quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Crónicas de Terê - 1 - O Miudinho

      

     O pequeno ap de Terê ganhou o carinhoso apelido de miudinho. O acesso à garagem, por carro, era subterrânea, tinha um quarto só e a cozinha, de tão miudinha, era a parte da qual eu me lembro menos.

    Aproveitamento de espaço era o espaço entre a entrada, pela porta da frente, e a sala, propriamente dita, aliás, a dita cuja cujo espaço representava o possível, em temos físicos, da estada dentro dele e dela. Ora, esse era o quartinho de dormida da tia Gilca, porque o casal mesmo dormia na sala transformada em quarto, enquanto noite. O netinho com os avós no quarto único.  

     Havia, pasmem, uma área externa, onde o mais precioso era o reverberar da luz do sol, tão essencial no clima da cidade, e a genial solução que o vô Heraldo deu a um cantinho onde criou seu universo de anotações e acomodação de toda a sua quinquilharia funcional, principalmente as ferramentas. 

     Ali produziu a célebre televisãozinha para as crianças, que não resistiu à umidade do Acre, além dos pacotes geniais que resistiam incólumes as viagens por carro, 4 mil km, 4 dias de superposição da obrigatória bagagem mais os víveres que as duas avós acumulavam, camada por camada, avaliando uma possível carência deles nessa cidade tão remota. E isso fosse na diminuta mala de um Gol 1.000 quadrado, ano 1995, duas Parati 1600, a de 1997, sem ar, e a Trackfield 2005, com ar e, last, but not least, a Filder 2006/2007, que durante anos, até que as crianças crescessem, visitaram Terê.

      Desde a época romântica dos pombinhos na praça da Catedral, alimentados pela paciência conjunta da vó Lourdes com o Isaac, até o banho de sol de Ana Luísa na areazinha do miudinho, no colo do casal de avós. Enquanto isso, é necessário a menina nascer, o que ocorreu quase exatos cinco anos depois do menino. Nesse meio tempo, adquiriu-se o universo em miniutura e a saga das idas a Terê se iniciaram. 

     O must da temporada foi a invenção, pela avó, do tal "aniversário das bonecas", com convidados e tudo, incluídos docinhos da tia Gilca, presentes e até fotografia. Desse dia há uma célebre foto que aparece pela parede vazada, uma solução para o espaço mínimo, onde uma pequena plataforma e um acabamento de madeira trançada em losangos otimizava o espaco.

      A área externa para além do miudinho era o mundo não tão imenso assim lá de fora. Perto de tudo, restaurantes do shopping, aliás, eram dois shoppings, que luxo!, um deles o paraíso das crianças, com brinquedos sortidos, pertinho do paraíso do pai, a livraria! Uma praça de alimentação, das tortas extraordinárias e inesquecíveis, longe se serem únicas, pois a meio caminho do comércio sobre a ponte do Paquequer, havia outra loja de guloseimas açucaradas. 

     A Lucio Meira, de um tudo, aberta no que era o antigo vale entre montanhas, hoje avenida que corta do chamado Alto à parte baixa lá embaixo, geografia local do miudinho, devidamente urbanizado, com seus antigos casarões quase todos demolidos, o que já foi a vistosa e antiga Teresópolis, à qual se poderia chegar por trem, desde a cabeceira do porto da Piedade, lá embaixo, nas vizinhanças de Macaé. 

     Resta muito pouco desse tempo, a não ser o charme insubstituível dessa terra. Clima aprazível, povo que se destaca por sua educação e poder cativante de acolhimento, talvez um dos poucos lugares no país onde, verdadeiramente, o carro para para o pedestre. Com esse tímido elogio inicial, encerramos esta crônica, mas deixamos a deixa para a próxima. 

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