sexta-feira, 28 de junho de 2019

"É, meu amigo, só resta uma certeza:
É preciso acabar com essa tristeza,
É preciso inventar um novo o amor".

       Amor se reinventa a cada hora. Se não, não é amor. Consegue ser, ao mesmo tempo, o mesmo, para ser autêntico e, novo, totalmente. 
       Tantas outras coisas preenche. O uso de "coisas" aqui nunca foi tão precípuo. Porque amor se estabelece em meio a uma teia de conexões. 
       Por si, deve ter legitimidade. Confunde-se liberdade de amar com permissividade. Amor liberta, sim, mas exige lealdade de intenções. 
       Se se pensa em transigir, há limites para isso. Clandestinidade no amor, somente se for por caprichos de amor. Porque o amor tudo pode, ao mesmo tempo que não pode.
       Porque jamais trai. Traição não e nunca será amar. Por isso não se sabe como foi dado aos homens (e mulheres) tão nobre e incapaz sentimento. 
      Se houve quem tenha dito Deus é amor, resolveu reunir ou fundir num só duas coisas absolutamente impossíveis: "Deus", de um lado, "amor", de outro. 
      Se Deus não existe, amor então é mentira. Aí, sim, clandestino, traidor e transigente. Alguém dirá, portanto e, para tanto: é possível amor? Sim? Por quê, quem e para quê.
       Não se precisa de Deus para amar. O homem, por si, consegue ser absoluto no amor, sem Deus. Amor é invenção do homem. Deus também. Alguém diria.
      Está tão fácil para o homem (e mulheres também) dizer qualquer coisa. Relativizaram-se, definitivamente. Nunca vida e morte estiveram tão juntas.
      Daí dizer que é preciso inventar de novo o amor. Mas invenção, no sentido diverso ou no sentido absoluto? 
      Amor é invencionisse ou estabelece, por si, um padrão ao qual, necessária e obrigatoriamente precisa-se se ajustar? 
     É um, aplicado a tudo, metamorfoseado a cada situação, mas sempre se mantendo amor, sem violações. Isso ê uma pergunta ou afirmação?
     Amor ao outro. Amor à natureza. Amor a outrem, ainda que seja inimigo. Amor a que preço? Amor é sempre grátis. Amor a Deus, de Deus ou sem Deus. Pergunta ou afirmação?
      Igual, independentemente de quem: quem ama e quem é amado. Amor está além do homem. Não dá para inventar o amor. Ou dá para inventar o amor. Banal ou autêntico?
      É necessário reinventar o amor. A toda hora. Só existe amor. Não há variações ou tipos ou categorias. Ele é ou não é. 
      Quem diz que ama aqui, mas não ama acolá, mente. Pode até não querer. Mas o compromisso com amar, não tem variação ou mudança.
       E se Deus existe e é amor, o selo de legitimidade é dEle. Não existe qualquer amor. Não existe qualquer tipo de amar. Não confunda. Não banalize.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Artigos soltos 47

Me dê motivo

     Tim Maia cantava sua música com esse início. Que me fez refletir numa distinção fundamental entre amor e ódio. Este, é gratuito. Já o amor, carece de motivo. 

     É a melhor maneira de entender por que amar até o inimigo. Diante dessa impossibilidade, ao nível humano, uma vez que a Bíblia os inclui no grupo, do mesmo modo, alvo do "um único mandamento vos dou", só se pedirmos a Deus um motivo. 
     
       Éramos considerados inimigos de Deus, antes de que derramasse por nós o seu amor. Então,  Deus procurou motivo por nos amar. E para tanto, como diz Isaías, fez enfermar o Filho, conquistando salvação para todos os seus inimigos, isto é, todos.

 Indistintamente, Deus ama. Incondicionalmente, Deus ama. Em Si mesmo, Deus busca motivo de amar. Porque somente em Deus, no sentido de origem e autenticidade, existe amor.

      Para amar, imprescindível buscar em Deus motivo por que amar. Em Deus, o motivo por que amar. Por isso, é necessário amar como Deus ama. Porque assim como Deus é único, só existe um tipo de amor e uma única maneira de amar.

    Paulo Apóstolo ensina que o amor excede todo o entendimento. Porque em Deus reside a lógica do amor. Por isso não há como entender, no alcance da lógica humana.

     E também diz que amar é ser tomado de toda a plenitude de Deus. Toda a vez e sempre, pedir a Deus, como no refrão de Tim Maia, me dê motivo. 

