segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Língua grega


A língua grega faz parte das línguas indo-europeias. O grego pertence a um ramo próprio das línguas indo-europeias e vem diretamente da língua protoindo-europeia. O grego moderno falado hoje passou por vários estágios de desenvolvimento. O protogrego, que é derivado diretamente da língua protoindo-europeia, originou o grego micênico. Este foi escrito numa escrita cuneiforme, chamada linear B. Por volta do ano de 800 a.c. foi substituído pela língua grega clássica. Aqui os gregos adotaram o alfabeto fenício e o mudaram com a introdução das vogais. Até o desenvolvimento do grego moderno ainda houve duas etapas: a helenística e depois a era do grego bizantino.

A pronúncia clássica e a moderna do grego diferem-se uma da outra. As graves alterações fonéticas que surgiram ao longos dos três milênios na língua não são visíveis na ortografia. Isso significa que as palavras gregas antigas e modernas são escritas muitas vezes idênticas ou muito semelhantes, mas a sua pronúncia é completamente diferente.

A escrita

A língua grega mudou a sua pronúncia várias vezes ao longo dos últimos milênios. Graças aos esforços para a preservação da língua grega, a escrita grega não mudou quase nada. O alfabeto grego é uma continuação do desenvolvimento do alfabeto fenício. O alfabeto grego usado hoje é composto por 24 letras.

LetraNome (grego clássico)Nome (grego moderno)Transcrição (grego clássico)Transcrição (grego moderno)
A, αAlpha (ἄλφα)álfa (άλφα)aa, αι=e
B, βBeta (βῆτα)víta (βήτα)bv
Γ, γGamma (γάμμα)gáma (γάμμα)gg, γγ=ng, γκ=ng, γχ=nch, γξ=nx
Δ, δDelta (δέλτα)délta (δέλτα)dd
Ε, εEpsilon (ἔψιλον)épsilon (έψιλον)ee, corta-se antes de ι
Ζ, ζZeta (ζῆτα)zíta (ζήτα)zz
Η, ηEta (ἦτα)íta (ήτα)ēi
Θ, θTheta (θῆτα)thíta (θήτα)thth
Ι, ιIota (ἰῶτα)ióta (ιώτα)ii
Κ, κKappa (κάππα)kápa (κάππα)kk
Λ, λLambda (λάμβδα)lámda (λάμδα)ll
Μ, μMy (μῦ)mi (μι)mm
Ν, νNy (νῦ)ni (νι)nn
Ξ, ξXi (ξῖ)xi (ξι)xx
Ο, οOmikron (ὄμικρον)ómikron (όμικρον)oo, corta-se antes de ι
Π, πPi (πῖ)pi (πι)pp, μπ=mb
Ρ, ρRho (ῥῶ)ro (ρω)r(h)r
Σ, σ ou ς (no final da palavra)Sigma (σίγμα)sígma (σίγμα)ss
Τ, τTau (ταῦ)taf (ταυ)tt, ντ=nd
Υ, υYpsilon (ὔψιλον)ýpsilon (ύψιλον)yy, depois de vogais v ou f
Φ, φPhi (φῖ)fi (φι)phf
Χ, χChi (χῖ)chi (χι)chch
Ψ, ψPsi (ψῖ)psi (ψι)psps
Ω, ωOmega (ὠμέγα)oméga (ωμέγα)ōo

Até recentemente foram utilizados os acentos e símbolos para o som fricativo glotal átono no grego. Estes foram introduzidos no período helenístico da língua grega escrita. Em 1982, por um decreto do então presidente grego, este som foi abolido e os acentos foram substituídos por um único caractere que indica a sílaba tônica. Em textos gregos antigos os símbolos são naturalmente usados até hoje.

https://www.aprender-grego.com/idioma-grego.html

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Estudos sobre Karl Barth e teologia pública - Studies on Karl Barth and public theology - Final

 

Cidadania no céu e na terra a partir de Alexander Massmann

A coleção teologia pública (Öffentliche Theologie) da editora alemã Evangelische Verlagsanstalt de Leipzig, editada pelos destacados teólogos Heinrich Bedford-Strohm: e Wolfgang Huber conta com um número que relaciona Karl Barth, cidadania e ética: a obra de Alexander Massmann, intitulada Bürgerrecht im Himmel und auf Erden: Karl Barths Ethik (Cidadania no céu e na terra: a ética de Karl Barth, neste texto utiliza-se como referência a versão inglesa). A tese é de que a ética barthiana resulta na compreensão da responsabilidade pública da igreja levando a uma percepção politicamente ativa de justiça (MASSMANN, 2015, p. xlii).

Nessa direção, Massmann compreende que a ética barthiana, trata das formas práticas em que o evangelho é afirmado de forma concreta, tal relação busca um “[...] labor ético que permite uma transformação que seja crítica, criativa e construtiva” (MASSMANN, 2015, p. xli). Ademais, “[...] como a relevância do evangelho não pode ser separada de formas externas de vida, a igreja encara o desafio de como formas particulares de correspondência prática ao evangelho podem ser advogadas diante de um público mais amplo”. Contudo, essa relevância não deve ser confundida com qualquer forma de monopolização do espaço público, nem mesmo moral ou espiritual. De modo radical, a atuação pública da igreja cristã tem a ver com a graça. “A principal razão para o novo ethos cristão, contudo, pode ser descrita como gratidão” (MASSMANN, 2015, p. xlii). 

Além destes aspectos, a abordagem de Massmann reforça a compreensão de que a teologia barthiana parte de uma perspectiva trinitária dentro da qual a cristologia desempenha um papel decisivo, sendo que a ética cristã estaria voltada à conformação a Cristo e sua cruz. Nessa direção, diante do que chama de “discipulado cruciforme” (“cruciform discipleship”), e da noção de que é na humilhação que o filho de Deus é ainda mais exaltado (MASSMANN, 2015, p. xlviii), se percebem dois movimentos que, de certa forma, sumarizam o método teológico barthiano, a saber, analogia fidei e dialética. A primeira estabelece sua base na precedência da fé e do evangelho; a segunda é demonstrada na tensão paradoxal entre humilhação e exaltação. Ambas chaves, contudo, retornam ao mesmo ponto de partida, a saber, a compreensão da revelação por meio do que se reconhece como Palavra de Deus, em sua base escriturística e, mais profundamente, em Jesus Cristo. Também a ética tem a ver com este Cristo crucificado, na medida em que a teologia da cruz instrui a prática do sacrifício e do arrependimento (MASSMANN, 2015, p. 4). Elementos que, na vida pública, tem a ver com a constante reflexão do humano sobre sua condição sob o pecado, bem como com sua atuação em favor de outrem.

