"Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio". Salmos 32:4
O Salmo 32 define com detalhes a radicalidade do pecado e os estragos que produz em seu portador. O problema é que todos somos portadores desse mal.
Vale a pena ler o Salmo inteiro, porque cada versículo expressa, em termos democráticos, sem isentar nenhum vivente, esse tour de experiência existencial.
As palavras "bem-aventurado", "confessei-te o meu pecado", "todo homem (ou mulher) piedoso(a) te fará súplicas", "alegrai-vos no Senhor" indicam o alento que, didaticamente, o salmista deseja nos transmitir, quando especifica, nessa experiência comum a nós todos, o jogo aberto com Deus na expressão dessas mazelas.
É claro que também não poupa os pormenores mais sórdidos, nem deixa de fazer veemente advertência, caso sejamos tentados, para usar este termo, a menosprezar a principal lição que nos deseja transmitir com o seu poema.
"Calar os pecados", "mão que pesa dia e noite", "não seja como o cavalo ou a mula", "muito sofrimento terá de curtir o ímpio", esta parte é tão real quanto a anterior, porém é para ser evitada e esta é a razão por que o salmista compartilha conosco sua lição.
Sequidão de estio. Ele tira da vida prática, caracterizada pela estação da seca, a metáfora pela qual exprime a condição interior daquele que não encara de frente, dia a dia, a triste realidade do pecado em sua própria vida.
Uma parte do Brasil, mais propriamente o sertão nordestino, típica na caracterização da seca, reserva a saga e a epopeia do povo que sempre enfrentou com coragem a sequidão de estio, espalhando por todo o país sua história de superação.
O Acre foi colonizado por nordestinos cearenses retirantes de uma das maiores secas, a de 1877, e as igrejas congregacionais que existem aqui em Rio Branco, Manaus e Boa Vista, respectivamente capitais do Acre, Amazonas e Roraima, são resultado da empreitada missionária do retirante nordestino baiano Antonio Limeira Neto.
São frutos da sequidão de estio com Deus. Quem lê o livro de Números e confere, aliás, já desde o Êxodo, as "estações da rebeldia" nos conflitos do povo de Israel com Deus, no deserto, quase duvida de Oseias, que disse que a experiência no deserto foi o namoro de Deus com o povo escolhido.
Oseias afirma que ali Deus lhes falou ao coração. Sequidão de estio com Deus é ouvir a voz dEle ao coração. Habacuque 3,17-19 diz que:
"Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente. Ao mestre de canto. Para instrumentos de cordas.
Sequidão de estio com Deus significa experimentar o Seu amor e esperar os frutos. Oseias finaliza sua argumentação dizendo que Deus havia amarrado Efraim com cordas de amor. Embora a predição fosse de diáspora, no exílio na Assíria, e a história cumpriu o seu curso, com Deus prevalecem as cordas de amor.
"Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Não voltarão para a terra do Egito, mas o assírio será seu rei, porque recusam converter-se". Faltou a Efraim o jogo aberto com Deus. Porque sequidão de estio é oportunidade para arrependimento. É oportunidade de conversão.
Sequidão de estio corresponde a estações de nossa experiência com Deus. Mas são advertência para nos voltarmos para Ele, no jogo aberto da confissão e arrependimento do pecado. Não nos calemos, como adverte o salmista. Façamos a oração em destaque no hino: