quarta-feira, 25 de maio de 2016

Mal traçadas linhas 29


        As não escritas.

       Muitas coisas fez Jesus que não estão escritas neste livro. João Apóstolo anota esta observação ao final do Evangelho que escreveu.

       Bem, confabular, a respeito, é pura digressão. Ora, que demais coisas é possível imaginar Jesus fazendo, que não foram escritas? Porém, sem medo de exagerar é, sim, possível e permitido alinhar algumas.

       Já falei aqui de suas, do Mestre, gargalhadas. Certamente soavam sonoras por ali, à noite e à luz de fogueiras, às margens do Lago de Genesaré. Como, por exemplo, daquela vez em que devem ter recordado, naquele mesmo lago, ter acordado Jesus, que cochilava no barco, ninado pelo jogo das águas.

         Mas eram solavancos que não acordavam o Mestre, embora o mar, como diz o autor sacro, estivesse encapelado. Amedrontados, após seguidas tentativas de evitar que o barco fizesse água, os experientes pescadores pediram arrego e saíram à cata do milagre.

        Um desplante, incomodar o Mestre ali, a roncar sonoro, a ressonar ao jogo da procela, de novo o autor sacro, mas insistiram pois, afinal, com ele tudo se resolvia. Ora, afinal não era Jesus? E o acordaram. Está lá no Evangelho, ele deu uma bronca no vento, outra no mar e a seguinte no grupo: homens de pequena fé.

         Daí se deduzem algumas lições: (1) quem sai à cata de milagre que lhe compense o esforço, é porque falha na fé; (2) se Jesus está tranquilo, fique tranquilo; caso ele se alvoroce, então espere o comando ou fique na sua, como foi com os vendilhões, no Templo; (3) se o Mestre estiver na sesta, cochilando, favor não lhe interromper o sono.

        Sem dúvida ao lembrar uma cena dessas, devem ter rido muito e feito Jesus sorrir e ainda emendar outras lições sobre fé, ansiedade, medo e falta de paz mesmo sabendo-o perto. Oi, Jesus.

       Outras gargalhadas, certamente, ao recordarem-se, foi quando repassaram entre si, no grupo, pelo menos outras duas situações entre tantas outras: aquela presença fantásmica do Mestre andando sobre as águas e outra, ainda com cenário em Genesaré, quando Pedro pagou o mico de quase afundar com tudo, ou melhor, todo nas águas escuras, resgatado que foi pelo próprio Jesus.

        Devem ter relacionado a reação de cada um, lembrando caras e bocas, sustos e constrangimentos. Um rindo do outro, anotados os detalhes, gozadores que eram, atributo este universal a qualquer povo ou cultura.

          E terá Jesus ressuscitado outros, além dos três casos anotados? Muitas outras curas, certamente. Mais do que os cinco sermões anotados em Mateus, segundo os comentaristas, é certo que formulou. Discursos e polêmicas, além dos anotados pelo mesmo João, também sim. Outras variadas e diversas parábolas foram proferidas, para além das já registradas.

       João fala acertado sobre esse rol de coisas não reveladas. Uma montanha de outros documentos, denominados "evangelhos apócrifos" ou "pseudoepígrafos" foram escritos, na sua maioria inventando coisas outras. Atualmente, costumam ser valorizados em polêmicas  irrelevantes sobre falso e verdadeiro a respeito de Jesus.

        O que João fala acertado e ao que se propôs quando reuniu sua seleção de relatos, foi dizer o objetivo: para que creiam e tenhais vida em seu nome, ou seja, vida no nome de Jesus. Para isso, bastam os relatos conhecidos. O restante, pura especulação, que não precisa ser estéril e nem absurda.

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