segunda-feira, 14 de setembro de 2020

1980 - Parte 1 - novo oásis

 1980

     Referi-me a oásis. Mais do que um, é claro. Aliás, a igreja era um permanente. Literalmente nascido dentro de uma delas, congregacional de Nilópolis, até para trocar as fraldas, de pano, em 1957, ela não me tirava de dentro, mas deslocava-se, contava Dorcas, até o último banco, para o meio-aceio, dobradura em triângulos e prender com o broche, que é como chamam alfinete de fraldas aqui no Acre. 
     Em Cascadura, a partir dos 6 para 7 anos, subíamos pelo caminho colado à horta, atalho pela vila que dava com seus portões na Ernani Cardoso, até alcançar, no 212, na rua lateral da subida do Morro do Fubá, a João Romeiro, o antigo templo. Aquele mulherão bonito em seus 35 anos me conduzia pela mão dominicalmente à igreja. Se não a encontrassem lá, podia contar que era enfermidade. Nada afastava Dorcas da igreja.
     Oásis básico. Nunca tive a fase de repulsa dissimulada em relação à igreja. Sempre fui empolgado com tudo o que ela ofereceu. O outro oásis, já mencionei, era o grupo da ABU na PUC. Outro, ainda, as aulas no Seminário, primeiro no Betel e depois, definitivamente, na Alexandre Mackenzie, no Seminário Congregacional. 
    Abriu-se mais um, que foi o envolvimento com o Acampamento Ebenézer, em Pedra de Guaratiba, como equipante. Eu já havia participado de umas três temporadas, uma em torno dos 10 anos, outra em torno dos 14 e, acho, outra em torno dos 16. Agora, aos vinte e poucos anos, voltava como equipante.
    Era extraordinária a preparação com o pessoal da APEC, as missionárias Darlene e Goergia, os detalhados cuidados com o aconselhamento das crianças, as histórias muito bem trabalhadas, pela manhã, com os cânticos, e os cultos missionários à noite.
     Isabel Carvalho nos liderava a todos. Cheguei a ser enviado a Mairiporã, no Acampamento Boas Novas, da APEC - Aliança Pró-evangelização das Crianças, para fazer o antigo TEA - Treinamento Especializado em Acampamento. O objetivo era ser formado como um futuro chefe de equipe,  para dirigir acampamentos futuros. 
     Isso me rendeu um treinamento nessa função na temporada de 1980, que contou com a ajuda de líderes que conhecemos no Palavra da Vida em 1978, quando encenamos a não menos famosa peça Os Saltimbancos, o que me valeu o que antigamente se chamava "amor de acampamento", que é um com prazo de validade definido. 
      Aliás, foi a segunda namorada, visto que, pela primeira, passamos batidos aqui. Basta, por hora, dizer que esse primeiro arrastou-se por quase 2 anos, culpa minha e não dela, e que esse seguindo não chegou a 3 meses, culpa dela e não minha. Este ano também marcou a minha definitiva desistência do curso na PUC.
     Amainam-se, mas não se resolvem, os conflitos internos. Um novo oásis, que foi o estágio na Congregacional do Largo do Barradas, com o pastor Martineis Anjo Gonçalves, que era nosso professor de Metodologia. Período bom com aqueles irmãos, marcantes, como o dia em que o pastor, meio indisposto, pediu ao seminarista que pregasse e este, empolgado, passou dos 60 min. 
     Como da vez em que, no Natal desse ano, encenamos um tal teatro cuja ideia era representar um sapateiro em seu afã, escolhido este seminarista que vos fala como protagonista. Mas a peça que era apenas cenário e representação muda, virou uma galhofa, para que o espetáculo fosse salvo, e quem acabou protagonizando, para magnetizar o público, foi o Charles, não o "anjo 45" de Jorge Benjor, mas o primogênito dos filhos da nossa Profa de hebraico, Beth Bacon, um mestre da ironia puramente britânica.
      A família era toda membro da igreja. Chegamos a tomar um chá da tarde em casa deles, ali por São Gonçalo, numa das visitas da equipe do Seminário a uma das igrejas da região. Interessante o chá inglês em solo tupiniquim: 3/4 de chá preto, numa xícara, para 1/4 de leite. Sem a opção do café, claro, afinal era chá. Duro era pregar para o casal, ela professora de hebraico, ele, Henry Bacon, um dos heróis paraquedistas da Normandia, professor de grego. Haja nervos. 
     E assim termina 1980, assinalando o término do segundo namoro de minha existência, a saída definitiva da PUC e a manutenção do conflito entre continuar ou não no Seminário.

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