sábado, 21 de maio de 2022

Teologia bíblica da vocação - 12

 Essa nova tendência missionária, para a qual já existe uma boa quantidade de literatura, ensino, pregação, etc. tem apresentado várias configurações e interpretações bíblicas diferenciadas. Algumas delas eu ouvi pessoalmente e, sobre outras, eu li. Vou mencionar algumas, porém, sem citar as fontes das quais eu li, para não melindrar ninguém. Mas é fácil ver como todas essas novas tendências vêm da falta de um entendimento mais correto da verdadeira teologia bíblica da vocação e chamada:

1.    Chamada missionária específica, não existe: Há os que dizem, hoje, que chamada missionária específica não existe, porque todos os crentes são chamados, porque todos os crentes são missionários. Eles dizem também que trabalho missionário não deve ser feito por uma “minoria” (referindo-se aos missionários de carreira de modo um tanto pejorativo), mas que o trabalho missionário deve ser feito pela igreja como um todo. Afirmam ainda que somente no primeiro século missões foi praticada de modo correto e que depois (referindo-se aos dois mil anos da História de Missões) a prática foi desvirtuada, porque não foi feita pela igreja, mas por agências missionárias, por movimentos missionários e por missionários de carreira, a quem chamam de “intenção de uma minoria”, afirmando, no fim, que esse movimento foi “desastroso”… Li isso numa apostila de Teologia Bíblica de Missões, de um curso que foi dado em Seminário formador de bacharéis em Teologia. A apostila, por sua vez, citava a fonte da informação. Tratava-se de um escritor credenciado e de uma editora de renome.

2.    Vocação missionária não difere de vocação profissional: Alguns afirmam que vocação missionária não difere de qualquer vocação profissional (médico, engenheiro, advogado, etc.) nem mesmo difere da vocação (ou missão) de uma mãe ao dar à luz filhos e educá-los. Ora, se isso fosse verdade, o que teria sido da revelação bíblica se Abraão tivesse optado pela sua antiga profissão de criador de gado e tivesse ficado na Mesopotâmia? E se o mesmo tivesse acontecido com Moisés, Davi, Amós e outros da antiga aliança, culminando com Pedro, André, Tiago e João, nos Evangelhos, e Paulo, em Atos, todos eles preferindo continuar na profissão que exerciam antes? No meu caso, igualmente, que teria sido de boa parte do trabalho Xerente se eu tivesse optado por ficar em São Paulo continuando a exercer a minha antiga profissão de balconista de calçados e de aluno de violão clássico? É claro que todas as profissões são honrosas e qualquer profissional pode servir a Deus em sua profissão e cumprir, assim, a sua vocação de ser uma testemunha de Jesus Cristo. Mas dizer que chamada missionária (ou pastoral ou outras) é a mesma coisa que a escolha de uma profissão, não é nem bíblico nem coerente com a realidade. O difícil para eu entender isso foi que essa interpretação de missões eu li num livro escrito igualmente por um autor credenciado e publicado também por uma editora de renome. Para citar um exemplo concreto, ano passado fui assistir à uma cerimônia de lançamento de um livro. Um livro muito bem escrito, por sinal, sobre o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O escritor é um odontólogo, membro atuante em sua igreja e apaixonado pela pregação do evangelho. Ele costuma fazer estágios em aldeias indígenas, de quando em quando, juntamente com sua esposa que é enfermeira, abençoando os índios com suas profissões. Comprei oito livros dele. Um pra mim e sete para os sete líderes da igreja Xerente da aldeia onde trabalho. Em agosto, do ano passado, eles estiveram lá na aldeia fazendo tratamento dentário, que é uma das grandes necessidades dos Xerente. Quando chegaram à aldeia, já eram conhecidos da liderança da igreja através do livro, o qual todos já tinham lido e gostado. Eles foram calorosamente recebidos pelos índios, que pediram para eles voltarem para continuar o tratamento. Mas eles nem pensam, sequer, em fazer qualquer comparação entre a vocação deles e a nossa. Eis aí duas vocações bem diferentes, em termos de função, mas, diante de Deus, duas vocações exatamente iguais, diria eu, em termos de qualidade.

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