segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Jornada Teológico-Natalina 2 - Fechado para balanço

    Partimos, no texto anterior, da premissa de que, uma vez que se altera a concepção do texto bíblico, como, por exemplo, negar a inspiração verbal-plenária ou dizer que não sabemos dizer se Abraão, Moisés e Davi são personagens históricas, mexemos também na concepção de Deus. 


     Ele vai mudar de personalidade, sua palavra vai ficar cambiável, sem a certeza de que seja ou não autêntica, e os crentes vão mudar sua identidade. Também mencionamos a capacidade de Deus realizar ou não milagres e, uma vez afirmativa a possibilidade, se aqueles descritos na Bíblia podem ser creditados na divina conta.

     Por exemplo, mencionamos Alfons Weiser e seu livro, Os milagres na Bíblia, autor que, por exemplo, desautentica que Jesus tenha ressuscitado alguém, para apenas mencionar a filha de Jairo ou o filho da viúva de Naim, mais absurdamente ainda o pobre Lázaro. Ainda bem que ele autentica o milagre da ressureição de Jesus, pelo menos, senão, sozinho, ele teria implodido todo o Cristianismo. Bem, seria uma proeza e tanto! Já dizia Nietzsche.

     Porque se supomos ser possível que Deus, sim, realize milagres, mas não atribuímos a Ele esses descritos nas Escrituras, há um problema com as Escrituras, que supõe milagres não realizados pelo Altíssimo. Portanto, nessa seleção dos possíveis milagres a ser autenticados ou na impossibilidade de se autenticar qualquer deles, não há então descrição confiável de milagres que o Altíssimo tenha realizado, como dizia meu pai, em Sua "revelação em marcha".

     Seria uma modalidade de idolatria, digamos assim, atribuir a Deus milagres que Ele não fez. Estaríamos agregando a Sua personalidade e ao Seu fazer, coisas que nunca fez. Portanto, longe de nós a Ele atribuirmos feitos que não são, absolutamente, de Sua autoria. Necessariamente, as Escriruras precisam desse saneamento, para usar o termo, despida, desmistificada dessas suposições, em certo sentido, fantasiosas.

     Mas vamos classificar como periféricos esses assuntos e essas questões. Se o peixe engoliu e vomitou Jonas, três dias depois, se o exército de Faraó, realmente, se afogou na travessia do Mar Vermelho ou se Elias, literalmente, subiu num disco voador, como dizia Raul Seixas, diante do olhar de Eliseu. Questões periféricas.

     Vamos focar, numa tentativa de resgatar a Bíblia e a personalidade de Deus, ou seja, o Livro, em seu conjunto, como uma fonte de Sua palavra ou de Sua revelação, verificando se o ponto principal nele focado condiz com sua proposta principal e com a suposta personalidade divina.

     Vamos então partir do centro para a periferia, do foco principal para o desfocado.  Vamos afirmar que as Escriruras têm um ponto central, insofismável, claro e acessível, que deve ser exposto acima de quaisquer outras modalidades de argumento. Podemos afirmar que as Escrituras revelam um Deus puro amor, Salvador que, para cumprir Seu principal desígnio se fez homem, encarnou, e não foi para jogar na cara desse homem/mulher o pecado deles, mas para aceitá-los reconciliados com Ele, numa mesma comunhão que tem com o Filho.

     Tudo o mais no livro seria periférico. Podemos até derivar desse suposto foco principal outros que, do mesmo modo, são essenciais à compreensão dessa mensagem principal como, por exemplo, a definição bíblica de pecado, a definição bíblica de fé, a história da (suposta, sempre suposta porque, afinal, nosso método é científico e não pode deixar de ser) profecia sobre a revelação de Jesus, seu nascimento, morte e ressureição, aqui socorridos por Weiser, que nos garante que ocorreu esse mijagre, pelo menos esse. Diga aleluia comigo, irmão. 

       Nessa gana pelo científico, como o último reduto possível para confirmar o que é autenticamente bíblico, do texto ao contexto, do gênero literário à história, do mítico e do literal, precisamos definir se a autenticidade ou inautenticidade do livro está sujeita à academia ou ao seminário de teologia. 

       Afinal, conceitos bíblicos como fé, pecado e milagre precisam ou não de confirmação da academia secular para, afinal, serem, de modo definitivo e esgotado, em termos epistemológicos, compreendidos? O seminário seria a academia da Bíblia, que a inscreveria, com esses seus conceitos, definitivamente, na galeria e status do conhecimento plausível com o nosso século ou, definitivamente, as Escrituras estão despojadas de identidade própria, mas são um campo neutro e aberto às variadas formas de ciências da academia e, por que não dizer, também aberta às variadas ideologias da história da humanidade.

      Campos diversos e multiformes poderão sugerir infinitas formas de compreendê-la, por exemplo e até mesmo no campo das religiões, no qual se oferece um mercado variado e variadas formas de deuses. Definitivamente, o século absorveria as Escrituras, acomodando-a e atualizando a sua visão, de modo a que, por exemplo, ela até cessasse de, insistentemente, afirmar que, vivo, só existe um Deus, porque todos os outros são falácia, inexistentes, são burla, pura invencionice. 

      Urge por uma Bíblia politicamente correta. Salve-nos a acedemia. A personalidade da Bíblia e, consequentemente, a do próprio Deus estão em revisão. Avisaram isso aos crentes?

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