aquele emocional bem dosado, aquela carga que incluíam lágrimas, abraços, enfim, a descarga emocional típica daquelas reuniões de ágape.
Eu não me lembro de todos os detalhes, mas me recordo de uma retirada estratégica, era já noite, provavelmente em torno das 21 h, talvez meia hora mais, me achei deslocado para uma das saídas do auditório, não sei se ainda ocupa o mesmo ponto, lá se vão mais de 35 anos, para uma parte elevada, de onde, ao longe, avistava-se o prédio do Instituto Palavra da Vida, nem sei se olhei naquela direção, mas minha memória me mostra o céu daquela noite e o pedido a Deus, com toda a força que a idade e o tamanho de fé permitiam, que não me deixasse errar sobre essa ideia de vocação, que nenhuma reunião que mexesse com o emocional me contaminasse, para que, equivocado, me intrometesse num Seminário qualquer a fim de me fazer, quem sabe, um pastor. Ou mais, ainda, que nunca me tornasse um missionário pensando em ir não-sei-pra-onde, por pura ilusão.
Naquelas férias eu estava estressado com um curso de engenharia recém iniciado no Rio, pensando na possibilidade de estudar num Seminário, poderia ser o Palavra da Vida, mas chegava à conclusão que o tipo internato e qualquer reclusão desse tipo não combinaria com a minha personalidade. Não digo que acertei na escolha ou na recusa, o que digo é que escolhi e afirmo que uma oração, ou um conjunto delas, todas nesse mesmo viés, ajudaram-me a escolher.
Em que sentido a orações nos ajudam? Em que sentido nós ajudamos às orações? No sentido de influenciarmos ou ditarmos seus modelos e sofrermos os resultados ou, até em que sentido Deus responde adaptando Sua vontade à nossa ou permitindo que a gente caminhe, de certa forma, coerente com o que se avizinha ser a nossa escolha? Ministério em tempo integral, era a oferta para quem desejasse fazer um Seminário Interno, do tipo Palavra da Vida ou do tipo antigo IBPG, que era o Seminário Congregacional em Pedra de Guaratiba.
Não escolhi nenhum dos dois internatos. Também eu nutria uma brutal dúvida a respeito de minha coerência e certeza de que o desejo de ingressar no Seminário não se constituísse numa fuga, mesmo porque eu não ia bem no curso de engenharia. Havia uma soma de evidências que me indicavam ter sido formado, talhado pelas mãos de Deus para o ministério. Mas, àquela altura, eu não admitia que esses traços fossem claros e suficientes para confirmar coisa alguma.
Então, eu acho que, nessa fase, em meio a esse conflito, uma oração ou um conjunto próximo delas, todas numa mesma combinação de sentidos, naquela noite logo após aquele culto, pedi com toda a força, tentando ser ao máximo sincero com Deus, que não me deixasse errar nessa história de vocação. Orações fundantes. Responsáveis pelos rumos que vamos tomar em nossas vidas. Foi uma delas, a daquela noite, numa tentativa extrema de que Deus acolhesse e desse, a ela, o tratamento que só Ele pode dar, retificando e ratificando.
Fase intermediária
A fase intermediária
Falar de memória, acabou por ativar minhas reminiscências. São, mesmo, a leitura que faço de minha experiência de vida. E assim vamos, fazendo leituras, até não mais poder, por velhice, caduquice ou, definitivamente, morte.
A fase intermediária foi a adolescência que, no meu caso, divido em duas partes: a primeira, que talvez seja mais propriamente a pré-adolescência, foi uma fase de inocência, que eu diria, até, de uma espiritualidade nascente. A segunda, foi mais áspera, nem tão inocente assim, que eu digo que foi dos embates contra o pecado e, mais propriamente, a descoberta dele.
Digo isso porque noções mais infantis sobre pecado, no meu caso, filho único de pastor batista e mãe congregacional, essa noção de desobediência, não falar mentiras, não falar palavrão, enfim, pecados light, digamos assim, mas que não deixam de ser fundamentais na construção do caráter desde essa tenra idade.
A segunda fase da adolescência torna-se mais hard, dura mesmo, pela entrada da malícia que, hoje em dia, até pode chegar mais cedo, o que, infelizmente ocorre, principalmente quando se trata de crianças desassistidas ou largadas mesmo que, nesse tempo de internet e acesso fácil pela telinha dos celulares, ela, a malícia, chega mais rápido e fácil.
