quinta-feira, 20 de agosto de 2015



         Bom dia, (com) Paulinho da Viola: uma definição não gospel de perdão.

        A gente, às vezes, pensa que não há vida inteligente em meio à música popular. Não é bem assim. Às vezes, não há vida inteligente, mesmo, mas nos dois lados: este, costumeiramente definido como 'gospel', e aquele, definido aqui como 'música popular'. Porém, quando deparamos música inteligente nos dois lados, ficamos satisfeitos, felizes e muito bem recompensados. Carregamos a letra conosco, às vezes, de novo, por dias, refletindo em suas verdades. 
  
        "Recomeçar", do gênio musical Paulinho da Viola, é um samba que fala sobre perdão. Perdão é o ponto central da fé. Perdão atende à fé, que vem em socorro deste ponto central da revelação de Deus, que Se revela porque quer perdoar. Quer de novo, para si, a comunhão perdida com o homem. O ponto central da história do Livro, da Bíblia, é o perdão, fruto único do amor, sem o qual, nem um, nem outro seriam possíveis.

         Recomeçar. Vai, então, aí, a letra: reflita e veja se não tenho razão em dizer que, desta vez, o sambista magistral magistralmente deu uma aula de perdão:
         
            Recomeçar/Do que restou de uma paixão/Voltar de novo à mesma dor sem razão/Guardar no peito a mágoa sem reclamar/Acreditar no Sol da nova manhã/Dizer adeus e renunciar/Vestir a capa de cobrir solidão/Para poder chorar
           Somente o tempo faz a gente lembrar/Do sofrimento que não quis perdoar/E todo o mal reprimido/Pode, afinal, nos deixar/A vida tem seu renascer de uma dor/Toda ferida um dia tem que fechar/E quem secou esse pranto/Pode novamente amar

                  Recomeçar, repete. Ouça num desses sites de música da internet. Coloque no seu celular e, enquanto dirige pro trabalho, amanhã, pela manhã, ouça Paulinho da Viola e sua aula sobre perdão. Se quiser marcar um modelo de compreensão deste samba, vá verso a verso. Senão, vejamos:
               
               ‘Recomeçar, do que restou de uma paixão’, destaco aqui os vocábulos ‘restou’ e ‘paixão’. Realmente, paixão, que é, digamos, um amor improvisado, meia sola, só vai mesmo, um dia, terminar e deixar marcas negativas. Mas, do que restou, é possível, aprendendo lições, recomeçar. ‘Recomeçar...’, repete, como dica e contraponto, na melodia, o sambista.
               
              E ele explica o que é esse recomeço: ‘Voltar à mesma dor’, veja bem, que ele ensina que é ‘de novo’, porque essas marcas costumam voltar, toda a hora, de vez em quando, à mente. E a dor, essa dor dessa marca, ele doutrina, é ‘sem razão’. Reflita e aprenda que é uma mágoa e uma dor sem sentido. Aprendendo perdão: é ou não é?
             
            Guarda no peito a mágoa, sem reclamar, ensina o sambista, ou seja, tratamento da memória da mágoa e da dor, da marca que ficou. Se fosse, lá atrás, amor, não seria paixão, não ia acabar – a Bíblia ensina que o amor jamais acaba – e não haveria marcas. Então, aprenda com a memória da mágoa e da dor, ensina ele, porque, nesse contexto, no contexto da dor, a vida sempre tem seu recomeço.
         
            Então, ele indica (1) haverá um novo sol de uma nova manhã, (2) será possível dizer adeus a toda essa mágoa e dor, (3) note lá, na letra, a palavra renúncia – outro ponto de partida, na Bíblia, lembram, Jesus dizendo ‘negar-se a si mesmo’? – e (4) ‘capa de solidão’, é porque essa guerra contra a mágoa e a dor, parto necessário ao perdão, é solitária e, certamente, envolve choro. Pode chorar escondido, que Deus vê: o nome disso é oração. Não há como aprender perdão sem uma parceria com Deus.
          
            Módulo 2, segunda estrofe, assim aqui definida. O tempo é o mestre, para quem aprende e se demonstra sábio e isento de malícia, de vontade de perdoar e é valente, muito macho e muito fêmea para tanto. Diz o mestre: ‘Somente o tempo faz a gente lembrar/Do sofrimento que não quis perdoar’, ou seja, quem não procura esquecer, ou melhor, quem não sabe conviver, de modo positivo, com a memória da dor e da mágoa, vai sofrer continuamente. E a culpa será, exclusiva e propriamente sua, de si, desse que não aprende a perdoar. Como dizia Cid, meu pai, ‘vai pela vida afora’ e não aprende. Então, que se envenene e envenena outros pois, de novo a Bíblia, está lá: raiz de amargura contamina quem a conserva dentro de si e contamina quem está perto.
          
          Se houve aprendizado, diz o mestre sambista: ‘E todo o mal reprimido/Pode, afinal, nos deixar’. Eu desejo destacar, aqui, duas palavras: ‘E’, assim como ‘afinal’. O ‘e’ indica que trata-se de um processo, ou seja, para que o mal abandone o freguês, é necessário o que foi dito antes, ou seja, o trabalho do tempo na vida de quem se fez sábio e humilde, aprendendo a renunciar a si mesmo. E ‘afinal’, é porque vai haver cura. Afinal é advérbio de tempo. Vai chegar o tempo do alívio, tempo esse que pode ser abreviado, caso a renúncia e o negar-se a si mesmo sejam exercitados.
        
             Para terminar, nas derradeiras linhas desse sermão de Paulinho da Viola, que não é gospel, mas é popular, ele diz que a lição aprendida é que (1) a vida só recomeça e somente nasce da dor, ou seja, é um parto todo o dia; (2) feridas existem, mas são feitas para serem fechadas, tratadas com óleo, pensadas, também, com vinho ou vinagre, e até mesmo sal, se for o caso; ‘Toda ferida, um dia, tem que fechar’.
            
            Se existe, por aí, alguém interessado em aprender do amor, entenda uma coisa, somente e somente se: ‘E quem secou esse pranto/Pode novamente amar’, ou seja, não há outro caminho a percorrer para quem deseja aprender a amar. Não existe outra fórmula ou outro caminho a percorrer. Somente quem secou esse pranto, quem chorou esse choro e quem secou essas lágrimas pode, nova (e verdadeiramente) amar. Trata-se de um processo do qual não é possível escapar ou abrir mão de, no aprendizado do amor e do perdão.
            
             Não é gospel, é popular, mas é uma aula da Bíblia, de amor e de perdão. Como dizia Jó, ouvido tem que ter paladar. Então, apura teus ouvidos e, como diz Paulo, examina tudo e retém o que é bom.
        



         
              Bom dia, (com) Paulinho da Viola: uma definição não gospel de perdão.

        A gente, às vezes, pensa que não há vida inteligente em meio à música popular. Não é bem assim. Às vezes, não há vida inteligente, mesmo, mas nos dois lados: este, costumeiramente definido como 'gospel', e aquele, definido aqui como 'música popular'. Porém, quando deparamos música inteligente nos dois lados, ficamos satisfeitos, felizes e muito bem recompensados. Carregamos a letra conosco, às vezes, de novo, por dias, refletindo em suas verdades. 
  
        "Recomeçar", do gênio musical Paulinho da Viola, é um samba que fala sobre perdão. Perdão é o ponto central da fé. Perdão atende à fé, que vem em socorro deste ponto central da revelação de Deus, que Se revela porque quer perdoar. Quer de novo, para si, a comunhão perdida com o homem. O ponto central da história do Livro, da Bíblia, é o perdão, fruto único do amor, sem o qual, nem um, nem outro seriam possíveis.
         
         Recomeçar. Vai, então, aí, a letra: reflita e veja se não tenho razão em dizer que, desta vez, o sambista magistral magistralmente deu uma aula de perdão:
         
            Recomeçar/Do que restou de uma paixão/Voltar de novo à mesma dor sem razão/Guardar no peito a mágoa sem reclamar/Acreditar no Sol da nova manhã/Dizer adeus e renunciar/Vestir a capa de cobrir solidão/Para poder chorar
           
           Somente o tempo faz a gente lembrar/Do sofrimento que não quis perdoar/E todo o mal reprimido/Pode, afinal, nos deixar/A vida tem seu renascer de uma dor/Toda ferida um dia tem que fechar/E quem secou esse pranto/Pode novamente amar
                  
               Recomeçar, repete. Ouça num desses sites de música da internet. Coloque no seu celular e, enquanto dirige pro trabalho, amanhã, pela manhã, ouça Paulinho da Viola e sua aula sobre perdão. Se quiser marcar um modelo de compreensão deste samba, vá verso a verso. Senão, vejamos:
               
             ‘Recomeçar, do que restou de uma paixão’, destaco aqui os vocábulos ‘restou’ e ‘paixão’. Realmente, paixão, que é, digamos, um amor improvisado, meia sola, só vai mesmo, um dia, terminar e deixar marcas negativas. Mas, do que restou, é possível, aprendendo lições, recomeçar. ‘Recomeçar...’, repete, como dica e contraponto, na melodia, o sambista.
              
            E ele explica o que é esse recomeço: ‘Voltar à mesma dor’, veja bem, que ele ensina que é ‘de novo’, porque essas marcas costumam voltar, toda a hora, de vez em quando, à mente. E a dor, essa dor dessa marca, ele doutrina, é ‘sem razão’. Reflita e aprenda que é uma mágoa e uma dor sem sentido. Aprendendo perdão: é ou não é?
             
            Guarda no peito a mágoa, sem reclamar, ensina o sambista, ou seja, tratamento da memória da mágoa e da dor, da marca que ficou. Se fosse, lá atrás, amor, não seria paixão, não ia acabar – a Bíblia ensina que o amor jamais acaba – e não haveria marcas. Então, aprenda com a memória da mágoa e da dor, ensina ele, porque, nesse contexto, no contexto da dor, a vida sempre tem seu recomeço.
          
            Então, ele indica (1) haverá um novo sol de uma nova manhã, (2) será possível dizer adeus a toda essa mágoa e dor, (3) note lá, na letra, a palavra renúncia – outro ponto de partida, na Bíblia, lembram, Jesus dizendo ‘negar-se a si mesmo’? – e (4) ‘capa de solidão’, é porque essa guerra contra a mágoa e a dor, parto necessário ao perdão, é solitária e, certamente, envolve choro. Pode chorar escondido, que Deus vê: o nome disso é oração. Não há como aprender perdão sem uma parceria com Deus.
           
            Módulo 2, segunda estrofe, assim aqui definida. O tempo é o mestre, para quem aprende e se demonstra sábio e isento de malícia, de vontade de perdoar e é valente, muito macho e muito fêmea para tanto. Diz o mestre: ‘Somente o tempo faz a gente lembrar/Do sofrimento que não quis perdoar’, ou seja, quem não procura esquecer, ou melhor, quem não sabe conviver, de modo positivo, com a memória da dor e da mágoa, vai sofrer continuamente. E a culpa será, exclusiva e propriamente sua, de si, desse que não aprende a perdoar. Como dizia Cid, meu pai, ‘vai pela vida afora’ e não aprende. Então, que se envenene e envenena outros pois, de novo a Bíblia, está lá: raiz de amargura contamina quem a conserva dentro de si e contamina quem está perto.
          
          Se houve aprendizado, diz o mestre sambista: ‘E todo o mal reprimido/Pode, afinal, nos deixar’. Eu desejo destacar, aqui, duas palavras: ‘E’, assim como ‘afinal’. O ‘e’ indica que trata-se de um processo, ou seja, para que o mal abandone o freguês, é necessário o que foi dito ates, ou seja, o trabalho do tempo na vida de quem se fez sábio e humilde, aprendendo a renunciar a si mesmo. E ‘afinal’, é porque vai haver cura. Afinal é advérbio de tempo. Vai chegar o tempo do alívio, tempo esse que pode ser abreviado, caso a renúncia e o negar-se a si mesmo sejam exercitados.
         
           Para terminar, nas derradeiras linhas desse sermão de Paulinho da Viola, que não é gospel, mas é popular, ele diz que a lição aprendida é que (1) a vida só recomeça e somente nasce da dor, ou seja, é um parto todo o dia; (2) feridas existem, mas são feitas para serem fechadas, tratadas com óleo, pensadas, também, com vinho ou vinagre, e até mesmo sal, se for o caso; ‘Toda ferida, um dia, tem que fechar’.
            
            Se existe, por aí, alguém interessado em aprender do amor, entenda uma coisa, somente e somente se: ‘E quem secou esse pranto/Pode novamente amar’, ou seja, não há outro caminho a percorrer para quem deseja aprender a amar. Não existe outra fórmula ou outro caminho a percorrer. Somente quem secou esse pranto, quem chorou esse choro e quem secou essas lágrimas pode, nova (e verdadeiramente) amar. Trata-se de um processo do qual não é possível escapar ou abrir mão de, no aprendizado do amor e do perdão.
            
             Não é gospel, é popular, mas é uma aula da Bíblia, de amor e de perdão. Como dizia Jó, ouvido tem que ter paladar. Então, apura teus ouvidos e, como diz Paulo, examina tudo e retém o que é bom.