sábado, 28 de dezembro de 2019

Cartas não entregues- 1

   Regina
   Amanhã são sete meses de namoro. Para mim foram bem contados. Falo assim pelo jeitão que demonstrei, ansioso e inoportuno muitas vezes.
   Devo muitas desculpas. 
   Você já falou certa vez que não imaginava um modelo de namorado. Não sei se eu imaginava ou não um modelo de namorada. 
    O que acontece é um ajuste de duas pessoas diferentes. Certa vez disse a você que (1) você me atrai e que (2) percebo em você condições de sustentar, pela vida afora, uma relação madura comigo.
   O ponto (1) está resolvido e definido. Não troco você por ninguém. O ponto (2) vai nos acompanhar por toda a vida.
   Posso parecer abobalhado (ou ser) quando falo muito em gostar de você, de preferir você, que não vou enjoar de você etc.
    Isso, pode parecer, recai naquele lugar comum típico de todo namoro. Aquelas "palavras românticas" de qualquer namoro, que ficam esquecidas no namoro. 
    Estaremos num impasse aqui. Porque eu estarei utilizando um método antigo para afirmar uma verdade que eu quero manter e renovar. 
   Quando penso em casamento é para ser amável com a pessoa com quem casar, a vida toda. Não é por escolha de conveniência. 
   Aquela filosofia do "já que tem que ser", melhor que seja do que não seja. Vai esse (cônjuge) mesmo. 
   Não penso assim. Mas um casamento pode encalhar nessas águas.  Nesse lugar comum. Os dois ou um dos dois passa pelo outro desacreditando as intenções daquele. 
    E essas mesmas intenções (doces) ficarão no namoro, preliminares, um pouco no começo do casamento é, depois,  sepultadas para o restante da vida. 
    Não penso isso para eu e você. Eu te amo. Me dê espaço para mostrar isso. O meu jeito é torto e posso atropelar esse conceito. Mas aí, com um pouquinho de compreensão,  você me instruirá.
    Por isso o tema de avaliar o namoro não será somente nos dias 15. Será permanente. 
    Reafirmo que nutro por você grande ternura e afeição. Julgo ser importante ser carinhoso, sinceramente carinhoso, e não formalmente carinhoso.
    Talvez os valores desse nosso final de século sejam do homem mais funcional. Na verdade desde o começo do mundo o homem deve ser prático e romântico, na sua dose exata.
    No meu caso, no lado prático, estou em dívida. O teu estímulo e auto-confiança transmitidos a mim têm ajudado muito. 
   Mas certos resultados práticos são obrigatórios e urgentes nesse tipo de terapia.
   Ainda continuo achando que, sair pelo simples compromisso de sair, é muito importante para nós dois. A não ser que estejam já respondidas e prontas todas as repostas e questões. 
    Esse pensamento é perigoso. Vamos incluir, voltar a fazê-lo, na nossa agenda, esses passeios. Compromisso obrigatório.
   Uma pergunta: você acredita na possibilidade de os dois, você e eu, um amar o outro de verdade?
    (Aliás,  você nunca me disse, que eu lembre, tal declaração...) 
   Quando você disse, certa vez, "todos os homens são iguais", foi negado aos homens (ou a mim) a possibilidade de amarem, sinceramente (poderá ser que um pouco sem jeito), mas sinceramente uma garota assim como você?
    Aliás, um homem, não, eu amar você. 
    Feliz dia 15. Feliz namorado para você. Olha bem lá dentro de você. Se estiver satisfeita, me avise.
  Se me ama, me avise.    Cid Mauro    14/07/87
      
                             
                                            

Sob o (doce) império de Regina Coeli

           
   Entre as 15 viagens ida e volta ao Rio de Janeiro, a partir de Rio Branco, vai aqui o registro detalhado daquela de 2003.
    Foi o ano em que passamos por Brasília. Curioso que, mesmo fazendo esse desvio, levam-se 4 dias até o Rio de Janeiro, com cerca de 1.200 km entre DF-RJ.
    Detalhadamente nas folhas deste caderninho. Todas as viagens foram assim anotadas por minha esposa. Segue este modelo padrão. 
    Lembrem-se que o carro é a Parati verde-musgo 1997, marcados km a km, despesa a despesa nosso itinerário. Um modelo de precisão essa minha amada Regina.

Viagem              Rio Branco
98393         Preço 2,36
R$ 140,00
           9,00    balsa

90,00                  P. Velho
41,873 l     (2,150/l)
98916                           3,50 refrigerante

                           Cacoal
19,00        Janta
99403
34,14 l  (2,49/l)       85,00
60,00   Hotel Cacoal
1,60 água      3,00   gelo

1° dia - 140,00 + 93,50 + 85,00 + 79,00 = 406,50 + 1,60 = 408 + 3,00 = 411,00

2° dia         Vilhena
38,00     15,2 l   (2,50/l)
99604 km
Pontes e Lacerda
água 2,00       almoço   5,80

Cáceres
100.185 km
38,8 l (2,45/l)
R$ 95,00          sorvete 6,00

Campo Verde    Hotel    80,00
61,00  25,6 l (2,38/l)
100.543
45,80 + 95,00 + 67,00 + 80,00 = 287, 80

3° dia
Barra do Garças
60,00  25,5 l (2,35/l)
100.932          coca 3,75  almoço  4,50

"Deus morreu na 'cuz' para nós 'limertar'" (Ana Luísa ensaiando suas afirmações teológicas)

Goiânia
54,04
29,97 l (1,97 l)
101.357
"Olha, pai, o 'ônius cololino'" (ônibus colorido, certamente).
68,25 + 59,00 = 127, 25

4° dia
Brasília
101.632
41,00     19,9/l  (2,14/l)
"Ele 'dissô'" (falou, certamente)

Paracatu
R$ 37,00     16,8 l (2,199/l)
101.883
pastel e refri   9,15
almoço     4,00

Sete Lagoas
102.323
30,8 l    (2,02/l)
62,20           pedágio 4,70 × 3 = 14,00
                     lanche  queijo 15,00

Retorno em 24/01/03

Rio
103.949  km
48, 34 l    R$ 2,069/l
100,00       
  pedágio   4,90 + 4,90 + 4,90 + 2,20 + 5,40 = 23,20
  5,80 + 4,40 + 2,80 + 2,80 + 5,30 = 43,30 (p/ Rib.)              Total: 143,30

Ribeirão Preto
104.690 km
49,76 l (2,039/l)     R$ 100,00
   2,40 + 3,30 + 2,40 > Pedágio
  15,30 (lanche) + 4,30 (pedágio) + 4,70 (pedágio) + 6,00 (lanche) + 3,40 (pedágio) = 141,80

Ilha Solteira
105.176 km
21,8 l (R$ 2,29/l)    R$ 50,00

Campo Grande
105.593 km
42,68 l (preço R$ 2,18 p/litro)     R$ 93,00
93,00 + 200,00 + 87,00 + 105,00 + 5,60 = 390,60
           R$ 93,00
           200,00 (oferta p/ Sandra)
            87,00 hotel > Jaciara
Jaciara
106.260 km
litros 45,9 litros     preço p/litro 2,29
R$ 105,00    lanche 5,60

Pontes e Lacerda
106.857 km
27,8 l (2,52 p/litro)
R$ 70,00  não completou
Hotel 113,50
supermercado 7,00
água 3,00

Vilhena
107.175 km
43,3 l (2,54 l)   R$ 110,00
17,50  jantar
 70,00 + 123,50 + 110,00 = 303,50 + 17,50 = 321,00

Ariquemes
107.702 km
19,3 l (2,59 p/litro)
R$ 50,00 não completou
      63,75 Hotel
1046,67 + 63,75 + 50,00 + 83,00 = 1243,62 + 50,00 = 1293,62

P. Velho
107.893 km
34,9 l (2,38/l)      83,00

108.425 total

      Este último número acima com a chegada a Rio Branco. Se fizermos a conta 108.425 - 98.393 = 10.032 km que percorremos nessa viagem de 2002/2003, que incluiu: 1. Passagem extra por Brasília, para visitar o cunhado no Ministério da Defesa; 2. Retorno por Ribeirão Preto, para ver o primo e sua família, pr Lyndon, com parada obrigatória no recanto de Bonfim Paulista; 3. Volta por Campo Grande, para visitar Sandra Roger.
      Em média, portanto, numa viagem ida e volta de Rio a Rio, com mais o giro por lá, ida a Teresópolis, entre outros, gastam-se em torno de 10.000 km. Por isso que digo que, em números redondos, nas 15 viagens que fizemos, como família, entre 1995-2013, nesse período e percurso, vão 150.000 km de estradas rodados. Bom número esse.
  Publicidade das marcas: Gol 1000, quadradinho, ano 1995, três vezes: 1995, 1996 e 1997; Parati 1600 verde-musgo, 1997, cinco vezes: 1998, 2000, 2002, 2003 e 2004 ; Parati Track Field, 1600 (com ar!), duas vezes: 2005 e 2006; Toyota Fielder, 1.8,  cinco vezes: 2007, 2008, 2010, 2011 e 2013.