Massmann desenvolve um caminho em que afirma repetidas vezes a precedência do evangelho, elemento que conclui de sua análise de Evangelho e Lei e que utiliza como chave hermenêutica em sua leitura da KD. De forma sintética, portanto, compreende que a ação moral “empresta uma moldura prática à forma como cristãos/ãs articulam seu engajamento com o evangelho. De fato, isto é o que constitui a obrigação moral” (MASSMANN, 2015, p. 439). Tal compreensão da ética, indica Massmann, poderia receber a crítica de ser excessivamente eclesial e com pouca compatibilidade pública diante de um contexto pluralista. Contudo, sua ênfase na justiça social, na responsabilidade pública da igreja, e na tradução empírica do evangelho permitem a construção de pontes com o debate público (MASSMANN, 2015, p. 446). Dessa forma, não apenas o evangelho aponta para a ética, mas também as próprias questões vividas no espaço público podem ser consideradas parábolas do Reino, na medida em que apontam para a misericórdia de Deus em Jesus Cristo (MASSMANN, 2015, p. 447).

Assim, a criação (KD III) enquanto base externa da aliança (KD II) torna-se espaço das possibilidades contingentes que operam para o melhoramento da vida de forma criativa por meio de ações responsáveis (MASSMANN, 2015, p. 459). Com efeito, a ética barthiana encontra uma base marcadamente eclesiológica, isto é, falar de teologia pública a partir de Barth, em última análise, é falar sobre a igreja no espaço público, fato corroborado por suas célebres obras O cristão na sociedade e Comunidade cristã e comunidade civil.

Massmann destaca a constante atenção dedicada por Barth à relação responsável que a igreja deve ter com o Estado civil e com a justiça social. “O aspecto da justiça social recebe clara expressão na KD II/1”. Atenção especial deve ser dedicada aos social e economicamente pobres, as viúvas e aos órfãos. Isto é, Barth recorre à tradição bíblica que pode ser encontrada em textos legais, narrativos, cúlticos e proféticos. Além de estar em consonância com a preocupação de Jesus com aqueles e aquelas que vivem à margem da sociedade. O mesmo acento na justiça social é também encontrado nas primeiras comunidades cristãs. “Tal dimensão econômica e social da ação cristã reflete a prioridade do evangelho em relação à lei, na medida em que a ação social corresponde à libertação por Deus [...]” (MASSMANN, 2015, p. 468-469). De tal forma, pensa-se a igreja enquanto comprometida com o estabelecimento de uma democracia constitucional, fomentando justiça social e atuando na sociedade civil (MASSMANN, 2015, p. 471). Também o papel da economia para a paz e justiça social são pensadas por Barth, em especial a partir de suas elaborações sobre reconciliação e ética, sendo que a questão econômica pode ser ambígua, cabe também aí a luta pela clarificação dos efeitos políticos das escolhas econômicas (MASSMANN, 2015, p. 472-474).

A precedência do evangelho indica também que toda a ação realizada provém de uma outra ação já feita, isto é, para o/a cristão/ã a obra de Deus em Jesus Cristo já está realizada, diante do que resta aguardar seu Senhor. Contudo, esta espera deve ser ativa. “A realização de Deus em Cristo providencia orientação e motivação para uma ação sóbria” (MASSMANN, 2015, p. 474).

O viés pneumatológico barthiano tem a ver também com esta disposição do/a cristão/ã e de sua comunidade de atuarem concretamente na vida pública. “Como o Espírito é o Espírito de Cristo, cristãos/ãs justificados/as não são deixados com apenas um ideal vago de amor, mas estarão ao lado daqueles que sistematicamente são excluídos da sociedade”. Em virtude disso, “cristãos/ãs participarão das dimensões estruturais da justiça legal e social”. A justificação operada por Cristo na ressurreição, neste contexto, “constitui uma parte da responsabilidade cristã por condições justas na sociedade, o que Barth compreende tanto em termos de justiça social quanto de uma democracia constitucional” (MASSMANN, 2015, p. 479). 

A obra do Espírito, portanto, envolve a igreja como um todo em relação com a sociedade, no que pode ser compreendido como salvação em sua dimensão social. Aspecto especialmente desenvolvido em O Espírito Santo e a edificação da comunidade cristã (The Holy Spirit and the Upbuilding of the Christian Community KD IV/2 §67). Além disso, o Espírito Santo aponta para uma ação ampla de Deus no mundo sempre convidando e empoderando a humanidade (MASSMANN, 2015, p. 479-480).

Em resumo, a proposta de Massmann, a saber, de uma cidadania no céu e na terra, conjuga a relação entre evangelho e ética. Isto é, compreende que existem profundas implicações éticas na teologia barthiana. Contudo, sua ética nunca está desligada do evangelho e, portanto, da ação de Jesus Cristo. Em virtude disso, pensa que a igreja deve atuar no espaço público movida por algumas convicções básicas de sua tradição teológica, em especial: o ministério de Jesus que acontece em relação com marginalizados/as e excluídos/as de seu contexto; e a atuação do Espírito Santo que atualiza as relações entre evangelho e ética empoderando cristãos/ãs a agirem na sociedade. Com efeito, Massmann pensa uma íntima relação entre cristologia, pneumatologia e eclesiologia em que cristãos e cristãs são chamados a encarnarem a realidade em que vivem de forma transformadora. Esta dimensão profética da tradição cristã, rememorada por Massmann na opção pela ação junto ao pobre, a viúva, o órfão, aos marginalizados/as e excluídos/as econômica e socialmente, é aspecto constituinte de uma fala teológica que, presente no meio acadêmico, não seja apenas tradução de conceitos teológicos, mas também apelo crítico em relação às estruturas de poder instituídas no espaço público. O bem comum, em especial o bem daqueles e daquelas que mais sofrem constitui-se aspecto decisivo na construção de uma teologia pública coerente com a tradição bíblica e com a ética barthiana.

Considerações finais 

Os estudos sobre Karl Barth e teologia pública rareiam, possuem esparsa divisão temporal e não compartilham de uma mesma conceituação de teologia pública. Contudo, há continuidades na forma com que tratam de Barth. É ponto pacífico que se parta da atuação pública do teólogo de Basileia, ao que se destaca sua reação ao nazismo e seu envolvimento com a Bekennende Kirche (Igreja Confessante). Rasmusson, de forma hábil, soma a esta biografia pública de Barth sua reação ao liberalismo teológico que esteve relacionado com o apoio à política de guerra alemã já no contexto da Primeira Grande Guerra, bem como a decepção de Barth com professores que haviam sido importantes em sua formação e com quem mantinha uma relação de amizade e às vezes até familiar, como no caso de Martin Rade.

É em virtude deste contexto que Rasmusson destaca na teologia barthiana, seu forte cristocentrismo e precedência da fé. Aspectos retomados por Thiemann como elementos importantes para a teologia contemporânea, uma vez que determinariam onde estaria o critério decisório na relação entre fé cristã e racionalidade moderna. Também Massmann lê o complexo barthiano a partir da precedência do evangelho. O acento na centralidade de Jesus Cristo para o fazer teológico está presente de igual modo em Weaver que, ao pensar o contexto de pluralismos, entende que a teologia cristã poderia usufruir desta fundamentação barthiana para o diálogo inter-religioso. 

Assim como Rasmusson, Laubscher parte da noção barthiana de leitura da realidade como ela é em Jesus Cristo. Assim, por ser a base da existência é que tudo o que existe tem a ver com Cristo. Com isso, para Laubscher, a vida pública é aspecto inerente ao pensamento teológico. Na esteira de Laubscher, Senokoane e Kritzinger refletem sobre a realidade sul-africana, propondo uma releitura de Barth como um clássico, mais especificamente as Tambacher Rede, e destacam as noções de Cristo em nós e de comunidade cristã aberta a todas as pessoas.

