quarta-feira, 10 de maio de 2023

Tiatira

 

    A  A igreja em Tiatira, pelo que se reflete, a partir do texto da carta, tinha uma liderança compartilhada. Era um misto complexo de influências. Jesus a ela se apresenta, a partir dos itens de sua descrição, na primeira visão do livro, mencionando o seus olhos como chama de fogo e os pés semelhantes a bronze polido.

  Certamente, os problemas que a igreja apresentava requereriam, do Senhor delas, tal apresentação, devido à necessidade de se sondar, com olhos de quem se revela onisciente, assim como postar-se com a firmeza de pés de bronze, numa postura de Senhor da igreja, pronto a exercer sua autoridade.

   Diferentemente de Éfeso, deficiente na falta de amor, Tiatira, a cidade de Lídia, a vendedora de púrpura que foi, com Paulo, crente fundadora da igreja de Filipos, na Macedônia bíblica, essa igreja, pela avaliação positiva de Jesus, reunia obras, numa progressão notável, amor, fé, exemplo de serviço e perseverança.

   Mas havia, entre os irmãos, uma poderosa influência negativa operante. Às vezes, na igreja, insinua-se uma liderança distorcida, seja por razões de camaradagem, ingerência de sobrenome ou nível social, para lembrar Tiago, que rechaça a influência econômica como valor distintivo, dentro da igreja. Em Tiatira, o apelativo era um simulacro espiritual, uma falsa profetiza que granjeava, entre os irmãos, cartaz para si mesma, de modo egocêntrico.

    Jezabel, mais um título, relativo à rainha fenícia idólatra do Antigo Testamento, esposa do rei Acabe, praticava as mesmas ciladas de Pérgamo, que eram a associação com ela em rituais idólatras e uma dissimulação apelativa à imoralidade sexual. E exercia um fascínio cativante, ao qual denominava "conhecimento das coisas profundas de Satanás". Trata-se de um blefe, visto ser um embuste de doutrina vazia, à qual Jesus rechaça, contrapondo aos seguidores da falsa profetiza a sabedoria dos demais irmãos.

   Essa mulher era uma mestra do engano, e Jesus promete enfrentá-la pessoalmente, uma vez que, diante de oportunidade concedida, não se arrependeu. Uma calamidade promete ocorrer, agora por meio de profecia do próprio Jesus, quando seus cúmplices, junto com ela, seriam prostrados enfermos, experimentando grande tribulação, chegando à morte.

   Sempre há chance de se reverter, no arrependimento, essa promessa do próprio Jesus, mas senão, todas as demais igrejas deverão enxergar, nesse exemplo de tribulação que acomete Tiatira, a seriedade de se ouvir Jesus, andar, diante dele, em santidade, obedecendo a sua liderança incontestável.

   Muito interessante a observação de Jesus, com respeito aos membros da igreja que não compactuavam com a liderança da falsa profetiza. Havia um grupo fiel, que sofria ao constatar os desvios dos partidários da mulher, sobre os quais não haveria uma carga tão dura de exortação. Bastava conservarem sua postura de santidade e aversão aos desmandos dos demais.

     Essa observação dá a entender que o pecado, por si, já representa uma tremenda carga, que Jesus veio retirar. Lembrar o clássico texto de Mt 11,28-30: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

   Jesus deseja aliviar o fardo. A carga do pecado já é, por si mesma, por demais pesada. Ele aguarda, de Tiatira, que se arrependam. Que a tribulação produza fruto, como afirma Paulo, em Rm 5,3-5: "Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu."

    A esperança é que se tenha cumprido, em Tiatira, ou sempre se cumpra, no contexto de qualquer igreja, uma vez alvo desse tipo de exortação, o convite ao arrependimento, feito da parte de Jesus.

   A promessa de Jesus, aos que se conservaram firmes na fé, é de parceria com ele no Reino, quando se cumprir, em sua vinda, o governo sobre as nações. Satanás, o enganador, que na tentação a Cristo supôs ter um reinado entre as nações, assistirá ao reinado da igreja, ao lado de Jesus, seguido do desmantelamento e pulverização da soberba das nações.

    Sempre ao final das cartas, junto com a solene advertência que seja ouvido o apelo do Espírito, há uma promessa de enaltecimento aos servos de Jesus, sua Igreja, comprada por seu sangue. Nesta carta, consta um diferencial pela posse da estrela da manhã, certamente indicativo da glória com que a igreja sempre foi destacada, na posição adquirida perante Jesus:

    "E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito", 2 Co 3,18. E ainda: "a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus será glorificado em vocês, e vocês nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo", 2 Ts 1,12.

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