     

sábado, 21 de dezembro de 2019

   
     A text is looklike a family, like a weaving, because it express a network. And behind him, there is a story. Like the letters, that make sense interwining themselves, the same with families. 
     We celebrate a story. Interwining above many others. Today we celebrate a love story. Impossible deny this story. And also impossible deny that a love story have an author. 
     Or authors. Dirley e Gislaine. And the families Araujo e Rangel, between anothers. Because before us, there was anothers meetings for making anothers stories, for these and for Those guys. 
     It's impossible deny this story. It's impossible deny its begnnings. It's impossible deny this love. And also it's impossible deny the faith of some of them.
    I am one of the witness. There are many others. Of how a sharp line in time, from the beginning until nowadays, drew a love story, a hard work story, studies story and, how I can say about some of them, a faith story.   
    Delining the bank of a river and always into the fight of the life.  They never feel fear.  Like says a man called John, in a certain letther: "There is no fear in love. But perfect love drives out fear".
     But there wasn't fear, never mind, at the RNA of this family. Another thing that we can't deny. Those guys give his testimony of the history, saying: there is no fear, but courage and determination. 
    Those guys remember very well, from beginning, the looking eyes of that heroes. Smiling looking faces up tender days until now. What do they remember had been ever seen in that faces? Certainly a serious way of seeing the life. Those guys remember.
     We can't deny the faith of that gone heroes. They made ourselves strong in faith. And who makes a way like this, never became scared or coward. Certainly there is also faith in the life, like says Gonzaguinha in the song Never stop your dreams. There are others musics and poetries, yes, because life in general and a story like this we also make with music, poems and some hymns.  
    Someothers, being in Araujo or Rangel family, had either given faith to God. We also can't deny their faith. Those guys knows and says his names. And who have ever seen, tell this history to anothers. By this way was made his family tree, said Those guys.
     It's the way of being authentic in the faith of God. Because sometimes there are no authentic people in faith of God. And others say there is no faith in God, because for them there is no faith whatsover. 
     With authentic faith we may call Rufina or Benedita. Thebano or Antonio. Across the lands, streets and squares, in raillways, like Tula, or in a river, like José Carlos, authentic in their faith. 
     Yes, we yet have music, poems and hymns in this history. In or out the river course. Never out of the course of life, se can find them in cities, neighborhoods everywhere and also inside churches they had stayed. 
      They came eating what had planted on the ground, fished in the river either the sea. Living a love story, a faith history and his life history from these days. How many witnessed this history truelly realize good feelings themselves. 
    There is a very good fragrance in the air. Grace and gratitud. There is a kind of parfum in the air that goodly affect all of us with love. 

   

Há um perfume no ar

                                  
   Um texto, como uma família, é uma teia. Porque expressa uma linguagem. Por detrás de uma história. Como nas letras, que se entrelaçam e formam sentido, assim as famílias. 
     Hoje celebramos uma história. Entrelaçada em meio a tantas outras. Hoje celebramos uma história de amor. Impossível negar a história. Impossível negar que amor tenha um autor. 
     Ou autores. Dirley e Gislaine. Famílias Araujo e Rangel, entre outras. Porque antes, outros se encontraram, para gerar essa história, para gerar esses e Aqueles meninos.
    Não há como negar essa história. Não há como negar essas origens. Não há como negar esse amor. E também não há como negar a fé de alguns. 
    Eu sou uma das testemunhas. Há várias outras. De como uma nítida linha do tempo, desenhada da origem até nossos dias, traçou uma história de amor, de trabalho, de estudos e, para alguns, eu diria até para tantos, uma história também de fé. 
     Às margens do curso de um rio. Nunca às margens da vida. Nunca o medo. Já dizia um autor, chamado João, numa sua carta, entre outros modos de dizer, que "o perfeito amor lança fora o medo".
     Não houve medo no DNA dessa família. Outra coisa que não se nega. Os meninos são testemunhas. Na história que contam, não existe medo. Existe coragem e determinação. 
    Aqueles meninos se lembram muito bem dos olhares de sua origem. Os rostos que lhes encararam os sorrisos ainda na mais tenra idade. O que viram naqueles semblantes? Do que ainda se recordam? Seriedade, pelo menos. E o que mais Aqueles meninos recordam?
     Não se pode negar a fé daqueles antepassados. Nutriam fé em si mesmos. Quem a tem, não se acovarda. Tiveram fé na vida, como disse Gonzaguinha, e noutras tantas músicas e noutras poesias se diz, sim, porque há música, poesia e até hinos nessa história.
    Alguns deles, uns tantos deles, fosse na família Araujo ou na Rangel, tiveram fé no Deus. Não se lhes pode negar a fé que tiveram. Digam-se-lhes os nomes, aos tantos que viram, que contem também essa história. Está na árvore genealógica de Aqueles meninos.
      Autênticos em sua fé no Deus. Há quem não seja autêntico em sua fé. Há os que não têm esse tipo de fé. E há os que são autênticos em sua fé: Rufina ou Benedita. Thebano ou Antonio. Pela terra, pelas praças, pelas ruas, na linha do trem, como Tula, ou na corrente do rio, como José Carlos.
     Ainda há música, sim, ainda há poesia. E ainda se ouvem hinos. Dentro e fora do curso do rio. Nunca fora do curso da vida. No contexto da praça. Vivendo em meio a uma e outra vizinhança. Dentro de igrejas. Comendo do que na terra plantaram, do que do rio e até do mar pescaram.
     Vivem, desde esses tempos, uma história de amor, uma história de fé, uma história de vida. Quantos testemunham, sentindo em si mesmos esses efeitos. Há um perfume no ar. Gratidão. Há no ar um gostoso perfume de amor que bem afeta a todos nós.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Mais uma oração que não fiz

