segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Biblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos 3

Pentecostes cristão

    Neste ano a festa de Pentecostes, em Jerusalém, marcou um novo começo para a seita denominada "Caminho". Pedimos ao nosso correspondente em Jerusalém para contatar André, conhecido como o relações públicas do grupo de discípulos que andavam com Jesus. O próprio André resolveu dar, por si mesmo, um relato em que destaca, de dentro, a partir do grupo, os mais recentes acontecimentos. Senão, vejamos. 

       Do correspondente em Jerusalém. Transcrição das impressões de André Apóstolo.
   
       Pentecostes é uma das três festas gigantes que Jerusalém comemora. Para os judeus, é como se a cidade se tornasse o centro do mundo. Vem gente de todo o lugar e de todos os tipos. Marca exatas sete semanas contadas da Páscoa, daí são 50 dias, por isso o nome Pentecostes.

      A população quase que triplica. Falta lugar para abrigar tanta gente. Estalagens superlotadas, casas improvisadas para receber peregrinos, vindos de todas as partes da terra. Em casas de parentes ou de patrícios. 

      Gente dormindo nas praças mesmo, improvisadas acomodações pelas feiras, proximidades do Templo, coração vibrante de todas as comemorações. Quem vem do estrangeiro, porque também não são poucos, confraternizam-se com seus irmãos e parentes. 

     Mas vem também muita gente que não é judeu da diáspora. A festa faz sucesso também entre quem não é judeu. O templo é um esplendor. O próprio complexo da construção, assim como todo o conjunto a ele agregado. A guarda do Templo, em acordo com as autoridades romanas, fazem a segurança, para evitar problemas.

     O rei Herodes iniciou reformas, obras eternas, que ainda não estão concluídas, mas a imagem geral já é, por si, fascinante. É no entorno dessa estrutura que acontece toda a celebração e a rigorosa agenda de rituais e ofertas dedicadas. 

     Há aquela velha competição entre saduceus, ligados politicamente à administração central sacerdotal do Templo, todos que organizam a infraestrutura da festa, solenidades, celebrações e rituais, a segurança do entorno, e os fariseus, de olho o tempo todo para identificar e criticar as falhas. 

     Eles controlam as sinagogas, espalhadas tanto pela Palestina, em si, como pelas colônias da diáspora, numa permanente competição com os saduceus, aferrados ao coração do judaísmo, o Templo de Jerusalém, assim considerado. 

     Mas vez por outra, a briga se dá no contexto da Torah, na eterna discussão pelo que está ou não está certo. E é aquela mistura, da própria Torah escrita, em si, dos Targuns, a tradição interpretativa que veio do exílio na Babilônia, e ainda o que eles dizem ser a tradição oral que vem do próprio Moisés, a Midrash ou os Midrashim.  É aquela confusão. 

     Outra correria é pelo lucro. O mundo vira de cabeça para baixo por causa das oportunidades de ganho por causa da atividade econômica, em função do mundo de gente que passa por Jerusalém nessa época. Tem opção para todos os gostos.

      Principalmente, refeições. Mas há espaço e oportunidade para todo o tipo de comércio. Também as vendas relacionadas aos rituais da festa. Muita venda de animais, desde novilhos, ovelhas e cabritos, até a ruma de pequenas aves, em substituição, para os que têm menos posses.

      Mas em termos de negócios, tudo o que se pode imaginar se realiza em Jerusalém nessa época das grandes festas. Tudo se estrutura em função dessa concorrência de gente. Norte da África, entorno da Ásia Menor, cidades do Norte e do Sul, Egito incluído, e até da distante Europa, principalmente judeus da dispersão, mas também gentios concorrem a Jerusalém.

       Formam-se vários grupos de pessoas. Em alguns momentos, diminuem-se as distâncias impostas pelas camadas sociais. Caravanas de várias regiões se encontram, famílias e amigos se reveem, intercâmbios são estabelecidos. Você até vê gente classuda misturada ao povão, como se fossem estudos de casos. 

     É claro que a camada que se considera a nata, esse pessoal do círculo do sumo-sacerdote, esses bajuladores, que realmente acham que são os tais, ficam entre sua turma mesmo. Claro que não se misturam ao povão. Nunca o fazem. Mas se alguém é de classe elevada ou tem sobrenome com pedigree, terá seu reconhecimento. 

     Um desses microgrupos era o nosso. Nossa identidade ainda não estava definida. Éramos os seguidores do tal de Jesus. Para muitos, mais um louco que dizia de si mesmo ser o Messias. E que havia sido entregue aos romanos para ser crucificado.

     Sim, era certo que alguns desses seguidores espalhavam a boca miúda que ele havia ressuscitado. Mal se sabia o que era isso. Como assim? Voltara à vida, de entre os mortos?

       E, veja só, uma mulher que fora ao túmulo, Maria, foi quem nos trouxe a notícia de que, realmente, o túmulo estava vazio. E nos contou também que teve uma visão do próprio Jesus. Claro que houve relutância em acreditar. Mas não descaso.

     Porque Pedro e João saíram numa carreira para checar as informações. E retornaram, João mais convicto do que Pedro, relatando que ao Mestre não viram, mas somente, sim, o túmulo vazio. 

     João chegou a entrar e viu as faixas e panos postas à parte. Ora, quem vai roubar e, se vai roubar um corpo, vai se preocupar em retirar as faixas? E a máscara mortuária? Estava posta de lado, como se o próprio corpo, com sua própria mão houvesse descoberto o rosto. 

       E houve as demais confirmações. A conversa com discípulos no caminho para Emaús. A própria aparição do Mestre a todos nós. Depois, o retorno e o encontro com Tomé. A própria despedida e a recomendação de que aguardássemos o revestimento do Espírito.

      E foi naquele Pentecostes, logo o primeiro após a Páscoa de sua partida para o Pai.

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