Pois nessa pré-adolescência, minhas orações giraram em torno de duas experiências que tive, ambas ligadas à vida de crente, a primeira delas lá no Acampamento Ebenézer em Pedra de Guaratiba, num dos cultos noturnos, exatamente a última noite do acampamento, aquela da programada noite especial, em que esse culto é antecipado por causa do chamado banquete.
Nessa noite, jantar mais tarde, culto antecipado, cria-se um clima, pela própria inversão da programação, assim como é aquele dia em que, desde o entardecer, os meninos, vejam bem, aqui, geração dos anos 60, convidam meninas como par oposto, uma coisa fantástica, e estamos, no meu caso, lá em 1970 ou 71, eu com 14 anos.
Tendo cuidado, porque me perco, quando começo com reminiscências, como o assunto é oração, naquele culto houve um momento de emoção pura, por causa do apelo de consagração, memória falha a minha, não me lembro quem pregou, mas me lembro que o apelo feito levou todos à frente. aquele mundo de (pré)adolescentes, aceitando a Cristo, alguns, consagrando suas vidas, outros, abraços, confraternizações, lágrimas.
Então, saídos dali, fomos em direção ao refeitório, o mesmo, ainda hoje, desde a década de 40, super decorado, escorregamos pelo declive, a partir da capela, ainda lá e a mesma desde essa época, como uma reformazinha aqui, outra ali, tudo era alegria. Jantamos, e coisa e tal, ficamos até mais tarde acordados, era praxe (sim, eu, de tão tímido que sempre fui, nem me lembro se tive companhia no Jantar...).
Despedida no dia seguinte e eu, mais tarde, refletindo cada etapa dessa noite, desconfiava mesmo daquele momento lá na Capela, até onde as lágrimas, a oração, o atendimento ao tal apelo de consagração, tudo junto, a idade, a fé que, no meu caso, estava ativa, mesmo numa cabeça ainda imatura, tudo isso me levou a orar, avaliando que tipo de experiência foi aquela, qual seria o seu prazo de validade e o que, na verdade, representava.
Essa oração caracterizou-se por refletir essa dúvida, em meio à honestidade de sentimentos que eu desejava ter em relação ao momento vivido. Posteriormente, aconselhei-me com dona Rute Jardim, porque ela esteve presente lá na Capela, onde eu já havia conversado com ela, no ápice da emoção. Por ser ela membro de minha igreja, a Congregacional de Cascadura, trabalho originado de um grupo saído de Piedade em 1958, que passou a ser congregação da Fluminense, e o pastor Amaury Jardim, na época presbítero, juntamente com o avô de minha esposa, Jeconias Celestino dos Santos, juntamente com Manoel de Carvalho, esses três acharam o templo onde, a partir de 1960 e pelos 40 anos seguintes a igreja se hospedou.
Minha conversa com dona Rute Jardim, em Cascadura, balizou as ideias que comecei a nutrir por esses rasgos de emoção e pinceladas de espiritualidade. No meu caso, muito particularmente, comecei a desconfiar de mim mesmo, com relação a várias outras que, porventura, viessem pela frente. Que foram poucas, somente de mais uma eu me recordo, associada à vocação, da qual eu já começava a desconfiar e dela querer fugir. Desta falarei depois (ou seja, vocação, outra oração, e da própria experiência-pura-emoção II).
Pois considero a oração dessa fase, ligada a essa experiência do Culto da Noite do Banquete, uma vacina com relação a tudo o que, daí para a frente, em minha vida, corria o risco de representar alienação espiritual, evidentemente, correndo eu todos os riscos de ser interpretado como alguém espiritualmente frio ou, como posteriormente fui classificado, "tradicional". Sim, corri esse risco, e ainda corro, de ser acusado de ter reduzido Deus a uma personalíssima e individualíssima compreensão, mergulhado (eu) na mais pura frigidez espiritual.
Posso dizer que, nessa fase intermediária, a oração que a representa, é essa de uma tentativa de interpretar espiritualidade, de defini-la como uma experiência regida por minha (personalíssima) racionalidade. Desconfiando de que um traço qualquer de emoção, não que eu a rejeitasse, mas sempre desejando compreendê-la, sem que um traço qualquer dela pudesse me confundir ou, até, subverter. Fase intermediária, assim a defino aqui. 14 anos de idade, anos 70, e com essas preocupações.
domingo, 1 de março de 2015
Orações.