                         
     Sempre falta uma oração. Isso faz toda a diferença. Nunca é demais orar. Deus anseia por ouvir. Meu pai, também pastor, não perdia essas oportunidades. 
    Eu, de vez em quando, perco. E esta foi uma dessas perdas. Agradável surpresa foi rever Mário Lúcio. Acho que faz mais de 20 anos que esteve no Acre. 
    Agora, já Coronel, está sendo deslocado a Brasília, para engajar-se numa outra etapa de sua carreira. Destaca-se no que faz com muita presteza e inteligência. Por isso, seu Comandante guindou-o, consigo, a essa nova posição. 
    Para cima. Quando esteve no Acre, em outros carnavais, lembro-me bem, ajudou-nos suprindo víveres para o nosso Retiro, exatamente, de Carnaval. No Acre, são como um ritual, que envolve toda a igreja. 
    O Presbítero Alexandro passou com ele, muito rápido, pela varanda lá de casa. As três mulheres do presbítero o esperavam no carro, daí um adicional de toda a pressa. 
    Mas folgamos, os três, relembrando esses tempos idos, repassando os atuais, destacando o circuito natural aos militares de passear pelo país, transferidos de lá, para cá, enquanto cumprem sua missão. 
     Esta mais recente será, em Brasília, servir, na área administrativa, ao Governo do Capitão, como lhe chamam, efetiva e afetivamente, os seus eleitores. 
      Foi madrugada do dia seguinte que me veio à mente escrever. Pedi ao Presbítero a foto, comprometendo-me a marcar, por escrito, este encontro. Uma das características desse Presbítero é promover esse tipo de encontro. 
    Certa vez foi com o Samuel Castro, membro da família que, nos anos 80, foram missionários pioneiros em Roraima, enquanto os dois Nelson, o Rosa era pioneiro aqui no Acre, e o Sá foi em Manaus (diga-se, de passagem, por onde também já andou o Coronel).
     De madrugada orei por nós.  Repassei na memória o encontro. E pensei, puxa, faltou orarmos abraçados. Combinava com todo o gesto de encontro. Jesus ama encontros. Ama oração, também, e ama vida em comunhão. 
    Então orei. E pensei na foto acima e resolvi escrever este texto. A vida é assim mesmo, aproxima e distancia. Mas o espírito de igreja, como Jesus pensou, quando disse que a edificaria, mantém junto. Melhor, o Espírito da igreja. 
     É o Espírito que nos mantém unidos. Entre nós e unidos ao Pai, ao Filho e ao próprio Espírito. Habita em nós.  Daí, conseguirmos orar. Uma primeira oração nos converteu a Jesus. Lembra da que você fez? Daí, conseguirmos amar. Daí o plano de amor, de Deus, que é viver em comunhão.
     Orei por nossas famílias. Orei pelo Coronel. Entre os companheiros de jornada que mencionamos, relembramos o tempo do casal, agora subtenente Gilsandro e Flaviane, naquele tempo sargento, entre nós. Minha filha completou 3 anos naquela época, hoje tem 20.
     Decisivos na conversão de toda uma família, a do Pastor Cristiano. Por causa disso, até hoje, tenho certeza, o inimigo busca vingança. Mas quem é soldado de Cristo nunca será apanhado nas artimanhas do inimigo. Porque, como diz Paulo Apóstolo, nós não lhe desconhecemos os desígnios. 
     Naquela época, Isaac tinha 8, hoje tem 25. Corre o tempo. Mas a nossa história é uma história de amor. Como Deus quer. Somente Deus tem condições de amar em estado puro. Mas, para ser Deus, reparte conosco seu amor. Daí, então, termos condição para viver histórias de amor. 
     Paulo Apóstolo diz que nem orar sabemos como convém (quanto mais, amar: muito mais difícil). Mas que o Espírito Santo, o Espírito da igreja nos auxilia em nossa fraqueza. Por isso esqueci de orar. Por isso lembrei de orar. 
    Senhor, ensina-nos a orar. Ensina-nos a ser igreja. Ensina-nos a amar. Peço, em nome de Jesus, a você que lê este texto: Escolha alguém para dizer, olhando bem nos olhos: "Vivemos uma história de amor. Deus nos concede viver uma história de amor".
    Sugiro que diga isso ao seu esposo, olhando nos olhos dele. Sugiro que diga isso a sua esposa, olhando nos olhos dela. E ambos, olhando nos olhos dos filhos, dizer: "E vamos contínuar vivendo uma historia de amor".
    Toda a intensidade de Deus está nisso. Deus é amor. Jamais acaba. Tudo pode, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Amor é perdão. Perdoar como Deus perdoa. Ele sempre perdoa. Perdoar é uma história de amor.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Nosso amigo José de Arimateia


"E eis que certo homem, chamado José, membro do Sinédrio, homem bom e justo
(que não tinha concordado com o desígnio e ação dos outros), natural de Arimateia, cidade dos judeus, e que esperava o reino de Deus, tendo procurado a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus, e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado. Era o dia da preparação, e começava o sábado".   Lucas 23:50-54
       
       Um homem chamado José de Arimateia. Certo dia, deram a ele um recado, que ele estranhou muito. Porque tinha feito um bem, sem olhar a quem. 
     Quer dizer, ele sabia, sim, da história de um tal nazareno. De quem ouviu falar, que andava, por toda a parte, pregando o amor, curando e libertando oprimidos, enfim, praticando o bem a todos. 
     Um pequeno grupo passou a seguir-lhe os passos. Alguns interesseiros, diga-se, que somente queriam para si mesmos. Mas logo se decepcionaram, porque o filho de carpinteiro repartia tudo e com todos. 
     Não demoraria muito, logo percebeu Arimateia, as autoridades judaicas dele fariam intriga com os romanos e, como ocorreu, numa sexta-feira sombria, crucificaram-no entre dois ladrões. 
     José de Arimateia, talvez, não avaliasse, ainda, o impacto que essa história faria nele. Como esse tipo de homem, que somente espalhava o bem, quer dizer, uma hora ou outra, mas nunca sem razão, expunha mazelas dessas mesmas "autoridades", teria sido tão brutalmente supliciado?
     Chovia muito. Ele refletiu sobre o trabalho duro que teriam seus seguidores para o sepultar. Bem sabia que havia, sim, discípulos. Mas que também, nessa hora, somente as mulheres tiveram coragem.
    É certo que um deles, um certo João, talvez até o mais novo entre todos, esteve lá, no Monte da Caveira, com a mãe dele, do crucificado. Então, Arimateia deduziu, para despregar da cruz o morto, há expediente. 
    Sim, mas onde vão sepultá-lo? A ideia como que explodiu-lhe dentro da cabeça: "Ora, no meu túmulo!", disse, arregalando bem os olhos. Arimateia deu seu túmulo. Um desses de gente rica.
    Porque ele era liderança, ele sim, autoridade sem "aspas", autêntico, mais para povo do que para elite. Deu o seu túmulo, definitivamente. Mas maior foi seu espanto, quando lhe vieram avisar: Arimateia, o túmulo está vazio.
     Arregalharam-se seus olhos: típico nele. Como, vazio!? Vazio, ora. Umas mulheres, de novo elas, saíram espalhando que o morto voltou à vida. Ora, mulheres, quem vai acreditar nelas?
   Sim e daí, perguntou o José? Bem, dois dos discípulos dele foram ao seu túmulo, mas não encontraram nada e ninguém. O pessoal dos romanos mandaram espalhar que o corpo foi roubado pelos discípulos dele. Mas essa tal ideia de que ele, como é mesmo que diz, res... res-sus-ci-tou, isso, voltou dentre os mortos, parece que essa ideia está "pegando".
     Arimateia agradeceu o recado dado e avisou que iria lá ver e reaver o túmulo vazio. Desde essa época, pelo menos dois grupos há, quem acredita na história da ressurreição e os que não acreditam. 
    Arimateia foi pego no sobrepasso. Parece que a história apanhou-o desprevenido. Mas essa história pega qualquer um desprevenido. Porque ninguém pode dizer que não acredita na morte.
   Mas quanto à ressurreição, bem, enquanto for vivo há, pelo menos, essas divisão em dois: quem acredita e quem não acredita. Mas, quanto a Arimateia, sua espontaneidade em ceder seu túmulo de rico, isso não tem como negar, prevaleceu em toda essa história. 
     Havia uma profecia relativa a Jesus que, com o rico, estaria na sua morte. Em vida, alguns poucos dessa classe o reconheceram. Sim, citam-se, por exemplo, Mateus e Zaqueu, judeus funcionários romanos coletores de impostos, odiados por seus patrícios. Mas seguiam Jesus, mudados de vida.
     O relutante Nicodemos, da mesma turma de Arimateia, membros do partido farisaico. Isso demonstra que nem todos os ricos são mesquinhos. Que sigam o exemplo de José de Arimateia. 
    Temos o nosso José de Arimateia. O Ogan amigo de padres, pastores, ateus, enfim, homem sem fronteiras. Autoridade, sim, entre seus irmãos de fé, professor e advogado. 
    Também de arregalar os olhos, quando depara injustiças. Exemplo também para ricos, muito embora não pertença a essa classe social. Está mais para o grupo de discípulos do nazareno. 
    Certamente o acolheria e, por ele, seria acolhido. Como diz no texto, o nosso também é richento: "homem bom e justo (que não tinha concordado com o desígnio e ação dos outros)".
 Nosso Arimateia também é um inconformado.  
     Continue assim, amigo, sendo somente esse nosso José de Arimateia. Justo, bom e inconformado com certos "desígnios e ação" dos outros. Estamos juntos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Fale, tio Ebinho.


Brasília, 19 de julho de 1967.