     Em Deus reside todo o motivo por que amar. Enquanto o ódio é gratuito e nutri-lo é violentar o amor, porque não tem nem lógica nem motivo, para amar há todos e quaisquer motivos. 

     Só Deus concede motivos por que amar.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Artigos soltos 46

Sempre começo.

       Pode ser lido /ê/ ou com /é/. Se for o primeiro /e/, algo que se repete, para todos, indiscriminadamente. Se for o segundo, é opção individual.
      Quero dizer aqui que, com Deus, é sempre começo. Com Ele, ninguém pode dizer que amadureceu, a ponto de não ter mais o que começar.
      Pode até dizer, do que aprendeu, que deixou de ser mimado, pirracento, enfim, menino. Menino no entendimento, como diz Paulo Apóstolo.
     Mas não é disso que estou falando. Estou falando que, com Deus, ninguém pode deixar de dizer que está, apenas, no começo.
     Vamos pelo básico. Aliás, básico, vital e único: o amor. Traço distintivo da personalidade do Altíssimo, ao ponto de João Apóstolo dizer "Deus é amor".
     Paulo indica o Espírito Santo como fundamental nessa história de aprendizado com Deus. Porque o Espírito, como terceira via, em nada representa, para Ele, terceiro lugar.
      O Espírito bisbilhota a intimidade do Altíssimo que, para o Espírito, não tem como resguardar-se. E Paulo também indica que Cristo habita em nós na presença do Espírito Santo.
      Por exemplo, quando ele diz aos Filipenses, que "tende em vós o mesmo sentimento que há em Cristo". Que diversidade! Amplo.
      Só pela presença e ação do Espírito. E aos Efésios, quando diz "conhecer o amor, que excede todo o entendimento", aqui Paulo se contradiz.
       E quando diz "para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus", aqui Paulo delira. Só pode ser delírio.
      Porque se não for, isso é sempre começo. Isso começa, mas nunca termina. Ascende, sim, mas nunca é suficiente. Certo está Jesus.
     Que disse que devemos ser como crianças. Sempre é novidade, sempre é divertido, sempre é curioso. Sempre é começo. Por isso que Jesus disse que nos temos de tornar crianças.
     Quando eu puder dizer que, com Deus, sempre começo, lendo com /é/, vou estar no nível que se requer. No ponto de partida. Terei aprendido ser como criança.
       Samuel sempre começou com Deus. Aliás, os pais com ele começaram: "devolvo ao Senhor o menino", disse Ana. Uma mulher que faz uma oração dessas, aliás, uma mulher de oração como essa só pode gerar e educar um filho como Samuel.
       Eva era outra mulher que orava. A cada filho que nascia. Se houve não convertidos, certamente não foi por sua causa. E quando nasce Enos, de quem a Bíblia diz que a partir dele "começou-se a invocar o nome do Senhor" (com exceção de Eva, que sempre invocou), certamente foi ela que ensinou oração ao neto.
       Lameque, pai de Noé também agradeceu a Deus o nascimento do filho, mas cheio de compromisso com a educação do menino. Não nasceu pronto mas, com certeza, haveria de ser preparado por seus pais para o contexto tão adverso de vida já antevisto pelo pai.
      Começos. Com Deus sempre se recomeça. Jeremias quando foi enviado por Deus à casa do oleiro, foi para entender como Deus sempre recomeça. Tudo se faz novo com Deus.
      Esse é o poder renovador do evangelho. Paulo Apóstolo, a Tito, menciona o "lavar regenerador e renovador do Espírito Santo". Imagino a vida pregressa da mulher samaritana, à beira do poço de Jacó.
     Totalmente outra após o encontro com Jesus. As "coisas velhas passaram, tudo de fez novo" em sua vida. O evangelho é novo começo. Jesus advertiu Nicodemos: é "novo nascimento".
      E prevalece a renovação do Espírito, que faz tudo segundo o propósito de Deus. Aos Coríntios, Paulo diz que olhos nunca viram o que, pelo Espírito, o Pai revela aos seus escolhidos. E aos Efésios ensina que é  alicerçados no amor de Deus e fortalecidos com o Espírito, no homem interior, que Cristo habita em nós.
       As coisas velhas já passaram. Eis que tudo se fez novo. Com Deus, é sempre começo.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Poesia e profecia.

      A ideia é refletir sobre se uma existe sem a outra. Eu acho que a própria rudeza da vida caminha na direção de extinguir a poesia.

       Seus temas são todos. Poesia nada despreza.  Profecia também. Noite é tema de poesia. Sereno. Lua. Minguante ou cheia. Lamento também é tema de poesia.

