6. Os seres humanos são criados à imagem de
Deus e, portanto, são únicos entre as criaturas de Deus. Eles possuem dignidade
especial dentro da criação.
A
ciência moderna demonstrou que há uma forte continuidade biológica entre os
seres humanos e todos os outros animais. Os seres humanos, por exemplo,
compartilham 98,5% de seu DNA com os chimpanzés. É cada vez mais difícil,
então, afirmar que os seres humanos são qualitativamente distintos do reino animal.
De
fato, é surpreendente notar quanta ênfase o relato da criação de Gênesis coloca
na continuidade entre os seres humanos e outras criaturas. Quando Deus criou os
seres humanos, ele não os fez cair do céu, mas os formou a partir do pó da
terra.
E, no
entanto, as Escrituras claramente pretendem dizer que algo especial aconteceu
no sexto dia da criação, quando Deus criou os seres humanos. A mudança de
linguagem é indicação suficiente: de “Produzam as águas abundantemente…” (Gen.
1:20) e “Produza a terra…” (Gn 1:24) para “façamos” (Gn 1:26). Aqui a criação
atinge um novo estágio, um ponto alto, e Deus se inclina para a criação da
humanidade de uma maneira que é distinta do que foi antes.
A
tradição cristã tendeu a localizar essa singularidade na doutrina da Imago
Dei, ou imagem de Deus. Definir precisamente o que esta imagem de
Deus envolve tem sido uma árdua e maçante tarefa para os teólogos. Mas o ponto
básico é bastante simples – a humanidade é dotada por Deus com uma dignidade
especial. Embora haja continuidade entre os seres humanos e o resto dos
animais, essa criação do sexto dia chamada “humanidade” é única.
7. Não há conflito final entre a Bíblia
corretamente entendida e os fatos da ciência corretamente entendidos. Os dois
livros de Deus, escritura e natureza, finalmente concordam. Portanto, os
cristãos devem abordar as alegações da ciência contemporânea com interesse e
discernimento, confiantes de que toda a verdade é a verdade de Deus.
Alguns
discordam da noção dos “dois livros” de Deus, o livro das Escrituras e o livro
da natureza. Mas a metáfora remonta pelo menos a Agostinho e pode ser
encontrada em lugares estimados como a Confissão Belga.
O
ponto é que esses dois livros, Escritura e natureza, em última análise,
concordam. Às vezes, na história, pensamos que eles discordaram ou estavam em
conflito. Isso ocorre porque tanto o livro das Escrituras quanto o livro da
natureza requerem interpretação. Hoje queremos afirmar que toda verdade é
verdade de Deus – onde quer que você a encontre, seja na Bíblia ou na criação.
Um
corolário disso é que os cristãos devem abordar as alegações da ciência
contemporânea com interesse e discernimento. Infelizmente, pelo menos na
imaginação popular, os cristãos são menos conhecidos por entusiasmo e mais por
seu ceticismo em relação à ciência. Mas a verdade é que os cristãos não
precisam ficar nervosos com as descobertas da ciência contemporânea – como se a
ciência pudesse desenterrar um “invalidador” da fé cristã. Não vai. Não pode.
Talvez
tenhamos que conviver com alguma tensão entre o que acreditamos que as
Escrituras ensinam e o que entendemos que a ciência está dizendo. Mas os
cristãos, enraizados na harmonia final desses dois livros, devem cultivar uma
paciência confiante. Lembre-se, agora “vemos apenas um reflexo obscuro, como em
espelho…” (veja 1 Coríntios 13:12, NVI). Um dia, tudo ficará claro. Então
esperamos, na esperança.
8. A fé cristã é compatível com diferentes teorias
científicas sobre as origens, do criacionismo da Terra jovem ao criacionismo
evolutivo, mas é incompatível com qualquer ponto de vista que rejeite a Deus
como o Criador e Sustentador de todas as coisas. Os cristãos podem diferir (e o
fazem) em sua avaliação dos méritos de várias teorias científicas das origens.
A
afirmação neodarwiniana de pessoas como Richard Dawkins, de que mutações são
aleatórias e que a evolução é, portanto, necessariamente não-guiada ou cega, é
um adendo metafísico para a teoria científica da evolução, não uma parte da
própria teoria. É uma suposição derivada não da ciência, mas de uma cosmovisão
naturalista, que lamentavelmente é considerada por muitos como inseparável da
ciência da biologia evolutiva. Os cristãos alegam justificadamente que a
ciência evolucionista está sendo usada como pretexto para fazer grandes afirmações
filosóficas sobre a inexistência de Deus ou sobre a natureza do mundo ou o que
significa ser humano. Além disso, os cristãos estão certos em se opor quando as
aulas de ciências são usadas como um púlpito para o naturalismo.
