sábado, 21 de maio de 2022

Teologia bíblica da vocação - 14

 6.    A restrição ideológica da Grande Comissão: Alguns não estão restringindo a Grande Comissão em termos geográficos, necessariamente, mas estão restringindo-a em termos ideológicos. Há igrejas e movimentos missionários que estão estabelecendo preferências quanto ao tipo de pessoas a serem alcançadas pelo evangelho. Ultimamente tenho consultado vários sites de igrejas, procurando neles a visão missionária de cada uma. Tenho descoberto que a maioria dos sites de igreja nada trazem sobre missões. Outros falam de missões, porém, com apenas alguns projetos restritamente selecionados, bem ao gosto da liderança da igreja. São poucas as igrejas que apresentam, em seu site, um Conselho Missionário e alistam, ali, os missionários adotados pela igreja. Vi apenas um (talvez haja outros) que apresentava seu Conselho Missionário, alistava todos os missionários adotados pela igreja e ainda postava as últimas cartas de notícia de cada missionário. Num determinado site, porém, lendo o link sobre “nossa missão”, percebi que os dois primeiros pontos estavam muito bem colocados. Mas o último dizia: “dando preferência aos que estão em situação de risco’”. Ora, a visão daqueles que estão em situação de risco, neste mundo, não obstante ser necessária, se for exagerada e, especialmente, se for exclusiva, tirará da igreja a visão do “todos” e a igreja deixará as demais pessoas do mundo fora do projeto missionário de Deus. Neste caso, onde ficam as pessoas sadias, as que estão em situação segura neste mundo, as pessoas mais abastadas, pessoas da classe média/alta, pessoas de bem, enfim. Elas também não estão incluídas no projeto missionário de Deus? A Grande Comissão não é para “toda criatura”, conforme (Marcos 16.15)?

Mais um exemplo: Certo pastor, questionado sobre a evangelização dos índios, respondeu a seu inquiridor: – Ah, os indígenas estão bem. Eles têm muita terra pra plantar, tem todo apoio do Governo, das ONGs, etc. Eu prefiro ir atrás dos flagelados, disse… Isso, como se os indígenas não estivessem inseridos no contexto da Grande Comissão – “panta ta ethne” – ‘todas as etnias’. (Mateus 28.19). Ora, um indivíduo, visto que ele não pode ir, pessoalmente, pelo mundo todo e em direção a todas as pessoas, ele tem que fazer opções quanto ao seu ministério. No meu caso, por exemplo, eu optei pelos indígenas, deixando os demais nas mãos de Deus. Mas, uma igreja, como agência, por excelência, do reino de Deus, na terra, não pode fazer opções ou determinar preferências. Sua visão deve ser a visão do mundo todo, de todas as pessoas, de todas as nações.

7.    A teologia da Missão Integral com ênfase exclusiva nos pobres: Ora, que Missão Integral é a missão bíblica, e que é a única que espelha a “Missio Dei”, não há a menor dúvida. Mas o evangelho integral é para todos, não somente para os pobres. Muitos, com a exagerada preferência para os pobres, estão como que criando uma nova Teologia da Libertação. Certa vez eu estava fazendo uma palestra sobre esse assunto para um grupo de alunos de missões indígenas e perguntei se eles achavam que eu estava exagerando. Imediatamente, levantou-se uma veterana missionária aos índios e contou que certa igreja que a adotava por muito tempo, suspendera a adoção porque foi desafiada, depois de um determinado seminário, a transferir a quantia que ela recebia, mensalmente, para a compra de cestas básicas para os pobres…

O enfoque hoje sobre evangelização de pobres, flagelados e aqueles que estão, como dizem, em situação de risco, é grande e quase que exclusiva. Quando se lê, no dia de hoje, periódicos missionários e se ouve de igrejas e entidades que estão fazendo missões, é quase certo que a maioria está fazendo missões entre as classes menos privilegiadas.

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