terça-feira, 9 de maio de 2023

Esmirna - 2

      

    É uma carta breve. Esmirna não tinha espaço para distrações nem com o terrorismo dos judaizantes, porque as preocupações com a sua tribulação era a prioridade de sua agenda. Seriam presos, como outrora Paulo fez com muitos dentre eles, e 10 dias pode ser literal ou, como mais provavelmente ocorre no Apocalipse, uma contagem simbólica.

    Lendo o livro de Atos, observamos ocasiões em que se configuram situações de perseguição à igreja. Paulo recém-convertido foi alvo de hostilidades. Quando chegou a Filipos, colônia romana, onde, por isso, era proibido erguer sinagoga, ele se retirou a um lugar de oração, beira rio, onde iniciou sua atividade de evangelização.

    Nessa cidade foi preso, por uma intriga relacionada a uma mulher, recém-convertida, que não mais se deixou usar como adivinha. Em Éfeso mesmo, houve tumulto, após um discurso de Demétrio, em praça pública, pois a pregação de Paulo tanto sucesso alcançou, que esse artesão e seus companheiros sentiram-se prejudicados no lucro da venda de nichos da deusa Diana.

    Por todo império romano, as religiões populares eram diversas, havia a propaganda do culto ao imperador, a religião oficial, assim como, vez por outra, os próprios judeus hostilizavam os convertidos. Já destacamos aqui, não eram todas as sinagogas que eram hostis às palavras de Paulo. E ele as procurava, numa inteligente estratégia, porque nelas havia um exemplar das Escrituras, que serviam como referência fixa para a sua pregação.

    Em Éfeso, novamente, rota pertencente o circuito dessas igrejas, Paulo havia iniciado na sinagoga. Em At 19,8-9 está anotado por Lucas que o apóstolo ali ficou 3 meses, "falando ousadamente, dissertando e persuadindo sobre o reino de Deus", mas passou a haver propaganda dos próprios patrícios judeus, difamando o Caminho: "alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do caminho diante da multidão".
  
   Essa era a natureza da perseguição contra os cristãos na época do Novo Testamento. Hoje há modalidades mais sutis de intolerância e indiferença, nas democracias ocidentais, hostilidade em graus variados, em teocracias muçulmanas e (in)tolerância dissimulada, em países ditatoriais, principalmente herdeiros da ideologia comunista.

    O maior perigo nos países onde o cristianismo não sofre repressão é quanto a ação do secularismo. A mentalidade pós-moderna exige que a leitura da Bíblia atenda às suas exigências. Por exemplo, quanto ao miraculoso, o argumento é que a ciência não o comprova. Quanto a determinados posicionamentos de costumes ou valores morais, que haja uma flexibilidade de posturas, apenas levado em conta o respeito ao outro.

   A carta lacônica a Esmirna predispõe a igreja para que, de uma vez, previna-se de que sua mensagem, por mais tolerada que seja, uma vez aprofundada, vai enfrentar rejeição. Em diferentes graus, haverá tribulação, sofrimento e até injúria de perseguição e aprisionamento.

   Mas a vitória que Jesus garante nem é livrar da morte física, que foi, como para Jesus, o destino de tantos, inclusive Paulo. Mas não haverá o dano da segunda morte, esta eterna e irredutível. Portanto, junto com a permanente advertência de que seja ouvida a voz do Espírito, vem expressa a legenda da igreja de Esmirna e, por que não dizer, de todas as demais:

    "Sê fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.", Ap 2,10. Mesmo que haja morte no limite, a fidelidade deve perdurar. De modo algum haverá o dano da segunda morte. Sirva de permanente consolo. Essa é a realidade da igreja.

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