Além dos aspectos barthianos, cabe também apontar para a pluralidade de compreensão dos autores sobre teologia pública. Laubscher e os autores Senokoane e Kritzinger pensam o público como o contexto sul-africano, tratando da relação entre teologia e sociedade/política. Thiemann pensa o público como a relação entre teologia e cultura. Weaver, por sua vez, tematiza a questão do pluralismo cultural e do diálogo inter-religioso como assuntos de teologia pública. Rasmusson, investiga a teologia de guerra alemã, principalmente representada pelos Deutsche Christen, como uma teologia pública – diante dessas formas de elaboração teológica cabe indicar uma perspectiva de contínua criticidade e auto-criticidade da teologia (cf. ZEFERINO, 2020). A elaboração de Massmann, por sua vez, aloca a teologia barthiana na relação com a cidadania por meio da recuperação de sua ética enquanto engajada com as questões do espaço público por estar embasada no evangelho.

A diversidade do que se compreende por teologia pública nesses trabalhos corrobora a percepção de uma polissemia terminológica, mesmo assim, ao se considerar as relações entre teologia e espaço público e a necessidade de tradução da tradição cristã para dentro dos debates da sociedade, nota-se na teologia barthiana, como perspectiva confessional que vivida em sua profundidade se doa ao pensamento público sobre o humano, a possibilidade de construção de uma teologia pública. Uma antropologia barthiana como aquela ensejada pela ideia de um Cristo em nós resulta numa encarnação na realidade humana de tal modo que o próximo não seja invisibilizado. Além disso, a tarefa contínua de crítica e auto-crítica teológica aliada a um senso histórico de luta contra as injustiças também são elementos presentes na teologia de Karl Barth que podem ajudar a pensar a condição humana nas bases de uma teologia pública.

[1] O texto aqui apresentado é uma versão revisada de material oriundo de nosso tese doutoral intitulada Karl Barth e teologia pública: contribuições ao discurso teológico público na relação entre clássicos teológicos e res publica no horizonte da teologia da cidadania (ZEFERINO, 2018).

Referências

BARTH, K. Dádiva e Louvor: ensaios teológicos de Karl Barth. ALTMANN, W. (Org.). São Leopoldo: Sinodal/EST, 2006.

BARTH, K. Introdução à Teologia Evangélica. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2007.

GEFFRÉ, C. Como fazer teologia hoje: hermenêutica teológica. São Paulo: Paulinas, 1989.

LAUBSCHER, M. On reading Karl Barth in South Africa today: Karl Barth as public theologian? HTS Teologiese Studies/Theological Studies, v. 63, n. 4, p. 1549-1564, 2007.

MASSMANN, A. Bürgerrecht im Himmel und auf Erden: Karl Barths Ethik. Leipzig: Evangelische Verlaganstalt, 2011.

MASSMANN, A. Citizenship in Heaven and on Earth: Karl Barth’s Ethics. Minneapolis: Fortress Press, 2015.

RASMUSSON, A. Church and Nation-State: Karl Barth and German public theology in the Early 20th Century. Die Nederduitse Gereformeerde Teologiese Tydskrif/The Dutch Reformed Theological Journal, v. 46, n. 3-4, p. 511-524, sept. and dec., 2005.

SENOKOANE, B.; KRITZINGER, J. Tambach remixed: “Christians in South African society”. HTS Teologiese Studies/Theological Studies. v. 63, n. 4, p. 1691-1716, 2007.

THIEMANN, R. Constructing a Public Theology: The Church in a Pluralistic Culture. Louisville: Westminster/John Knox Press, 1991.

TRACY, D. A imaginação analógica: a teologia cristã e a cultura do pluralismo. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2006.

WEAVER, A. Parables of the Kingdom and Religious Plurality: with Barth and Yoder toward a Nonresistant Public Theology. The Mennonite Quarterly Review. v. 72, p. 412-440, July, 1998.

ZEFERINO, J. Cidadania e teologia pública: estado da discussão e enfoque na criticidade. in SINNER, R.; ULRICH, C.; FORSTER, D. (Orgs.). Teologia pública no Brasil e na África do Sul: um diálogo teológico-político. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2020, p. 65-85.

ZEFERINO, J. Deus para além da religião: um ensaio teológico a partir de Karl Barth. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST, São Leopoldo, v. 3, p. 187-193, 2016.

ZEFERINO, J. Karl Barth e teologia pública: contribuições ao discurso teológico público na relação entre clássicos teológicos e res publica no horizonte da teologia da cidadania. Tese (Doutorado em Teologia). Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 2018.

https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/51826/41035

Estudos sobre Karl Barth e teologia pública - Studies on Karl Barth and public theology - 2

 

Pluralismo e diálogo inter-religioso como temas de teologia pública com base em Weaver 

Allain Weaver, teólogo menonita, concentra-se na relação entre cristãos/ãs e não cristãos/ãs em um contexto de pluralismos. O autor se propõe a tratar a ideia de parábolas do reino, presente na KD IV,3.1, em relação com o diálogo inter-religioso, uma vez que se mostra cético à uma teologia pluralista em princípio e pretende verificar em Barth a possibilidade de se desenvolver uma teologia que esteja apta a receber impulsos não cristãos, mesmo sendo exclusivista. Novamente destaca-se o pano de fundo cristocêntrico de Barth. 

A este respeito, desenvolve Weaver – “Enquanto o reino de Deus é Jesus Cristo, as palavras humanas podem, pela graça de Deus, revelar o reino. ‘A una verdadeira Palavra de Deus torna estas outras palavras verdadeiras’, explica Barth”. Contudo, estas palavras são sempre provisórias (WEAVER, 1998, p. 425). A ideia de parábolas do reino presentes na esfera secular, assegura, para Barth, que não se coloquem limites à livre graça de Deus (WEAVER, 1998, p. 426). A verdade presente nessas parábolas, por sua vez, é julgada pelo fato de apontarem ou não para Jesus Cristo (WEAVER, 1998, p. 430). Além disso, também são pensadas à luz de confissões e dogmas da igreja. “[...] nesta esfera alguma novidade é possível. Parábolas seculares podem alargar e preencher dogmas existentes na igreja e podem até mesmo provocar uma revisão dogmática” (WEAVER, 1998, p. 431-432). Além disso, o fato de provocarem bons frutos ou não também é critério para a assimilação ou não destas parábolas. Ademais, “para que sejam parábolas do reino, elas devem ser ambos, conforto e correção para a igreja”. Desta forma, “a igreja, em outras palavras, será simultaneamente desafiada pelas parábolas seculares a arrepender-se de pecados passados e a viver de acordo com seu chamado e será confirmada nele, i.e., em sua submissão a seu Senhor, Jesus Cristo” (WEAVER, 1998, p. 432). Estas palavras, em Barth, porém, servem em momentos específicos, particulares, não se transformando em normas gerais para a igreja (WEAVER, 1998, p. 433).

