terça-feira, 24 de maio de 2016

Mal traçadas linhas 28


       Mas estes foram escritos.

      Este é João. Conclui seu Evangelho chamando a atenção, ao mesmo tempo, para as coisas que Jesus disse e fez, as que ele, como apóstolo, registrou, e aquelas absolutamente não registradas.

      Poderíamos, aqui, refletir sobre essas não registradas. Numa outra oportunidade. Agora desejo refletir sobre essas registradas. Experiências anotadas, enfáticas ao Mestre, certamente, como tudo o que fez, mas notáveis também a João, que as selecionou.

      A Bíblia é um compêndio de experiências dessa natureza. Selecionadas para registro, dizem respeito e têm seu significado na origem, a quem as selecionou e para quem são direcionadas.

       Interessante perguntar, então, qual a relevância delas e se, no trânsito da origem à finalidade conservam ou perderam seu efeito. Isso porque é possível floreá-las, divagar sobre elas e até poetizá-las, de modo a que soem refinadamente belas ao ouvido, porém inócuas.

       O problema delas começa na origem. Não discuto aqui não é nem sua credibilidade ou historicidade, lógica ou possibilidade científica, pois até milagres ocorrem, mas origem no sentido de ser ponto de contato Deus-homem, pretexto e temática de todas essas experiências.

       Segundo tópico, é como foram anotadas. Aqui desenha-se um rol de ciências do texto que, enfileiradas, produziram já toda uma biblioteca de títulos e que já completam um século de existência. São as diversas críticas da forma, da redação, da transmissão oral dos relatos, crítica histórica, enfim.

      E o terceiro ponto somos nós, os receptores. Que trato dar aos relatos? Vencidas todas as resistências e todo o empate (e embate) relacionado à produção e vivência do relato, o que dizer, ao final, do modo como será recebido pelos destinatários últimos?

       Floreados, enfeitados poeticamente ou refinados em oratória, na produção final e transmissão dos relatos bíblicos, que resultado e propósito, enfim, terão, considerada a finalidade para que foram produzidos e tradicionados?

      João mesmo responde: para que creiam. Relatos e experiêncIas bíblicas foram produzidos e escritos para conduzir à fé, discorrer sobre sua natureza e sondar sobre todas as suas possiblidades. Tonar possível conhecer o ponto de origem, onde se torna possível e real o contato Deus-homem e suas consequências.

       Nada de diletante. Não há, somente, prazer ou deleite retórico em ouvir sobre eles ou, de um modo elaborado ou refinado, discorrer sobre eles. Têm uma finalidade precípua, que é tonar possível contato, consequente comunhão e caminhar conjunto Deus-homem.

      O que têm a dizer sobre Deus? O que têm a dizer sobre mim e Deus? O que têm a dIzer sobre minha comunhão com Deus? O que têm a dIzer sobre as consequências dessa relação? Origem, transmissão e recepção desses textos, para uma precípua finalidade, como diz João: para que creiam e tenhais vida em Seu nome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário