sexta-feira, 12 de julho de 2019

A Bíblia na folha de jornal - Atos dos Apóstolos 7

       Boa noite.  Desta vez, vamos usar, como se costuma dizer, a prata da casa. Yosef, Abmael e eu, Azis, vamos discutir um traumático acontecimento ocorrido na congregação nascente, em Jerusalém, com relação à morte do casal Ananias e Safira. Tentamos trazer Lucas, sem dúvida a pessoa mais indicada para expor detalhes por ele pesquisados. Mas está em viagem com o apóstolo Paulo, a Roma, e não pudemos fazer contato com ele. Evidentemente que, em outra oportunidade, poderemos obter essas informações, mormente a opinião específica do Dr. e Evangelista Lucas.  Mas então,  vamos em frente.

Azis: bom, gente: comigo, Yosef ben Benyamim e Abmael ben Yoaquim, para juntos debatermos o fato ocorrido com o casal Ananias e Safira. Meu boa noite a vocês. E começamos perguntando: como vocês avaliam o trauma que prevaleceu na congregação, após o fato ocorrido com o casal Ananias e Safira?

Abmael: eu, por ordem alfabética (risos).

Azis: vá em frente!

Abmael: tremendo. Um trauma tremendo. Bem, é verdade que, de imediato, houve uma tentativa, vamos dizer, de justificar o que ocorreu, como se fosse merecido, entendem? Ora, se o casal era mesmo assim, hipócrita, tiveram o que mereceram. Eu acho até que foi uma maneira deles, vamos dizer, "exorcizarem" o trauma, sobrecarregando de culpa o casal.

Azis: ora, mas não eram mesmo culpados? Não foi exatamente essa a causa da morte, vamos dizer assim, do "castigo"? Yosef...

Yosef: eu penso que, antes de analisar o grau de culpa do casal, não se pode avançar, quer dizer, ampliar a própria culpa dos dois. Dizer que foi merecido. Dá impressão que se troca uma coisa pela outra, como se fosse assim: "Olha, estou achando muito trágico e muito exagerado esse castigo, a imagem que eu fazia de um Deus amoroso está afetada, mas, se eles eram assim tão vilões, ora, então mereceram". Como se disséssemos, Deus me perdoe, mas bem-feito para eles.

Azis: Abmael...

Abmael: creio que devemos estabelecer um equilíbrio. Deus é justo. Jamais esse senso da justiça de Deus seria um exagero em agir como agiu. Se foi assim, tão trágico e traumatizante, a primeira ideia que nos deve vir à mente é o senso de justiça de Deus. Nem o casal era pior ou merecia mais ou merecia o que teve, como se houvesse uma justificativa para Deus agir como agiu, como se a maldade deles, vamos dizer, "justificasse", legitimasse a atitude de Deus. Deus não se justifica ou espera que a maldade humana o motive, para então punir, para somente então agir, tomar uma atitude...

Azis: bom! Está esquentando! (risos). Espere aí: se não foi a atitude do casal que motivou a penalidade efetuada, executada, o que foi, então?... Espere... (risos)... Yosef...

Yosef: não, estou entendendo Abmael. O que estava em jogo, Azis, era a Pessoa do Espírito Santo. Pedro coloca em destaque, de modo claro, essa questão.  Quer dizer, vou dizer, com medo de errar, acho que num outro contexto, o casal não deixaria de estar errado, do mesmo modo, e seria a mesma mentira. Por exemplo, mal comparando, num "pecado oculto", numa situação encoberta à congregação. Mas, nesse contexto, de franca falsidade, diante de toda a igreja, lembram da fala de Jesus, de que quem provoca escândalo entre irmãos, que amarre uma pedra de mó ao pescoço e se precipite abaixo? Eles provocaram um tremendo escândalo, eles estavam como que ensinando a mentir. Jesus também disse que a mentira é filha do diabo...

Abmael: ah, não! Mas espere aí, espere aí: você está, de novo, equiparando o castigo à gravidade do ato cometido...

Yosef: ora, Abmael, mas então não foi? Se não tivessem cometido o ato indigno, nada lhes aconteceria.

Azis: esperem os dois (risos). Vamos retomar o nosso raciocínio: partimos de um ponto de vista em que avaliamos que Deus não se deixou irar, como que "saiu do controle", indignado, não foi tanto porque o cinismo do casal o enervou ao extremo (falando aqui respeitosamente). Mas houve equilíbrio e senso de justiça. Assim que vamos analisar. E foi o grau de ofensa à pessoa do Espírito, como Pedro indicou, além do escândalo diante dos irmãos, que agravou a situação. Certo? É esse o raciocínio? Abmael...