        Vida, enfim, é tema de poesia. De profecia também.  Mormente. Morte também é tema das duas. Talvez profecia seja mais taxativa. 

        Provavelmente, a neutralidade que pode existir em poesia, absolutamente exista em profecia. Por exemplo, poesia canta e decanta (avisa meu corretor de smartphone que também encanta).

       Profecia, numa hora dessas, impõe limites. E poderá fazê-lo em verso, advertindo. Mas com isso, não desabona a poesia. É que profecia é fatalista.

      Há coisas que são contra a vida e contra a própria poesia. E esta, talvez, não se avizinhe disto. Avalie que não é de seu mister. Preserve sua neutralidade. 

      Profecia não é neutra. Desculpem, mas profecia não se conforma com a morte. Ainda que esta seja cantada em prosa e verso, a profecia não se conforma com a morte.

       Para ela, morte é doença. Mesmo a morte quando alívio como, por exemplo, quando se quer a morte do mau. Mau, para quem? Se quem quer a morte do mau, é mau, pode ser que os dois sejam.

      A profecia não se conforma com isso. Para ela, a morte e o mal têm estreita relação. De causa e efeito, se você quiser assim. A profecia não é neutra.

      Se e quando matarem a poesia, a profecia a fará ressurgir. Porque não existe vida sem poesia. E, para a profecia, a vida é eterna.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Relatório da Assessoria de Ensino Religioso

Atividades mais recentes da Assessoria do Ensino Religioso da SEE/AC em parceria com o IEFP:

1. Dias 17, 18 e 19 será realizada Formação com Coordenadores e Chefes de Núcleo sobre detalhes de operacionalização da Base Nacional Comum Curricular - BNCC;
2. Todas as áreas serão abordadas nessa Formação, assim como alcançados os anos iniciais, 1o ao 5o, como anos finais, 6o ao 9o do Ensino Fundamental;
3. Ao Ensino Religioso caberá esclarecer a esses Coordenadores e Chefes de Núcleos como se deu a comparação entre a Base Nacional Comum Curricular e a Proposta de Currículo de Ensino Religioso, de 2002, que resultou no Referencial Curricular Único de Ensino Religioso;
4. Esse mesmo processo foi realizado com todas as demais disciplinas. Cabe ressaltar que nesta versão definitiva da BNCC o Ensino Religioso consta como Área do Conhecimento, com sua equivalente disciplina (de mesmo nome) Ensino Religioso;
5. Há um grupo de Whattsapp, bem como um blog para proporcionar contato permanente com os professores, para que dúvidas mais urgentes sejam resolvidas;
6. As provas do 2o bimestre foram já encaminhadas às escolas. A Secretaria de Educação distribui provas no recém-implantado sistema de rede, incluídas as provas do 6o ao 9o ano das escolas da rede pública estadual;
7. Para o 6o ano, o programa do Ensino Religioso do 2o bimestre destaca a ética; o do 7o, o transcendente no texto e nas tradições orais das variadas religiões; o 8o destaca a espiritualidade, o mistério da vida nos textos sagrados e a relação entre religião e política; e o 9o ano, culturas e povos pré-colombianos, espiritualidade e traços atuais dessas culturas, assim como a distinção entre religiosidade e fanatismo;
8. Sobre o planejamento para o Seminário de Ensino Religioso na data provável de final de julho/início de agosto, em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, foram mantidos dois contatos com os chefes imediatos, assim como comentado, por mensagem, com o Exmo Sr Secretário, o nome do Prof Sergio Junqueira, ativo assessor para o Ensino Religioso em vários estados do país, como possível conferencista. Aguardamos contato para possíveis confirmações, bem como o andamento desse planejamento.

      Link do blog de Ensino Religioso:
https://ensinoreliac.blogspot.com/2019/05/sugestoes-de-abordagem-6o-ano-2o.html?m=1

        Cid Mauro Araujo de Oliveira.