Diante deste quadro, Weaver argumenta que “[...] uma teologia barthiana das religiões insistiria na humildade dos cristãos engajados em conversas com não cristãos, além de uma disposição a empregarem rigorosa autocrítica à luz da Palavra de Deus” (WEAVER, 1998, p. 434). Além disso, se poderia reconhecer que palavras e ações de não cristãos podem ser compreendidas como aspectos da Palavra de Deus. “Que o próprio Barth não tem feito esta aplicação não deveria impedir que teólogos o façam hoje” (WEAVER, 1998, p. 435).

Quanto ao diálogo entre as religiões em vistas de uma atuação pública na sociedade, Weaver prevê um caminho mais plausível, a saber, que as diferentes religiões busquem em suas tradições impulsos para esta atuação ética (WEAVER, 1998, p. 438). Para ele, a teologia pública advinda de sua análise de Barth, cotejando também aspectos da teologia de Yoder, seria “uma que testemunhasse ao mundo por meio de sua existência corporativa enquanto simultaneamente recebesse palavras críticas do mundo e (às vezes), nesta base, modificasse a forma de testemunho” (WEAVER, 1998, p. 439). Para Weaver, “uma abertura às parábolas seculares requer da igreja a renúncia de orgulho e autossuficiência; em resumo, ela requer não-resistência” (WEAVER, 1998, p. 439-440).

Weaver, ao receber as elaborações barthianas no contexto do diálogo inter-religioso se mostra bastante cético às tentativas de se encontrar um centro comum entre as religiões que não as diferencie em seus específicos, uma vez que parte da ideia barthiana da afirmação de Jesus Cristo como aquela grande diferença que identifica a fé cristã. Sua argumentação, contudo, leva a um centro comum cristão. Com efeito, o viés cristocêntrico barthiano não parece o mais adequado para o diálogo entre as religiões, uma vez que, como o próprio Weaver relembra, trata da abolição da ideia de religião por ser tentativa humana de chegar a Deus, pois em Barth, o movimento primeiro é sempre de lá pra cá. O viés da impossibilidade de se esgotar o mistério daquilo que historicamente foi chamado de Deus parece mais apropriado ao contexto do diálogo entre as religiões, aspecto que também está presente em Barth (ZEFERINO, 2016, p. 187-193). Lê-se Barth com e contra ele mesmo, uma vez que seu cristocentrismo, apesar de bem sustentado e inclusive necessário em virtude de seu contexto histórico, sufoca sua teologia a ponto de não permitir espaço para que circule o ar movimentado que ele mesmo argumenta ser a força que move o pensamento teológico (BARTH, 2007, p. 37-38). Não seria o Cristo dogmatista (cf. GEFFRÉ, 1989) um empecilho prático ao seguimento mistagógico do Jesus narrado pelos evangelhos? Apesar de preocupar-se com o rechaço do triunfalismo cristão, Weaver parece, desde Barth, pautar-se em um triunfalismo epistemológico ao invés de soteriológico.

Uma relação entre o pensamento barthiano e o contexto sul-africano: a contribuição de Laubscher

A abordagem de Martin Laubscher, desde o contexto sul-africano, investiga as possibilidades de leitura de Barth com base na realidade pós-apartheid. Sua análise se ocupa com o recorte temporal de 1945 a 1956 do corpus barthiano. Além disso, o autor sul-africano também destaca a vida pública de Barth com seu envolvimento político, seja no contexto da Segunda Grande Guerra, seja nos debates acerca da tensão entre Leste e Oeste (LAUBSCHER, 2007, p. 1555), como pontos de referência para pensar Barth como um teólogo público.

Na relação entre o que chama de âmbitos espiritual e secular, Laubscher compreende que não há uma separação radical entre eles, pelo contrário, Barth os veria sob o senhorio de Jesus Cristo, sendo que o primeiro deveria atuar para dentro do segundo. Com isso, o marcado cristocentrismo barthiano é tomado por Laubscher como base para a relação da igreja com o mundo público. Laubscher percebe que, em Barth, “[...] há uma íntima e próxima ligação entre o público e a teologia. De fato, partindo da definida intenção pública que sua teologia possui, qualquer opção forçada entre ambos seria falsa” (LAUBSCHER, 2007, p. 1556). Entretanto, justamente em virtude de seu ponto de partida cristocêntrico, pontua Laubscher, em Barth é importante que se distinga que a precedência está na centralidade de Cristo (LAUBSCHER, 2007, p. 1557). Assim, Laubscher compreende que o pensamento de Barth é teologia pública, mas sendo tanto teologia como pública em virtude da centralidade de Jesus Cristo. O autor segue a argumentação da seguinte maneira:

Desde seu ponto de partida teológico – como a realidade é em Cristo – ele não pode outra coisa senão estar interessado na vida pública. Mais, a intenção da moldura teológica de Barth não é de uma teologia “para” a vida pública, mas, antes, trata-se de pensamento que “é” teologia pública. Barth não quer reduzir ou manipular a teologia “para” interesse público, mas vê a teologia como sendo inerentemente pública. Portanto, ele também claramente argumenta [...] pela necessidade de que cristãos deveriam participar da vida pública de forma inconsciente e anônima [...]. A partir do momento que alguém não é anônimo e inconsciente na vida pública, este alguém vê que o interesse e a participação públicas se tornam um fim em si mesmos e que o teólogo torna-se mais direcionado pelas questões públicas do que pela teologia na e em direção a vida pública. Em suma, para Barth a marca teológica é primordial e definitiva, apenas depois, a marca pública (LAUBSCHER, 2007, p. 1558).

Com efeito, Laubscher identifica o pano de fundo cristocêntrico em Barth. Isto é corroborado por vários outros autores e é uma das marcas mais definitivas e reconhecidas no pensamento barthiano. Verificá-la como base para uma teologia pública em Barth, contudo, é aspecto bem detectado pelo teólogo sul-africano. Não poderia ser de outra maneira, o complexo barthiano é cristocêntrico, evangélico e eclesial. Sua teologia pública não poderia ser diferente. Parte de Deus para só depois enxergar o mundo. O que pode se questionar é justamente a plausibilidade e adequabilidade deste ponto de partida diante dos distintos públicos da teologia (cf. TRACY, 2006).

Barth como um clássico em Senokoane e Kritzinger

Senokoane e Kritzinger, desde o contexto sul-africano, pensam as palestras de Barth em Tambach, publicadas em 1919, que em português são encontradas sob o título O cristão na sociedade (BARTH, 2006, p. 19-46). Pela fluidez do texto, e por compreenderem que o estilo dialético utilizado por Barth neste texto é similar àquele utilizado pelo teólogo suíço ao refletir sobre Mozart, os autores a comparam com um movimento musical. O texto de Barth, para eles, reflete uma forma de teologia que pensa a vida pública (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1691-1693).

