quinta-feira, 2 de maio de 2019

Momento 3 - tohu vabohu

    A narrativa do Gênesis, literariamente classificada como mito, está condicionada à cosmovisão do contexto cultural em que foi produzida. A pesquisa moderna tende a indicar o período persa, já tardio, no século VI d.C., como data de sua produção.

        A tradição remonta a Moisés a autoria, supondo ter sido ele também o principal autor do restante do Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Quando muito, redatores ampliaram o material mais tardio desses livros, a partir dos trechos de autoria confirmada de Moisés.

       barah elohim et hashamayim v'et ha'arets: v'ha'aretz hitah tohu vabohu. A partícula gramatical "et" indica a relação direta da ação do verbo barah, "criar", com o objeto criado, ou seja, alvo da ação: hashamayim, "céus" e ha'aretz, "terra".

       Empiricamente, o homem daquela época intuía a expansão do firmamento, "shamayim", estendido por cima da terra, "eretz", que tinha seus limites na linha do horizonte. Assim como imtuía que a ordem vista na natureza a sua volta teve um autor.

      O homem moderno traz para si mesmo os louros de sua própria fama, como autor de suas próprias invenções. Nada mais faz do que manipular o que existe. Aprende a partir de seus estudos e deduções do que já encontrou pronto. Portanto, chama a si mesmo "inventor", "cientista", "criador". Suas invenções têm até patente.

      Mas ao universo, esse mesmo homem nega autoria. O que existe, não pode existir a partir do nada. E a complexidade do que existe, requer autor. Mas o homem moderno atribui a si mesmo genialidade e ao acaso atribuiu o universo. Estruturas que o homem, em sua pretendida ciência, jamais imaginaria compor, encontrou prontas.

      Mas nega que tenha havido autor. Pretensão sua. O homem encontra a água como essencial à vida. Cada pedaço de corpo celeste que encontra vagando, como asteróide, ou seja a lua ou qualquer planeta que pretenda alcançar, sonda para saber se encontra qualquer resto que seja de água. Ele intui ser impossível vida biológica sem água. E anseia por encontrá-la fora do planeta, na ânsia de provar que vida surge espontânea por aí, com água alhures.

       Até sabe a fórmula da água. Que tem dois átomos de hidrogênio, por um átomo de oxigênio. Pode, inclusive, obter por diálise esses dois gases se água lhe for dada. Mas jamais e ainda não consegue produzir água se lhe forem dados os componentes hidrogênio e oxigênio. Água é um dado. Está aí.  Não tem autor.

        Desmembrando, vai chegar aos gases que, uma vez ainda desmembrados, chegam às partículas que, por sua vez, bem, antes delas, nada. Nem autor. O que a ciência pode aprender e ensinar, garante por meio de seus teoremas e hipóteses. Ela não se atreve a afirmar o de que ainda não sabe e nem tem certeza.

       Sim. Ela nada pode dizer do Autor. Mas dEle se diz: "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Paulo Apóstolo: "Os atributos invisíveis, o seu eterno poder, como támbem a sua própria divindade claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas".

         hitah, a condição como a terra "estava", tohu vabohu, palavras hebraicas que ocorrem como que agrupadas, bem traduzidas por "sem forma e vazia". A geologia demonstra como se formou a superfície da terra, que processos, tempo e tipos de rochas formam a superfície, sejam da extensão seca, sejam do profundo dos oceanos. Lava fervente, resfriamento, fusão, fissão, magma incandescente e equilíbrio magnético para fixar a atmosfera.

  Tudo bem ajustado. Perfeito balanceamento. Como numa encubadeira gigante, o planeta sem forma e vazio aguardava a vida. Vida vegetal e animal. Seres terrestres, aquáticos e alados. Flora e flores multivariadas. Frutos de múltiplos gostos e aromas. Diga, portanto, ciência, com previsão milimétrica, segundo a segundo, como foi. Mas nunca, jamais vai poder concluir, ao final que, tão perfeita e complexa obra foi feita por ninguém.

     Belo instrumento a ciência. Mas será ridículo deduzir que esta casa que nos abriga não teve nem autor e nem arquiteto. Dentro dos limites que a si mesma se impõe, jamais fará tal afirmação. Não tem como sustentá-la. Moisés, repórter falando direto do momento zero na formação de tudo isso que está aí. 

       

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