domingo, 3 de janeiro de 2021

Necrópole - VIII

      O pessoal se reunia em conjunto, no templo, após a escolinha por classes. Era assim antigamente nas igrejas protestantes. Relatórios por classe, cada uma dizia um versículo, a de Raul recitou aquele "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna", Jo 3,16, todos da classe repetiram em coro.   

      Cantaram um hino, porque todas as demais classes já haviam falado seu versículo. As crianças menores se apresentaram. Falaram o seu versículo e também cantaram um corinho. Antigamente era assim. Aí, passaram a palavra ao presbítero Xavier, o tio de Raul, pai de Raul, para uma palavra final. Era um cara simpático, desses que parece que nunca param de rir.

      Boa dia. Agradeço a oportunidade. Belo domingo hoje. Quero destacar a presença de meu querido sobrinho e sua família. Falou sorrindo. A família olhou a lado e outro e, como Xavier estendesse a não, como num arco de amenidades, eles, meio assustados, entenderam que era para levantar. Todos sérios, menos Raul, o pai.

     Esse é Raul, filho de minha irmã Etiene. Alegria ter vocês hoje aqui. Podem se sentar. Muito grato. Meus amados, falou, sempre sorrindo, sempre fazemos essa palavra após o encerramento, que eu chamo, caro sobrinho, falou se dirigindo a Raul, sempre sorrindo, eu chamo "mais de 5 e menos de 10 min".

     E passou a se dirigir a todos. Hoje quero falar sobre a oportunidade de fé e de não fé. Há os que simplesmente dizem que Deus não existe, há quem até admite a possibilidade e há quem tenha confirmada no coração e na mente a fé em Deus. Pois bem, se fosse possível inventar deuses, como nas mitologias, até nas histórias em quadrinhos, cada um teria a chance de inventar de todo o tipo.

     Certa vez, em Atenas, Paulo encontrou uma praça cheia de altares dedicados a vários deuses. Era bem democrático, aqui ele riu: cada um poderia acreditar no deus que quisesse. Mas a Bíblia vem de encontro a essas duas concepções: de um lado, ela contesta a idolatria. Ela diz: não existem vários deuses. 

     E, por outro lado, ela revela um só Deus. Então, restam os que acreditam em muitos ou no deus que quiser e bem entender, ora, tem até esse direito, e os que creem no Deus único que a Bíblia revela. Porque nem vou mencionar os que dizem que existe um "Deus", sim, mas que não podemos saber. Ora, então não me interessa. Esse deus é inútil, com todo o respeito, aqui riu de novo, porque não tem nada comigo e eu não tenho nada com ele. 

     Resta, na minha opinião, o Deus da Bíblia, que tem tudo a ver comigo e quer que eu tenha com ele. Portanto, entre acreditar num montão de deuses ou em um que não se revela, fico com a história da Bíblia, de um Deus que é amor, que se fez homem na vida de seu filho, que morre, mas ressuscita para que também, se a gente crer nele, um dia, ressuscitar.

      Há alguém aqui hoje que deseja confirmar sua fé nesse Deus? O pai, Raul, imediatamente levantou a mão, Raul filho fez o mesmo, de imediato. A mãe empalideceu, de estalo, a menina olhou os dois, cabeça pendida à meia curva, a cada lado, olhando também a mãe, e continuou séria. O pai se levantou, sorrindo, com a mão à meia altura. A mãe, levou a mão direita à fronte, apoiando-a nos dedos, reclinada para a frente, no típico sinal de "que mico!".
      
      O menino, ao ver o gesto do pai, imediatamente imitou, mas não chegou a completar o alevantar a mão, entendendo ser desnecessário. A irmã olhou o gesto dos dois, olhou o gesto da mãe e ficou na dela. Séria, no entanto. O tio Xavier, como sempre, recebeu os dois sorrindo, e dizendo, olhem, gente: meu sobrinho Raul e seu filho de mesmo nome. 

     Os dois formaram na frente, Raul pai sorrindo, parecido com o tio, Raul, o filho, compenetrado, com o queixo mais perto do peito, olhava para todos e o tio se pôs entre os dois, mãos em desnível no ombro dos dois e se pôs a orar. 

     Mais alguém vai atender a esse apelo, imitando o gesto dos dois, disse, olhando o sobrinho ao lado, que respondeu o sorriso com um sorriso, e olhando abaixo, onde Raul estava, a sua esquerda, que se manteve olhando o povo. Nesse momento, Rauana olhou a mãe, esta, sutilmente, desenhou leve contrariedade, com o friso lateral dos lábios, e acompanhou, embora de pé, com cabeça baixa, a oração do tio do esposo. 
      

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