segunda-feira, 23 de maio de 2016

Artigos soltos 6


         A congregação no deserto

         Há pessoas que não entendem o valor do Antigo Testamento. Há dois erros básicos, dois extremos: acepção literal de todo o texto, ou desprezo exagerado do todo ou partes.

        Por exemplo, aspectos da lei cerimonial da religião judaica daqueles tempos idos, não têm hoje prevalência, como sacrifícios de animais. Já aspectos da lei moral, como o Decálogo, têm valor universal e permanente.

        No sentido amplo, essa parte mais antiga da Bíblia expõe os traços do caráter se Deus, nos traços dos diversos textos e histórias descritas. Outro traço distintivo, são os aspectos culturais específicos da época, não aplicáveis na época atual como, por exemplo, os relacionados à posição da mulher.

         A leitura do Antigo Testamento sempre será proveitosa, dependendo do ponto de partida para a abordagem do todo. Uma vez acertada a visada, é possível ajustar ao contexto e retirar lições apropriadas, inclusive, para o dia de hoje.

         Exemplo disso é encarar a congregação do deserto, como assim a denomina o profeta Amós, como figura correlata com a congregação do Novo Testamento, nele denominada igreja.

        Do mesmo modo que à igreja, o autor de Hebreus também indica que àquela congregação foram anunciadas as boas novas, palavra que a muitos não aproveitou, não acompanhada por fé naqueles que a ouviram.

          Como caracteriza Pedro Apóstolo em sua carta com relação à igreja, o autor de Êxodo 19 também aponta, no Pacto do Sinai, a indicação que, na aliança feita com Deus, o povo Lhe seria nação santa,  como paradigma de conduta diante dEle aos povos, e reino de sacerdotes, como mediadores de bênçãos às nações.

         Ainda em Êxodo 33, em meio à drástica crise no deserto, após o povo, diante da covardia de Arão, ter hipotecado culto ao bezerro de ouro, quando então Moisés intercede, destacando que o distintivo de Israel como nação é caminhar e ter Deus caminhando no meio de povo, característica plena também da igreja.

        "Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?", argumentou Moisés.
         
        É das figuras a mais linda visualizar, na descrição em Números, o acampamento das tendas no deserto no entorno do Tabernáculo ao centro, tenda central, construída segundo o modelo concedido no monte, simbolizando a presença real de Deus no meio do povo, com ele acampado e com ele peregrino.

        Nada mais nítido com relação ao sentido bíblico de ser igreja, do que compreender que é carregar consigo a própria tenda sobre as costas, armá-la e desarmá-la onde for, sem esquecer que o mais determinante é a marca do testemunho e a presença real de Deus no viver.

        Ao longo da história, a igreja que havia começado nos átrios do Templo em Jerusalém, nas pradarias da Galileia, foi hóspede da sinagoga, instalou-se de casa em casa e até à beira do rio em Filipos, antes que procurasse a discutível grandeza de catedrais, deveria primeiro confirmar-se, no crente, como edifício erguido e dedicado à morada de Deus e templo do Espirito.

        Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Habita homems e mulheres, aspirou a esse lugar tornado santo, desde os dias de peregrinação da congregação no deserto, época a que o profeta Oseias chamou de namoro.

        Deus, enamorado pelos homens e mulheres, desejou comunhão em habitar neles, caminhando como peregrino nesse mundo, habitando em tendas, armando e desarmando Sua tenda nessa caminhada e, para isso, fez-Se homem, definitivamente, num batismo permanente de comunhão.

         Não há figura mais linda do que essa, no texto do Antigo Testamento, da Tenda da Congregação, tabernáculo erguido para tipificar a disposição de Deus em residir entre os homens, mais especificamente no homem/mulher.

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