Em relação às Escrituras podemos fazer um arco de sentido único, a respeito da personalidade e ação do Deus, desse modo, hipotético, que a percorre do seu início ao fim. Ainda que se queira supor que se trata de um arranjo, há um distintivo na Bíblia que, ou a garante como verdadeira, ou a estigmatiza como um dos mais absurdos livros ou coleção deles.
Porque as Escrituras vão afirmar, uma vez que se conjugam Antigo Testamento, este equivalente à Tanach hebraica, livro-texto do judaísmo, com o Novo Testamento, parte cristã dessa reunião de tradições escritas, o Deus do Antigo Testamento se faz homem, encarnado no homem Jesus que, uma vez tendo sido morto, ressuscita de entre os mortos.
Portanto, na encruzilhada dessas duas tradições, a tradição judaico-cristã, como são usualmente chamadas, se existe um Deus, este se revela no Antigo Testamento, escolhe um povo para se tornar conhecido a ele e por meio dele e, ao final, na história do Novo Testamento, esse Deus, ao se tornar homem, realiza a salvação, assim chamada, por representar o resgate do ser humano de sua condição de corrupção pecaminosa e mortal.
Se existe um Deus, fez-se homem para assumir a minha culpa, reconciliar-me, quer dizer, unir-me a Ele em comunhão, por meio de Jesus. Se eu tenho pecado, que todos temos, o batismo, quer dizer, a união a Cristo e em Cristo me faz morrer e ressuscitar em Cristo, o que significa herdar uma nova vida, em condições de lutar contra o pecado interno e pesoal e vencê-lo. Essa salvação é eterna e garantida, já a partir desta vida, no ato da fé, sem retrocesso e caducidade.
Esse é o ponto central das Escrituras. É a partir dele, ou seja, do centro para a periferia, para usar esse termo de expressão, que devem ser validadas. Sim, porque seu principal agente será o Deus criador que se lança ao resgate de sua principal, prioritária e amada criatura, não exitando em se fazer homem para, de uma vez por todas, tornar efetivo e possível esse resgate.
Esse, termo que, usualmente, empregava meu pai, é o "pano de fundo" das Escrituras. Qualquer e todas as demais histórias orbitam em torno dessa narrativa central, desse percurso que, por via do cristianismo, no Novo Testamento, ainda instiga a imaginação do leitor quando supõe que, para conseguir seu fim, sua principal finalidade, Deus fez-Se a Si mesmo homem, pois não haveria como superar as imperfeições humanas, a não ser por esse meio.
Assim como não haveria outra opção para que o homem Jesus assumisse em si mesmo as imperfeições humanas, já que não as possui, e pudesse purgar em si o pecado (termo técnico síntese de toda a maldade instalada no ser humano), basta que haja uma opção sincera e voluntária em aceitar e acolher esse ato propiciatório, quer dizer, em lugar, expiação e esgotamento da dívida humana para com Deus.
E o Novo Testamento ainda vai apresentar uma terceira Pessoa, a quem Jesus introduz na história da salvação de que falam as Escrituras, indicando que a obra que Ele realizou, embora suficiente, única, perfeita e definitiva, está fora do ser humano. Para que seja, voluntariamente para quem opta, aplicada ao que crer, somente pela ação, no(a) crente, do Espírito Santo. Quem crê é, pelo Espírito, batizado em Jesus, ou seja, unido a Jesus, de modo que a trajetória de Jesus seja a de cada um que crer.
Assim como Jesus é, para Deus, assim se torna o que crê e, por sua fé, é batizado em Jesus. Como Jesus é para Deus, assim o que crer se torna, do mesmo modo. Com a garantia do Espírito Santo, chamado "selo para resgate da propriedade de Deus", que são todos os que creem, tendo em si habitando esse mesmo Espírito, porque, no Novo Testamento está confirmado que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus.
Esse o Deus, essa a história das Escrituras. Na matemática existe uma modalidade de demonstração de teoremas denominada "redução ao absurdo". Existe exatamente para demonstrar uma modalidade de teorema que se revela impossível de demonstrar. A solução será demonstrar que o seu inverso é verdadeiro. Então, definitivamente, por indução e dedução, o outro estará comprovado. Para afirmar o Deus das Escrituras e, concomitantemente, as próprias Escrituras, basta provar o seu inverso, anulando sua história, no que tem de essencial. Estará terminado. Simples assim.
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