sábado, 8 de junho de 2019

Se os nossos carros falassem 4

Mais ou menos assim

        E por ali mesmo, mais exatamente em Inhoaíba, encontrei novo dono para o Gol verde-musgo metálico. Crente, pedi que consultasse seu mecânico. Ele abriu mão, confessando que não passara despercebido a ele a simulação de lanternagem. O preço era justo.
    O pastor de Bangu,  Manoel Bernardino, conhecia um amigo de plena certeza de carro bem acertado, conservado, cinza metálico, Gol 1984. Dupla carburação, apelidado "batedeira", de performance melhor do que o anterior. 
      Intuitivamente, ao comprar o Gol (quase) Prata, eu deduzi que poderia servir como passaporte à compra de um imóvel, caso o casamento se avizinhasse, muito embora achasse remota essa possibilidade. Foi intuitivo mas, pasmem, cumpriu-se.
     Esse gol, que representou evolução em relação ao anterior, foi adquirido, ora vejam só, exatamente no intervalo entre uma fase e outra do namoro com Regina. Por isso o argumento que, ainda que estivesse solteiro de novo, sem saber ser interregno do que se tornou definitivo, cumprida a profecia do carro pelo ap, era mesmo esse Gol Prata 1984 o passaporte para a vida a dois. 
      Com ele fiz de Pedra de Guaratiba a PUC/RJ, tempo das aulas no Seminário acolá, mais o mestrado aqui. Quando o almoço demorava lá, comprava uma bisnaga na última padaria do circuito, antes de entrar na Rio-Santos, e a comia a seco, até chegar à PUC. Aliás,  dava para comer duas e lá, na faculdade, tomar um café ou suco, até o horário do lanche da tarde.
      Num desses estirões dessa viagem, descendo a Serra da Grota Funda, aliás, por cima de onde, hoje, há um túnel, sei lá por que intuição, entre um naco e outro de pão seco, parei no acostamento para examinar a água. E eis que estava quase seca no reservatório do radiador. Que susto! Por ali havia uma dessas lojinhas de plantas, foi onde arranjei de encher uma garrafa qualquer e regulei o nível da refrigeração do bólido prata. 
      Com ele também, pura distração, na descida do Viaduto dos Marinheiros, vindo desta vez da aulas no Seminário Externato, peguei pela traseira um cara que fez uma manobra infeliz, ainda bolado em cachaça. 
      Pois é. Mas quem bate atrás, é que leva a culpa. Eu que fiquei pau da vida comigo mesmo. Tanto que cada um assumiu seu prejuízo. Pude chegar a casa. Não detonou o radiador, somente amassou a tampa do motor e as caixas de ar laterais, que eu havia acabado de lanternar. 
      O destino foi que eu deixei na oficina de um conhecido que, por sua vez, estava avexado com a esposa, que não lembro se era parto, mas era coisa de hospital, demorou, mas consertou, deu até para, nesse meio tempo, reatar namoro, transformar em noivado e prometer vender o carro para uma pastora, colega de mestrado, e seu esposo na época, também pastor. 
       Para adiante descobrir que, naquela passagem na oficina do conhecido ocupado com a esposa, havia uma malandragem parecida com aquela do Engenho Novo, triste sina, trocar motor. Isso porque uma vez vendido e dada a entrada no ap onde fui residir com a esposa, em janeiro de 1993, a colega veio dizer que o motor do Gol Prata 1984 era um a álcool, convertido a gasolina.
      Era época dessas trocas, aquela história do Proálcool e foi esse tapa na cara. Como provar que não era trambiques nosso? O esposo da colega falou que seu mecânico confirmara. Cara no chão. Falamos em destrocar, àquela altura, mexeria na entrada dada à Imobiliária. Mas, fazer o quê, como se diz. Não concordaram. 
      Falamos em devolver uma parte do dinheiro. Eu acho que isso eles até concordaram. Pagaram uma cota menor do que deviam. Foi chato, mas foi assim que o Gol Prata se foi, para dar lugar ao próximo da lista, veja só, um Escort marrom metálico, vendido por um amigo de meu sogro. E logo, logo vão entender por que era amigo, específica e somente do sogro.