         Os passos do homem são dirigidos por Jehová, como pois poderá o homem entender o seu caminho.
        Queridos pais: primeiramente tenho a satisfação de acusar o recebimento da carta datada de 24-06-67.
        Inicialmente, muito me agradou o início da mesma, ou melhor, o modo em que o Snr. expressou-se; deste longínquo rincão tradicional, terra gaúcha etc... etc...
    Sobre o frio, os costumes, etc; estive conversando com um colega que também esteve lá, e fiquei inteirado de tudo minuciosamente. O rapaz, inclusive viajou para lá no mesmo ônibus que a mamãe viajou, e em conversa de viagem, o mesmo disse a ela que me conhecia. Sôbre a dedicação do Inácio com a Miriam, isto muito me alegra; é claro!
     Na carta de 29-06-67, o Snr diz que foram recebidos festivamente, e com janta sobremesa deliciosa churrasco etc. Avise a quem fez isso para que não me leve a mal, mas não fizeram nenhum favor, pois ainda faltou uma banda de música para recebê-los, certo? Sôbre a notícia triste do Cid Mauro, nós aqui também sofremos bastante, e foi um alívio esta última notícia dada pelo Snr.; pois nós aqui sabíamos por intermédio de carta que a D. Conceição nos mandou e a mesma dizia que um carro havia estraçalhado a perna do menino.
      Achei estranho a princípio, a notícia não partir dahí. Pois ela, a D. Conceição, pedia-me desculpas em dar tal notícia por não estar devidamente autorizada.
      Cheguei a orar bastante a (Deus) todos os dias para que nada mais grave viesse a acontecer.
  E tenho plena certeza que (Ele) me atendeu.
    Pois endosso as palavras que o Snr. citou em uma dessas linhas; isto é, da carta: A MÃO DE DEUS ESTÁ SOBRE NOSSO LAR.
     Diga a Maninha que muito nos alegramos quando soubemos que foi apenas uma fratura, e não o que haviam dito.
      Diga a mamãe que vou mandar, em mãos ou pelo correio, uma foto das crianças, tiradas no dia do aniversário da Elaine.
        Diga a Gislaine que vai uma para ela.
     Diga a Nice que ela está me devendo as fotos do Lyndon e Lincoln que eu pedi.
        Ou o Snr. não recebeu a carta na qual eu pedi as fotos? Creio que sim.
      -- Como é que foi sentida a morte do nosso Castelo ahí no Rio? Pois aqui fizeram várias piadas, aliás coisas que não são do nosso feitio. Chegaram a dizer que ele tanto caçou, que acabou sendo caçado por São Pedro. Mas deixemos isso pra lá.
        A Iracema que ir no fim do ano passar um mês ahí com as crianças. Mas eu agora estou estudando como nunca, não sei se poderei ir, e não quero deixá-la viajar sozinha com cinco crianças no ônibus, e além do mais só as passagens irão a 313,000 cruzeiros novos para as despêsas da viagem. Mas até lá, vamos ver.
    Diga ao Merinho que ainda tenho esperanças de que ele encontre uma solução para aquele caso do qual eu o confiei.
    No mais, dê um beijo na mamãe, um abraço a cada irmão e sobrinhos.
   
       Saudades. Eber.






sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Casamento no mundo atual - Final

4. A lei do amor 

       Certa vez um “doutor da lei” abordou Jesus, a fim de o pôr à prova (cf. Lc 10.25-28). Queria apanhar Jesus num deslize qualquer e perguntou ao Mestre qual era a síntese de toda a lei. Jesus, inteligentemente, mexendo com a vaidade dele, recorreu ao terreno de pugna do outro, remetendo-o às Escrituras: “como a interpretas”, perguntou Jesus. O homem discorreu, respondendo: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento”, e concluiu: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus fechou questão, desafiando o homem: “Faze isto”. Este desafio de Jesus aplica, como norma humana permanente, o amor ao próximo. Pois respeito à posição contrária do outro está inserido no contexto desse amor. Na questão de sustentarmos como nosso qualquer conceito bíblico, neste caso aquele referente ao modelo bíblico de casamento, não devemos encará-lo como obrigação, nem para nós e nem para os outros. Conceitos bíblicos são dádivas aos homens e assumem-nos quem e quantos assim desejarem. Os que assumirem, fazem-no pela fé que professam, julgando assim estar fazendo o que encaram como mandado de Deus para si e sua resposta em obediência a Deus. Os que entendem diferente, que ajam em acordo com suas convicções. O que não pode ocorrer é que se julguem no direito de se acusarem mutuamente. A própria Bíblia, no Sermão do Monte, indica palavras de Jesus, afirmando que não devemos julgar uns aos outros, Mt 7.1-5 (ver também Rm 2.1), mesmo porque todos, sem exceção, somos, diante de Deus, pecadores (cf. Rm 3.23). O conceito bíblico de pecado é detalhado e suficientemente amplo para diagnosticar todos nós, colocando-nos em igual condição, diante de Deus, deparando Jesus como único meio de salvação e modo de acesso, pela graça, a Deus (cf. Rm 5. 1-2). Portanto, devemos seguir o que a nossa consciência, uma vez iluminada pelo Espírito Santo, indicar. E também nos preocuparmos conosco mesmos, cada um consigo, no seu propósito de cumprir (ou não) o que a Bíblia indicar. 

5. Conversão como fruto do amor 

        A Bíblia, como palavra de Deus aos homens, assim considerada pelos cristãos, tem como objetivo principal revelar o amor de Deus. Esse amor está a serviço do homem, no sentido de Deus ter concedido que Jesus Cristo, filho de Deus, morresse na cruz pelos pecados, individualmente, de cada homem e mulher, quer dizer, toda e qualquer pessoa. Essa é a prova completa do amor de Deus pela humanidade (cf. Rm 5.8, Jo 3.16). Resumidamente, este é o específico da Bíblia. Aceitar o amor de Deus, segundo a Bíblia, por causa da condição geral de todos os homens, pecadores diante de Deus, implica a conversão da condição de pecador para Deus. E o que é ser pecador? É ser contra Deus, contra si mesmo e contra os outros. O primeiro e básico problema é que não é simples, natural ou óbvio para homens e mulheres considerarem-se a si mesmo pecadores. E o que é conversão, no sentido bíblico? Perda total, segundo Paulo (Fl 3.8-9), e segundo Jesus (Mc 8.34-35). A conversão é pessoal, radical, somente possível por ação direta de Deus, no ser humano em geral, por opção consciente deste, significando, repetimos aqui, perda total, único meio de regeneração do problema do pecado. Há, pelo menos, três figuras bíblicas para se entender o que, em sua radicalidade, significa conversão. Antes de indicá-las, uma advertência: embora usemos aqui a palavra figura, trata-se de realidades palpáveis, ou seja, figura aqui não significa metáfora. Segundo a Bíblia, conversão é: (I) morte/ressurreição em Jesus Cristo; (II) novo nascimento pelo poder de Deus; (3) circuncisão, que é uma cirurgia sem anestesia, realizada pela mão de Deus (cf. Rm 2:28-29). Esses três aspectos implicam em perda total. Paulo afirma, no texto citado acima, “considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo Jesus, a justiça que procede de Deus, baseada na fé.” (Fp 3.8-9). Nem o “orgulho gay” ou a falsa “piedade cristã” são maiores do que isso. 

Conclusão 

        O respeito a posições radicalmente contrárias está, obrigatoriamente, contido no mandamento do amor. De parte a parte, grupos que defendem o modelo bíblico de casamento e, coerentemente, o praticam, devem respeitar aqueles que defendem outras modalidades de união conjugal. Cada parte assumindo, diante de si mesmo, dos outros e de Deus suas escolhas. Há necessidade de cessarem as discussões ofensivas acusatórias nos meios de comunicação. Assuntos que comportam em sua temática itens que são de foro íntimo devem ser tratados de modo criterioso, pois até mesmo Jesus respeitava a decisão íntima das pessoas, quer ele concordasse ou não com elas. Ainda sobre a denominada “cura gay”, desejo comentar que, do mesmo modo que existem pessoas que, declaradamente, após um período de vida com comportamento heterossexual, assumiram e declararam que “saíram do armário”, assumindo sua homossexualidade, o mesmo direito têm não poucos homossexuais que decidiram, muitos deles declarando-se autenticamente convertidos a Jesus, deixar sua condição homossexual para uma vida de união conjugal heterossexual. Ambos têm o mesmo e igual direito. E apenas outra observação: eu também não acredito na “cura gay”. Conversão a Jesus é totalmente diferente, pois é milagre de Deus, com autêntica e inconfundível assinatura, pelas marcas de Jesus, no ser humano. E somos convertidos por amor e para amar. “To Love another person, is to see the face of God”, fala do personagem de Jean Valjean, na cena final de Os Miseráveis (romance de Victor Hugo, adaptado para o cinema), que traduzido é: “Amar outra pessoa é ver a face de Deus”. Outra maneira de dizer o que João falou em 1Jo 4.20: “Se alguém diz amar a Deus e odiar a seu irmão, é mentiroso: quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. Como disse Jesus ao doutor da lei: “faze isto” (Lc. 10.28). Só o poderemos realizar como fruto do Espírito, debaixo do poder de Deus.