Cabe frisar que os autores se ocupam da leitura de Barth entendendo-o como um clássico, resultado de evento sediado na África do Sul intitulado Reading Karl Barth in South Africa Today, como parte integrante de um projeto maior, a saber, Reading the classics (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1693-1694). O folheto de divulgação deste evento, citam os autores, afirma: “As ideias de certos teólogos permanecem relevantes e desafiadoras, décadas e às vezes até séculos após suas mortes. Tais teólogos gradualmente se tornam conhecidos como ‘clássicos’ que são relidos e recontextualizados diante de situações sempre novas” (Reading the classics apud SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1694).

Os autores se propõem a fazer um remix, isto sendo entendido como a atualização de uma expressão artística, simultaneamente resguardando a integridade da obra anterior, como contextualizando-a a novos espaços. Assim, eles buscam “remixar a palestra de Barth em Tambach para a África do Sul atual de boa-fé, enquanto sério exercício de recontextualização, explorando sua utilidade enquanto uma teologia pública contemporânea” (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1694).

Os teólogos sul-africanos compreendem teologia pública em sentido amplo, isto é, enquanto intento interdisciplinar que pensa os aspectos públicos na direção do bem comum (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1695). É neste sentido que eles leem Barth e o relacionam com o contexto sul-africano em quatro pontos:

1. A partir da noção barthiana de Cristo em nós, que para eles tem a ver com um Deus que se faz presente na história, compreendem que há esperança também para o contexto sul-africano, e esta esperança está baseada na própria pessoa de Jesus Cristo. Assim, cristãos são chamados a participar do movimento de Deus na sociedade (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1697-1698).

2. A noção de Cristo em nós baseia a visão de uma comunidade cristã aberta à todas as pessoas. Atestam, assim, “a necessidade de se desenvolver uma nova cultura congregacional, na qual a igreja se torna a igreja que vive enquanto a comunidade do abrangente reino de Deus”. Ademais, “uma teologia pública, portanto, não começa por comunicados de imprensa ou pela crítica às autoridades por suas falhas, mas pelas congregações locais que experienciam a real presença do ‘Cristo em nós’ se tornando ‘edifícios abertos por todos os lados’” (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1699).

3. O terceiro ponto tem a ver com a compreensão/entendimento que os cristãos e a teologia devem ter do contexto no qual estão inseridos. “Barth enfatiza que ‘os cristãos na sociedade’ precisam entender a sociedade a seu redor” (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1700). Esta forma de compreensão contextual, para eles, não se trata de “um conhecimento abstrato, mas uma inclusão engajada e comprometida de pessoas e situações”, além de “[...] fomentar ações para transformação desta realidade no vindouro reino de Deus de paz e justiça” (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1705).

4. Senokoane e Kritzinger também enfocam a noção de perdão que, para Barth, estaria carregada de uma força de transformação para a sociedade (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1707).

                Os autores se dedicam a ver como que uma teologia pública de base barthiana pode lidar com temas candentes da sociedade como a questão da pobreza. Este desenvolvimento teológico, mesmo não tendo sido tratado por Barth em Tambach, merece atenção e carece de interdisciplinaridade em virtude da complexidade da questão. Mas compreender o contexto não é o suficiente, cabe “[...] fazer parte do Não de Deus ao mal, sofrimento e opressão na sociedade”. Isto é, trata-se de pensar uma teologia que promova um engajamento concreto na vida pública no horizonte da transformação desta realidade (SENOKOANE & KRITZINGER, 2007, p. 1712).

Também Senokoane e Kritzinger destacam a centralidade cristológica na obra barthiana, desta vez por meio da noção de Cristo em nós. Contudo, o viés ético de sua abordagem visibiliza uma cristologia mais dinâmica. Além disso, a proposta de se ler Barth como um clássico, ensejada pelos teólogos sul-africanos, mostra como que as teologias que se entendem como públicas hoje, podem haurir de desenvolvimentos teológicos de outros contextos, seja por pontos de contato entre distintas situações, seja pela perenidade de determinadas alegações.

https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/51826/41035

Estudos sobre Karl Barth e teologia pública - Studies on Karl Barth and public theology - 1

 

Resumo: Karl Barth (1886-1968) foi um dos mais destacados teólogos do século XX. Sua vasta obra tem sido revisitada por diversos olhares. A teologia pública, nomenclatura que começa a ser utilizada em meados da década de 1970, e ainda em desenvolvimento, oferece espaço para uma releitura de complexos teológicos de outrora. No Brasil, as relações entre teologia e espaço público, bem como a demanda por um discurso público da teologia no âmbito acadêmico, são características que marcam as pesquisas recentes na área. Neste texto, por meio de uma análise bibliográfica, analisam-se diferentes propostas de relação entre Karl Barth e teologia pública, o que resulta na percepção tanto de uma pluralidade de formas de desenvolver essa conexão, quanto de compreensões sobre aquilo que se denomina de teologia pública. Abordar a relevante atuação histórica do teólogo de Basileia, lê-lo como um clássico, ou ainda a emergência de uma tradução pública de elementos ligados à sua base cristocêntrica são modos de atualização do legado teológico barthiano.

Palavras-chave: Teologia Pública. Teologia Política. Karl Barth. Ética teológica.

Abstract: Karl Barth (1886-1968) was one of the main theologians in the 20th century. His vast works have been revisited by various places. Public theology, terminology that started to be used in the 1970’s, and still in progress, offers space for a new reading of yesteryear theological approaches. In Brazil, the connections between theology and public space, as well as the demand for a publica theological discourse in the university are some characteristics that mark recent researches in this study field. The present text, through a bibliographical analysis, explores different ways to relate Karl Barth and public theology, resulting in the understanding that there is a plurality of manners to develop that relationship, and that the works vary on their comprehension of public theology. To investigate Barth’s relevant historical actions, reading him as a classic, and the emergency to translate his Christocentric approach in a public language are some ways to update Barth’s theological legacy.

Keywords: Public Theology. Political Theology. Karl Barth. Theological Ethics.

Introdução [1]

Um olhar da atualidade para o período de Karl Barth (1886-1968) pode resultar na percepção desse importante pensador cristão como um teólogo público ou teólogo político, tanto por sua elaboração teológica quanto por sua atuação pública. Sem pretender estabelecer anacronismos, o que se tem em mente é que a vida e a teologia de Barth podem servir de impulso para se pensar uma teologia pública na atualidade. Efetivamente, esta relação já foi desenvolvida por outros autores. Rasmusson (2005) se ocupa do pensamento de Barth à luz de seu contexto histórico, em específico sua reação ao que chama de teologia de guerra alemã como uma teologia pública. Thiemann (1991), também considerando aspectos históricos, pensa a relação entre fé cristã e racionalidade moderna. Weaver (1998) propõe uma teologia pública que, simultaneamente, possa dar um testemunho missionário a não cristãos e esteja aberta para receber de não cristãos um testemunho acerca do que entende como parábolas do reino. O texto de Laubscher (2007) trata da relevância de Barth enquanto teólogo público para o processo de redemocratização pós-Apartheid na África do Sul, intento também realizado por Senokoane e Kritzinger (2007). Alexander Massmann (2011, 2015), alocado no âmbito das discussões sobre ética barthiana, com ênfase no aspecto da precedência do evangelho conjuga ética e atuação política. Após a análise destes textos elabora-se uma síntese, à guisa de conclusão, acerca do estado da discussão no que tange a relação entre Karl Barth e teologia pública.