Se os nossos carros falassem 3

Mais ou menos assim

       Interregno. Porque não lembro por que caminhos, adquirimos um Gol 1980, verde metálico, carburação simples. Foi decisão do estado maior da família, Cid e Dorcas, mas nem sei por que argumentos. Presente ao filho, bem entendido. 
       Seropédica ainda era referência, embora Cid, meu pai, tenha deixado aquele pastorado em 1978. Porque eu havia comprado pneus novos e ia subindo a Estrada do Caçador, rota para o já mencionado sítio do Ari Flores.
    Cid e Dorcas souberam da venda de uma quadra de 100 X 100 metros, o suficiente para a paixão de Dorcas por plantas e área rural (plantar, colher, receber as crianças da Igreja nos Retiros, providenciar refeições etc) e o revisitar do Cid a uma amostra da roça onde nascera. Eu ia em direção a essa meia jeira de terra.
     E, muito gozado, digo em função do que iria ocorrer, dirigia reflexivamemte, ainda era novo de carteira, vícios mais do que virtudes que ainda não haviam aflorado. Caprichos da física, pneus novos, direção reflexiva, eu avaliava cada manobra, repetindo-as para mim mesmo, para ficar na experiência.  Foi quando. 
     Numa curva a poucos metros da entrada da chácara, acelerei nessa curva, pneus novos, cheiíssimos, acelerei na saída dela e a física não me perdoou. O carro fez um giro sobre si mesmo. Para lado e outro sambou no chão de areia.
     Não sei quantos já estiveram dentro de um carro que derrapa. Nada adianta. O menos ainda é tentar, pelo volante, fazê-lo retornar ao tino. Havia uma cerca de arame farpado, à direita,  escorada sobre um parapeito natural de terra, de seus 50 cm, que seguia o curso da Estrada do Caçador naquele trecho.
      Para além dele,  era uma queda de seus, pelo menos, 2 m, numa fazendola bem cuidada lá embaixo. Dentro do Gol 1980 verde musgo metálico, entregue ao gingado regido pela inércia sem atrito com o solo, pensei, vou capotar quatro rodas para cima, meu Deus, como vai ser isso?
      Foi então que o pneu novíssimo dianteiro, regendo todo o giro, deu nesse parapeito natural, fazendo o carro, desta vez, girar num eixo vertical: tombou e ficou apoiado sobre o lado do carona, meia capotagem.
         Indeciso, ele fez que tombaria e, em sua hesitação, ainda fiz como que batendo no banco ao meu lado, para fazê-lo voltar aos eixos. Providência divina ou ainda que fosse científica, ou ambas, aprumou: caiu solavancando e acalmando o motorista.
      Tudo muito súbito. Esses casos assim não chegam a minuto. Refeito e atravessado na pista, logo surgiu alguém.  Ajudou-me a aprumar rente à cerca e parapeito, este o salvador da situação, escora que, ao mesmo tempo, deteve o rumo para o precipício light, deteve o movimento uniformemente embriagado e ainda fê-lo capotar e descapotar, como um chucro agora domado.
      Agradeci a intervenção e ajuda, ainda admirado de que, no ermo daquela vizinhança, alguém tivesse testemunhado toda a reviravolta. Lembrei das ex-ovelhas de meu pai da Batista do km 49, em Seropédica, filhos do mecânico Alício, com oficina colada ao templo. 
      O mais velho, José Paulo, foi socorrer. Avaliou e, da caminhoneta da oficina, sacou um afastador, uma espécie de macaco hidráulico que apoiou na extremidade Boa do eixo de rodas traseiras do Gol 1980, que era inteiriço, e devolveu a roda direita, mais ou menos, à posição de rodagem. 
       Fui guiando atrás da caminhoneta da oficina, meio cambeta, os 3,5 km até o Belvedere, na Dutra, para pegar, pelo km 54, a antiga Rio-São Paulo, até o km 49 para a oficina colada à igreja. Foi lá que o Zé Paulo esclareceu que, de mecânica, saúde de motor, o carro estava legal.
       Mas de lataria, ele educou minha vista a reconhecer plastic, imitação de descontinuidade de lataria, limite que aguarda a ferrugem subir, para só então revelar toda a farsa de lanternagem que haviam feito e o ex-dono encobrira de mim no ato da venda. Daí que veio a decisão de passar à frente o Gol 1980 verde-musgo metálico.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Se nossos carros falassem 2

