terça-feira, 16 de maio de 2023

Filadélfia

  

     Todos nós queremos ser Filadélfia, para ouvir de Jesus o que ele diz nessa breve epístola. As igrejas do circuito da Ásia Menor, essa vitrine do Mediterrâneo, bem caracterizam o que são todas as demais, em todas as épocas. E agregados e impregnado nelas o que somos. E Jesus tem o antídoto.

    A carta de Jesus à igreja de Filadélfia bem tipifica a economia do Mestre. Não há necessidade de falar muito. O que mais vale, tanto é simples alcançar, quanto descrever. Esta a principal característica da palavra de Jesus, vital para todas as igrejas.

   Sem dúvida, Jesus realiza a vontade do Pai com toda a dedicação e prazer. E essa é a mesma missão da igreja. Ambos assumem essa missão, com a cruz no meio do caminho.

   Por isso a descrição em Apocalipse 5,6 não omite ou esconde, mas transparece a marca fundamental de Seu ministério, quando o apresenta como "um Cordeiro, como tendo sido morto".

   Pois ainda que haja uma cruz, para Jesus, e Sua inevitável morte seja o ponto central de toda as Escrituras, a alegria no Senhor é o traço dominante pelo resultado de Sua vitória. E Filadélfia é a igreja que bem o tipifica.

   É patente a satisfação de Jesus com a igreja de Filadélfia, quando a menciona em seu diálogo. Não significa que, com as outras, não tenha a mesma alegria. Mas diante desta, há uma porta aberta que jamais vai se fechar. Ela cumpre totalmente sua missão como igreja.

  Em seu mistério terreno e no seu pastoreio, assim definido por Pedro, quando o nomeia "Pastor e Bispo de nossas almas", 1 Pe 2,25, Jesus sempre o exerce com total dedicação, desvelo e prazer.

   Ainda que o vejamos chorando, ou quando falava duro, como quando repreendeu as cidades incrédulas, ou interpelou escribas, fariseus, saduceus e demais autoridades judaicas, ou ainda nas exortações cirúrgicas a estas igrejas deste circuito, Jesus nunca se tornou amargo ou perdeu a dimensão de sua misericórdia, bondade e amor, idêntico ao do Pai.

    Mas vê-lo apresentar-se à igreja de Filadélfia, como quem escancara, diante dela, por Sua autoridade, uma porta que ninguém nunca fechará, nisso compreendemos o labor daqueles irmãos e nos enchemos de vontade de alegrar Jesus nessa mesma disposição.

    Essa carta curta amplia o conceito de igreja, destacando os costumeiros contrastes das Escrituras. Para Jesus, ter pouca força é a melhor característica e reconhecimento de onde vem a força e o poder de qualquer igreja.

   A verdadeira igreja de Jesus é totalmente dependente de Seu poder. Ele afirmou, justo na sua ascensão, quando os apóstolos estavam preocupados com as definições do reino dos homens, Jesus os adverte que compreendam o que significa "receber poder de Deus, ao descer o Espírito Santo, para ser testemunha de Jesus".

    Assim como Paulo, que define ser o evangelho "o poder de Deus, para a salvação de todo aquele que crer", Rm 1,6. Pois a dependência do poder humano, na igreja, é zero. E o empenho dela é sinalizar o reino de Deus, e não, por atender a interesses dispersivos, ser súdita do reino dos homens.

   Guardar, cumprir e proclamar a palavra de Deus é a principal vocação da igreja. E esta a principal característica da congregação de Filadélfia. Não negaram o nome de Jesus, nem sob perseguição, algo tão frequente nos dias de hoje, sem que haja pressão nenhuma. Vivemos dias de despersonalização da igreja.

    Como em Esmirna, judeus perturbavam a segurança dos irmãos. Jesus menciona o erro fundamental desses judaizantes, em não reconhecer que o amor de Jesus tanto é, da parte dEle, a motivação fundamental de sua vida, quanto aceitar isso representa ser salvo, pela mediação do sacrifico de Jesus na cruz. Ninguém é salvo por DNA, mas pelo nascer de Deus, como explicou Jesus ao fariseu Nicodemos.

   Guardar, cumprir e anunciar a palavra de Jesus, resguarda e confere identidade à igreja, diante do que vai enfrentar, quanto mais próxima estiver a vinda de Jesus Cristo. Prometido está ao vencedor estar, como coluna, próximo a Jesus, como ressalta o autor de Hebreus:

   "Portanto, irmãos, temos intrepidez para entrar no Lugar Santíssimo, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, por meio do véu, isto é, do seu corpo, temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus."

   As colunas do Templo de Jerusalém são trazidas à memória para que sejam entendidas com uma profecia da igreja, para todos quantos serão, sim, coluna, mas não num "templo construído por mãos humanas", mas no verdadeiro, real e eterno santuário de Deus.

    A identidade deles, já concedida por Deus, "que não se envergonha de ser seu Deus", Hb 11,16, será mudada, para definitiva plenitide, pelo próprio Deus, como verdadeiros cidadãos da cidade, segundo a qual, aqui no Apocalipse e em Ezequiel 48,35, está indicado como aquela no meio da qual Deus habita.

   Todas as igrejas precisam de um modelo assim, singelo, mas firme, de identidade assegurada, na dependência total de Jesus, quando ter pouca força indica admitir a fragilidade pessoal, mas acudir-se em Cristo, na sua palavra e no seu poder.

    Para o povo de Deus, sua maior benção é ser reconhecido pelo nome de Deus. Como menciona João, "somos filhos, sem que ainda se tenha manifestado o que havemos de ser". Nossa identidade nos é atribuída pelo nome de Deus.
   

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