1. Como sua denominação avalia a igreja católica na sua capacidade de dialogar com os membros de outras religiões? Minha denominação, União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, que representam a denominação evangélica mais antiga no Brasil, desde 1855, oficialmente, quer dizer, institucionalmente, não matém diálogo ecumênico ou inter-religioso. Portanto, em relação à iniciativa católica, considera ser específica de sua própria postura que, em nada, afeta ou requer uma opinião dela, como denominação evangélica, sobre esse assunto.
2. Que relacionamento sua denominação mantêm com os membros da igreja católica que convivem ao redor dela? (positivo negativo, indiferente). O relacionamento pode adquirir as três feições: Positiva, visto que os católicos são vistos com respeito e direitos iguais aos dos adeptos dela, de manter e praticar sua própria religião. Negativo, por avaliar os católicos, embora como partidários de uma religião cristã, não a praticam ou não seguem os preceitos bíblicos em relação a várias posturas de suas práticas, seja no âmbito doutrinário, seja no contexto litúrgico; 3. Indiferente, porque entendem que, em relação aos católicos, devem se converter, para as práticas corretas em acordo com as Escrituras, ou manter-se no seu espaço, enquanto os adeptos dela se mantém no seu, respeitando-se mutuamente, mas sem possibilidade de caminhar juntos.
3. Conhece algumas experiências de diálogo e de compromisso da igreja católica com as outras religiões? E com quem não crê? Na minha própria denominação evangélica, por ser de regime congregacional, ou seja, administração autônoma de cada igreja, há casos de pastores que matém diálogo ecumênico e inter-religioso. Quanto a conhecer casos destes tipos de diálogo, privo das experiências do Instituto Ecumênico Fé e Política, no Acre, Brasil, desde a sua fundação, em 2005, das experiências aprendidas no mestrado, na PUC/RJ, 1992-1995, e por formação desde criança porque, mesmo filho de um pastor batista (os batistas começam no Brasil em 1882), fui educado sem que houvesse barreira ou preonceitos em relação às demais religiões.
4. Já presenciou encontro ou cultos de oração e encontros ecumênicos e interreligiosos? Há algumas resistências? Já participei de várias celebrações ecumênicas, aliás uma delas, talvez a primeira ou segunda, na própria PUC/RJ. Também na prática ecumênica e inter-religiosa no Instituto Ecumênico, no Acre, por diversas vezes participamos de várias celebrações e encontros ecumênicos. Creio que a única ressalva diz respeito a tópicos isolados, relacionados às doutrinas ou rituais que, em cada religião, definem sua identidade mas que, nessas celebrações e encontros não devem ser compartilhados, mesmo porque correspondem a visões e práticas específicas de cada religião, sem que seja possível misturar ou fundir num ritual ou numa doutrina mista.
5. Já foram realizados trabalhos sociais entre a igreja católica com membros de diferentes denominações religiosas? Não posso responder pelos católicos, mas observo que há uma estrutura bem articulada por essa Igreja para exercer ação social e diálogo ou ação conjunta com outras religiões. Mas avalio que essas oportunidades de ação conjunta deveriam ser sempre maiores e mais atuantes, em vista das gritantes necessidades sociais e da quantidade efetiva de religiões que, juntas, deveriam prestar esse serviço.
6. Quais as maiores dificuldades ou resistências para realizarmos um caminho juntos? Há vários obstáculos que não permitem uma ação mais efetiva ou um diálogo mais franco entre as religiões: 1. Síndrome da hegemonia: a Igreja Católica, por seu tamanho e capilaridade, é sempre vista como quem deseja se autoafirmar como única e somente ela a verdadeira, o que afasta grupos menores de uma convivência mais próxima. Ainda porque a Igreja Católica é vertical, ou seja, burocrática e, portanto, o diálogo e a aproximação nunca se sabe se é franca ou simulada; 2. Discriminação e preconceito: há variados tipos e variadas manifestações. Por exemplo, aquele exercido desde a colonização do Brasil, quando religiões indígenas e as de matriz africana foram rechaçadas como heresia ou paganismo, e seus seguidores obrigados a se converter ao catolicismo. Ainda há preconceito hoje contra os adeptos dessas religiões. Também o preconceito atual contra evangélicos partidários do atual governo, quando se esquece, por vezes falsa e cinicamente, que o governo anterior, buscou apoio tanto entre evangélicos, quanto entre católicos, sem que isso fosse questionado. Se o Estado é laico, evangélicos hoje estão tão errados em buscar apoio junto ao governante de ocasião, tanto quanto os católicos, desde Constantino, no século IV, estiveram. Aliás, desde o Pajé e o Tuchaua, nenhuma religião deveria misturar-se ao Estado ou o Estado com ela. Essa promiscuidade afasta o diálogo ecumênico ou inter-religioso, e se torna disputa rasa pelo poder, em que religiões de caráter majoritário e viciadamente hegemônico nunca terão isenção necessária para propor diálogo e aproximação.
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