sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Crônicas de uma vida VIII - Primeiros (dois grandes) amores II

         E o outro mico, desta vez associado à prima, foi que Dorcas providenciou, ela mesma professora, presente para a minha própria. Nem me perguntem o nome. Não era o grande amor e nem sei de d. Terezinha, uma que passou feito cometa, acho que na 4a série. Era fim de ano e eu me metera a besta numa brincadeira de amigo oculto. Dorcas repassou-me o presente para a professora, sei que era um perfume, muito provavelmente "Dim-Dom, Avon chama", dizia o suave reclame da TV de então, que minha mãe deve ter comprado com uma de suas amigas representantes Avon.

       Eu argumentei, puxa, mãe, pode ser um perfuminho também. Mas não, porque o orçamento já havia estourado. O presente do amigo oculto seria dado depois. Pior que não era amigo, mas amiga oculta. Adivinhem quem? Sim, ela mesma: Marisa, a esguia, atlética, intelectual e não menos esbelta prima de Elimara. Nada mais, nada menos que ela era a minha amiga oculta.

     E ali estava o embrulhinho reluzente e bem apanhado do perfume da professora, que eu carregaria na pasta imensa, para entregar nesse dia da festa, ali mesmo, emprestada ao ambiente de aula. E decidiram que haveria, primeiro, a revelação do(a) amigo(a) oculto(a), no meu caso, (a). Então para o final, no meu caso, o presente à professora. Começou.

     Eu via fulano a fulana, colega a colega, chegou minha vez, porque alguém se revelou meu amigo, tensão a mil, eu teria de revelar a minha e, vergonha  total, não haveria presente a dar. Eu era, internamente, um vazante de hidrelétrica em tempo de chuva máxima, se preferirem, um reator nuclear interno em disfunção, pronto a rebentar. Mas veio o alívio.

      A minha amiga é... Marisa. Aaaah! Aquela história. Privilégio meu ao máximo, inveja a todos os demais e, para cumular, presente da professora dado à amiga agora desoculta. Tudo terminou bem. Ora, a professora não sabia mesmo que tinha presente para ela. Resolveria-se depois. Problemas não se adiam, resoluções também não. Estava (provisoriamente) resolvido. Comprar-se-ia, com ou sem mesóclise, um presente para a professora, que não estava nem aí para as nove horas: o que não se podia era decepcionar Marisa. Aquele monumento que, entre outras tantas virtudes, era prima de Elimara. Só faltava...

      .... avistar Dorcas e, de modo cristão, sem tegiversações, como ela ensinou sempre: mas mãe, ela nem sabia. Por isso eu dei a Marisa... O que nós combinados, Cid Mauro? Meu nome dito naquele tom de reprimenda: o que nós combinamos? E, diga-se de passagem, não aceitando ponderações. Minha sábia decisão, a sutileza sub-reptícia de proceder, digamos assim, à troca, não procedia, simplesmente pelo nível do Avon adquirido: pelo preço e pelo nível, era para professoras, e não para amigos(as) ocultos(as), no meu caso (as).

       Veio a solução. Eu iria à casa de Marisa, naquela vila mesma onde, na entrada, quando em séries anteriores, juntamente com Maurício, eu tinha costume de pegar grilos num matagal na entrada. Eu sabia bem onde era: a última casa da vila, à esquerda. Fui muito bem recebido. E justifiquei meu erro como se fosse desavisado, não sei se acreditaram. Mas outra coisa sei: Marisa, na hora em que abrira seu presente, no dia aprazado e fatídico, percebera que, pelo grau do Avon em sua mão, havia algum engano.

      Pois era esse agora o subterfúgio simulado. Aceitou outro Avon, como dizer, mais assim do seu nível. Ah, sim, bem que notei. Tem problema não. Claro que, para ela, não. Quanto a mim, imaginem meu nível. E foi parar o perfume certo no destinatário previsto. Vida que seguiu. Mais este mico que paguei. E justo com quem? Marisa, a prima de Elimara.


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