Essa aproximação entre reis e profetas corruptos era tão notável e reincidente, que o próprio Jeremias entra em polêmica com Hananais, ocasião de um ato profético por parte do autêntico e de uma performance teatral por parte do falso.
Para representar, de fato, o jugo que o império babilônico vai impor a Judá, tal qual a Assíria fez com Israel, Deus ordena a Jeremias que coloque sobre si mesmo, arqueada nos ombros, por detrás do pescoço, um jugo ou canga, própria para gado de arado.
Jeremias assim se apresenta no templo. Hananias lhe arranca a canga de sobre os ombros, joga ao chão e a despedaça. Teatralíssimo. Faz o maior sucesso em sua audiência. Nosso herói se retira agastado.
Porém Deus o manda retornar. Não para outra cena humilhante, mas agora com uma canga de metal. Hananias não pode repetir o chilique, Jeremias confirma o teor de sua profecia, que ele mesmo tanto desejava que fosse mesmo Fake News. Mas não era.
Nabucodonosor haveria de impor jugo sobre o rei de Judá, em Jerusalém. Contra uma maioria de profetas falsos, eles, sim, espalhavam fraude. Jeremias vem contra essa maré. E ainda escreve a famosa carta aos exilados, sim, israelenses já em Babilônia, conduzidos quando Joaquim, colocado no trono após a morte de Jeioaquim, fora levado cativo, em 597 a. C.
Em Jeremias 28 se encontra a polêmica, com o ato simbolico de Jeremais e a cena teatral de Hananias, e, no Cap. 29, a não menos famosa carta aos exilados. Jeremias, na sua fala a Hananias, ainda menciona outro contemporâneo de Isaías, o profeta Miqueias, desde qual época se previa que não haveria paz para Israel.
Aqui podemos citar Tiago, este já 600 anos à frente de Jeremias, que afirma, em sua epístola, que é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz. Na verdade, ele associa justiça à paz, e esta, como denuncia Jeremias, havia cerca de 150 anos, desde Miqueias, estava longe de Israel.
A partir da Babilônia, um dentre o grupo dos profetas opositores de Jeremias, interpela os de Jerusalém, ora, como deixam chegar à comunidade do exílio uma carta daquelas, questionando a credibilidade deles junto aos exilados dessa primeira, em 605 a. C., e segunda, em 597 a. C, levas de judeus agrupados em Babilônia.
Lá se encontrava outro profeta, desta feita Ezequiel, também, como Jeremias, um sacerdote fora de ofício, como mais tarde será João Batista. Todos homens de uma lucidez a toda a prova, em sua relação com Deus, sem se deixar intimidar.
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