Casamento no mundo atual - 2

2.  Método bíblico de abordagem

      Outra tendência atual é a tentativa de modificações do texto bíblico, no intuito de adaptá-lo à visão de variedade de gênero adotada, de modo geral, nos discursos da sociedade moderna no mundo todo. Ora, alterar o texto bíblico ao gosto do freguês nada resolve, por duas razões: (I) a mais óbvia, é que quebra a autenticidade do próprio texto; (II) a outra, é que mascara o que já foi dito, sem esconder o que já está lá escrito. Portanto, resta outra solução, não menos óbvia, que é a solução hermenêutica, ou seja, entender o texto, aplicado ao nosso tempo. O problema, melhor dizendo, a solução para entender a argumentação bíblica está em situar no Gênesis o ponto de partida de sua cosmovisão. Vamos repetir aqui, a fim de aplicar a esta argumentação: o texto bíblico diz que Deus criou homem e mulher, macho e fêmea, abençoando-os e dizendo “crescei e multiplicai-vos”, ou mais claramente, “façam sexo e gerem filhos”, para povoar o planeta. Ora, deduzem-se duas coisas: (I) a concepção original bíblica para o casamento é heterossexual, monogâmico e indissolúvel; (2) constituem-se em família homem, mulher e filhos gerados dessa relação. Então, todos os textos seguintes estarão em acordo com essa concepção. Ou seja, se a relação heterossexual é posta como padrão, qualquer outro gênero de relação será, no texto bíblico, reprovada. Trata-se de coerência com uma cosmovisão previamente adotada. Retornando ao texto bíblico, em sua sequência, ocorre o que está indicado em Gênesis 3, que é a narrativa da queda: homem e mulher, com relação a todas as suas decisões e conduta, optam, por sua atitude, a não levar sempre a efeito o padrão de Deus. Daí que, com a continuação da história, por exemplo, a Bíblia já indica a decisão de um homem escolher, para si, duas esposas. Deduzimos, então, que nesta e em outras muitas escolhas, homens e mulheres escolhem conduzirem-se, se quiserem ou não, pela vontade de Deus. Aonde esta argumentação nos conduz? A dizer que, os que desejam seguir o que a Bíblia expressa, que o façam. Os que não desejam seguir, também o façam. Há liberdade dada por Deus para esses dois grupos. Mas, por favor, os que decidirem não seguir o modelo bíblico deixem o texto como está. Ridículo ir à Bíblia para modificá-la. Ora, digo ridículo porque, se todos os que não seguem o modelo de conduta indicado nas Escrituras lhe quisessem modificar o texto, teríamos milhões de “Bíblias”. Assuma sua conduta com coragem, seja ela a que condiz com o texto bíblico ou a que não condiz. Mas caso assuma a que não condiz, não queira, ao inverso, justificar-se pelo texto. Por que está tentando buscar, exatamente, na Bíblia, a sua justificativa para não fazer o que ela diz? Sustente a sua decisão por si, conteste o Livro e siga adiante. Ou será que sua postura não é suficientemente segura para que você a assuma, sem a necessidade de perverter a fonte bíblica?

3. Homossexualidade na Bíblia 

       Não faremos um exaustivo estudo aqui deste assunto. Apenas citaremos textos que atendam ao objetivo desta lição, que é: (I) situar a proposta bíblica de casamento no contexto social atual; (II) indicar que, sem fugir ou distorcer o texto bíblico, é possível convivência respeitosa entre os grupos a favor ou contra o modelo bíblico exclusivo de casamento. Um dos primeiros textos sobre homossexualidade, ainda no Gênesis, diz respeito à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. O termo “sodomia”, que significa “sexo anal”, deriva do nome da cidade, pois Gn 19.5 narra que homens cercaram a casa de Ló, sobrinho de Abraão, para que os homens de “boa aparência” nela abrigados – na verdade, pelo texto bíblico, eram anjos – fossem dados a eles para que abusassem sexualmente deles. Modernamente já presenciei citações dessa história e das orgias praticadas naquelas cidades como não negativas, porém como procedimentos naturais, como se fossem uma festa de vale tudo. Aliás, frequentemente, praticadas em variados níveis da população, basta ver links na internet. Vamos aplicar a esse texto o método acima sugerido, definindo dois grupos: (I) os que se escandalizam com a sugestão daqueles sodomitas e seguem a argumentação bíblica; (II) os que não seguem a argumentação bíblica, e julgam natural aquela sugestão. Aliás, já falamos sobre sexualidade e reafirmamos aqui que o texto bíblico tem, em suas páginas, exemplos negativos e positivos. Com relação a estes, repetimos que, na Bíblia, sexualidade: (I) cumpre o papel da atração recíproca homem e mulher, como define o Gênesis; (II) deve ser ensinada, acompanhando o desenvolvimento das crianças, aprendida, de início, no contexto da família; (III) tem seu clímax no ato sexual, o qual deve ser praticado no matrimônio que, em si, é confirmação de maturidade e pressupõe condições de manutenção de um compromisso permanente. Portanto, sexualidade, na Bíblia, insere-se num contexto de educação sexual, que postula direcionamento para uma relação heterossexual, assim como continência, a fim de que seja dirigida exclusivamente para o casal, homem e mulher, no contexto do matrimônio. Portanto, práticas homossexuais não condizem com a cosmovisão bíblica, já definida a partir do texto da Criação, no livro do Gênesis. Não há por que tentar modificar essa cosmovisão. Trata-se de adotá-la, ou não. Os que a adotam, não devem impor sua própria visão a outros ou acusar os que não a aceitam. Daí vão se derivar as posturas de convivência respeitosa de parte a parte. (continua)

Casamento no mundo atual - 1

      Introdução

      De novo o tema “casamento”: porém, desta vez, abordaremos sua identidade comparada, frente a frente, com outras modalidades de união que se apresentam na sociedade atual. Embora já tenhamos mencionado esse entrechoque da atualidade, em outras lições, o objetivo agora é (I) reafirmar, mais uma vez, o específico bíblico da relação homem e mulher; (II) sugerir o modo cristão de encarar as outras modalidades de união; (III) demonstrar que o que a Bíblia diz, do modo como diz, não deve ser modificado ao sabor do “freguês” do texto. Entre todas as lições escritas, esta será a que, de perto e detalhadamente, abordará casamento heterossexual, monogâmico e indissolúvel frente às outras categorias assumidas socialmente. Registra-se, atualmente, toda uma efervescência em relação a essa discussão, na maioria das vezes, devido a posturas mal esclarecidas, rompantes deselegantes na mídia ou argumentação construída de modo equivocado ou relaxado. Reconheço como autêntica, e não radical, retrógrada ou fundamentalista a posição cristã favorável ao modelo bíblico e contrária às outras modalidades. São posturas diferentes, defendidas por grupos distintos e, por isso mesmo, devem ser respeitadas.

1. Cosmovisões distintas

        Cosmovisão é um termo que tem a palavra grega kosmos, mundo, em sua composição. Significa “visão de mundo”. Uma definição mais exata e abrangente seria “maneira subjetiva de ver e entender o mundo, especialmente as relações humanas, os papéis dos indivíduos e o seu próprio na sociedade”. Pode haver definições mais específicas ou exatas, mas o que desejamos expressar é que há duas distintas visões de mundo em jogo na questão das definições sobre variedades de união conjugal na sociedade: (I) uma representada pelos que acreditam na existência de Deus, incluído o fato de que na Bíblia está expressa a modalidade exclusiva de união conjugal: heterossexual, monogâmica e indissolúvel; (II) outra representada pelos que, acreditando ou não na existência de Deus, postulam como naturais outros tipos de relações, sejam entre pessoas do mesmo sexo ou outras variações possíveis, aceitas e aprovadas (ou não) pela jurisprudência vigente. Quando afirmo serem duas cosmovisões diferentes, é porque não será possível reuni-las numa só ou que esses dois grupos, pelo menos, assim representados, cheguem a um denominador comum, que não seja a convivência pacífica dessas duas ideias sobre união conjugal. Mesmo que não aceitem, entre si, um a ideia do outro, socialmente deverão conviver, estabelecer relações e respeitar-se reciprocamente. Isso sem que se acusem, mutuamente, de “fundamentalistas bíblicos” ou “homofóbicos”, por exemplo, ou “pecadores devassos”, de parte a parte. Por mais estranha que pareça a cada um dos dois grupos sugeridos a visão de mundo do outro, os dois possuem suas razões, práticas e fundamentos que devem ser respeitados. Além disso, os dois também possuem o direito de fazer a propaganda de seu modelo assim aceito. Costuma-se, por exemplo, criticar a exigência de ensinar nas escolas o modelo criacionista, indicado como alienante e representante das ideias religiosas fundamentalistas e, particularmente, homofóbicas. Porém, na economia de aceitação das duas posturas de diferentes cosmovisões, como ficou expresso acima, tanto o evolucionismo quanto o criacionismo devem ter espaço igual no contexto do ensino público e privado nas escolas. Evidentemente, no seu viés científico, não ideológico ou proselitista. (continua)

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Dante, Inácio e Dirley: não necessariamente nesta ordem.

