Dodekaprofeton - Os doze profetas
Curiosíssimo. Algum editor antigo e anônimo
resolveu editar esses 12 livrinhos, reunindo-os num só volume. Só as razões por
que se lançou a essa tarefa devem instigar-nos a conhecer seu conteúdo. Não se
sabe, ao certo, a data precisa da edição, mas mão ou mãos deram um retoque
final e mandaram ver essa pequena coleção.
Assim, quando
lemos poucas informações, muitas vezes só o nome do profeta (Obadias 1, Habacuque
1:1 e Malaquias 1:1), outras vezes só o adicional do nome de quem ele era filho
(Joel 1:1 e Jonas 1:1), e ainda, por vezes, o nome da cidade natal (Naum 1:1),
acrescido ou não se sua profissão anterior ao chamado (Amós 1:1), e ainda o período
de sua atuação (Oséias 1:1, Miquéias 1:1, Sofonias 1:1, Ageu 1:1 e Zacarias 1:1),
todos esses dados nos estimulam a reconhecer as razões por que o(s) editor(es)
resolveram que era relevante estimular leitores a conhecer seu conteúdo.
Aí, acima, estão
os nomes desses heróis. Agora resta familiarizarmo-nos com detalhes que
aparecem na linguagem de seus escritos. A leitura atenta, em si, já predispõe
para o exercício da interpretação e ainda existe um exercício de leitura
paralela: dicionários bíblicos, comentários e análises desses livros, que vão
ajudar no destaque devido a essa literatura especial e seus aspectos particulares, somente percebidos numa leitura atenta.
Mas o leitor não
deve aprender a depender de modo direto da literatura de apoio, porém
prender-se à leitura bíblica do texto de cada livro, estabelecer seu modelo de
memorização e compreensão dos textos, somente para, então, demarcadas as
dúvidas, recorrer a esses dispositivos para sanar essas mesmas dúvidas.
Em linhas gerais é
necessário reconhecer o período geral da profecia desse ciclo de 12 profetas, sabendo, de antemão, que todos se inscrevem num quadro de ocupação da Palestina da época por impérios deslocados a partir da Mesopotâmia, e que a terra prometida se subdividia em dois reinos judaicos: Judá, ao sul, e Israel, ao norte.
Esse era o quadro
político geral, um detalhe reconhecido por eles como, em si, recurso
disciplinar de Deus que, histórica e geopoliticamente falando, permitia que a
terra, uma vez dada a seu povo exclusivo como herança, fosse ocupada por
estrangeiros que, em duas brutais ocasiões, uma pior do que outra, chegaram a
levar cativos, para a Mesopotâmia, judeus do norte e judeus do sul.
Assim, do século
VIII ao século VI a. C., ambos antes de Cristo (a. C.), nesse período de três
séculos, assírios, babilônicos e persas ocuparam, sistemática e seguidamente a
Palestina, varrendo-a de norte a sul: assírios levaram cativos os habitantes do
norte, Israel, em 722 a. C., babilônios levaram cativos os habitantes do sul,
em 587 a. C. e, em 536 a. C., os exilados foram liberados pelos persas para
retornar, em três levas, sob Zorobabel, Neemias e Esdras, à terra natal.
Desse modo, podemos
situar esses 12 profetas no tempo: Oseias, Amós, Miqueias e Jonas, no século VIII; Naum,
Habacuque, Obadias e Sofonias, no século VII; Ageu e Zacarias, no século VI; e Malaquias, no
século V. Joel é, dentre eles, o mais difícil de localizar no tempo.
Um dado geral também é ressaltar que todos os
profetas lidavam com a dificuldade do povo escapar da cultura religiosa
comum a todos os seus vizinhos, que afetava Israel e Judá com tremenda força,
que era a idolatria. Esse foi o principal esforço desses gigantes, os profetas: denunciar e lutar, muitas vezes ingloriamente, contra o costume entre
israelenses, norte, e judaítas, sul, de seguir a religião dos vizinhos.
Era muito difícil separar religião e vida
prática visto que, no oriente (ainda hoje) as duas estão intrincada, estranha e entranhadamente, para quem é ocidental, unidas. Nas relações diplomáticas, no
comércio, nas relações humanas entre vizinhos, muitas vezes tão perto um do outro como do
outro lado do rio, o povo de Deus, assim reconhecido, permitia-se misturar com
o culto, festas, tradições e modelos de sacrifício dos seus vizinhos.
Luta inglória dos profetas. Vamos ver, nos
textos, a radiografia desse esforço, os resultados da idolatria na vida do dia
a dia do povo, o uso desse expediente por meio dos sacerdotes corruptos, dos profetas
cooptados e manipulados pelo ganho dos reis, além de juízes desse mesmo time.
Muitas vezes,
sozinhos, enfrentavam toda a resistência, colocando até a própria vida em
risco, com eco positivo na vida de uma anônima minoria que se matinha fiel ao
Deus em quem os profetas professavam crer, autenticamente chamados àquele ministério.
Vale a pena
ler esses textos e atualizar sua linguagem, exercício de interpretação,
contextualização e divulgação, para fazer valer hoje o que disseram há cerca de
2750 anos. Vamos aos textos.
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