Creio que a experiência dos crentes (sempre, aqui, me referindo aos verdadeiros, autenticados pelo selo do Espírito Santo, veja lá em Efésios) com a oração é semelhante à nossa experiência com a respiração. Quanto tempo você aguenta ficar sem respirar? Quanto tempo você aguenta ficar sem orar?
Oração é a experiência fundadora da vida cristã, porque, antes mesmo de crer, a gente orou, pela primeira vez, exatamente para isso, para começar a crer. Daí para a frente, quando descobrimos que Deus nos ouve, mesmo porque, antes desta primeira oração, a fundadora de nossa fé, a gente havia aprendido que Deus fala, então começamos a respirar, ou seja, nunca mais deixamos de orar.
Oração é a respiração da fé, ou, se desejar, a respiração da vida. Vida com Deus, é claro, vida em Deus, vida em Jesus, mesmo porque há quem viva, morto vivo, como diz Paulo em sua carta a Timóteo (não me lembro em qual das duas, pesquise lá), vive mas é morto, porque não vive em Deus, não tem comunhão com Deus.
Mas orações há mais intensas do que outras. Sim creio mesmo que há intensidade de oração, dependendo da emergência em questão. A primeira, mesmo, oração que fizemos, foi emergencial para caramba, mesmo porque foi a da salvação. Antes dessa fundadora, estávamos perdidos e nem sabíamos disso. Foi quando, convencidos pelo Espírito que, segundo diz João (no Evangelho que escreveu) que o Espírito é o único que pode convencer do pecado, da justiça (de Deus) e do juízo (dEle também) nos rendemos a essa salvação, graça na qual estamos firmes, diz Paulo aos Romanos, ali pelo início do capítulo 5 (quebrei teu galho, agora, poupando uma busca mais acurada, mas não se acostuma não, vá ler a Bíblia).
Pois na insônia desta madrugada, eu comecei a pensar nas orações que fiz que foram vitais para mim. A primeira, essa fundadora, não me lembro direito quando fiz, só me lembro de atender a um apelo, em abril de 1963, Igreja Evangélica Congregacional de Nilópolis, Ivan Espíndola de Ávila, declarando ao povo que estava por lá que desejava ser crente, aceitar Jesus, como costumamos nos expressar. Lembro, também, de perguntar a Dorcas, minha mãe, se dava mesmo para sustentar aquela decisão, porque o pastor me deu, para assinar, um cartão-diploma de convertido, onde estava 'sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida'. Como, na minha mentalidade de menino, eu achava que morte, naquela época, era coisa meio remota, medrei que pudesse, até esse dia, desistir da coisa, ou seja, de ser crente. Minha mãe e depois meu pai reforçaram, dizendo que não me preocupasse com isso.
Mas outras orações, com referencial nessa primeira, vieram, quando suspeitei, em algumas ocasiões e circunstâncias, que não era crente, coisa nenhuma. Mas foram surtos que uma oraçãozinha ou outra logo supriram, é claro, a Bíblia sempre como cúmplice dessas orações. Ah, sim, já ia faltando dizer, a Bíblia é o Livro de Oração, quero dizer, é o manual de oração. Eu também me lembro, já que o surto, aqui, é de reminiscências, quando resolvi ler todas as orações que eu poderia encontrar na Bíblia. Comecei por Abraão, interpretando como oração aquela conversa com o Altíssimo em que ele desejava poupar Ló se ser subvertido junto com Sodoma e Gomorra. E por aí fui.
A de Moisés, quando entendi que aquele diálogo lá do início do Êxodo era uma oração, a oração da vocação de Moisés. Aliás, essa história de vocação, quando suspeitei de que Deus me queria pastor, orei muito, mas era para saber se era mesmo real a vocação, caso contrário, eu não desejava para mim. Foi uma fase de muita e desesperadas orações, para efeito de confirmação ou não. Hoje, está confirmado, sou mesmo (para alguns) pastor. Mas pulei etapas porque, antes desta fase de orações para confirmar vocação, houve uma outra, intermediária. Vou falar dela a seguir.