     Famílias são muito interessantes. Cada qual com sua personalidade. E, como diz o vulgo, a gente não escolhe na qual vai nascer.
    Chegamos chorando, aprendemos a rir, no contexto delas, entre outras marcas, para carregar pelo restante de nossas vidas. 
    Eu sou o neto mais velho. A essa altura, quer dizer, a bola da vez. O que não significa muito, porque Dorcas havia pedido a Onésimo que não furasse a fila.
     De nada adiantou. Por falar em Onésimo, quem lembra dos sorrisos, respectivamente falando, do Tula e da vó Eunice (refiro-me à trisavó, visto que a outra Eunice, dela descendente, já é bisavó de Dora)?
    Essa família é sorriso, antes de mais nada. Daí enfrentar perdas e sofrimentos com resiliência (palavra da vez). Os bebês dessa família podem se preparar para continuar a rir.
   E os agregados que vão chegando, entram nessa mesma dança. Dante, Inácio e Dirley são mestres do humor. Do marinheiro, a gente não esqueceu o sorriso. 
     De Dante e Dirley, basta conferir. E ainda não falei das mulheres, todas representadas nas gargalhadas de Eliana. Um dos sorrisos mais silenciosos, não menos moleques, no bom sentido, era o de tia Iracema.
    Ele se desenhava aos poucos, insinuado, secreto. Lembra muito o de sua filha Elaine, que também não avisa quando vai rir e rindo mais esconde do que revela. 
    Voltando aos agregados, cunhados de ouro, todos muito ligados à minha formação. Dante, desde as gozações ainda na tenra infância, visto ser o mais antigo. Antes dele, só o meu pai, o Cid.
    Também se destacava na risada. Quem nunca o viu esfregar as mãos entre os joelhos, alteando ombros ao ritmo da risada da hora? Isaac herdou uma dessas modalidades de riso, mais discreta, pendendo a um dos lados a cabeça. 
    Dante cantava a música do palhaço Carequinha, mexendo com a lenda urbana de que eu urinava na cama. Vinguei-me, certa vez, num daqueles almoços enormes aos domingos, após a EBD na Congregacional de Nilópolis. 
    Eu dizia que queria fazer xixi. Assim, despistava minha mãe, para não comer tudo à refeição. Dante esticava as mãos, em forma de concha, com o jeito súbito e criativo de sempre: faz aqui, ó, ele dizia. 
    Claro que eu entendia que era somente retórica. Havia ênfase, feição e gargalhada dele. Ora, todos os filhos, a filha, netas e netos conhecem essa cena teatral dele. E eu sempre entendi e me bloqueei, em respeito. 
     Até o dia em que pus o pululu (como sofri bullying - naquela  época, ainda fora  do Código Penal - de toda a família, por esse designativo inventado por Dorcas!) para fora, e fiz. Ele não sabia se escorava ou não, preocupado na conservação do chão de tacos de madeira de d. Eunice trisa. 
    Ele que saiu da mesa, em busca do banheiro da velha casa. Surpreendi meu querido tio, lá se vão mais de 55 anos, com certeza. Ele voltou enfático como sempre, fez uma gozação ou outra, na hora, e continuamos amigos. 
    Dirley foi meu professor de português e Inácio de matemática. No primeiro ginasial, isso foi em 1969, eu fiquei em final precisando de 6,0. D. Ivete, jamais esqueci daquela professora de 1,80 m. Poderia ser até menor, mais ficava enorme como obstáculo numérico. 
     Manoel Inácio amava aritmética. Suas explicações duravam 30 min de aritmética por 10 min de nosso programa. Mas tirei 9,0 na final. Valeu, Inácio. E Dirley mal sabia que eu teria a mesma profissão dele. 
    Gastava muito tempo, desde o tempo daquela transversal da Dr. Rufino onde moraram, recém casados, na última casa daquela vila (e lá vão 50 anos, eu com meus já 62).
    Em 1976, no GPI, pré-vestibular, um professor de cursinho de quem não lembro o nome, ativou meus neurônios por seu método, trazendo às conexões tudo o que, no arquivo, esse outro cunhado agregado da família havia cuidadosa e dedicadamente implantado. 
     E Dante também ajudou até nas descobertas próprias da pré-adolescência. Em Belford Roxo fui brincar com os meninos. Eram os primos que, ainda que mais distantes na idade, com quem mais afinava.
     Claro que também  aprontávamos, Rubinho e eu, poucas e boas na velha casa, ainda quando tio Merinho e tia Zila lá moravam. E com Binho, era quando toda a quadrilha - no bom sentido, de Carlos Drummond de Andrade, pois nos amávamos e nos amamos - se reunia: Bela, Nanica e Cabrita, para o fuzuê em meio aos caixotes de feira-livre no quintal do Bide. Só Erlon escapava. Era dimenor. 
    A ida para Brasília foi só um intervalo. Mas meu pai, tia Maninha e eu visitamos a família no Gama. E, vejam que azar, às vésperas de minha segunda temporada no Acampamento Ebenézer, isso deve ter sido em 1971, Lincoln me passou papeira (aqui no Acre), caxumba (aí no Rio), isso mesmo, naquela visita a Belford Roxo.
    Foi Dante que passou à frente de meu pai, para explicar por que eu deveria repousar, para a papeira não descer: senão não poderia ter filhos quando casasse. Como assim, Dante? Ele fez aquela cara de espantado típica e me disse que perguntasse ao meu pai, para maiores e mais detalhados esclarecimentos. 
    E outras  mais conversas. Essa geração, entre 40 e 65 anos, primos e primas, gente, como fomos e somos felizes! Desde os sorrisos de Tula e Eunice Trisavó - do neto de Rubinho - que aqueles dois, quando riam, fechavam os dois olhos e desenhavam um sorriso lindo, com todo o rosto. Lembram? 
    A gente aprendeu a rir com eles. Ainda que houvesse dificuldade, como a que não vimos, diziam os mais velhos, quando a nossa vó dividia o café da manhã entre os filhos e, às vezes, não sobrava para ela.
    Como quando tia Gi, avó e bisavó também, mas das mais novas, conta que dormia vendo as estrelas no céu, na velha casa, ainda sem janelas. Ou quando Cid achou farta a mesa do Natal de 1949, primeiro ano de namoro, e Dorcas esclareceu que, naquele ano, Tula fritava parida (no Acre), rabanadas (no Rio) e bolinhos de bacalhau, até!
     É que naquele ano Merinho, Eber e Maninha, os três, trabalhavam e puderam ajudar no orçamento de lauta mesa natalina. Com eles e elas aprendemos a sorrir. Ainda nem tínhamos tino, mas rimos e os vimos rir. 
     As irmãs e os cunhados, os irmãos e as cunhadas. Essa família é família do sorriso. Quanto mais na alegria e, inclusive, eventualmente, na dor. Assim vamos caminhando. E assim contaminando a geração que chega. 
    Que vejam em nós, aprendam e transmitam. Como diz Jobim: sorrio, só rio, só Rio. Fechem os olhos e se lembrem das gargalhadas e sorriso dos que já foram. Ensinaram-nos a rir. Tinham um segredo. Um secreto dentro. Alguém sabe o que é? 