Mais ou menos assim 2

      O primeiro Fusca a gente nunca esquece.  Assim como não esquece o primeiro trauma com o segundo Fusca e seus desdobramentos. 
     Talvez por que a história desse segundo fosse tão intensa, alvo de profecia, quem sabe, o Fusca azul céu RV 2644, ano 74 foi marca de evolução financeira, na família, ainda maior.
      Foi-se aquele mais humilde, de carroceria mais formal, para um turbinado, adquirido por Cid lá para os lados de Niterói, concessionária indicada por palpite de algum colega. 
      Seminovíssimo, a cor ajudava, o trato o deixava com excelência de aparência e ainda tinha, acessório pra frente na época, uma invocada antena em toda a extensão do carro, do parachoque traseiro, onde se encaixava, ao fronteiro, com uma trava para sua extremidade. 
      Estreei numa ida com Dorcas à igreja em Cascadura e não passei do Engenho de Dentro, nem dirigi ao menos 2 km, se chegou a 1. Ainda novel na direção, distraí-me demorando o olhar no retrovisor externo (nessa época só havia o esquerdo) e bati roda com roda atrás de um cara parado à direita, num ponto de ônibus.
      Traumatizante. Bater com o Fusca seminovo, o mais recente símbolo de status da família,  no dia da primeira saída. Tornou-se assunto de oração, para mim, direção de automóvel. Achei que minha distração inviabilizaria,  definitivamente, qualquer tentativa futura. 
      Levei o Fusca, no ímpeto de logo desfazer o feito, ao outro Engenho (Novo), oficina de um pastor amigo, Nelson Neri de Oliveira, meu pai guardava os nomes completos. Não sei por que achei que era mecânico de confiança. 
      Associei a amizade do pastor com a suposta índole do profissional e deixei lá o carro. Mês depois,  sei lá, fui buscar e comecei estranhando a antena. Desdobramentos. Comentei e o cara, evidentemente, desconversou. 
      Ano seguinte, 1980, estagiando em Niterói, Largo do Barradas, ao levar irmãos da igreja a uma das entradas de um dos típicos elevados beira-mar, notei ruído estranho no motor. Ainda que fosse uma topeira cega em termos de mecânica, deduzi.
     Desdobramentos. O cara daquela oficina havia trocado o motor. A reclamação na concessionária sobre o motor que não durou inteiro ano e meio que fosse deu em nada. Falar com o Nelson Neri de Oliveira deu em nada. Argumentar com o mecânico suspeito ainda menos. 
     Engolimos o sapo e acionamos o Benvindo, cujo nome era literal com sua especialidade: mecânica e lanternagem em geral, ex- de uma das grandes, acho que era a WV mesmo, tinha oficina ali para os lados do Lins, próximo à Aquidabã. 
       Galpão limpíssimo, organização primorosa, preço salgadíssimo, mas garantia de serviço bem feito, jamais tegiversado. Seria o mago de muitas outras circunstâncias de consertos com /s/ mesmo. Não lembro quem o indicou,  mas salvou-nos com o Fusca azul céu 1974.
     Começava a história heroica desse bólido, talvez merecesse esse trágico início de perda-recuperação de sua identidade, em vista da múltipla missão da qual seria investido anos afora, até o fatídico 1996, quando seu dono original se despediu de sua jornada terrena. 
       Sobreviveu vendido a um seu sobrinho neto. Uma notícia ou outra dele obtivemos. Mas o fim, com certeza insofismável, somente se inquirirmos com mais exatidão. Por hora, vamos contar suas aventuras .

