sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Artigos soltos 27

     Vida.

     Quando judeus se encontram, ocasionalmente, como ocorre conosco e dizemos "oi", eles dizem "Hi", quer dizer, traduzido, "vida".

     A pronúncia dessa conjunção das letras hebraicas "he", que seria como nosso "h", e o "yod", eventualmente simbolizada pelo nosso "y", mas que não tem fonema equivalente em nossa língua, seria um "rai", porém esse "r" suave, como o "h" na palavra inglesa "house".

     Hoje saí de casa, num daqueles dias atabalhoados, ameaçava chuva grossa que, aqui no Acre, costuma dispersar-se antes de cair ou, lá longe, na linha do horizonte, já está chovendo no município vizinho.

     E foi que pensei no sentido da vida. Existencialista tupiniquim. Também, quem não pensa nisso, de vez em quando?

     Caramba, pensando nessas coisas no Acre, finalzinho extremo oeste do Brasil. Poderia ser no Alasca. Ou em Wall Street, quem sabe?  Antuérpia ou Gana, na África.

    Sou eu pensando, ia dar no mesmo. Mas o interessante foi que, na curva estreita, de uma passagem fundo de agulha que me joga numa rua que atalha o caminho, o meu amigo borracheiro dedicou-me um Hi.

     Na verdade, ele não conhece Hi. E também não falou oi. Foi uma espécie de "Ei", que soou inaudível para mim, mas foi a saudação que deu sentido à vida.

     Eu tinha que pôr Jesus no meio dessa história. Logo imaginei ele saindo de casa, num dia qualquer, para cumprir sua agenda. Como seria a agenda de Jesus?

     É claro que, previamente, havia uma programação. Mas nada tão rígido ou, por antecipação, digamos, predestinado, que seus momentos de oração com o Pai não o predispusessem a deduzir.

     Mas é certo que Jesus também tinha momentos em que saía, digamos assim, de novo, sem agenda prévia. Percorria vielas, beira mar, vizinhança, portais do Templo em Jerusalém e, quem encontrasse pelo caminho, ele saudava.

    Saudar seres humanos, sorrir para eles, cativá-los com sua simpatia (e empatia) era sua especialidade. Saudá-los dizendo Hi, vida. O sentido disso passa, obrigatoriamente, por Jesus.

      Seu olhar, seu sorriso, seus gestos e jeito. Há música que diz "um certo dia, à beira mar, apareceu um jovem galileu". Sim, por acaso, encontrar-se assim com Jesus.

      Muitos desses encontros, desses gestos e sorrisos nem estão descritos nos Evangelhos. Mesmo assim, fascinam. A narrativa do olhar a Pedro, na saída do pretório, quando o flagrou traindo-o. O olhar a Judas, quando entregou a ele pão e cálice na última Páscoa.

     Casuais encontros, nos quais alguém nos saúda, com alegria, mesmo saindo e soando um som inaudível, desejam vida. Jesus saía, alhures, pelas vielas da Galileia, saudando quem encontrasse: "Vida!". Não importa onde, por geografia qualquer, encontrar Jesus é dele ouvir "Hi, vida!".

       Pedro Apóstolo não era, reconhecidamente, um intelectual, fosse como Paulo ou João, seu amigo próximo. Mas, saía-se com cada uma! Certa vez, num sermão, chamou Jesus de "autor da vida".

      Hi, para você. Jesus é autor da vida. Te saúda. E assina embaixo.


   

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