segunda-feira, 25 de julho de 2022

 A MISSÃO DE FAZER DISCÍPULOS;

Ernestine Horne e seu legado:
Catariana Maria Costa dos Santos e Cláudia Mércia Eller Miranda.

Foi com uma agradável surpresa que recebi uma primeira mensagem, de Claudia Mércia Eller Miranda, que se apresentou como alguém que havia lido o meu livro “Desbravadores do Sertão”, que nela despertou o desejo de buscar novas informações para uma pesquisa que estava em andamento. Inicialmente, ela fez mistério quanto ao que realmente estava produzindo e, confesso, não achei que fosse algo tão relevante. Mas atendi o pedido de fontes para a sua pesquisa. Todas as perguntas feitas por ela foram respondidas, como é do meu feitio, na medida do possível, desse modo atendendo aos pedidos que me são feitos. Em algumas ocasiões, recorro a pessoas que trabalham comigo para uma foto, um escaneamento, coisas que podem ser feitas por outros, desde que orientados nesse sentido.
Após algum tempo ela, finalmente, comunicou que, em companhia de Catarina dos Santos, estava concluindo uma pesquisa biográfica sobre a vida de Ernestine Horne e a fundação da escola Betel, instituição destinada a preparar mulheres para o ministério nas igrejas, que desenvolvam trabalho missionário ou na área do ensino. Fiquei surpreso com a dimensão da pesquisa (344 páginas), mas a surpresa maior foi pela qualidade do trabalho desenvolvido, pelas fontes consultadas, pesquisas feitas no Brasil e no exterior, incluído o Canadá, país fonte, pois foi de lá que partiu, em 1934, Ernestine Horne para iniciar, no ano seguinte, na cidade de Patos, PB, uma escola para moças que, mais tarde, seria o Betel Brasileiro.
O texto é rico em informações, desde a experiência de mudança de visão missionária, na Igreja Batista da qual Ernestine Horne era membro, em Toronto, Canadá. Foi de um contexto de avivamento e forte ênfase missionária que Ernestine e outras pessoas se sentiram tocadas para deixar seu país e se lançar em campos missionários mundo afora. Tenho dito em minhas falas sobre missão e vocação que nós, latino-americanos em geral e brasileiros em particular, temos uma enorme dívida com homens e mulheres que não mediram esforços para deixar suas famílias, igrejas e nações, algumas delas para nunca mais voltar, mas convictas de que estavam cumprindo o chamado do Mestre, no contexto da Grande Comissão. O meu livro já mencionado, principalmente no capítulo três, que trata dos missionários que para aqui vieram, desde William Bowers, que veio para o Recife, em 1878, a convite de Robert Reid Kalley, James Fanstone e, mais tarde, daqueles que vieram como enviados pela Help for Brazil, entidade criada por Sarah Kalley, em 1894, como Ida e Charles Kingston, James Haldane e, mais tarde, todos os enviados pela UESA, como Harry e Frieda Briault, William Forsyth, Duncan, Thomson, Telford, Davidson Bellah, Knechtel e tantos outros, procura honrar todas essas pessoas, que saíram dos mais diferentes lugares da Europa e dos Estados Unidos, para se embrenhar em terras inóspitas, daquele Brasil sem estradas, cujo meio de transporte era o caminhar léguas a pé ou a cavalo.
O livro de Catarina Maria e Cláudia Mércia procura resgatar o trabalho realizado por mulheres cristãs, crentes fiéis que, com seus esposos ou mesmo sozinhas, embrenharam-se em sertões e caatingas do Norte do Brasil, em um tempo em que o termo “Nordeste” ainda não havia sido inventado para, nessas paragens, anunciar o reino de Deus e propagar a fé cristã, em meio a perseguições, escassez de recursos e adversidades extremas. Elas escrevem sobre Ernestine Horne, como eixo de sua pesquisa, mas a escrita se estende para outros personagens que cruzam o caminho de Ernestine e com quem ela vão se identificando e construindo outros caminhos que eram, inicialmente, “picadas” e que hoje se tornaram verdadeiras avenidas na construção do Reino.
É gratificante ver o resultado do trabalho dessa mulher pioneira e suas companheiras de jornada, não apenas no trabalho que realizaram, mas também no resultado prático, humano, de egressas dessa instituição, e que se tornaram conhecidas Brasil e mundo afora pelo trabalho que vieram a realizar. Lídia Almeida,  Donina Andrade, Erival Santos, Eunice Renovato, Maria Guedes, Maria Almeida, para falar apenas das mais antigas, mulheres que conheci e que, nas páginas deste livro, recebem a justa menção de seus nomes e feitos. Sim, é preciso dizer que o protestantismo no Brasil foi plantado pelo trabalho de homens e mulheres, embora, de forma injusta, em determinados relatos, só se registre o nome do missionário. Quando muito, diz-se “o pastor e sua mulher”. Este livro quebra paradigmas, ao buscar nomes femininos esquecidos no tempo, a fim de que suas histórias se tornem conhecidas das gerações vindouras.
Obrigado, Maria Catariana e Claudia Mércia, pela brilhante pesquisa, pela rica contribuição para a história da inserção do protestantismo no Nordeste do Brasil. Este livro se tornará, certamente, referência para a pesquisa sobre o surgimento da instituição Betel Brasileiro, na cidade de Patos, depois Mamanguape e, finalmente, em João Pessoa, como também para o estudo da contribuição de missionários e missionárias estrangeiras no Estado da Paraíba e Nordeste do Brasil.

Manoel Bernardino de Santana Filho

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