terça-feira, 3 de setembro de 2024

Dez teses sobre criação e evolução que evangélicos podem apoiar - 2

 

6. Os seres humanos são criados à imagem de Deus e, portanto, são únicos entre as criaturas de Deus. Eles possuem dignidade especial dentro da criação.


A ciência moderna demonstrou que há uma forte continuidade biológica entre os seres humanos e todos os outros animais. Os seres humanos, por exemplo, compartilham 98,5% de seu DNA com os chimpanzés. É cada vez mais difícil, então, afirmar que os seres humanos são qualitativamente distintos do reino animal.

De fato, é surpreendente notar quanta ênfase o relato da criação de Gênesis coloca na continuidade entre os seres humanos e outras criaturas. Quando Deus criou os seres humanos, ele não os fez cair do céu, mas os formou a partir do pó da terra.

E, no entanto, as Escrituras claramente pretendem dizer que algo especial aconteceu no sexto dia da criação, quando Deus criou os seres humanos. A mudança de linguagem é indicação suficiente: de “Produzam as águas abundantemente…” (Gen. 1:20) e “Produza a terra…” (Gn 1:24) para “façamos” (Gn 1:26). Aqui a criação atinge um novo estágio, um ponto alto, e Deus se inclina para a criação da humanidade de uma maneira que é distinta do que foi antes.

A tradição cristã tendeu a localizar essa singularidade na doutrina da Imago Dei, ou imagem de Deus. Definir precisamente o que esta imagem de Deus envolve tem sido uma árdua e maçante tarefa para os teólogos. Mas o ponto básico é bastante simples – a humanidade é dotada por Deus com uma dignidade especial. Embora haja continuidade entre os seres humanos e o resto dos animais, essa criação do sexto dia chamada “humanidade” é única.

7. Não há conflito final entre a Bíblia corretamente entendida e os fatos da ciência corretamente entendidos. Os dois livros de Deus, escritura e natureza, finalmente concordam. Portanto, os cristãos devem abordar as alegações da ciência contemporânea com interesse e discernimento, confiantes de que toda a verdade é a verdade de Deus.


Alguns discordam da noção dos “dois livros” de Deus, o livro das Escrituras e o livro da natureza. Mas a metáfora remonta pelo menos a Agostinho e pode ser encontrada em lugares estimados como a Confissão Belga.

O ponto é que esses dois livros, Escritura e natureza, em última análise, concordam. Às vezes, na história, pensamos que eles discordaram ou estavam em conflito. Isso ocorre porque tanto o livro das Escrituras quanto o livro da natureza requerem interpretação. Hoje queremos afirmar que toda verdade é verdade de Deus – onde quer que você a encontre, seja na Bíblia ou na criação.

Um corolário disso é que os cristãos devem abordar as alegações da ciência contemporânea com interesse e discernimento. Infelizmente, pelo menos na imaginação popular, os cristãos são menos conhecidos por entusiasmo e mais por seu ceticismo em relação à ciência. Mas a verdade é que os cristãos não precisam ficar nervosos com as descobertas da ciência contemporânea – como se a ciência pudesse desenterrar um “invalidador” da fé cristã. Não vai. Não pode.

Talvez tenhamos que conviver com alguma tensão entre o que acreditamos que as Escrituras ensinam e o que entendemos que a ciência está dizendo. Mas os cristãos, enraizados na harmonia final desses dois livros, devem cultivar uma paciência confiante. Lembre-se, agora “vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho…” (veja 1 Coríntios 13:12, NVI). Um dia, tudo ficará claro. Então esperamos, na esperança.

8. A fé cristã é compatível com diferentes teorias científicas sobre as origens, do criacionismo da Terra jovem ao criacionismo evolutivo, mas é incompatível com qualquer ponto de vista que rejeite a Deus como o Criador e Sustentador de todas as coisas. Os cristãos podem diferir (e o fazem) em sua avaliação dos méritos de várias teorias científicas das origens.


A afirmação neodarwiniana de pessoas como Richard Dawkins, de que mutações são aleatórias e que a evolução é, portanto, necessariamente não-guiada ou cega, é um adendo metafísico para a teoria científica da evolução, não uma parte da própria teoria. É uma suposição derivada não da ciência, mas de uma cosmovisão naturalista, que lamentavelmente é considerada por muitos como inseparável da ciência da biologia evolutiva. Os cristãos alegam justificadamente que a ciência evolucionista está sendo usada como pretexto para fazer grandes afirmações filosóficas sobre a inexistência de Deus ou sobre a natureza do mundo ou o que significa ser humano. Além disso, os cristãos estão certos em se opor quando as aulas de ciências são usadas como um púlpito para o naturalismo.

A ideia de evolução “não-guiada” é incompatível com o teísmo cristão. Dentro da cosmovisão bíblica, nada é aleatório. Nem mesmo um pardal cai no chão à parte da vontade de Deus (Mt 10:29). Se, de fato, Deus criou a diversidade biológica que vemos através da mutação e seleção natural, então ele supervisionou o processo a cada passo do caminho. A evolução seria, portanto, um processo completamente direcionado, o meio pelo qual Deus escolheu produzir vida através da história.

No entanto, devemos entender que o suposto conflito entre o cristianismo e a evolução é mais aparente do que real. A fé cristã, em princípio, não está em desacordo com a evolução como ciência, mas com a evolução como visão de mundo. Os cristãos podem e, de fato, avaliam os méritos da ciência da evolução de maneiras diferentes. Tudo bem. Mas a alegação de que a evolução é, por sua própria natureza, oposta ao cristianismo, é simplesmente excedida – não é defensável filosófica ou teologicamente.

Alguns cristãos acreditam que Deus criou o mundo há vários milhares de anos. Eles veem isso como a leitura clara das Escrituras e o que os cristãos acreditaram por séculos. Há outros que levam a Bíblia tão a sério quanto esses, mas veem as evidências científicas um pouco diferente e acham que o mundo é muito antigo – vários bilhões de anos. Aqui está o ponto crucial: os cristãos podem e de fato diferem em sua avaliação dos méritos da ciência contemporânea. Não há problema nisso. O que não está certo, ou o que não é uma visão cristã, é excluir Deus do processo de qualquer forma. Se a Terra é jovem, então Deus a fez jovem. Se a terra é antiga, então Deus a fez antiga. Se os seres humanos vieram de poeira literal, então Deus fez isso. E se os seres humanos compartilham ancestralidade comum com outras espécies, então Deus também assim o fez.

9. Os cristãos devem estar bem fundamentados no ensino da Bíblia sobre a criação, mas devem sempre manter seus pontos de vista com humildade, respeitando as convicções dos outros e não defendendo agressivamente posições em que os evangélicos discordam.


À medida que crescemos na profundidade de nossa compreensão dessas questões importantes, devemos amadurecer em nossa capacidade de nos engajar com aqueles que têm visões opostas. É um sinal de maturidade cristã poder viver com esse tipo de tensão; é um sinal de infância ou adolescência ficar agitado por um mundo que não é assim tão preto ou branco.

Fundamental para isso é a virtude cristã da humildade. Às vezes falamos sobre “precisar de humildade”, como se pudéssemos ligar a humildade como um interruptor de luz. A verdade é que a humildade é uma virtude que só é cultivada com o tempo e com muita paciência e intencionalidade. Também é cultivada apenas em comunidade, com a ajuda e encorajamento de outros. É por isso que o apóstolo Paulo convidou os cristãos a trabalhar arduamente “para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4: 3, NVI).

Na prática, a humildade e o desejo de preservar a unidade eclesial significam respeitosamente ouvir as opiniões dos outros. Isso também significa não agitar pela mudança ou tentar impressionar os outros com suas próprias opiniões. Em uma questão complexa, sensível e contenciosa como as origens, é melhor para os evangélicos de boa vontade não advogar agressivamente por posições sobre as quais os evangélicos discordam.

10. Tudo na criação encontra sua fonte, objetivo e significado em Jesus Cristo, em quem toda a criação um dia alcançará a renovação e a redenção escatológicas. Todas as coisas estarão unidas nele, coisas no céu e coisas na terra.


A criação, em última instância, existe para Cristo. Ele é sua fonte, seu objetivo, seu significado. As Escrituras descrevem Jesus com estas palavras elevadas: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Col 1: 15-17, NVI).

Como Mark Noll argumentou, a pessoa de Cristo fornece motivos para um aprendizado sério, e não menos nas ciências. Existe uma base cristológica para o nosso engajamento com a doutrina da criação e com o mundo natural.

Mais do que isso, confessamos que Cristo é também o telos desta criação. Não apenas seu significado, mas seu objetivo – seu redentor e a fonte da resolução apoteótica da criação. Ou, como a escritura tão enfaticamente diz, a vontade de Deus foi estabelecida “em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef1: 9-10, NVI).

 https://cristaosnaciencia.org.br/teses-criacao-evolucao/

Todd Wilson é o presidente e co-fundador do Center for Pastor Theologians. Este artigo é adaptado de seu capítulo, “Mere Creation”, em Creation and Doxology: The Beginning and End of God’s Good World (IVP Academic), que ele co-editou com Gerald Hiestand.

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