terça-feira, 10 de maio de 2016

Artigos soltos 4


         Desamparo.

         Na cruz, quando Jesus se dirigiu ao Pai dizendo "por que me desamparaste", uma das falas registadas no original aramaico, experimentava o contrário da suprema providência. Era o extremo desamparo.

        Situações do dia a dia, aliás, um dos supremos argumentos de quem não acredita em Deus é esse, ora, por que Deus desampara, usualmente é utilizado para total expressividade da não existência de Deus.

       Argumenta-se, um Deus justo e bom não largaria ao desamparo. Pois bem, extremo desamparo experimentou Jesus, suprema decepção, talvez procurasse em Deus via alternativa, aquele desamparo total: não, por favor, suplico outra via.

       Ora, se Deus assim desampara seu Filho, único Filho, o que esperar com relação aos demais? O que Deus pretendia com isso? Alguma relação com o abandono. Deus largou seu filho Jesus ao abandono.

       Então, deve também ter largado ao abandono toda a humanidade, todo o restante de homens/mulheres. Agora se, por acaso, foi abandono aparente ou se, nesse abandono de Jesus a sua própria sorte houve uma espécie de paradigma da condição humana, então há resgate.

         E se Deus resgata seu Filho, nEle resgata a todos. Porque o homem relegou-se ao desamparo. Ele não tem regra ou senso de justiça. Não pode cobrar de Deus que o ampare em sua desdita ou desgraça pessoal, porque ele mesmo se colocou nessa posição.

        Só havia um meio e foi desse que Deus se utilizou. Como que relegou seu Filho ao desamparo, vivenciado por todos os homens, mas resgatou-o dessa condição, por um gesto, porque em Jesus não houve pecado. Ele sempre foi modelo e matriz de comunhão com Deus.

       Então temos um modelo de homem que busca a Deus, vivendo em justiça diante dEle. Experimenta em si injustiça, porque denunciava a incoerência humana a todo momento. Foi, então, arrancado por juízo opressor, como dissera Isaías, profeta. Experimentou, então, duplo desamparo: traição dos homens, abandono da parte de Deus.

        Nunca use o argumento de que desamparo é prova de que Deus não existe. Desamparo é a opção de vida da humanidade. Jesus experimentou esse modelo, não que o praticasse em relação a Deus, mas os homens que o condenaram praticaram em relação a ele, prova de que o praticavam em relação a Deus.

          Mas Deus, que fez recair sobre Cristo essa sina, no final o resgata da morte, clímax da condição humana e, visto que o Filho jamais praticara o abandono, nem em relação à vontade do Pai e nem em relação à atenção para com as mazelas do homem, então, em Jesus, Deus resgata todo o que crê.

        Não mais viva desamparo porque, em Cristo, Deus te resgata.
       

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário