sexta-feira, 5 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos

Curva descendente.

     Na Bíblia alguns homens, bem anotados, muitos outros nem sabidos e, sem dúvida, mulheres também percorreram esse itinerário. 

     Elias logo após enfrentar quase mil profetas falsos, testas de ferro do rei Acabe,  de peito aberto, ao saber que a rainha Jezabel, uma única mulher, e que mulher, que mandava no rei, jejuaria até que o visse morto (como vinha matando profetas de Deus) ele se retirou, andou a pé um estirão (quase 200 km) sobre-humano, internou-se numa caverna (após milagrosamente ter sido alimentado por corvos) e pediu a Deus a morte. 

      Ninguém pode dizer que está livre da depressão. Principalmente os mais sensíveis. Olhar a vida à volta sem escolher o foco, muitas vezes faz com que absorvamos muito do que entristece. Assim como sofrimento em nós que outros rechaçariam como quem sacode poeira,  sobremaneira nos oprime. 

     E o pior, há quem, sem nenhum motivo justificável, dá o mergulho. Este foi o meu caso. Mas não dá para medir a coisa. E nem comparar. E nem expor a outrem, que quer dizer qualquer um. Haverá quem não a entenda, porque a lógica desse blue é unicamente de quem mergulha. 

      1977. Eu tinha 20 anos e entrei na Universidade. Era meu sonho a Engenharia Elétrica. Por isso deixei para lá,  chutei para o alto um curso de Eletrotécnica na Escola Técnica Federal e uma entrevista para Furnas. Só para ter uma ideia, minha turma, que até dois anos atrás periodicamente se encontrava,  tem um monte de engenheiros, conselheiros nessa mesma Furnas, enfim, a grande maioria deslanchou somente com o nível médio, posteriormente tendo dado o salto para cima.

      Minha fantasia me colocou num curso e numa faculdade acima de minhas possibilidades.  Fossem econômicas, sociais, intelectuais, enfim, o que seria natural,  que seria eu me convencer de que minha praia era outra, tornou-se uma rota escura. Mas foi pouco a pouco. E ainda vou demonstrar como raios de luz sempre penetram essa couraça que achamos impenetrável. 

       Nunca havia sido reprovado. Algumas recuperações, raríssimas. Mas na Universidade foi reprovação. Na espinha dorsal do curso. Quer dizer, 1977 era ano emblemático. O que ocorria no Brasil refletia para dentro da Universidade. Alunos do último ano vieram nos dizer que era ilegal eles nos matriculassem em Cálculo 0 e Física 0. Que reagíssemos.

      Calouros ficariam meio perdidos. E a luta do DCE/PUC era outra. Meado dos anos Geisel, a ideia era pressionar pela abertura. Encarregado disso seria o cavalariano João Batista Figueiredo, a partir de 1979. Neste ano,  eu já havia trancado o curso, para fazer o estágio de Eletrotécnica na Ficap/Elecab, ali no km 2 da via Dutra.

       Um raio de luz brilhou em meio às idas e vindas, Méier-Gávea, em meio aos sobes e desces pelos corredores da PUC/RJ, troca de salas, de professores, as aulas incompreensíveis das disciplinas 0. Em meio ao que chamam Bosque, ali próximo ao canal que corta o campus, reunia-se um grupo da ABU, Aliança Bíblica Universitária. Era um oásis. Era meu oásis. Uma janela de luz por minhas costas, no túnel que eu apenas começava a trilhar.

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