Inveja santa
Bem, há títulos provisórios. Este talvez seja um. Quando desejamos ansiosa e espontaneamente ser ou ter algo ou alguém.
Invejo os presbiterianos por ter uma crente como irmã Carmem Linda, sem trocadilhos. Mais especificamente a Igreja do Aviário. Cheguei ao Acre, há 23 anos.
Literalmente sem onde morar aqui. Fui acolhido, Deus seja louvado, por irmãos em Cristo. O casal de missionários congregacionais, Nelson e Josilene Rosa nos puseram, eu, esposa e nosso bebê, dentro de sua casa.
Mas era solução temporária. Precisávamos procurar um local definitivo. Usávamos aquela residência em janeiro de 1995, nas férias do casal. E foram presbiterianos que vieram em nosso socorro, providenciando a casa pastoral da Presbiteriana da Floresta.
Daí uma doce intimidade entre nós. Amor fraternal, compartilhar de experiências, matrícula das crianças no Alternativo, professores, eu e minha esposa, no João Calvino, convite honroso para pregações.
Uma delas na Presbiteriana do Aviário. Ora, a gente depara, pelas igrejas, independentemente do rótulo denominacional ou menos do nome genérico "crente" irmãos nossos que têm uma arte.
Cumprem com naturalidade certos destaques, na Bíblia, que definem de modo refinado o que exatamente significa ser crente. Daí eu dizer, na falta de outra inflexão, que nos invejam.
Como pastores, por obrigação do cargo, precisamos definir e, muito mais difícil ainda, viver para eles o que significa ser cristãos. Mas há quem o faz com total e completa naturalidade.
Grato, Deus, porque colocas entre nós tais referenciais. Sem eles nosso ministério, sem medo de usar outro termo, seria um fracasso ou, se muito, uma cínica dissimulação.
Imitadores e imitadoras de Deus, como filhos amados. Espalhadores e espalhadoras do bom perfume de Cristo. A carta aberta à leitura pública, sem retoques, da plenitude do evangelho. Total naturalidade. Os notáveis, como a eles se refere o salmista.
Depois, um dia descobri, com alegria, linda coincidência, por meio de sua filha, na singela casa pastoral da Vila Ivonete, mais esse grau de parentesco, também ali acolhido em amor pelo pastor Ivan, parceiro de aventuras na área acadêmica. Aprendi que ela praticava não haver fronteiras, fossem batistas, presbiterianos ou congregacionais.
Família privilegiada. Também invejável. Traços do sorriso, comedimento nas atitudes, mesmas marcas de espiritualidade. Quanto privilégio, irmãos, vocês repartirem consoco e, mais ainda, viver essas marcas de Jesus assim tão docemente aprendidas.
Irmã Graça, recentemente, repetiu para mim a brincadeira que ela, costumeiramente fazia, dizendo que Deus se esquecia de levá-la para casa. Não. Prolongava entre nós Sua dádiva. Deixamos passar entre os dedos as mais marcantes marcas de nossa existência.
Deus sente saudade de nós mais ainda junto dEle. No caso dela, disfarçava a intensidade, para não provocar ciúmes nos outros. Isso porque, neste caso, já basta a inveja.
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