A
ideia de evolução “não-guiada” é incompatível com o teísmo cristão. Dentro da
cosmovisão bíblica, nada é aleatório. Nem mesmo um pardal cai no chão à parte
da vontade de Deus (Mt 10:29). Se, de fato, Deus criou a diversidade biológica
que vemos através da mutação e seleção natural, então ele supervisionou o
processo a cada passo do caminho. A evolução seria, portanto, um processo
completamente direcionado, o meio pelo qual Deus escolheu produzir vida através
da história.
No
entanto, devemos entender que o suposto conflito entre o cristianismo e a
evolução é mais aparente do que real. A fé cristã, em princípio, não está em
desacordo com a evolução como ciência, mas com a evolução como visão de mundo.
Os cristãos podem e, de fato, avaliam os méritos da ciência da evolução de
maneiras diferentes. Tudo bem. Mas a alegação de que a evolução é, por sua
própria natureza, oposta ao cristianismo, é simplesmente excedida – não é
defensável filosófica ou teologicamente.
Alguns
cristãos acreditam que Deus criou o mundo há vários milhares de anos. Eles veem
isso como a leitura clara das Escrituras e o que os cristãos acreditaram por
séculos. Há outros que levam a Bíblia tão a sério quanto esses, mas veem as
evidências científicas um pouco diferente e acham que o mundo é muito antigo –
vários bilhões de anos. Aqui está o ponto crucial: os cristãos podem e de fato
diferem em sua avaliação dos méritos da ciência contemporânea. Não há problema
nisso. O que não está certo, ou o que não é uma visão cristã, é excluir Deus do
processo de qualquer forma. Se a Terra é jovem, então Deus a fez jovem. Se a
terra é antiga, então Deus a fez antiga. Se os seres humanos vieram de poeira
literal, então Deus fez isso. E se os seres humanos compartilham ancestralidade
comum com outras espécies, então Deus também assim o fez.
9. Os cristãos devem estar bem fundamentados no
ensino da Bíblia sobre a criação, mas devem sempre manter seus pontos de vista
com humildade, respeitando as convicções dos outros e não defendendo
agressivamente posições em que os evangélicos discordam.
À
medida que crescemos na profundidade de nossa compreensão dessas questões
importantes, devemos amadurecer em nossa capacidade de nos engajar com aqueles
que têm visões opostas. É um sinal de maturidade cristã poder viver com esse
tipo de tensão; é um sinal de infância ou adolescência ficar agitado por um
mundo que não é assim tão preto ou branco.
Fundamental
para isso é a virtude cristã da humildade. Às vezes falamos sobre “precisar de
humildade”, como se pudéssemos ligar a humildade como um interruptor de luz. A
verdade é que a humildade é uma virtude que só é cultivada com o tempo e com
muita paciência e intencionalidade. Também é cultivada apenas em comunidade,
com a ajuda e encorajamento de outros. É por isso que o apóstolo Paulo convidou
os cristãos a trabalhar arduamente “para conservar a unidade do Espírito pelo
vínculo da paz” (Ef 4: 3, NVI).
Na
prática, a humildade e o desejo de preservar a unidade eclesial significam
respeitosamente ouvir as opiniões dos outros. Isso também significa não agitar
pela mudança ou tentar impressionar os outros com suas próprias opiniões. Em
uma questão complexa, sensível e contenciosa como as origens, é melhor para os
evangélicos de boa vontade não advogar agressivamente por posições sobre as
quais os evangélicos discordam.
10. Tudo na criação encontra sua fonte, objetivo e
significado em Jesus Cristo, em quem toda a criação um dia alcançará a
renovação e a redenção escatológicas. Todas as coisas estarão unidas nele,
coisas no céu e coisas na terra.
A
criação, em última instância, existe para Cristo. Ele é sua fonte, seu
objetivo, seu significado. As Escrituras descrevem Jesus com estas palavras
elevadas: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação,
pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas
foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo
subsiste” (Col 1: 15-17, NVI).
Como
Mark Noll argumentou, a pessoa de Cristo fornece motivos para um aprendizado
sério, e não menos nas ciências. Existe uma base cristológica para o nosso
engajamento com a doutrina da criação e com o mundo natural.
Mais
do que isso, confessamos que Cristo é também o telos desta criação. Não
apenas seu significado, mas seu objetivo – seu redentor e a fonte da resolução
apoteótica da criação. Ou, como a escritura tão enfaticamente diz, a vontade de
Deus foi estabelecida “em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as
coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef1:
9-10, NVI).
Todd
Wilson é o presidente e co-fundador do Center for Pastor Theologians. Este
artigo é adaptado de seu capítulo, “Mere Creation”, em Creation and Doxology:
The Beginning and End of God’s Good World (IVP Academic), que ele co-editou com
Gerald Hiestand.
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