Abmael: certo. Precisamos desse senso de equilíbrio, para centrar ideia em Deus, amoroso, pleno de graça, mas também justo, que não se deixa escarnecer, como disse o Apóstolo Paulo na carta aos Gálatas. Lembro, também, o profeta Amós, que teve de pregar uma profecia de juízo aos assírios, os mesmos que, anteriormente, haviam sido alvo da misericórdia de Deus em arrependimento, na época de Jonas. Com isso, destacou que Deus não inocenta o culpado e de que não há perdão sem arrependimento.

Azis: sim... ok. Yosef...

Yosef: Abmael, mencionando as Escrituras, me fez lembrar dois casos. Vamos dizer mais dois casos, se assim podemos comparar: o caso de Uzá, ao tocar, indevidamente, a arca, e o caso dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú. Interessante é que, se considerarmos que o caso de Ananias e Safira aconteceu, como João fala em seu evangelho, no período do derramamento da graça de Deus, como que voltamos à estaca zero, quer dizer, voltamos no tempo: os fatos citados nas Escrituras ocorrem no período e época de gerência, digamos assim, da Lei de Moisés, grosso modo falando. Então, era para se esperar que casos assim traumáticos não mais ocorressem nestes tempos geridos pela graça de Jesus. Eu digo grosso modo falando...

Azis: Yosef me fez lembrar, também, a teofania do Sinai. O modo como Deus escolheu aparecer ao povo. Digo isso porque havia limites e temor e tremor. Era didático. Até Moisés se declarava assombrado. O rosto dele brilhava, quando descia do monte, proveniente da presença de Deus. Era como se fosse um marco definido, entendem, algo visto, sentido, ouvido, enfim, uma marca que nunca seria esquecida: a santidade de Deus é inviolável. Deus não transige com o pecado. Será que esse fato, essa mesma didática se aplica a este caso que abordamos aqui? Entendem? Porque não se poderia ultrapassar o limite. Não se poderia violar ou desrespeitar a presença de Deus ali, daquele modo, naquele lugar, tanto lá no Sinai, quanto aqui na igreja. Abmael...

Abmael: sem dúvida. A situação, embora historicamente distante, há um ponto de contato, sim, como você disse: Deus estabelece um limite e um ponto além do qual sua santidade não pode ser questionada e violada pelo homem pecador. Ninguém poderia ultrapassar. A situação aqui, também estabelece um limite, além do qual homem e mulher pecadores não ultrapassaram e os demais não podem ultrapassar. O temor pelo nome do Senhor foi compreendido, foi assimilado, exercitado. Num sentido prático. Palpável. Ninguém pode enganar o Senhor, na pessoa do Espírito. A mesma glória do Senhor, no Sinai e na congregação. Marcante, nesse início da era da igreja. Inicia-se a era da graça, mas é o mesmo Deus, necessário o mesmo temor, a mesma santidade, seja da parte de Deus, quanto requerida pelo próprio Deus. 

Yosef: quanto aos outros dois casos, semelhantes, lembram? Nadabe e Abiú, invadindo o Santíssimo Lugar, e Uzá, mesmo desavisadamente, tocando na arca, eu vejo em ambos os casos, a mesma aproximação, quero dizer, o mesmo princípio da inviolabilidade da santidade de Deus, do temor, do cuidado. Quer dizer, para preservar o próprio homem, Deus estabelece limites. Como se devesse preservar o próprio homem, protegendo-o de que não trate de modo desprezível e banal o próprio Deus. O que ocorreu com Ananias e Safira é mais para advertir toda a congregação do que para, efetivamente, puni-los. Correto dizer assim?

Azis: pedindo licença a Abmael (risos), Yosef falava dos outros dois casos, também destaco uma diferença para o caso de Ananias e Safira: no caso de Nadabe e Abiú, houve culpa, como no caso de Ananias e Safira. Mas no caso de Uzá, como destacou Yosef, foi desavisadamente que o fez. Como que sem culpa. Ele fez por boa intenção. Mas, ainda assim, morre ao tocar na arca. Bem, em todos os casos, deduzimos, há o aspecto comum da interdição necessária do acesso físico, digamos assim, ao Pai. Não pode haver violação. Mas no caso dos rapazes, Nadabe e Abiú, violação do espaço físico e do cerimonial, de modo consciente; no caso de Uzá, violação do espaço físico, no toque à arca; e no caso do casal, violação interior, tentativa de ocultação e flagrante cinismo desmascarado pelo Espirito, como que agindo como um guardião da santidade de Deus. E em todos os casos, o exemplo serve de advertência pública. Deus deve ser, em todos os sentidos, respeitado com temor e tremor. Abmael.