Se nossos carros falassem

Mais ou menos assim

    Nem sei se há foto daquele Fusca 1970. Mas foi o primeiro que Cid, meu pai, adquiriu. Já estava velho (meu pai), pelo menos, para apreender a dirigir.
     Outro capítulo à parte, mas foi ajudado pelo círculo de amigos, principalmente o Cardoso, o ourives das jóias que Dorcas vendia, foi ensinar Cid a dirigir. Morava (o ourives) em Água Santa. 
      Como um assunto puxa outro, Dorcas, minha mãe, chamada dona Maninha, com sotaque, pelo portuga (só podia ser) ourives, vendia roupas e jóias para ajudar nas mensalidades do Ap do Méier. 
      E foi numa folga dessas que Cid, por fim, quer dizer, todo o (diminuto) clã, ele, Maninha e eu, discutimos adquirir um veículo o que, para nós, era sinal de prosperidade (e necessidade) também. 
      Deveria ser pelas calendas de 1974, meus 17 anos, coincidindo com o início de pastorado dele em Seropédica, na época Distrito de Itaguaí, km 49 da antiga Rio-São Paulo, como era identificado aquele recanto. 
      Por essa época também, por meio e influência de tia Nice, a Eunice filha, irmã de Dorcas, frequentávamos o sítio do Ari Flores, esposo de Ivete que, por sua vez, com a irmã dela, Célia, eram amigas dessa minha tia desde os tempos da mocidade da Congregacional de Nilópolis. 
       Tem a ver sítio com igreja batista do km 49, porque ficavam próximos, um destino ligado ao outro, aproximados pelo Fusca cor vinho, placa FA 3900, eu acho.
      Minha memória não é lá esse prodígio e os documentos velhos podem se ter perdido, nesses acessos de minha esposa, que andou jogando no mato, como se diz aqui, alguns arquivos meus.
      Era muito, deveras gozado, meu pai aprendendo a dirigir ajudado pelo Cardoso: "Sinhori Cid" dizia, com o sotaque lusitano e mais seu riso debochado. Ao chegar a casa, na verdade ao Ap da Magalhães Couto, narrava os apertos. 
     Os dois riam juntos, Cardoso fechando os olhos, com seus cacoetes de revirar narizes e bocas, e meu pai de balançar a cabeça ao lado no ritmo da meia gargalhada. 
      Cid tinha um relógio de bolso, pensa, quando queria consultar a hora e, para isso, largava de mão (não literalmente) o volante, mas era óbvio que tinha de baixar a cabeça exatamente para tirar o relógio de bolso Omega do "bolso do relógio". 
      "Sinhori Cid", era a voz do Cardoso, advertência com /s/ e /d/ lusitanos. "Que é, Cardoso?", perguntava o aprendiz, como a dizer que não era nada de mais. 
      Ou quando meu pai, para passar a marcha, olhava para baixo, é claro, para localizar a barra das marchas, enquanto a não esquerda, não mais compensada pelo peso da mão companheira do outro lado, então quedava-se, teimosa, a guiar o carro à esquerda: "Sinhori Cid ", falava Portugal. 
      Cheguei a dirigir esse velho primeiro carro. Como no dia em que, domingo de sol, numa curva logo e pouco à frente da entrada, o chamado Retão, para Itaguaí eu, com 19 anos, pedi para levar os derradeiros 2 a 3 km até o 49. Foi quando. 
      Logo à frente um carro da Rodoviária Federal nos parou, eu tinha 19 anos, sem carteira, não adiantou apelar, levaram-nos, pela Reta, à Delegacia de Itaguaí, retornaram à rodovia, disseram, muito $$$ movimento, chamaram o Escrivão, que veio irritadíssimo de seu churrasco de domingo, perguntou pelos Federais, o plantonista falou que voltaram à rodovia, ele disse que, sem eles ali, não lavraria ocorrência, Dorcas foi, com Glaucia, para a Congregacional, lá para adiante ela volta com um político que a viúva do pr Gerson Costa conhecia, o camarada argumentou com o delega,  "puxa, o garoto com 19 anos, com o pai,  indo para a igreja", e o delega "sim, mas se eu libero e eles vêm,  como que eu fico: passamos um rádio para eles".
        Para encurtar, o delegado nos liberou, após toda a manhã perdida e, ao sair da cidade preferida de Machado de Assis,  Cid dirigindo,  é  claro,  cruzamos com os Federais da azulado-amarelada viatura. Ainda achei que ia ouvir uma sirene ligada atrás da gente. Mas sou alarmista mesmo. 
      Que sufoco. E ainda fiz um voto com Deus de nunca mais pegar no carro sem carteira. Acho que cumpri, metade, porque cheguei a treinar, mas não na estrada, e sim no campo de cima lá no sítio do Ari. Acho que não vai dar enquadramento no juízo final. Menos um pecado a inventariar.

segunda-feira, 3 de junho de 2019


Escrito em 1964, o livro de memórias Noturno da Lapa fez com que o carioca Luís Martins retornasse ao cenário que o consagrou. Com o lançamento do polêmico Lapa, na segunda metade da década de 1930, o escritor passou a ser chamado de "o cronista da Lapa". Porém, ao contrário de seu sombrio romance de estréia, Noturno da Lapa mostra o lugar de forma quase imaculada. Martins, na época já beirando os 60 anos e fixado na cidade de São Paulo, realizou uma emocionante e sincera jornada através de seu passado e conseguiu transportar para o papel todas as lembranças de sua juventude lapiana. 

No livro, a prostituição e a violência que deram fama ao bairro são absolutamente secundárias. A Lapa das lembranças de Luís Martins é aquela do espírito de grupo, da sociabilidade e da boemia coletiva. É o ponto de encontro de uma juventude "intoxicada de literatura" que, em noites de angustias líricas e exaltações poéticas, compartilhava ansiedades e devaneios na mesa de um bar - fosse o Taberna da Glória, o 49 ou o Túnel da Lapa. Em um dos capítulos, Martins escreve: "Não éramos pederastas. Não éramos playboys. Não éramos jovens transviados. Éramos apenas jovens - e todos mais ou menos poetas..."

Noites de lançamentos

O escritor Ruy Castro, autor da apresentação de Lapa, estará presente nos dois eventos, 
falando sobre Luis Martins e sua obra. 