Poeta haikai
Paulo Leminsk mediador
Bashô professor
Quero trazer à memória o que pode me dar esperança
Frustrações. A primeira impressão que esta frase pode transmitir é essa. Pois é isso mesmo. Foi proferida por um profeta, Jeremias, e queria dizer, à época em que foi dita, exatamente isso mesmo: frustração. O profeta, num certo sentido, tem ou experimenta frustrações.
No caso de Jeremias, quando começou a perceber que suas pregações e seu ministério não evitariam a maior catástrofe que seu povo haveria de enfrentar, que era o Êxodo ao inverso. O êxodo do Egito foi a experiência fundadora de Israel, o povo de Jeremias. Agora, no tempo do profeta, ocorreria o inverso.
Israel, ou o que restava dele, porque Jeremias mesmo lê Oseias e sabe que Israel do Norte já não mais existe. A idolatria o destruiu. Mas o Israel do Sul, assim denominado Judá, segue o mesmo caminho da irmã do Norte. Jeremias afirma que nunca viu nada igual, qual seja, povos que eram mais fiéis a seus ídolos, posto que não eram deuses, enquanto que Israel não era fiel ao seu Deus.
A irmã do Sul se prostituía da mesma forma que a irmã do Norte. Essa imagem das duas prostitutas é recorrente: Ezequiel, outro profeta de exílio, este em Babilônia, Jeremias em Jerusalém, Deus cerca pelos dois lados para deixar o recado de verdade, em meio a tantos profetas profissionais. Mudou pouco, tantos são os profetas profissionais hoje em dia, não é mesmo?
Profeta é um mediador. Deus somente fala por meio de homens/mulheres a quem denomina profetas. E a memória do profeta lhe permite registrar visões, as visões que Deus lhe concede. Profeta é aquele mediador das visões que Deus lhe concede.
O que angustia o profeta, e é esse o tema das chamadas Confissões de Jeremias, é a distância entre as visões de Deus e a realidade que ele, profeta, enxerga. O profeta deseja uma aproximação entre a realidade e as visões que recebe de Deus. E ainda tem de lidar com suas próprias limitações. O profeta é homem/mulher, com todas as suas imperfeições.
É por isso que existe uma fase na vida do profeta, aliás, sem falsa modéstia ou hipocrisia rasgada, em que, pelo menos os verdadeiros, desejam fugir. Quando enxergam a dimensão do que significa ser profeta, por razões que até podem variar, de profeta a profeta, desejam vazar, como diz a gíria, simplesmente, fugir.
Só para citar alguns, Moisés, não queria assumir seu ministério. Jonas, não queria sentir amor pelos assírios. Elias, que enfrentou quase 1.000 homens, entre falsos profetas e sacerdotes de Baal, tremeu diante de uma única rainha, escondeu-se numa caverna e pediu a morte. Isso é uma fuga total, semelhante à de Jonas. Isaías, como Paulo, achava que era o mais pecador entre os homens e o próprio Jeremias dizia que não passava de uma criança.
Quase dá para ouvir o tom de reprimenda do Altíssimo com Jeremias, parecendo pirraça de menino mesmo, e o tom de reprimenda de Pai: "Não digas 'não passo de uma criança'". Na'ar, era a palavra que Jeremias usava, não propriamente uma criança, em termos de faixa etária real, mas uma criança fora de tempo, era mesmo uma desculpa para não assumir a tarefa de profeta.
Memória do profeta é aquilo que Deus o fez enxergar e que, definitivamente o compromete com a sua vocação, com o chamado de Deus: não dá para fugir, anymore. E, depois do Pentecoste, segundo, muito sábia e propriamente Pedro ressaltou, citando Joel, depois do derramamento do Espírito, profecia, visões e sonhos é para todos. Como está lá escrito, jovens, velhos, velhas, meninos, meninas, isso mesmo, Jeremias, nem por ser ou por considerar-se criança vai deixar de, autenticamente, da parte de Deus, ser profeta.
Memória do profeta é a distância ou a tentativa de aproximação entre a visão com que Deus supre e autentica sua vocação e a mesma e própria realidade. Ainda resta a visão que Deus tem da realidade, a visão que o profeta tem da realidade e a visão que o povo tem da realidade. Aproximar as duas (ou três) visões e, ainda, lutar contra as suas limitações, misturadas às do próprio povo, essa é a tarefa do profeta.
