quinta-feira, 18 de abril de 2019

Jonas - 1

Para fugir, Jonas se dispôs

      Ninguém pode repudiar Jonas. Se existe Deus, é para a covardia do homem. Para que fique comprovada sua incapacidade de encará-lo cara a cara.

      Numa das orações mais populares da Biblia está escrito que Deus, sobre nós, levanta seu rosto. Trata-se, já usamos aqui antes esse argumento, radicalizar-se com relação ao Livro.

      Ou é total burla ou se atreve ao extremo quando fala de Deus. E, a princípio, ora, fala-se de Deus o que se quiser. Mas a profecia confirmará se é verdadeiro. E aqui é verdadeiro dizer que Deus mostra a sua cara.

      Levantar o rosto sobre nós é mostrar a cara. Poucos têm essa coragem. Aliás, o ser humano, principalmente o homem, o macho é covarde: não mostra a sua cara.

      Vou repetir: você é covarde. Eu sou covarde. Não mostramos nossa cara. Por isso, Jonas fugiu. Quis, pensou poder se esconder de Deus. Mas a cara de Deus está aí, a cara de Deus está fora, não há como fugir de sua presença.

      Vamos recorrer ao poeta:
"Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa." Salmo 139.7-12.

      Jonas decidiu mergulhar dentro de si mesmo.  Embriagou-se em sua própria fantasia para, a custo, tentar. Não conseguiu. A vida de todo profeta, a vida de qualquer profeta, de qualquer ser humano começa com fuga.

      Paulo Apóstolo estabelece, em duas de suas cartas, referenciais para atinar-se com o retorno dessa fuga. Aos Romanos, expressa-se dizendo que os (1) atributos invisíveis de Deus, o seu (2) eterno poder e a sua (3) própria divindade são, claramente, reconhecidos.

       Cheiros, sons, tato, gostos e olhos para a Criação. Se o homem se admite, a si mesmo, cego, mouco, insensível, insosso e sem cheiro é violência contra seus próprios sentidos, sua única maneira de perceber o mundo a sua volta. Anula-se a si mesmo. Coloca-se, aliás, como a si mesmo se vê, para fora da natureza.

      Aos Efésios, de novo o Apóstolo define a condição de quem se força para dentro do seu próprio porão, como Jonas: está (1) sem Cristo, (2) à parte da comunidade da fé, isto é, sem comunhão com os que creem, (3) desconhecendo e propositalmente alheio à Bíblia, (4) desesperado, ou seja, desprovido de qualquer traço de esperança e (5) sem Deus no mundo.

      Somente esta quinta condição seria bastante para a loucura da tentativa frustrada de negar Deus. Impossível estar no mundo e negar Deus. Mas essa é a violência do homem contra si mesmo. Daí a sua desesperada e frustrada tentativa de fuga.

       E para o que Deus chamou Jonas? Para o amor e o perdão do inimigo. Deus é grande até mesmo no modo como desafia. Não chama para menos. Chamou Jonas para ser como Ele mesmo. Chamou-o para duas coisas inseparáveis: perdão e amor. Covarde o ser humano.

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