Rio de Janeiro                                                

Dia 22 de novembro de 2004, às 20h             
Livraria Al-Farabi                                            
Rua do Rosário 30, Centro                              
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Apresentação do grupo Anjos da Lua,             
com Eduardo Galloti 

domingo, 2 de junho de 2019

Sermões em Gálatas - 3

Abraão: Promessa; Fé; Obediência; Graça; Bênção; Salvação.
Moisés: Lei; Obras; Desobediência; Pecado; Maldição; Perdição.                                                                                                                                                                                       
Complete:
1. Abraão creu - fé - justiça: os da fé são filhos e Abraão e da justiça;
2. Abraão - evangelho - justificação pela fé: nas Escrituras o evangelho está preanunciado em Abraão;
3. Os da fé são abençoados em Abraão, os da lei estão debaixo de maldição;
- "Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei para praticá-las".
4. Pela lei ninguém é justificado diante de Deus: aqueles que observa os seus preceitos, por eles viverá; mas o justo vive pela fé.
- "Cristo nos resgatou da maldição da lei (como?) Fazendo -se ele próprio maldição em nosso lugar".
5. Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios em Jesus Cristo: recebêssemos pela fé o Espírito Santo.

sábado, 1 de junho de 2019

Sermões em Gálatas- 2

IDENTIDADE DA IGREJA

CRUCIFICADO COM CRISTO:
- NÃO SOU MAIS EU QUEM VIVE;
- CRISTO VIVE EM MIM
         - VIVO PELA FÉ  -
CRISTO:
- ME AMOU;
- A SI MESMO SE ENTREGOU POR MIM
          (Rm 5,8)

ESSE VIVER QUE AGORA TENHO NA CARNE
      - é  igreja, desde que:
VIVO PELA FÉ.

1. Estou crucificado com Cristo;
1.a) para além do literal;
1.a.1) crucificação de Cristo: literal;
1.a.2) minha crucificação em Cristo: batismo no Espírito.
1.b) não é retórico, exclusivo de Paulo: qualquer e todo crente precisa ter e ser.
2. Não sou eu quem vive;
2.a) Cristo enxergou pecado/morte em nós: entregou a Si mesmo por nós;
2.a.1) mortos nos delitos e pecados (Ef 2,4), nos deu vida batizados em Cristo (Ef 2,5);
2.a.2) homens/mulheres tentados pelo mal: nem anjo, nem demônio, uma mistura dos dois (entristecemos/apagamos o Espírito?);
2.b) só o batismo em Cristo cura essa esquizofrenia: crucificado em Cristo é ter sido batizado pelo e no Espírito (identidade da Igreja): distinção de batismo já feita por João Batista.
3. Cristo vive em mim;
3.a) também todo crente tem de dizer. Soa falso? Então veja se está na fé (não é ver o outro): 2 Co 13,5 (aqui, sim, ironia como retórica).
3.a.1) o Espírito não só batiza, para pôr no céu, mas há fruto/dom, identidade/carisma: dom sem fruto, não é igreja: é circo ou teatro;
3.a.2) o Espírito forma Cristo em nós (Cl 1,26; Ef 3,16-17): tarefa de Paulo, tarefa dos pastores, quer você avalie que sim ou que não: é problema nosso com Deus;
PROFETA VELHO X PROFETA NOVO
VERDADEIRO X PRESUMIDO (OU FALSO)
- o que torna alguém profeta (desde Lameque, com Noé, e Elcana, com Samuel.
4. Esse viver que agora tenho na carne;
4.a) é igreja? É a legenda de nossa vida. É espetáculo ao mundo. É máscara? É teatral ou carnavalesco?
4.a.1) somos sacerdotes de nossa fé (desde a Reforma, e isso é bíblico): como cada um se mostra, avalia ou se vê?
4.b) metáforas de igreja: 1. Instituição; 2. Lugar de culto; 3. Pessoa. Templo ou árvore? Árvore da vida ou árvore do conhecimento do bem e do mal?
4.b.1) a comunidade do deserto, que é o mundo, transitando de estação a estação: armando e desarmando a tenda.
5. Vivo pela fé;
5.a) é viver sem venda nos olhos (desde o crer no evangelho, 2 Co 4,3-4.5-6; sem que no decorrer ocorra o que diz Ap 3,17-18. Caso ocorra, Cristo restaura a identidade.
5.b) viver pela fé é cavar nas Escrituras e cavar para dentro de si: também discernir o corpo (igreja, a si mesmo, a Cristo). Cavar até achar o fundamento que é Cristo, Cl 2,6-7; Mt 7,24-27.
IGREJA PREGA
               PRATICA
DÁ-SE COMO TESTEMUNHO E PROFETIZA
        É o já e o ainda não de Ef 3,18-19.