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CONGREGACIONAL DE CASCADURA E NOSSOS CARROS

Os carros de nossa infância

    Em Cascadura, em nossas memórias, vamos relembrando Fuscas, Opalas, Fiat 147, Rural Willis, Itamaraty, DKV - Vemag Vemaguet e, ainda, para os mais antigos, a lambreta do pr Nelson Bento Quaiotti.
    Naquele tempo a João Romeiro era rua sem saída. Um caminho de acesso à Ernani Cardoso, lá no final, havendo acesso somente pela pe Telêmaco, com os paralelepípedos à mostra. 
    A primeira Rural de que me lembro era a dupla cor, vermelha e branca, do na época presbítero Amaury Jardim. É que não existia Guiness Book, porque entraria o recorde da quantidade de crianças transportadas ao mesmo tempo.
   Depois veio uma outra, de cor verde, porque jamais ele abriria mão da marca. E as caronas na mala interna traseira da DKV do, na época, diácono Henrique Jardim. 
    A decisão da Copa do Brasil de 1970, assistimos no porão da igreja, comemorando os 4 X 1 e batendo uma bolinha no pátio dianteiro, espaço do estacionamento, naquela tarde só com a Vemaguet verde.
    O diácono Isaías Silva teve seu Fusca, pr Maurílio também o seu, meu pai, o presbítero Jeconias aquele modelo verdinho também, preservado até os anos 90, quando foi roubado, em São Paulo, do seu filho Jair.
    E, na época, o diácono Gerson, antes de rodar o Brasil com seu Fiat 147, teve um Fusca ainda da década de 60 com o qual visitou a Transmazônica, no ano de sua inauguração, como um desbravador nato. Foi o pai dele, Clauderval, que tinha um Itamaraty Willis.
      E pasmem, lembram, do Corcel amarelinho novíssimo desse mesmo presbítero? Refiro-me, de novo, ao Jeconias. Foram anos de prosperidade. E há marcas das quais não lembro. Qual era marca do carro do presbítero Arlindo Freitas?  
    E do diácono Erasmo, pai de Nadya e Humberto? Não me lembro da marca. Quem lembrar, anote aqui embaixo. 
     Mas lembro que, certa noite de domingo, quando demorávamos até mais tarde conversando, encostei... lembrei!... em sua Brasília branca, manobrando o Fusca azul de meu pai. Bem ali na João Romeiro, defronte à saída do portão. 
     Esse mesmo Fusca azul com o qual, num domingo em que, como dizia meu pai, uma chuva torrencial desabou sobre o subúrbio, vindo eu pela via que beira a linha do trem, encontrei a Rua Souto inundada.
    Ora, já havia água dentro do Fusca azul. Ele enfrentava de valente. Continuei, encontrado a rua em sequência, de que não lembro o nome, mas por ser uma ladeira, servia para conseguir acessar a pe Telêmaco, entrar pela contramão na João Romeiro, chegarmos ensopados à igreja e o carro ficar imóvel no pátio, pois entrou água no motor. 
    Guiness Book para mim, levando já a geração seguinte ao Sítio Bom Pastor, na Estrada do Caçador, em Seropédica, tanta gente cabia ali dentro. Mas essa será outra história.






quarta-feira, 20 de novembro de 2019

   E o Verbo se fez carne
   και ο λογος σαρξ εγενετο

   Assim, retirado do contexto, esse comentário de João Apóstolo resume a história de toda a Bíblia. 
   É uma síntese histórica, filosófica e doutrinária, pelo menos. Porque se há uma história de Deus, o clímax dela foi a encarnação do Verbo.
    Filosófica, porque João saca da filosofia grega o conceito de Logos, para indicar que o que denominavam "motor imóvel" ou o princípio unificador do Universo tinha designação específica e pessoal no Antigo Testamento: Deus. 
    E doutrinária, porque o que desencadeia, para diante e para trás toda a história da revelação, na Bíblia, expressão que meu pai apreciava utilizar, toda a "revelação em marcha" tem culminância na expressão dessa realidade: o Verbo se fez carne.
     Deus se fez corpo. Circunscreveu-se nos limites da existência. Todos os limites. Esvaziou-se de sua deidade. Aqui para esclarecer que, ao se tornar homem, Deus não perde Sua identidade, mas abre mão de seus atributos. 
    Como homem, passa a depender inteiramente do Pai. Costuma-se ironizar essa possibilidade, debochando da confusão entre as duas pessoas, se afinal são duas, uma ou que desdobramento é esse?
   Em sua afirmação, João está a resolver esse dilema. Deus, quem é, faz-se homem sem deixar de ser Deus. Há um só Deus, como o Antigo Testamento postula. Capaz do ato por excelência que o define. Esse é o sentido.
    Aqui a total identidade de Deus e do homem. Lucas, em sua genealogia a partir de Jesus, percorre toda a história, até indicar Adão como filho de Deus. Pois é tal identidade no homem que Deus resgata para Si quando se faz homem.
    O ser humano deixa de ser uma criação para fora de Deus, para ser criatura em comunhão com Deus. Verbo é Deus exposto. Deus revelado se mostra todo. Mas não há como o homem exigir para além disso.
    Um incidente no círculo apostólico ilustra essa expressividade do Verbo, do Logos, da Palavra de Deus. Felipe resumiu numa formulação sua perplexidade ao identificar, na antecipação de Jesus, em relação à Sua morte, o paradoxo da morte do Verbo que se fez carne. 
    Felipe pediu "mostra-nos o Pai, e isso nos basta". Ao que Jesus respondeu: "Como?!" Essa interjeição em forma interrogativa indica a estranheza de Jesus, assim como devolve a Felipe a perplexidade. 
    Jesus é a cara de Deus. Geralmente ateus negam que Deus possa ser reconhecido. Pois jamais haverá expediente para além de "o Verbo se fez carne". Deus se revelou totalmente. Para além do que está posto, não há transcendência possível. 
     Paulo Apóstolo indica como, com relação a Deus, seus atributos, poder e a própria divindade estão expressos de modo claro, ele afirma, por meio da criação. Realmente a ciência não dá conta do que aprende em relação ao que já encontrou pronto. 
      Quando o Verbo se faz carne, quando entra na história, é a síntese completa da revelação de Deus. Não só se define, dá-se a conhecer, assim como chama à comunhão. Não há mais nada além. Não há como haver. Visto que e porque, em Jesus, o Verbo se fez carne.

sábado, 16 de novembro de 2019

Instituto Ecumênico Fé e Política para mim

   Neste texto, que divido em três tópicos, desejo analisar o que é o Instituto Ecumênico para mim.

1. Gratidão: por pura coincidência, no livro de 2005, meu nome aparece assinado em primeiro lugar. Um dia chuvoso, na Fadisi, quando com Lina Boff demos indício às atividades do IEFP, liderados por Nilson Mourão, Pacífico e o pr Geber. O desdobramento permitiu que reuníssemos irmãos de outras tradições e iniciássemos uma brilhante jornada de Cultura de Paz e irmandade entre religiões. Aprendi tudo o que sei sobre ecumenismo e diálogo inter-religioso, na prática, somado à minha experiência familiar e as teorias vistas no mestrado da PUC/RJ. Que religião jamais pode ser barreira na comunhão fraternal. Que nenhuma delas é definitiva ou mais importante do que outra qualquer, independentemente de sua antiguidade ou número de adeptos. Que a pessoa sempre é mais importante e que a religião sempre lhe presta serviço: a religião que sufoca ou oprime, deixa de ser. Na minha fé, Deus se fez homem e não religião. 

2. Ensino Religioso: representar o IEFP no Ensino Religioso, a convite da Secretaria de Estado de Educação - SEE é uma tremenda responsabilidade e um enorme privilégio. Um começo fantástico em companhia de Ivanilde, mulher de valor e coragem, que tem sua biografia relacionada a várias frentes de luta, no que é essencial, e sempre como modelo. Foi uma jornada, uma peregrinação muito gratificante percorrer o Acre de ponta a ponta com ela em 2014. E a partir deste ano, o Ensino Religioso somente avança, como resultado dessa parceria IEFP-SEE e o acolhimento por parte dos heróis, os professores, que mesmo diante dos obstáculos, como o acúmulo de outra(s) matéria(s) que não só o Ensino Religioso, ainda a falta de um Curso de Licenciatura (diga-se de passagem que o IEFP em sua diligência participou do início dessa caminhada, com a pós-graduação na UFAC), eles têm se mostrado receptivos,  aceitando e se empenhando em todos os desafios. Destaco a administração atual da SEE, que confere total apoio ao Ensino Religioso em seu desenvolvimento. 