A teologia de guerra alemã como teologia pública: os estudos de Rasmusson

O teólogo sistemático sueco, Arne Rasmusson, trata do pensamento de Karl Barth em relação com os movimentos teológicos do início do século XX. Ao comentar acerca da impressão gerada em Barth dos eventos de 1914, em especial que teólogos tenham apoiado a política belicista germânica, Rasmusson destaca que “[...] se alguém ler o que ele [Barth] escreveu naquele tempo, se perceberá que o que ele achou mais ultrajante foi a forma como teólogos usaram Deus para suportar a política de guerra” (RASMUSSON, 2005, p. 512). Nesse contexto, Rasmusson destaca o pensamento de Troeltsch que chega a enxergar o exército alemão como ferramenta de Deus na história, afora o nacionalismo suportado com princípios de fé e a ideia da nação alemã compreendida como encarnação do Espírito (Hegel) na história (RASMUSSON, 2005, p. 512). Compreende Rasmusson, portanto, que é a este tipo de liberalismo que Barth se oporia e procuraria desenvolver uma alternativa (RASMUSSON, 2005, p. 513). Também o apoio à teologia de guerra alemã de Adolf von Harnack, mas principalmente o de Wilhelm Hermann tiveram grande impacto em Barth (RASMUSSON, 2005, p. 514). O nacionalismo era compreendido por Troeltsch como princípio para a ética, e para Herrmann ele teria precedência em relação ao cristianismo. “O evangelho original não tem nada a ver com o mundo da política, ele é sobre Deus e a alma e sobre um reino escatológico”. Desta forma, “ao invés do reino veio a igreja e seu compromisso com a realidade mundial. Na modernidade, este compromisso é uma coisa do passado e cristianismo se tornou um aspecto da vida íntima pessoal” (RASMUSSON, 2005, p. 516). Sobre esses autores, Rasmusson afirma o seguinte:

Ademais, teólogos como Hermann e Troeltsch foram responsáveis por este estado das coisas enquanto fortemente suportaram e desenvolveram estas visões e trabalharam contra qualquer forma de igreja e teologia que poderia ser uma fonte de oposição. Teólogos, neste período, desempenharam um importante papel na discussão pública. Faziam o tipo de teologia pública de influência que hoje sonham os teólogos (RASMUSSON, 2005, p. 517).

É neste contexto, portanto, que deve ser avaliada a reação de Barth ao liberalismo teológico. Assim, “a teologia de Barth depois de 1914 é sua tentativa de compreender-se fora desta desastrosa compreensão de cristianismo” (RASMUSSON, 2005, p. 517). Em última análise, a principal diferença entre Barth e aqueles teólogos são seus pontos de partida para compreender a realidade, enquanto o primeiro pensa a realidade a partir da cristologia, os outros a pensam em chave política (RASMUSSON, 2005, p. 521). Em sua conclusão Rasmusson afirma:

Este debate acerca da natureza da teologia e da teologia pública continua hoje. A maioria das autodenominadas teologias públicas, inclusive algumas barthianas, continuam de alguma forma a teologia representada por Troeltsch, Herrmann e Rade. O ponto de partida implícito ou explícito para eles é uma dada imaginação sócio-cultural, uma narrativa assumida que define a natureza das realidades social e política e providencia descrições e possíveis soluções a problemas. Teologia pública se torna um projeto de mediação, mediando teologia cristã e esta imaginação sócio-cultural (geralmente descrita apenas como “realidade”). Quando se questiona como a teologia pode contribuir na discussão política e social esta imaginação sócio-cultural é assumida. A responsabilidade é vista como ser responsável pela realidade assim descrita (RASMUSSON, 2005, p. 521).

Por fim, Rasmusson compreende que talvez a resposta barthiana não seja decisiva, mas certamente ajudou a pensar a questão. Contudo, para ele, não são os assim chamados teólogos públicos que auxiliam no processo de leitura da atual realidade, “[...] mas pessoas que, da forma mais ampla possível, começam por uma teologia trinitária eclesialmente baseada [...] que Barth auxiliou a renovar” (RASMUSSON, 2005, p. 522).

Certamente a contribuição de Rasmusson ajuda a compreender melhor as razões do radical cristocentrismo barthiano, mas isto não quer dizer que a alternativa encontrada por Barth para a tensão entre teologia e espaço público seja a única possível, como o próprio Rasmusson reconhece. A via eclesial proposta por ele tampouco parece ser a única via possível ou sequer a mais adequada. O liberalismo protestante que reduziu a fé cristã a dado privado, contudo, também se mostra inapropriada aqui. Vale dizer, que ainda menos adequada seria uma teologia de caráter belicista que legitima o que quer que seja a partir de uma narrativa como o nacionalismo. A fé cristã representada na proposta cristocêntrica barthiana, pode ser desenvolvida por outras vias. Os elementos cristocêntricos e trinitários assumidos por Barth podem ser traduzidos em linguagem pública, doando-se ao pensamento acerca da condição humana na atualidade.

A relação entre teologia e cultura a partir de Thiemann

É interessante que o teólogo norte-americano e luterano, Thiemann, em sua obra sobre a construção de uma teologia pública, intitula o capítulo dedicado a Barth da seguinte maneira: Karl Barth and the task of constructing a public theology (Karl Barth e a tarefa de construir uma teologia pública) o que imediatamente remete o leitor à versão inglesa da Kirchliche Dogmatik (Dogmática Eclesial = KD) em que os editores traduzem na KD II e III a ética como tarefa (task) da teologia.

Thiemann se dedica a examinar a teologia barthiana diante do seu contexto histórico, pensando algumas contribuições à teologia contemporânea (THIEMANN, 1991, p. 75). Indica o autor que “para Barth, a fala adequada sobre Deus e a ação política apropriada andam de mãos dadas. Pois, Barth desenvolveu as implicações teológicas de sua visão de revelação em maior detalhamento do que as implicações políticas” (THIEMANN, 1991, p. 82-83). Isto já demonstra o viés de argumentação barthiano da precedência da fé. O que é corroborado, segundo Thiemann, pela rejeição barthiana de um “[...] pacto eterno entre a fé cristã e a cultura moderna”. O que Barth baseia em seu conceito de revelação (THIEMANN, 1991, p. 83). Thiemann toma em alta conta a noção de revelação do teólogo suíço. “[...] Barth não concebe a revelação primariamente como processo pelo qual conhecemos a Deus. Para Barth, revelação denota o conteúdo de nosso conhecimento de Deus” (THIEMANN, 1991, p. 84). Aqui aparece o primeiro ponto humano do desenvolvimento barthiano apresentado por Thiemann, a saber, a revelação enquanto compreensão humana de Deus.