Paulo Leminsk mediador
Bashô professor
Quero trazer à memória o que pode me dar esperança
Frustrações. A primeira impressão que esta frase pode transmitir é essa. Pois é isso mesmo. Foi proferida por um profeta, Jeremias, e queria dizer, à época em que foi dita, exatamente isso mesmo: frustração. O profeta, num certo sentido, tem ou experimenta frustrações.
No caso de Jeremias, quando começou a perceber que suas pregações e seu ministério não evitariam a maior catástrofe que seu povo haveria de enfrentar, que era o Êxodo ao inverso. O êxodo do Egito foi a experiência fundadora de Israel, o povo de Jeremias. Agora, no tempo do profeta, ocorreria o inverso.
Israel, ou o que restava dele, porque Jeremias mesmo lê Oseias e sabe que Israel do Norte já não mais existe. A idolatria o destruiu. Mas o Israel do Sul, assim denominado Judá, segue o mesmo caminho da irmã do Norte. Jeremias afirma que nunca viu nada igual, qual seja, povos que eram mais fiéis a seus ídolos, posto que não eram deuses, enquanto que Israel não era fiel ao seu Deus.
A irmã do Sul se prostituía da mesma forma que a irmã do Norte. Essa imagem das duas prostitutas é recorrente: Ezequiel, outro profeta de exílio, este em Babilônia, Jeremias em Jerusalém, Deus cerca pelos dois lados para deixar o recado de verdade, em meio a tantos profetas profissionais. Mudou pouco, tantos são os profetas profissionais hoje em dia, não é mesmo?
Profeta é um mediador. Deus somente fala por meio de homens/mulheres a quem denomina profetas. E a memória do profeta lhe permite registrar visões, as visões que Deus lhe concede. Profeta é aquele mediador das visões que Deus lhe concede.
O que angustia o profeta, e é esse o tema das chamadas Confissões de Jeremias, é a distância entre as visões de Deus e a realidade que ele, profeta, enxerga. O profeta deseja uma aproximação entre a realidade e as visões que recebe de Deus. E ainda tem de lidar com suas próprias limitações. O profeta é homem/mulher, com todas as suas imperfeições.
É por isso que existe uma fase na vida do profeta, aliás, sem falsa modéstia ou hipocrisia rasgada, em que, pelo menos os verdadeiros, desejam fugir. Quando enxergam a dimensão do que significa ser profeta, por razões que até podem variar, de profeta a profeta, desejam vazar, como diz a gíria, simplesmente, fugir.
Só para citar alguns, Moisés, não queria assumir seu ministério. Jonas, não queria sentir amor pelos assírios. Elias, que enfrentou quase 1.000 homens, entre falsos profetas e sacerdotes de Baal, tremeu diante de uma única rainha, escondeu-se numa caverna e pediu a morte. Isso é uma fuga total, semelhante à de Jonas. Isaías, como Paulo, achava que era o mais pecador entre os homens e o próprio Jeremias dizia que não passava de uma criança.
Quase dá para ouvir o tom de reprimenda do Altíssimo com Jeremias, parecendo pirraça de menino mesmo, e o tom de reprimenda de Pai: "Não digas 'não passo de uma criança'". Na'ar, era a palavra que Jeremias usava, não propriamente uma criança, em termos de faixa etária real, mas uma criança fora de tempo, era mesmo uma desculpa para não assumir a tarefa de profeta.
Memória do profeta é aquilo que Deus o fez enxergar e que, definitivamente o compromete com a sua vocação, com o chamado de Deus: não dá para fugir, anymore. E, depois do Pentecoste, segundo, muito sábia e propriamente Pedro ressaltou, citando Joel, depois do derramamento do Espírito, profecia, visões e sonhos é para todos. Como está lá escrito, jovens, velhos, velhas, meninos, meninas, isso mesmo, Jeremias, nem por ser ou por considerar-se criança vai deixar de, autenticamente, da parte de Deus, ser profeta.
Memória do profeta é a distância ou a tentativa de aproximação entre a visão com que Deus supre e autentica sua vocação e a mesma e própria realidade. Ainda resta a visão que Deus tem da realidade, a visão que o profeta tem da realidade e a visão que o povo tem da realidade. Aproximar as duas (ou três) visões e, ainda, lutar contra as suas limitações, misturadas às do próprio povo, essa é a tarefa do profeta.
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