3. Contexto atual: toda a história acima descrita me contextualiza no Instituto de modo muito sensível. Porque misturo-me com sua história e minha própria história tem sido tremendamente influenciada por ele. Esse Instituto que é Fé e Política, colocando-se de modo corajoso e desafiador em duas trincheiras fundamentais na sociedade, chama a si, de peito aberto, toda uma luta em que as principais armas são o amor e a paz. Se houver conflito, e essas são, religião e política, exatamente duas áreas de flagrante conflito, cada membro do Instituto vai armado para essa luta com amor e paz. Como diz a Bíblia, livro que, de vez em quando, eu leio, enfrentar conflito com amor e paz é uma loucura. Mas temos praticado. Marcado a nossa sociedade com esse exemplo. Porém, somos seres humanos. Temos nossas ênfases religiosas e políticas. E um dos desafios internos no Instituto, que é Fé e Política, é não permitir que uma maioria interna política defina seus temas e prioridades, assim como uma maioria interna religiosa faça o mesmo. Temos de ter consciência de nossas virtudes, pontos fortes, e de nossas fragilidades, que existem. Com relação a mim mesmo, numa autoanálise, não avalio que minha postura política esteja definida ou que ela, no contexto do Instituto, venha contribuindo de modo positivo para o desenvolvimento dessa faceta, a política, entre nós. Tenho sido sincero e, muitas vezes, cirúrgico em minhas afirmações, por achar que esse é o contexto de debate, mas em nenhum outro lugar assim me exponho. Vou repetir: não misturo essas minhas inquietudes e angústias com a abordagem do Ensino Religioso. Portanto, minha escolha, no momento, é parar de emitir opiniões de viés político. Já tentei fazer isso sem sair do grupo de whatsapp do IEFP. Mas não consegui. Porque me senti, por minha própria conta, instigado a falar. Mas preciso "dar um tempo" para realinhar minhas opiniões. Não quero que essa minha fase atual acabe por comprometer minha história no IEFP e no grupo. Desejo ainda lembrar e, de certa forma, advertir que quando há uma maioria, como já mencionei aqui, seja ela religiosa ou política, não vai caber a ela própria, sozinha, autoexaminar-se e avaliar se tem se tornado hegemônica: é bom que ouça os que estão do outro lado também. Evangélicos, no IEFP e no grupo, são tão minoria quanto outras confissões nele representadas. E são um mosaico muito variado. E na fase atual, estão sendo genericamente acusados de apoiar, politicamente, o lado errado. Aqui não é lugar para eu repetir ou justificar minhas posições. Mas fica a advertência para que, nem religiosa e nem politicamente, as representações mais destacadas em sua maioria, tanto no IEFP quanto no grupo, ainda que sem perceber, façam prevalecer sua visão. Porque nossa convivência é plural e devemos exercitar a aceitação do contraditório.

       Vou pedir ao Pacífico e ao também amigo Frank que sejam meus interlocutores e conselheiros nesse período em que estarei afastado do grupo de whatsapp. Quero dizer que estou em contato, também, com os demais membros no privado. Tenho certeza de que vão me ajudar e orientar. Qualquer dúvida ou informação sobre o Ensino Religioso, podem ser mediadas através do contato com eles. Após o compromisso de segunda-feira próxima, no auditório da SEE, momento em que escolho me afastar temporariamente, esses amigos já poderão, em caso de qualquer contato, prestar esse honrado serviço. 

     Todos sabemos orar. Peço que estejam orando por mim. Sempre grato e muito honrado por essa companhia e contexto de comunhão.

  Cid Mauro Araujo de Oliveira .

quinta-feira, 7 de novembro de 2019


      Debruça, avô. Lança esse olhar sobre Dora, no regaço de tua esposa, a avó. Fica perplexo e reflexivo. Quantas orações regaram esse nascimento?
    De quantas gerações? Rufinas e Fernandes de Braga. Um oceano separando. Providência ou acaso do destino? Descansa, Dora. Tudo em sua ainda recente existência é reposta de oração. 
    Para a sua chegada muita gente nasceu nesse mesmo regaço regido por oração. Foi preparação. Esses mesmos olhares, inquirindo "o que virá a ser esse menino", no caso, meninas, muitas, várias meninas.
    Você é resposta de oração. Mas, para você, sua família, pai e mãe, são também resposta de oração. Há quem cobre respostas de Deus. Para quem parece que Deus não fala.
     Ora, como fala. O seu olhar, menina, ainda tão cedo em sua vida, mas vívido e brilhante é resposta de Deus. A melhor resposta de Deus. A maior resposta de Deus. 
     Por isso que a Bíblia diz que da boca de pessoas como você é que Deus suscita perfeito louvor. Essa é a leitura que, pelo sorriso, sua avó está fazendo. 
     Outra leitura pelo olhar de seu avô, mais contido e reverente. Porque homens, nessa hora, preocupam-se por cercar de atenções suas esposas. 
    Muita responsabilidade Deus pôs sobre os ombros dos pais, Dora: amar esposas como Cristo ama a Igreja. Daí, quando isso acontece, nascem como você nasceu.
    Não é por acaso que você encontra toda essa expectativa. Ela atravessou séculos, até desandar em você. Mais uma mulher. Outra mulher. Vai aumentar a algazarra, certamente. 
    Mas haverá ganho em sabedoria. Os sorrisos, como o de sua avó, mãe, bisavó, irmã de tias bisavós e primas e tias para caramba.  E quando os Josés se debruçarem também sobre você, ficarão assim em suspenso, como teu avô. 
     Pensando que mais uma mulher aumenta em muito a nossa responsabilidade. Vão cobrar de teu pai. Vai ver que ele há de sentar ao piano, para compor outra música. 
    Estranhe não, homens são assim mesmo, ora graves e circunspectos, para logo depois gritarem por mais um goal do Flamengo. Nasceste num bom tempo e no melhor ninho.
    Fé, amor e oração te precedem, não necessariamente nesta ordem.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

1977 - Culto em Ações de Graça - Ministério Pastoral na Igreja Batista Seropédica - Final


Dorcas Lima Araujo de Oliveira
e
Cid Gonçalves de Oliveira 
   
   Eis-me aqui, ó meu Senhor 
  Usa-me no teu querer,
  Para falar de teu amor,
  O Teu nome engrandecer. 
  Onde quiseres que eu vá 
  Propagar o Teu poder,
  Faze o mundo contemplar 
  Cristo somente em meu viver.

  Os campos eis a branquejar 
  E prontos para colher estão,
  Se alguém anunciar
  Tua grande salvação. 
  Dá-me coragem para ir
  Ou pra mandar quem por mim vá,
  Não tenha eu medo de partir 
  Para meu Jesus anunciar.

  Oh, dá-me que eu sempre possa ver
  As almas vindo a Jesus,
  E que elas possam receber
  Teu consolo e Tua luz.
  Oh, dá-me sempre esta visão,
  Mesmo que eu tenha de sofrer;
  Faze-me puro coração 
  Pra só em Cristo ter meu prazer.
    
   O hino aqui escrito, anotado com letra de Dorcas no final dessa longa exposição, nesse Culto de 1977, quando Cid se despedia do pastorado na Igreja Batista em Seropédica, sintetiza toda uma visão de época.
  Nessa visão foram educados Cid e Dorcas, na herança de evangelho importado e ensinado pelos anglo-missionários que implantaram no Brasil, há mais de século e meio, o protestantismo de missão. 
   Fala de uma entrega incondicional a Jesus, refletida no espírito de missão a todo o custo, sem importar distância e estranhezas culturais. Também fui educado nessa mentalidade tendo, diante dos olhos, esse ideal. 
   O hino me traz, com força, à memória a personalidade de Cid e Dorcas, o seu contexto de igreja, no qual se conheceram e se engajaram em casamento. Sou fruto dessa época e dessa mentalidade. Talvez este século tenha pouco se esforçado para manter essa visão, que vem se consumindo. 
    Porque, talvez, os crentes de depois dessa geração estejam perdendo ou já perderam a visão mencionada nos 4 últimos versos da terceira estrofe. Ninguém acha mais que tenha de sofrer alguma coisa para ver "almas vindo a Jesus" ou tenha de hipotecar sua vida "pra só em Cristo ter meu prazer".
   Ora, que tenha sido somente um "espírito de época", uma "cultura evangélica" que ficou no séc. XIX. Mas Cid e Dorcas a viveram intensamente: conheceram-se no pátio de igrejas, conviveram em família imersos nessa cultura e criaram seu único filho galvanizado nesse século.
    Não vou discutir isso, quer dizer, a ida ralo abaixo dessa cultura considerada refugo. Tenho já 62 anos e minhas raízes são essas aí. Talvez seja muito tarde para mudar. Mas muito me preocupa a nova cultura que está vindo por aí, posta no lugar dessa. Porque ainda não tem personalidade. E não sabe o que fazer da vida, não mais hipotecada a Jesus, e perdeu seu senso de missão.

Anotação, com a letra de Dorcas, do
hino acima digitado, provavelmente 
cantado por ela no dia desse culto. 

Provável foto desse culto 
ou outro dia: sentado,
Jessé Moreira, que
garantiu, num empréstimo, 
a última mensalidade no
curso de Bacharel  em Teologia 
do Cid: sorrisos que 
sintetizam o espírito
de uma época.