Seja você também uma bênção
Aqui ao meu lado está minha querida mãe, Dorcas Lima Araujo de Oliveira, amiga de Clovelina (Lilina) D'Ávila Limeira, que se conhecem há 80 anos. Ela lembra que realizaram juntas, na Igreja Evangélica Congregacional de Nilópolis, em 1933, ambas com 3 anos de idade, foram anjinhos na peça "As dez virgens". Com elas, participaram Tia Zilda, Celeste e Ivone, que eram irmãs, Aceli Cordeiro, Bili (Adelaide, mãe de Jaíra), Maria Cardoso, tia de Lilina, irmã da mãe dela, Alina, entre outras. Era uma quermesse para angariar recursos para colocar o piso da recém-construída Igreja.
Eu me orgulho, sempre no bom sentido, no sentido bíblico, de pertencer a essa geração como filho. E também de ter, como amigos e irmãos, as filhas e o filho do casal Antonio Limeira Neto e sua esposa, Clovelina, que já está com Jesus, juntamente com meu pai, Cid, e tantos outros, na Igreja do Céu, no momento em que escrevo estas linhas.
Um dia, pelos idos de 1990, Limeira esteve lá em casa, morava eu no Méier, RJ, ainda solteiro, e me convidou para ser pastor em Copacabana. Era uma igreja, a única Congregacional plantada num bairro da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Limeira havia começado com a família Spiller, com a Igreja Evangélica Congregacional de São João de Meriti e com a matriarca Eunice Spiller, também já na Igreja do Céu, esta que foi, com mais orgulho ainda, a minha diaconisa enquanto fui pastor ali naquele bairro. Num daqueles dias, cerca de 1 ano após o convite de Limeira, saí com 1 kg de ouro, uma barra em meu bolso, embrulhada numa sacola de supermercado, para comprarmos a kitnet onde nos reuníamos: fui de ônibus de Copacabana ao Centro do Rio para pagar a metade ao proprietário.
Dr. Fernando Campelo, o outro diácono da Igreja, como era conhecido, atualmente membro dessa mesma Igreja do Céu, filho do pastor Campelo, aquele mesmo do Nordeste, evangelista da Igreja Evangélica Pernambucana, que batizou e encaminhou ao ministério Júlio Leitão de Melo, patriarca da família Leitão, segundo nos informa seu neto, de mesmo nome, ajudou-nos, juntamente com o pastor José Remígio Fernandes Braga, a completar os restantes 11 mil dólares, a outra metade equivalente que, juntamente com a barra de ouro, formariam a soma requerida para tal compra. Consumou-se. De Copacabana, só saí, com tristeza, mas certo que que era, da parte de Deus, um chamado, para outro lugar, outros trabalhos missionários abertos por Antonio Limeira Neto.
Em 1983 ele desafiou o casal Nelson e Josilene Rosa a iniciar um trabalho em Porto Velho, capital de Rondônia mas, como não deu certo, o desafio ganhou 540 km adiante, até Rio Branco, no Acre, estrada de terra, terra, não, atoleiro de barro tabatinga, na época, 5 dias para se alcançar (hoje 5h30min, com o asfalto), capital onde estou com minha família desde janeiro de 1995. Fosse Copacabana, fosse Rio Branco no Acre, segui no encalço dos trabalhos que Limeira, o pastor Limeira, grande amigo de meu pai, Cid Gonçalves de Oliveira, resolveu abrir no Norte do Brasil, incluídos os campos missionários de Manaus, AM, e Boa Vista, RR, todos abertos na mesma época. E tem mais: pelo que eu saiba, existe um único Templo sobre rodas que eu conheça, uma igreja móvel montada sobre um caminhão de carroceria conversível, idealização e realização dele. E tem muito mais...
Conheço pouco da vida de Limeira e Clovelina, além dos depoimentos de seu livro "Da seca à fonte - Trajetória de um pastor", da convivência desde a minha pequena infância com suas filhas e filho, da amizade com sua filha Nídia Regina, desde que fomos colegas na turma 1978-1981 do Seminário Teológico Congregacional do Rio de Janeiro. Nídia, Nádia, Núbia e Paulo conhecem muito mais de Limeira e Clovelina. Grande privilégio, meus queridos, grande dádiva. "Imitai o exemplo de homens (e mulheres) como esses, como essas".
Aprendamos a honrar o bom exemplo que as gerações que nos antecederam deixaram e imitemos esse exemplo. Há um hino cantado por Steve Green, que diz, no inglês, "Oh! May all come behind us find us faithful/May the fire of our devotion light their way/May the footprints that we leave lead them to believe/And the lives we live inspire them to obey". Desculpem citar todo o coro e ainda citar no inglês: não é exibição, mas é para que outros traduzam mais fielmente. Mais ou menos assim:
Oh! Tomara que todos que venham depois encontrem em nós fidelidade. Tomara a chama da nossa devoção incendeie o seu caminho. Tomara as pegadas que deixarmos conduza-os a crer e a vida que vivermos os inspire a obedecer. Como eu disse, talvez tenha falado mais sobre Limeira do que sobre Clovelina, minha querida Tia Lilina. Mas, o que foi Limeira sem Lilina? O que são Nídia, Nádia, Núbia e Paulo, e os respectivos genros e a nora e os respectivos netos sem esse casal? Então valeu a pena lembrá-los aqui.
Também, como eu já disse, conheço deles muito menos do que eu deveria conhecer. Mas conheço o suficiente para me encher de alegria e realização por ter visto, conhecido e convivido com essa qualidade de gente que, como Deus recomendou a Abraão "sê tu uma bênção", bastou para eles ser bênção para tantos, por onde passaram. Muito grato a Deus por sua vida, muito grato a vocês, Limeira e Clovelina. Rio Branco, Acre, 30 de maio de 2013.
Cid Mauro e Dorcas Lima Araujo de Oliveira.