Julius Wellhausen (1844-1918), alemão, é o padrinho da famosa "hipótese documentária" de formação redacional do Pentateuco.
Sugestiva ideia de procurar conhecer a partir de que fontes e por qual maneira tiveram sua origem e foram sobrepostos os documentos e textos originais que dão forma final aos primeiros cinco livros da Bíblia.
Pode-se reparar, mesmo na versão portuguesa, duas formas distintas de começar a história da criação, com nomes diferentes para Deus, assim como repetições de narrativas na história dos Patriarcas. A presença do que se chama "leitmotiv", motivo condutor, que são expressões que reaparecem ao longo do texto do Antigo Testamento.
Esses dados revelam respeito a fontes distintas de informação, no caso das repetições e nomes diferentes, assim como trabalho redacional, no caso desses "refrões" que aparecem repetidos.
A partir dessas constatações, variadas formas de críticas científicas passaram a surgir, com vistas a estudar, metodicamente, o processo de formação desses livros: crítica das formas, crítica da tradição, crítica da redação etc.
Wellhausen propõe quatro documentos principais que estariam no ponto de partida da formação do Pentateuco: J, E, P e D. O primeiro, conta a história da criação nominando Deus como Javé, a partir do tetragrama hebraico Yaweh, por isso denominado "javista".
O segundo, traduzido "Senhor Deus" na versão portuguesa, denomina Deus pelo hebraico Elohim, daí ser identificado como "eloísta". O terceiro, a partir da palavra inglesa "priest", sacerdote, recebe a letra P e o nome "sacerdotal".
O quarto recebe D como indicador e é conhecido como "deuteronomista", responsável tanto pela formação predominante do Deuteronômio, assim como na continuidade do AT, através da narrativa histórica, como "história deuteronomista".
A tradicional atribuição da autoria por Moisés de todo o Pentateuco, nessa perspectiva, ganha uma revisão. Que partes remontam a ele? Quantos e quem são os demais autores? Que escolas de redatores participaram e de que modo nessa tradição?
Várias teorias são construídas, autores sobre autores opinam a respeito, predominantemente alemães. E a metodologia dessa modalidade de autoria, qual seja, tradição(ões) mais antiga(s) seguidas por fragmentos e redações posteriores, também entra na explicação da composição dos livros proféticos.
Assim como aos demais livros do AT. É necessário, porém, cautela em aceitar muitas dessas teorias, porque são hipóteses de composição. Pesquisa em meio a obras da disciplina Introdução ao AT, de variados autores, torna-se necessária para, ao final, obter-se uma visão equilibrada de todo o processo.
Porque a hipótese documentária vem passando, nesses mais de 100 anos, por diversas revisões. Mais aceita, em determinada época, menos aceita em outras. Haverá, permanentemente, dados de origem indefinida e afirmações sobre as quais nunca se poderão fechar, peremptoriamente, questões.
Sobretudo, duas conclusões mais objetivas podem ser anotadas: (1) essa teoria contribui para estabelecer parâmetros dessa tão notável história de composição da Bíblia; (2) o elemento primordial do texto, que trata da revelação e diálogo com o homem, por parte de Deus, permanece o grande desafio de aceitação/rejeição de toda a Bíblia.
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