sexta-feira, 2 de março de 2018

Missões em Campo Grande, MS - 3

     Agir de Deus.

     Em Cascadura, na igreja, havia um presbítero de nome Arlindo Freitas. Já estão com o Pai, ele e Gercino, na comunhão e alegria eternas, tendo ouvido o "bem está, servo(s) bom(ns) e fiel(éis)".

     Ele ouvia meu desafio à igreja. Tornei público o sonho. Esperava o tempo de Deus, nessa intuição que sentimos, preparando a viagem. Invariavelmente, Gercino insistia, domingo a domingo: "Campo Grande, pastor".

     "Calma, irmão. Vem o tempo. Não desisti não". Numa oportunidade daquelas, naquele tempo ele morava com a esposa ali em Cascadura mesmo, outro lado da linha do trem, sondei a esposa sobre essa "doideira" missionária.

     Ela sorriu. Sorriso de crente é sempre muito lindo. Assim como o de Nelson Roger, herdado (por DNA e por mesma fé) pela Sandra Roger. Pois a esposa de Gercino tinha um dos sorrisos mais lindos que conheci no rosto de crentes.

       Vi no sorriso a certeza. E Arlindo nos disse: "Pastor, tenho feito viagens como guia turístico a Corumbá. A gente sai de ônibus fretado daqui e pernoita em Campo Grande. Está aqui uma sugestão de hotel".

       Providência divina. Mas ainda não sabíamos. Vamos ver como Gercino, mais tranquilo e íntimo de Deus do que eu, entendia e assimilava essas coisas. A experiência e idade dele também contavam.
     
      Nessa primeira viagem chegamos paulados. Ainda não vacinados, pelo menos eu estava moído. Andamos pouquinho, porque o hotelzinho sem estrelas, um sobradinho coladinho à rodoviária, estava à nossa espera.

    Entramos. Apenas amanhecera. Deveria ser menos do que 5h30. O homem da recepção, quando perguntei se havia quarto, nem olhou para mim. Anotando estava, anotando continuou.

    Eu, mais novo, havia ultrapassado Gercino no singelo saguão. Ouvi o não do rapaz, cruzei com ele, já chateado e aborrecido com a má recepção, dizendo: "Vamos embora, irmão: o rapaz está muito ocupado para nos atender".

    O missionário não se abalou. Com seu jeito pernambucano, aquela cara enorme e sulcada pelo tempo, consagração ao Senhor e experiência de vida, recostou cotovelo no balcão, bem diante do atendente, para dizer: "O Arlindo me mandou aqui".

     Eu, muito prático e "entendido", já à porta da rua, repeti: "Vamos, Gercino", pensando: "Arlindo, Arlindo...", repeti mentalmente: "O cara do hotel vai conhecer o Arlindo". Meu caro leitor: qual é o raciocínio?

     Providência de Deus. É claro que ele conhecia. Na hora, largou as anotações que fazia, olhou arregalado encarando Gercino e nos ofereceu a suíte possível, que era um quartinho no último andar. Arlindo, guia turístico a Corumbá, manjadíssimo no pedaço.

     Duas camas de solteiro, uma janelinha que dava para a Rodoviária (que, neste tempo, já deve estar desativada). Dormíamos ouvindo o barulho de chegada e saída dos ônibus. Mal (ou bem nem) sabíamos que Porto Velho e Rio Branco nos aguardavam.

      Dormíamos sonhando com missões.

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