Adiante, Thiemann argumenta que “para Barth, a categoria da revelação não pode ser separada da identidade de Deus, pois a revelação não é nada além do que o ser Deus em forma verbal [...] isto é, o ser interno-trinitário de Deus tornado disponível em palavra e história”. Mais, “se Deus é identificado apenas por meio da revelação, então a teologia deve começar pela reflexão acerca da identidade de Deus, em cristianismo isto significa começar com a doutrina da Trindade” (THIEMANN, 1991, p. 84). Desta forma, há uma proposição de que a porta de entrada para a fala humana sobre Deus seja a doutrina da Trindade. Nota-se cada vez mais que o espaço humano no fazer teológico corre risco de diluição na medida em que se compreende que, em Barth, “[...] a revelação de Deus provê a única base possível para um discurso adequado sobre Deus, pois Deus se tornou disponível a nós em sua una Palavra, Jesus Cristo, nós agora podemos empreender uma interpretação desta revelação” (THIEMANN, 1991, p. 85). Isto é, há uma ação humana na compreensão da revelação, mas está totalmente subordinada às doutrinas trinitária e cristológica. Assim, “a teologia é, para Barth, atividade hermenêutica na qual o teólogo, no contexto da comunidade cristã, busca dar [...] uma fiel redescrição da narrativa bíblica. Teologia é atividade humana por meio da qual a revelação de Deus se manifesta em discurso humano” (THIEMANN, 1991, p. 86). Nesse sentido, a teologia deveria se conformar àquilo que é possível conhecer de Deus, não sendo outra coisa senão intento tutelado de lá para cá. (THIEMANN, 1991, p. 86-87).

A revelação se dá, de acordo com Thiemann, no encontro da auto-interpretação de Deus e na interpretação humana de Deus à luz da tradição bíblica. Apesar dessa decisiva postura de cima para baixo do complexo barthiano, o contexto hermenêutico é salvaguardado. “Para Barth, a teologia é tarefa hermenêutica que começa com um texto que precisa ser interpretado no contexto de uma tradição viva” (THIEMANN, 1991, p. 88). O elemento humano, mesmo que em segundo plano, não deixa de estar presente, e pode ser resgatado numa atualização do pensamento barthiano. Thiemann desenvolve que “ao escolher a humanidade de Jesus, Deus providenciou um acesso sacramental e, em virtude disso, indireto à realidade divina”. Entretanto, “[...] mesmo essa presença sacramental não pode ser conhecida diretamente, pois Deus é conhecido em Jesus Cristo apenas por meio do testemunho da narrativa bíblica” (THIEMANN, 1991, p. 87). Este acesso não direto à realidade divina merece destaque: “Mas este conhecimento é sempre indireto e, em virtude disso, a teologia deve sempre fiar-se nos demasiadamente humanos traços de imaginação, intelecto, e sabedoria enquanto labutamos para oferecer uma fiel representação da revelação de Deus em Jesus Cristo” (THIEMANN, 1991, p. 87). Isto é, não se pode negligenciar o humano na interpretação daquilo que se chama de divino. Assim, “precisamente porque o conhecimento de Deus é indireto que se abre um espaço que pode apenas ser preenchido pelo ato imaginativo do teólogo” (THIEMANN, 1991, p. 88). De forma sintética, afirma Thiemann:

É esta visão da teologia que, creio eu, torna Karl Barth uma figura tão importante para a tarefa contemporânea da teologia. Sua visão do teólogo como alguém que responde fielmente à graça reconciliadora de Deus, sua concepção da teologia como fé em busca de compreensão, sua rejeição de qualquer forma de pacto eterno: estas são as qualidades que estabelecem a contínua relevância da teologia de Barth. As razões para a continuada relevância de Barth são perenes e contemporâneas (THIEMANN, 1991, p. 89).

Thiemann sustenta a relevância de Barth para a atualidade ao compreender que as teologias contemporâneas partem do pacto eterno (eternal covenant) entre fé cristã e razão moderna. Também aos que julgam existir um elemento religioso inerente ao humano compartilhariam desta noção de pacto eterno. Para ele, é necessário que haja uma precedência da graça de Deus (THIEMANN, 1991, p. 89-91). Para Thiemann, mesmo com Barth, se pode notar que o método teológico não representa uma dicotomia entre cultura e fé cristã. O evangelho, isto sim, oferece uma chave de leitura da cultura (THIEMANN, 1991, p. 92). 

O então Professor de Harvard, Ronald Thiemann, apresenta um Barth confessional e eclesial, cuja compreensão de teologia não é outra coisa senão intento à luz da realidade divina que permite ao humano alguma interpretação dela. Tanto a noção de realidade divina quanto a de humano são lidas em chave cristocêntrica, a ponto de que se questione que humano é esse, uma vez que a via de contato pensada está totalmente dependente da noção da humanidade de Cristo. Apesar disso, a partir da proposta de Thiemann, mesmo que em direção diversa, destacam-se três elementos que podem servir para ajudar a pensar um desenvolvimento teológico público: 1. A revelação como compreensão humana (THIEMANN, 1991, p. 84); 2. A teologia como hermenêutica (THIEMANN, 1991, p. 87-88); 3. A imaginação humana como elemento fundamental para o discurso sobre Deus (THIEMANN, 1991, p. 87-88). Estes três pontos levam a pensar um fazer teológico que parte de um corte antropológico; ocupa-se das tradições teológicas escritas (textos sagrados) e não escritas; além de perceber que discurso teológico é sempre discurso criativo e imaginativo.

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Dez teses sobre criação e evolução que evangélicos podem apoiar - 2

 

6. Os seres humanos são criados à imagem de Deus e, portanto, são únicos entre as criaturas de Deus. Eles possuem dignidade especial dentro da criação.


A ciência moderna demonstrou que há uma forte continuidade biológica entre os seres humanos e todos os outros animais. Os seres humanos, por exemplo, compartilham 98,5% de seu DNA com os chimpanzés. É cada vez mais difícil, então, afirmar que os seres humanos são qualitativamente distintos do reino animal.

De fato, é surpreendente notar quanta ênfase o relato da criação de Gênesis coloca na continuidade entre os seres humanos e outras criaturas. Quando Deus criou os seres humanos, ele não os fez cair do céu, mas os formou a partir do pó da terra.

E, no entanto, as Escrituras claramente pretendem dizer que algo especial aconteceu no sexto dia da criação, quando Deus criou os seres humanos. A mudança de linguagem é indicação suficiente: de “Produzam as águas abundantemente…” (Gen. 1:20) e “Produza a terra…” (Gn 1:24) para “façamos” (Gn 1:26). Aqui a criação atinge um novo estágio, um ponto alto, e Deus se inclina para a criação da humanidade de uma maneira que é distinta do que foi antes.

A tradição cristã tendeu a localizar essa singularidade na doutrina da Imago Dei, ou imagem de Deus. Definir precisamente o que esta imagem de Deus envolve tem sido uma árdua e maçante tarefa para os teólogos. Mas o ponto básico é bastante simples – a humanidade é dotada por Deus com uma dignidade especial. Embora haja continuidade entre os seres humanos e o resto dos animais, essa criação do sexto dia chamada “humanidade” é única.

7. Não há conflito final entre a Bíblia corretamente entendida e os fatos da ciência corretamente entendidos. Os dois livros de Deus, escritura e natureza, finalmente concordam. Portanto, os cristãos devem abordar as alegações da ciência contemporânea com interesse e discernimento, confiantes de que toda a verdade é a verdade de Deus.