Abmael: Para não dispersar, creio que podemos fazer uma síntese. Caminhamos percorrendo experiências semelhantes nas Escrituras. É ela mesma que vai nos dar o referencial. A santidade de Deus e a necessidade de inviolabilidade, como e para a preservação do próprio homem. O rigor em relação ao pecado e a necessidade de demonstrar ao homem que, escolhendo acolher, definitivamente, o pecado, será impossível de se chegar a Deus: é uma coisa ou outra, ou se permanece em Deus contra o pecado, ou se aferrra ao pecado e se permanece contra Deus. E também podemos dizer que Deus adverte. Há uma necessidade de demonstrar, de modo didático e bem claro, aos outros, que é válida a advertência de que Deus não se deixa subverter. Veja bem, no caso de Uzá foi o erro dos levitas, em não advertir Davi, e do próprio rei, que tinha a obrigação de recorrer a eles, que redundou na morte de um inocente, mesmo bem-intencionado. Não poderia haver transigência.

Azis: Yosef, quero ouvir de você, para encerrarmos, Abmael já fez a síntese que eu ia pedir (risos), desejo que você comente duas coisas: a primeira, que fale sobre o dinheiro (risos). Afinal, foi a causa principal do ocorrido (ou não)?; a segunda, que fale sobre, quer dizer, numa nova ótica, apreciar o tipo e a razão, mais uma vez, da punição: porque não foram os primeiros e também não foram os últimos a mentir. Afinal, de novo (risos), por que esse tipo de punição que, pelo visto, não se repete?

Yosef: a questão estava relacionada à oferta daquele irmão levita, aliás, era Barnabé, futuro companheiro de Paulo, aliás, mais do que companheiro, foi quem introduziu Paulo no contexto dos irmãos. Ele seguiu o modelo mosaico de contribuição, que é o voluntariado. Aliás, o que, nas Escrituras, não é voluntário? E o casal, ao resolver medir-se pela atitude de Barnabé, projeta o próprio ego. Eram de outro nível social. Se sentiram afetados, achando que, no contexto do grupo, estariam focados, por não ter, até o momento, se manifestado. Barnabé se desfez do campo que era sua herança, enquanto que o casal, de um dos seus, e ainda assim sonegaram para si uma parte. Foi um "dízimo", ao inverso... (risos). Pedro foi cirúrgico em sua argumentação. Diga-se de passagem, a cada dia ele confirmava o seu dom de pastor. Ele disse que ninguém cobrava deles, ou melhor, que nunca se sentissem cobrados.  O que era deles, sempre continuaria sendo, mas que não mentissem ao Espírito. Arrepio-me, só de pensar. E vejam, um pecado chama outro e outro e outro, como diz o rei Davi em seu salmo. O pecado da soberba, neles, atraiu o da avareza que, por sua vez, atraiu o da mentira.  Enfim, contra essa urdidura foi que Deus se levantou. Quanto ao método de Deus, novamente abordando, porque já falamos sobre isso, como se fosse um excesso de rigor, da parte de Deus, já definimos que são marcos referenciais que educam, em relação ao temor que se deve nutrir pelo nome do Senhor, e isso para a própria segurança do crente, quer dizer, não se podem deixar subverter pelo errro, pelo pecado, que está sempre descoberto, aos olhos de Deus, prosseguindo cinicamente nesse curso de hipocrisia e afastamento da justiça de Deus. Acho que não será todas as vezes que houver pecado ou mentira, Deus vá se manifestar dessa forma, mas está fundamentado que ele não deixa que haja subversão continua, mas, como está escrito no início do livro do profeta Jeremias, Deus vela sobre sua palavra e sobre sua congregação. Falei (risos).

Azis: por hora, creio que abordamos, em tese, todo o ocorrido. A presença de Dr, quer dizer, do irmão Lucas seria essencial, pela pesquisa que fez, assim como por sua visão médica do ocorrido. Morreram fulminados diretamente pela ação de Deus, foi um mal súbito? E também acho que a questão dinheiro, dos bens, das ofertas será necessário discutir, numa outra oportunidade, porque bens materiais e ministério, a relação entre os dois, ganha uma feição pragmática e oportunista, muito explorada nos dias de hoje.

      Agradeço aos debatedores, nossos especiais e inéditos amigos (risos), Abmael e Yosef, nessa ordem (risos) e até uma outra oportunidade.

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