A visão que João tem de Jesus, no Apocalipse, não é real como a que os discípulos, no caminho para Emaús, tiveram, Lc 24,30-31, ou em Atos, quando de sua subida aos céus, em At 1,10-11.
Após sua ressurreição, o corpo de Jesus não mais tinha as imposições a que a matéria nos restringe, por isso, por exemplo, foi possível entrar ou sair de onde os discípulos estavam reunidos, como em Jo 20,19, sem que fossem abertas portas ou janelas.
E, simplesmente, desaparecer, como vimos acima, nos versículos de Lucas. A visão do Apocalipse, como já dissemos, é cifrada, ou seja, virtual, representativa e plástica. Tem impacto cênico e icônico. Por isso, a descrição de Jesus é assim tão fantástica.
A estrutura em si, da pessoa, com 1. "cabeça e cabelos brancos", 2. "vestes talares", com um 3. "cinto de ouro" que o cingia, representam: 1. cabeça e cabelos brancos, a coeternidade com o Pai, o "ancião de dias" de Dn 7,13; 2. as vestes sacerdotais, por ser Jesus, junto a Deus, o sumo-sacerdote de nossa fé, Hb 7,25-27; e 3. cinto de ouro, a realeza e presença nos céus, como superior a todos os poderes que existem, Ef 1,19-23.
Olhos como chama de fogo, por Jesus co-pactuar com o Pai seu atributo de onisciência, que lhe permite conhecer tudo a respeito de todas as igrejas. A espada afiada de dois gumes que, estranhamente, sai de sua boca, representa que, em Jesus, sua palavra tem o mesmo peso e valor do que a de Deus: Jesus é o Verbo de Deus, Jo 1,1.
E quanto a sua voz ser "como de muitas águas", refere-se ao impacto de ouvi-la, tratando-se da autoridade que trazia consigo. Os pés como "bronze polido", referem-se à estabilidade de seu reino, em tudo diferente à da estátua que representa reinos humanos, e que vai se esboroar, que aparece em Dn 2,41-45. Quanto ao rosto "brilhar como o sol na sua força", Jesus inteiro é profetizado como o "sol da justiça", em Ml 4,2.
A reação de João, diante desse quadro, ao vê-lo, foi 1. "cair como morto aos seus pés". Mas sente que pousou em seu ombro a mão direita de Jesus, na visão: 1.1. identificando-se; 1.2. comissionando o apóstolo, com intrepidez, "Não temas", para a sua urgente tarefa; e 1.3. fornecendo-lhe explicações sobre a própria visão: 1.3.1. "Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive"; 1.3.2. "Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos"; 1.3.3. "E tenho as chaves da morte e do inferno".
E, como já expresso na introdução do livro, Jesus passa a conceder a revelação que o Pai lhe concede: 2. "Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas", que serão enviadas às igrejas e, como primeira informação do cenário dessa autoridade para com as igrejas, a indicação de que: 3. as sete estrelas na mão direita de Jesus, na visão, são os "anjos das sete igrejas", entendidos como os pastores de cada uma delas, e os "sete candeeiros", como sendo propriamente as sete igrejas.
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