Alguns discordam da noção dos “dois livros” de Deus, o livro das Escrituras e o livro da natureza. Mas a metáfora remonta pelo menos a Agostinho e pode ser encontrada em lugares estimados como a Confissão Belga.

O ponto é que esses dois livros, Escritura e natureza, em última análise, concordam. Às vezes, na história, pensamos que eles discordaram ou estavam em conflito. Isso ocorre porque tanto o livro das Escrituras quanto o livro da natureza requerem interpretação. Hoje queremos afirmar que toda verdade é verdade de Deus – onde quer que você a encontre, seja na Bíblia ou na criação.

Um corolário disso é que os cristãos devem abordar as alegações da ciência contemporânea com interesse e discernimento. Infelizmente, pelo menos na imaginação popular, os cristãos são menos conhecidos por entusiasmo e mais por seu ceticismo em relação à ciência. Mas a verdade é que os cristãos não precisam ficar nervosos com as descobertas da ciência contemporânea – como se a ciência pudesse desenterrar um “invalidador” da fé cristã. Não vai. Não pode.

Talvez tenhamos que conviver com alguma tensão entre o que acreditamos que as Escrituras ensinam e o que entendemos que a ciência está dizendo. Mas os cristãos, enraizados na harmonia final desses dois livros, devem cultivar uma paciência confiante. Lembre-se, agora “vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho…” (veja 1 Coríntios 13:12, NVI). Um dia, tudo ficará claro. Então esperamos, na esperança.

8. A fé cristã é compatível com diferentes teorias científicas sobre as origens, do criacionismo da Terra jovem ao criacionismo evolutivo, mas é incompatível com qualquer ponto de vista que rejeite a Deus como o Criador e Sustentador de todas as coisas. Os cristãos podem diferir (e o fazem) em sua avaliação dos méritos de várias teorias científicas das origens.


A afirmação neodarwiniana de pessoas como Richard Dawkins, de que mutações são aleatórias e que a evolução é, portanto, necessariamente não-guiada ou cega, é um adendo metafísico para a teoria científica da evolução, não uma parte da própria teoria. É uma suposição derivada não da ciência, mas de uma cosmovisão naturalista, que lamentavelmente é considerada por muitos como inseparável da ciência da biologia evolutiva. Os cristãos alegam justificadamente que a ciência evolucionista está sendo usada como pretexto para fazer grandes afirmações filosóficas sobre a inexistência de Deus ou sobre a natureza do mundo ou o que significa ser humano. Além disso, os cristãos estão certos em se opor quando as aulas de ciências são usadas como um púlpito para o naturalismo.

A ideia de evolução “não-guiada” é incompatível com o teísmo cristão. Dentro da cosmovisão bíblica, nada é aleatório. Nem mesmo um pardal cai no chão à parte da vontade de Deus (Mt 10:29). Se, de fato, Deus criou a diversidade biológica que vemos através da mutação e seleção natural, então ele supervisionou o processo a cada passo do caminho. A evolução seria, portanto, um processo completamente direcionado, o meio pelo qual Deus escolheu produzir vida através da história.

No entanto, devemos entender que o suposto conflito entre o cristianismo e a evolução é mais aparente do que real. A fé cristã, em princípio, não está em desacordo com a evolução como ciência, mas com a evolução como visão de mundo. Os cristãos podem e, de fato, avaliam os méritos da ciência da evolução de maneiras diferentes. Tudo bem. Mas a alegação de que a evolução é, por sua própria natureza, oposta ao cristianismo, é simplesmente excedida – não é defensável filosófica ou teologicamente.

Alguns cristãos acreditam que Deus criou o mundo há vários milhares de anos. Eles veem isso como a leitura clara das Escrituras e o que os cristãos acreditaram por séculos. Há outros que levam a Bíblia tão a sério quanto esses, mas veem as evidências científicas um pouco diferente e acham que o mundo é muito antigo – vários bilhões de anos. Aqui está o ponto crucial: os cristãos podem e de fato diferem em sua avaliação dos méritos da ciência contemporânea. Não há problema nisso. O que não está certo, ou o que não é uma visão cristã, é excluir Deus do processo de qualquer forma. Se a Terra é jovem, então Deus a fez jovem. Se a terra é antiga, então Deus a fez antiga. Se os seres humanos vieram de poeira literal, então Deus fez isso. E se os seres humanos compartilham ancestralidade comum com outras espécies, então Deus também assim o fez.

9. Os cristãos devem estar bem fundamentados no ensino da Bíblia sobre a criação, mas devem sempre manter seus pontos de vista com humildade, respeitando as convicções dos outros e não defendendo agressivamente posições em que os evangélicos discordam.


À medida que crescemos na profundidade de nossa compreensão dessas questões importantes, devemos amadurecer em nossa capacidade de nos engajar com aqueles que têm visões opostas. É um sinal de maturidade cristã poder viver com esse tipo de tensão; é um sinal de infância ou adolescência ficar agitado por um mundo que não é assim tão preto ou branco.

Fundamental para isso é a virtude cristã da humildade. Às vezes falamos sobre “precisar de humildade”, como se pudéssemos ligar a humildade como um interruptor de luz. A verdade é que a humildade é uma virtude que só é cultivada com o tempo e com muita paciência e intencionalidade. Também é cultivada apenas em comunidade, com a ajuda e encorajamento de outros. É por isso que o apóstolo Paulo convidou os cristãos a trabalhar arduamente “para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4: 3, NVI).

Na prática, a humildade e o desejo de preservar a unidade eclesial significam respeitosamente ouvir as opiniões dos outros. Isso também significa não agitar pela mudança ou tentar impressionar os outros com suas próprias opiniões. Em uma questão complexa, sensível e contenciosa como as origens, é melhor para os evangélicos de boa vontade não advogar agressivamente por posições sobre as quais os evangélicos discordam.

10. Tudo na criação encontra sua fonte, objetivo e significado em Jesus Cristo, em quem toda a criação um dia alcançará a renovação e a redenção escatológicas. Todas as coisas estarão unidas nele, coisas no céu e coisas na terra.


A criação, em última instância, existe para Cristo. Ele é sua fonte, seu objetivo, seu significado. As Escrituras descrevem Jesus com estas palavras elevadas: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (Col 1: 15-17, NVI).

Como Mark Noll argumentou, a pessoa de Cristo fornece motivos para um aprendizado sério, e não menos nas ciências. Existe uma base cristológica para o nosso engajamento com a doutrina da criação e com o mundo natural.

Mais do que isso, confessamos que Cristo é também o telos desta criação. Não apenas seu significado, mas seu objetivo – seu redentor e a fonte da resolução apoteótica da criação. Ou, como a escritura tão enfaticamente diz, a vontade de Deus foi estabelecida “em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef1: 9-10, NVI).

 https://cristaosnaciencia.org.br/teses-criacao-evolucao/

Todd Wilson é o presidente e co-fundador do Center for Pastor Theologians. Este artigo é adaptado de seu capítulo, “Mere Creation”, em Creation and Doxology: The Beginning and End of God’s Good World (IVP Academic), que ele co-editou com Gerald Hiestand.