Aceitar-me e acolher-me é outra história. Quando foi que te acolhi, então, perguntou o homem? Procure se lembrar. Quando começou seu conflito íntimo? No dia em que ela morreu. Minha vida era regida pela vida dela. Eu era turrão para admitir. Mas a vida toda eu vivi sob a regência dela. E a sua morte... Olhou para o Ancião. Pode dizer. Definitivamente, sua morte foi a pá de cal sobre o que chamam fé em minha vida.
Pelo menos de modo patente, como ela sempre quis para mim. Sorriso e lágrimas misturados. Estranhou, de novo, essas emoções. Não estranhe, já disse, aqui há lágrima e riso. Eu sepultei com ela a fé que ela queria que eu tivesse. Você pode ter sepultado o modelo de fé. Mas ela ficou no lugar onde floresceu.
Perdeu e não perdeu sua luta. Teve raiva da sua vida. Morreu pensando que em todo o tempo prevaleceu sua infelicidade. Que os momentos de bem-querer foram passageiros. Uma espécie de vingança íntima... contra Mim. Silêncio. Fácil Sua posição em dizer que não pode revelar Suas próprias razões. Dizer que o escopo dessa conversa.... Freou. Assustou-se na coragem absurda de seus argumentos. Eu Te estou acusando.
Quem morreu por você não foi sua esposa. Quem operou a fé em você não foi você mesmo. Nem nela foi ela mesma. A circunstância da fé ocorre em meio às outras circunstâncias da vida. Eu atuo com garantia no quesito fé. Pode me cobrar nisso. As outras circunstâncias estão fora dessa prioridade. Estão ligadas às circunstâncias da condição humana.
Esperou a reação do homem. Não houve. Você entendeu? O homem disse que fez separação entre os dois modos. Preferiu nada mais dizer. Há outras conversas. Mas você distinguiu e discerniu que a fé acontece por outros meios e por outros canais. Mas o Senhor há de admitir que a fragilidade da condição humana pode afastar a fé quando se impõe uma tragédia entre ela, a fé, e o crente.
Quando se rejeita a fé, para dizer por outra forma, qualquer argumento e não apenas tragédias se levantam contra ela. Mas para se crer, tudo se reúne em seu favor. Ainda que seja hostil o seu contexto, a fé se alcança com facilidade. Embora o conflito íntimo sempre ocorra. E seja intenso. Muito intenso. Para fé autêntica, só se for assim.
Pausa. Suas afirmações são radicais. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Pausa. Sorriu o Ancião. Achando vulgares Meus termos. Longe do discurso teológico. Se não for simplificado, como o Filho sempre praticou, afasta, ao invés de aproximar.
Uma coisa é dizer que o acesso à fé é obscuro e complicado. Outra coisa é mencionar as tragédias humanas como obstáculos a se crer. Como se fosse dito, uma vez que Deus ponha freios às nossas tragédias, pessoais e coletivas, todos vamos crer.
Tragédias humanas são consequências de escolhas humanas e não divinas. Não se pode pôr no Altíssimo a culpa por elas. Aliás, a fé, mas de modo mediato, e não imediato, é a resposta de Deus à tragédia humana. Deus tem uma resposta, a Sua ou, se você preferir, Eu tenho a Minha resposta.
Agora, se vai aceitar a Minha resposta, é opção dele, de cada um. A fé é a Minha resposta a toda a tragédia humana. Radical. As escolhas são radicais. Precisas também. E com base em fundamentos irredutíveis. Para a condição humana há uma resposta radical, duplo sentido aqui. Opção de raiz. Opção arregaçada.
Agora o homem teve o rompante de gargalhar. Pois riram juntos. Acenou. O homem teve a impressão de que a cena se desfazia. Abriu-se um novo cenário. Viu-se fora da sala. Como que sumira o cubículo. Outro homem, com o mesmo figurino, vestido de branco, veste talar, de cima a baixo. Não temos nada contra as outras cores, aliás, muito pelo contrário, até o preto, e muito, vai encontrar aqui. Sem falar no vermelho.
Alvos, avíssimos eram os dentes e muito largo o sorriso. Venha, sou o encarregado de mostrar todo o ambiente. O tour é comigo. Arregaçou outro sorrisão. Ele, o homem, percebeu a mesma história: não precisava falar, que já se dialogava só em pensamento.
Confere. Eu sou o Filho, assinalou o Homem, enlaçando-o pelo ombro e dizendo vamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário