domingo, 1 de maio de 2016

Mal traçadas linhas 22


       Homem de Deus

       Se há ênfase na Bíblia, para além da comunhão de Deus com o homem, será uma teologia do encontro. Se o Livro não tem nenhuma pista de como isso é possível, para nada mais serve, senão periferia.

     Pode ser lida como mapa de acesso ao encontro com Deus. Seus personagens privam desse privilegio, estabelecendo o plano e modo como isso ocorre. Começando por Abel que, certamente pelo lado de sua mãe, Eva, é apontado como padrão, ainda que precocemente assassinado.

      Ora, todo assassinato é precoce. Prova, já comentado aqui, de que a Bíblia é sui generis, porque já começa indicando a natureza da fé do Deus que a propõe como instrumento: (1) fé não é seguro contra assassinatos; (2) homem de Deus não tem pré-seguro de vida.

      Aliás, a designação homem de Deus deve ser aplicada a todos os homens/mulheres com quem Deus encontra. Termo genérico, se for usado como designativo, como geralmente se faz, atiça vaidade de quem usa como indicativo e a quem for atribuído.

       Deus, na Bíblia, apresenta-se como quem anseia o encontro. Síntese da Sua personalidade, acabou por se tornar homem. Não haveria outro jeito para o encontro: somente a encarnação do Verbo, Deus feito homem em Jesus, tornou possível e autêntico o encontro.

       O Livro pode ser lido como indicador de como se dá o encontro ao longo do tempo, na história individual de cada homem/mulher que desfilam em suas páginas, peculiar na vida de cada um. Reservada a cada personalidade contornos próprios, Deus modelando-se às necessidades e limitações de um a um.

       Comentamos Abel, que aprendeu e imitou a mãe em sua espiritualidade. Eva chamava a si a responsabilidade pela queda e o marido explorava isso, eximindo-se da sua culpa e sobrecarregando a companheira. Data daí o vício do homem culpar a mulher por suas, dele próprias frustrações. Mulher de Deus, exemplo de oração, teologia do encontro.

       Noé, profeta, achou a graça de Deus, definida como tudo que o Altíssimo deseja compartilhar, que traz como dádiva e presente ao homem, na total disposição para o encontro: toda a graça derramada individualmente sobre cada um/uma e não repartida nanometricamente por todos em conjunto.

      Abraão, para encerrar por aqui, a cada lugar um altar do encontro. Carregava consigo, dentro, o altar. Ele entendeu a ideia de Deus. Foi chamado amigo de Deus, outro designativo de Deus para todo homem/mulher do encontro, de cada e para cada encontro.

      Cada homem visava no encontro satisfazer sua curiosidade de Deus, despertada neles pelo Próprio. Moisés queria ver a glória de Deus, sem saber que se refletira em sua própria face, outro designativo divino: glória dEle refletida na face de cada um/uma.

      Ezequiel teve uma visão interplanetária, ficção científica, mosaico futurista, em contrapartida à falência total do reino, do templo e da posse da terra, em meio a uma troca do terreno pelo que se anunciava eterno e definitivo, escatológico, apocalíptico.

      Para cada homem/mulher uma parcela de revelação, um descortinar, um flash, e revelação total em Jesus, Homem de Deus, Filho do homem. Em Jesus, todos e todas se fazem, no encontro, homens/mulheres de Deus.





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